quarta-feira, 11 de julho de 2012


Medidas conta-gotas contra efeitos da seca.


Investimentos contra os efeitos da estiagem no país focam ações de curto prazo. Sem medidas estruturantes, algumas regiões podem enfrentar colapso hídrico até 2015

10/06/2012


Paula Filizola

A mais dramática seca dos últimos 30 anos, que atinge os nove estados nordestinos e o norte de Minas Gerais, já levou mais de 900 municípios a terem a situação de emergência reconhecida pelo Ministério da Integração Nacional e um prejuízo de estimados R$ 12 bilhões ao Produto Interno Bruto agropecuário. O fenômeno climático, tradicional da região, custou — de janeiro a junho deste ano — R$ 3,5 bilhões aos cofres públicos brasileiros e ainda deve consumir mais verbas. Todos os danos registrados até agora ocorreram no que deveria ser a estação das chuvas na região. A época oficial de estiagem começou no início de junho e se prolonga até o fim do ano.

Os R$ 3,5 bi correspondem a cerca de um quarto do total do projeto de transposição do Rio São Francisco, que pode custar mais de R$ 12 bilhões. Em cinco anos de obras, o valor já aumentou 77%. Do total repassado pelo governo para atenuar os efeitos da estiagem, quase R$ 191 milhões foram repassados para ações específicas de assistência nesses estados afetados (veja tabela), além de mais de R$ 300 milhões do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome para construção de cisternas. No entanto, esse montante equivale somente a ações de enfrentamento a curto prazo da situação no local, com medidas como abastecimento de água por meio de carros-pipa, liberação de crédito extraordinário, seguro-safra, bolsa-estiagem, que ilustram a política de compensação e improviso da chamada "indústria da seca".

Apesar de ser uma ajuda essencial em se tratando da sobrevivência da população do semiárido brasileiro, o valor salta aos olhos, principalmente porque contempla somente providências estritamente emergenciais. A avaliação de especialistas é de que é possível criar uma infraestrutura adequada e sustentável a longo prazo, dentro da lógica de convivência com o semiárido, com um investimento bem mais razóavel.

Medidas urgentes.

Diagnóstico apresentado no Atlas do Nordeste do Brasil, da Agência Nacional de Água (ANA), aponta um cenário menos severo. O documento afirma que seriam necessários R$ 9 bilhões para abastecer 1,7 mil municípios do semiárido por meio de adutoras — tubulação subterrânea de pouco impacto ambiental e que evita perda de água no trajeto. Mas o estudo também traz uma previsão bastante pessimista para os próximos anos: caso medidas estruturantes não sejam aplicadas logo, existe risco de um colapso hídrico nas cidades da região até 2015.

Roberto Malvezzi, integrante da Equipe do Rio São Francisco, grupo de estudo coordenado pela Comissão Pastoral da Terra da Bahia (CPT-BA) e dos Pescadores, explica que cada adutora pode abastecer até 13 municípios. Segundo o cientista social, a construção é mais viável, por exemplo, do que a transposição do Rio São Francisco. "Essa é a forma de abastecimento ideal defendida para o meio urbano, onde é possível utilizar tubulações. No meio rural é mais difícil porque a população é muito difusa", esclarece. Para Malvezzi, faltam políticas públicas estruturantes que pensem soluções abrangentes. "Cada ministro da Integração Nacional que entra puxa sardinha para o seu reduto eleitoral. Falta alguém que pense o semiárido como um conjunto", critica.

A preocupação é tamanha, pois a época oficial da seca mal começou e algumas cidades da região já encaram racionamento. A ameaça agora também chega às cidades. Por isso, o Ministério da Integração Nacional já admite engordar ainda mais o pacote emergencial caso seja necessário manter a ajuda às vítimas da seca até o fim do ano.

Apesar da perda total da safra e das ações emergenciais para garantir o acesso à água, o cenário apresentou melhoras ao longo dos anos. A afirmação é do próprio Malvezzi, um estudioso desde 1982 da região. "Não temos notícias de mortalidade como em outras épocas, bem como migrações intensas e saques. É claro que estamos longe do ideal. Com boa infraestrutura, poderemos garantir o emergencial de forma mais simples. Mas, infelizmente, por enquanto ainda dependemos desse tipo de ação porque não temos infraestrutura", lamenta.

"Com boa infraestrutura, poderemos garantir o emergencial de forma mais simples"
Roberto Malvezzi, integrante da Equipe do Rio São Francisco

Ações em 2012

UF Valor
MG 72,4 milhões
MA 34,6 milhões
BA 30 milhões
AL 12,36 milhões
SE 11,1 milhões
CE 10 milhões
PE 10 milhões
PI 4,7 milhões
PB 3,1 milhões
RN 2,3 milhões

Total R$ 190,9 milhões

por João Suassuna— Última modificação 14/06/2012 14:37

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