quarta-feira, 18 de dezembro de 2013


O desafio das cidades no Semiárido Brasileiro, artigo de Roberto Malvezzi (Gogó)


1. Introdução - Os desafios do Semiárido brasileiro sempre foram vistos como uma questão rural. As razões são óbvias: são as populações difusas do Semiárido, residentes num espaço de aproximadamente um milhão de km2, as que estão menos infraestruturadas para enfrentar as adversidades normais de um clima semiárido. Como já registramos diversas vezes, é essa população que está retratada na música de Luiz Gonzaga, nas pinturas de Portinari, nos romances de Graciliano Ramos ou na poesia de João Cabral de Melo Neto.

Os personagens desses artistas estão dominados por uma realidade fatalista que os condena ao sofrimento eterno. Estão razoavelmente bem de vida nos tempos chuvosos e sujeitos à migração, à fome, à sede, à morte em tempos de longas estiagens. Junto com eles seguem o mesmo destino seus animais, como a cadela Baleia em Vidas Secas, o alazão de Asa Branca, o Boi Fubá de Patativa do Assaré.

Na realidade cruel e factual do Semiárido de tempos atrás, em tempos de longas estiagens era essa população que montava em paus-de-arara para ir para o sul, que frequentava as longas filas dos flagelados, que trabalhava nas “Frentes de Emergência”, que saqueava as cidades, ou simplesmente morria pelas estradas de fome e de sede.

O trabalho minucioso da Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA), costurando uma malha de pequenas obras hídricas e de produção próximas das casas dessas populações, com algum trabalho educativo na compreensão do que seja o Semiárido no qual vivem, potencializando a intuição e os saberes já acumulados pelo povo, fez com que essa realidade, nessa longa estiagem que atravessamos desde 2011 até 2013, já não seja tão cruel quanto em outras épocas. Agora a grande mídia nacional aprimorou-se em denunciar a mortalidade dos animais, particularmente do gado bovino – um caso que merece consideração à parte -, mas já não encontra material para falar das grandes migrações, da fome, da sede, da mortalidade dos seres humanos. Ainda na seca de 1982-1983 um livro chamado “Genocídio do Nordeste”, elaborado por um conjunto de entidades que atuavam na região semiárida, projetou a morte de, pelo menos, um milhão de pessoas vitimadas pelas consequências daquela grande estiagem.

Tem contribuído de forma decisiva também para esse novo enfrentamento, com menos sofrimento, as políticas de distribuição e transferência de renda do governo federal, como a aposentadoria dos trabalhadores e trabalhadoras rurais, assim como o próprio Bolsa Família.

Em conversas diretas com a população, particularmente aqueles que enfrentaram os desafios da estiagem de 1982-1983, ou ainda alguns mais idosos que enfrentaram estiagens mais antigas, vários outros fatores contribuem para um enfrentamento menos trágico do que em outros tempos.

Segundo essas pessoas, a melhora no sistema de transportes – estradas, ônibus, veículos particulares como motos, carros e picapes – facilita o acesso à água que antes era buscada mais longe apenas em lombo de jegue, carroças e mesmo sobre as cabeças e ombros das mulheres.

O fato da energia ter chegado a muitos lugares facilita a implantação de poços tubulares, com bombeamento de água do subsolo, que embora tantas vezes salobra, ao menos serve para a labuta diária da casa e, se o sal não for muito concentrado, para a dessedentação dos animais. Há ainda uma bomba manual, tecnologia difundida pela ASA que colabora muito na disponibilidade hídrica nesses momentos de maior necessidade.

Há mesmo quem afirma que, apesar de todas as precariedades dos assentamentos, a conquista da terra via a reforma agrária ajuda na produção de alimentos e na possibilidade da multiplicação das tecnologias sociais de captação e manejo da água de chuva. De fato, alguns canteiros de produção do projeto P1+2 - Uma Terra e Duas Águas – em plena seca, são como oásis no deserto.

É preciso citar ainda que a insistência numa pecuária de animais de pequeno e médio porte mostrou-se acertada. Nessa estiagem, enquanto o gado bovino morre em quantidade por razões de fome e sede, caprinos e ovinos estão bem, sem perdas, garantindo a quantidade de proteínas e renda necessárias para a população.

