Em Pernambuco, protestos contra grandes obras.
Carta de Itacuruba critica governos de “grandes obras”
domingo, 3 de junho, 2012
A Carta de Itacuruba, assinada por 52
instituições de caráter regional e nacional, foi lida durante a Marcha das
Águas.
A marcha reuniu em Itacuruba, no Sertão
pernambucano, cerca de três mil pessoa vindas de Pernambuco, Alagoas, Sergipe e
Bahia.
O documento, transcrito abaixo, será encaminhado
aos governos estadual e federal e à organização da Rio+20:
“A Cúpula dos Povos começa hoje!
Entre os dois eixos da Transposição de águas do
Rio São Francisco, em direção ao território indígena Pankará, onde o governo
pretende instalar a primeira usina nuclear do Nordeste, no coração do Semiárido
em tempo de seca, nós, cidadãos, cidadãs, indígenas, quilombolas, movimentos
sociais, populações urbanas, igrejas, homens, mulheres, idosos, jovens e
crianças, reunidos na Marcha das Águas, juntos com as entidades promotoras e
participantes deste Ato Público, inauguramos a Cúpula dos Povos em pleno sertão
de Pernambuco, neste dia 03 de junho.
Marchamos para protestar e afirmar que as grandes
obras não resolveram o problema do povo; uma usina nuclear só tende a piorar o
que já é ruim. Não queremos mais uma obra que destrói a biodiversidade,
contamina as águas, polui o ar, ameaça as pessoas e ainda pode deixar lixo
atômico para as gerações futuras, nos próximos 100 mil anos.
O POVO NÃO QUER USINA NUCLEAR! Pois, até hoje
centenas de famílias sofrem com os desmantelos causados pela Barragem de
Itaparica, hoje denominada Luiz Gonzaga; são marcas profundas que o tempo não
apaga. Não precisamos da energia termonuclear, porque ela é suja, cara e
perigosa. Sob qualquer ponto de vista – social, ambiental, político, econômico
e cultural – ela é insustentável e indefensável. Depois do acidente de
Fukushima, no Japão, a maioria dos países dela desiste. Por que o Brasil insiste
no obscuro Programa Nuclear? Exigimos a imediata suspensão deste programa.
Temos, como nenhum outro país, muitas e diversificadas fontes de energia: a
biomassa, solar, eólica, das marés – a serem desenvolvidas com respeito às
pessoas e ao meio ambiente.
Tudo o que nos prometeram falhou. Nenhuma grande
obra nos ajudou. Resultados reais tivemos, em algumas políticas sociais que
chegaram dentro de nossas casas, em nossas comunidades e ajudaram a melhorar
nossas vidas, boa parte delas em consequência da ação organizada da sociedade.
A hora grave vivida pela humanidade e pelo
planeta exige de nós, mesmo ao revés de interesses econômicos, posturas éticas,
de responsabilidade mútua pelo Bem-Comum das atuais e futuras gerações. A
presença ainda numerosa de povos originários nesta região nos possibilita o
resgate de suas tradições culturais, junto com a demarcação de seus
territórios, para um diálogo intercultural e afirmação de utopias de “um outro
mundo possível”, sem a ameaça nuclear.
Nossa região não precisa de mais uma megaobra
problemática, carecemos de investimentos públicos em educação, saúde,
segurança, soberania alimentar e hídrica, economia popular e solidária, reforma
urbana que humanize a cidade, reforma agrária verdadeira, agilidade no processo
de identificação e demarcação dos territórios tradicionais. Queremos
investimentos na Convivência com o Semiárido, na agroecologia, queremos água
através das adutoras para as populações das cidades e a revitalização do nosso
grande manancial que é o rio São Francisco. USINA NUCLEAR NÃO!
A hora grave vivida pela humanidade e pelo
planeta exige de nós, mesmo ao revés de interesses econômicos, posturas éticas,
de responsabilidade mútua pelo Bem-Comum das atuais e futuras gerações. A
presença ainda numerosa de povos originários nesta região nos possibilita o
resgate de suas tradições culturais, junto com a demarcação de seus
territórios, para um diálogo intercultural e afirmação de utopias de “um outro
mundo possível”, sem a ameaça nuclear.
Por isso reafirmamos, a Rio+20 – particularmente
a Cúpula dos Povos – começa aqui em Itacuruba, neste dia 03 de junho, em pleno
sertão de Pernambuco. Dia que vai ficar marcado para sempre em nossa memória
como Dia de Luta, afirmação da vontade popular!”
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