Enfim, todo esse leque de novas políticas e novas tecnologias nos indicam que o caminho para a convivência com o Semiárido traçado pela ASA está no caminho correto. Mas, como ainda estamos longe da massificação total dessas tecnologias – as cisternas de produção pouco passam de 10 mil – muitas famílias do meio rural ainda enfrentam situação difícil de sobrevivência em tempos de longas estiagens.

Nesse processo não se pode ignorar, jamais, que existe um confronto de dois projetos para o Semiárido. A velha indústria da seca, alimentada por grandes projetos que não chegam ao cotidiano das populações, mas que são do interesse dos grupos econômicos e políticos, esforça-se para manter seu projeto hegemônico como se ele fosse a solução. A introdução das cisternas de polietileno pelo Ministério da Integração Nacional deve ser vista como uma tentativa de derrubar o novo paradigma da convivência com o Semiárido, construído com diversos apoios, mas feito efetivamente na ponta pela própria população local. Portanto, o que se desenha para o futuro continua sendo um confronto de leituras do Semiárido. O que ninguém mais pode negar, entretanto, é que a lógica da convivência meteu uma cunha no mundo de velhos e novos coronéis que povoam o Semiárido brasileiro e que sempre acumularam patrimônio, renda e poder à custa da população que vivia na miséria. Há algo de novo no Semiárido e ele precisa ser fortalecido para que os sofrimentos em tempos de longa estiagem sejam definitivamente vencidos.

 

1.      Cidades do Semiárido: um novo desafio

Acontece que a realidade social nunca é estática. Quando velhos problemas sociais são resolvidos, surgem novos desafios, frutos da nova realidade. A verdade é que hoje o Semiárido já possui um grande número de cidades -1.133 municípios - e grande parte da população da região também já vive em cidades, embora continue sendo a região mais rural do país. A população da região semiárida está estimada em aproximadamente 22 milhões de pessoas, sendo que 38% (cerca de 8,5 milhões) estão no meio rural e 62% (cerca de 13,5 milhões) estão nas cidades (Site da ASA). Então, nessa estiagem de 2011-2013 uma série de problemas, particularmente de abastecimento hídrico das populações, tem se revelado também nas cidades, obrigando o governo federal e alguns estaduais a construírem obras se emergência para garantir a segurança hídrica da população urbana.

O problema da insegurança hídrica nas cidades pode ser tão ou mais grave que no meio rural. É nos centros urbanos que reside grande parte da população e onde estão os serviços de saúde e educação, o comércio, a administração pública e a indústria. No meio rural a situação se abate sobre populações isoladas, que de alguma forma adquiriram um jeito de enfrentar as penúrias impostas pela escassez de água. Porém, quando falta água nas cidades tudo entra em falência: o abastecimento humano, o comércio, a indústria, o saneamento e tudo que dependa do uso da água. É uma verdadeira tragédia social.

O problema já havia sido diagnosticado pela Agência Nacional de Águas (ANA), em seu Atlas do Nordeste feito entre 2005 e 2006. Àquela época, mesmo ainda não considerando os municípios com população abaixo de cinco mil pessoas, o estudo feito pela Agência já desenhava um futuro sombrio para 1.384 sedes urbanas do Nordeste, a esmagadora maioria do Semiárido. Em um período projetado entre 2015 a 2025 previa que uma série imensa de cidades da região poderia entrar em colapso hídrico caso não fossem ampliados ou feitos novos serviços de abastecimento de água para esses municípios. Acontece que a longa estiagem desses anos atuais, não devidamente considerada nesses estudos, antecipou o colapso hídrico de cidades com populações consideráveis, como é o caso de Guanambi e Irecê na Bahia, ou Serra Talhada no Pernambuco. É bom considerar ainda que grande parte das cidades do litoral e do Agreste Nordestino é abastecida por águas originárias do Semiárido que escoam em direção ao litoral.

O Atlas do Nordeste – hoje ATLAS Brasil, já que o estudo se estendeu a todo território nacional – é um dos bons exemplos da seriedade nos serviços públicos do país, ao menos enquanto diagnóstico. O estudo, posteriormente, foi refinado também para os municípios abaixo de cinco mil habitantes, totalizando um número espantoso de 1.892 sedes urbanas no Nordeste necessitando da ampliação ou novos serviços de água. Portanto, do ponto de vista de diagnóstico, nenhuma autoridade federal, estadual ou municipal pode alegar falta de conhecimento do que deve ser feito para garantir o abastecimento hídrico na região semiárida, inclusive em todo o Brasil.

O básico do Atlas do Nordeste é o diagnóstico minucioso de município a município em termos hídricos. É avaliada a situação atual de cada um deles e projetada a demanda urbana de água para o futuro, particularmente o período de 2015 a 2025. O diagnóstico aponta ainda os mananciais – de superfície e subterrâneos - que ofertarão a água, a obra a ser feita, inclusive os custos preliminares da referida obra. Hoje, cada cidadão pode acessar o ATLAS Brasil e conferir a situação de seu município em termos de água e a demanda para o futuro

A maioria das propostas são serviços de adução para as sedes urbanas, o que se configura num perfil de obra de outra natureza se comparadas àquelas do meio rural. Onde existe concentração urbana a necessidade passa pela adução da fonte até o serviço de tratamento de água municipal, com sua consequente distribuição para o uso doméstico, industrial, nos serviços e demais demandas. Há municípios, como Pintadas na Bahia, que combinam em pleno meio urbano a distribuição dos serviços distribuição de água no meio urbano com as cisternas de captação da água de chuva. É que o manancial que abastece a cidade contém sal, o que obrigou a prefeitura a  construir cisternas para garantir água doce para o consumo humano em pleno meio urbano.

Acontece que nem sempre a fonte abastecedora está próxima daquele núcleo urbano. Um exemplo é Aracaju, que tem grande parte de sua demanda de água feita pelas águas do rio São Francisco. As adutoras que levam água até Aracaju, distância de aproximadamente 100 km, são feitas por tubulações, o que evita perdas por evaporação, vazamentos e diminui grandemente os impactos sociais e ambientais de uma obra como essa. Ao contrário da Transposição de Águas do Rio São Francisco para o chamado Nordeste Setentrional, feita por imensos canais, impactando a caatinga, as famílias que estavam em seu percurso, cortando o caminho de animais selvagens e domésticos, dificultando inclusive o trânsito da população da região.

Algumas dessas adutoras, como a do Pajeú, no sertão de Pernambuco, em seu traçado abrangem uma série de municípios e comunidades rurais, evidenciando que elas podem ser otimizadas, diminuindo custos e ganhando em eficiência. O colapso hídrico que se tornou iminente em meados de 2013 na cidade de Serra Talhada, obrigou o Ministério da Integração Nacional a apressar essa adutora que se arrastava há muitos anos. Sua fonte principal de abastecimento é o rio São Francisco. Mas, ela deveria estar pronta há muito mais tempo, chegando inclusive a municípios da Paraíba, que não deveriam estar passando as necessidades que passam hoje.

Nesse sentido é que se estabeleceu o conflito de grandes obras como a Transposição com o tipo de adução estabelecido pela Agência Nacional de Águas. Na lei brasileira de recursos hídricos, a prioridade no uso da água é o “abastecimento humano e a dessedentação dos animais (Lei n.9.433/97, art. 1, Inciso III). Portanto, o Atlas do Nordeste indica aduções que tem por finalidade o abastecimento hídrico das populações urbanas, não o uso econômico em projeto do agro e hidronegócios, como a irrigação intensiva e a criação de camarões em cativeiro. Esse conflito está posto e a disputa por esse tipo de obras que interessam ao capital deverá continuar e se aprofundar. Uma das razões da escassez de água no meio urbano nessa longa estiagem é que as águas dos açudes e barragens foram prioritariamente utilizadas para irrigação e, inclusive, para as obras da Transposição do São Francisco, diminuindo drasticamente a oferta de água para as populações urbanas.

Foi esse tipo de situação, por exemplo, que se criou com a barragem de Mirorós, no rio Verde, um afluente do São Francisco. A água da barragem foi intensamente utilizada para a irrigação de bananeiras, o que reduziu a 8% as suas reservas, restando uma água salinizada imprópria para o consumo humano. O fato obrigou o governo baiano, em parceria com o governo federal, a instalar rapidamente a adutora para Irecê, tendo como fonte o rio São Francisco. Acontece que essa adutora, por elevar mais alto a água colhida da fonte, consome muito mais energia, elevando o custo da água na ponta final. Portanto, um olhar sistêmico sobre o uso da água na região semiárida, incluindo o abastecimento urbano, necessariamente gerará conflitos entre os usos prioritários e os usos econômicos. Na lei prevalece o abastecimento humano e a dessedentação dos animais. Na prática prevalecem os usos do agro e hidronegócios.

Esse conflito no uso da água dos mananciais estendeu-se inclusive às águas subterrâneas. No chamado Platô do Irecê, Bahia, o uso intenso das águas subterrâneas secou os aquíferos, gerando inclusive instabilidade geológica, como é o caso da cidade de Lapão, que apresentou problemas de afundamentos do terreno em pleno coração da cidade. Segundo técnicos que se reuniram no Instituto Histórico e Geográfico da Bahia em 2012, o mesmo fenômeno de eliminação dos mananciais pode acontecer no Oeste Baiano se o poder público não fiscalizar eficientemente o uso das águas do aquífero Urucúia pelo agronegócio da região.

2.      O futuro

Enfim, não poderemos mais analisar o Semiárido brasileiro apenas a partir do meio rural, embora ali ainda esteja a população em situação de maior vulnerabilidade. Agora a questão urbana tornou-se tão fundamental quanto a rural. O paradigma da convivência com o Semiárido também terá necessariamente que incluir o meio urbano.

Sucede que há um conflito explícito pelo uso da água no Semiárido entre os usos prioritários e econômicos. Portanto, além de uma disputa de paradigmas, há também uma disputa de classes. A sociedade civil organizada, até agora devotada a pensar o meio rural, também terá que considerar o meio urbano. Aliás, a distinção absoluta entre rural e urbano já não cabe mais em nossa sociedade, inclusive na região semiárida. Há múltiplas interfaces no momento atual entre mundos que eram considerados absolutamente distintos e até antagônicos.

Se obras hídricas de porte médio, como as adutoras, não estão ao alcance das organizações em suas implementações, é para tal que existe a luta política. Se no meio rural podemos fazer uma luta política e participar da implementação dessas tecnologias, no meio urbano nos cabe a luta política para que o Estado brasileiro implemente os serviços de água prognosticados no ATLAS do Nordeste para o meio urbano.

Dessa forma, a convivência com o Semiárido passa a ter um olhar mais sistêmico sobre a realidade da região, mais integrado, reconhecendo o papel importante da sociedade civil no meio rural, mas agora estendendo-o a uma luta política para o meio urbano.

 

Referências

ASA. Semiárido. Página Inicial. Disponível em:< http://www.asabrasil.org.br>. Acesso em: 17 jun. 2013.

BRASIL. Lei Brasileira de Recursos Hídricos n. 9.433/97. Disponível em: . Acesso em: 17 jun. 2013.

BRASIL. Agência Nacional de Águas. Atlas do Nordeste. Disponível em: . Acesso em: 17 jun.  2013.

CPT. CEPAC. IBASE. Genocídio do Nordeste 1979-1983. Salvador: Mandacaru Ltda, 1984.

DA SILVA, R. M. Alves. Entre dois paradigmas: combate à seca e convivência com o semi-árido. Disponível em: >. Acesso em: 17 jun. 2013.

MALVEZZI, Roberto. Semi-árido: uma visão holística. CONFEA/CREA: Brasília, 2007

OBS: texto feito para o módulo “Desafios contemporâneos do Semiárido” de ensino à distância da REDEgenteSAN / FAURGS-IABS-MDS.

 

 

por João Suassuna — Última modificação 17/12/2013 11:01

Cisternas que ajudariam famílias na seca são instaladas em lugares irregulares em Pernambuco


Janeiro marca o início da estação chuvosa no sertão de Pernambuco e é preciso instalar as cisternas a tempo de armazenar a água que cai do céu para atravessar o período de escassez que sempre vem depois.

http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2013/12/cisternas-que-ajudariam-familias-na-seca-sao-instaladas-em-lugares-irregulares-em-pernambuco.html

Em Pernambuco, os nossos repórteres encontraram problemas no uso de um sistema de proteção contra os efeitos da estiagem. Muitas cisternas, que deveriam armazenar água durante o período de chuvas, foram instaladas em lugares irregulares.

Em Ipubi, no Sertão de Pernambuco, 608 famílias se cadastraram para receber uma cisterna. Dona Raimunda Maria de Jesus espera o reservatório há um ano. Enquanto isso, ela conta com a solidariedade do vizinho para matar a sede dos sete filhos.

“Tem dia que meus filhos não vão nem pra aula por causa da falta d’água”, conta.

As famílias têm pressa. Depois de um longo período de seca, a temporada de chuvas está pra chegar. Janeiro marca o início da estação chuvosa no sertão de Pernambuco e é preciso instalar as cisternas a tempo de armazenar a água que cai do céu para atravessar o período de escassez que sempre vem depois.

Cada cisterna custa cerca de R$ 5.800 e pode armazenar 16 mil litros de água. Só as famílias da zona rural, com renda muito baixa e que não têm outra cisterna poderiam ser beneficiadas. Mas enquanto muitos não têm água em casa, encontramos várias das novas cisternas instaladas irregularmente.

Um sítio já tem uma cisterna de concreto. Mas uma de plástico também foi instalada. Outra cisterna foi colocada numa casa em ruínas.

Em outro terreno, ela está num local onde existe apenas um pequeno depósito. O telhado não tem o tamanho suficiente para recolher a água para a cisterna.

Já outra veio parar na área urbana. A companhia de desenvolvimento dos vales do São Francisco e do Parnaíba, responsável pela instalação das cisternas, diz que vai fazer uma vistoria e recolher todas as que foram instaladas em locais irregulares.

“A cisterna será removida e será direcionada a quem de fato necessita. A gente não pode deixar que uma pessoa fique sem acesso à cisterna enquanto outro que já tem condição fique com a cisterna”, declarou Augusto Beserra, gerente regional de revitalização da Codevasf.

Sobre o assunto:


Na cidade de Ipubi, reservatórios estão em depósito improvisado. Codevasf reconhece demora, mas não dá prazo para iniciar serviço.

 Fonte para edição no Rema:

Marcos Carnaúba
Eng.º Civil Crea 3034 D -PE/FN
Tels. 82.9981.6748
E-mail:marcarnauba@gmail.com
Maceió - Alagoas - Brasil
Skype: marcarnauba 

COMENTÁRIOS

João Suassuna - Pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, Recife

Fica clara que a questão da distribuição de água no Semiárido virou um prostíbulo! Não é possível que inescrupulosos façam política com o sofrimento e a miséria do povo! As cisternas estão sendo instaladas em locais inapropriados e, ainda por cima, abastecendo pessoas que não as necessitam. Isso é caso para a Polícia Federal entrar em cena! Já éramos contrários à instalação de cisternas de plástico, pelos problemas que vinham apresentando, seja no caríssimo transporte em caminhões, seja nos danos causados no equipamento pelo excessivo calor da região. Agora surgiu essa novidade: seu uso inescrupuloso! Precisamos dar um basta em tudo isso! É preciso que se apurem essas denúncias de forma clara e que se ponha esses espertalhões na cadeia! O Semiárido não merece isso!

por João Suassuna — Última modificação 17/12/2013 09:45

Seca no semiárido brasileiro deve se agravar nos próximos anos


Os problemas de seca prolongada registrados no semiárido brasileiro devem se agravar ainda mais nos próximos anos por causa das mudanças climáticas globais. Por isso, é preciso executar ações urgentes de adaptação e mitigação desses impactos e repensar os tipos de atividades econômicas que podem ser desenvolvidas na região, avaliam pesquisadores durante a 1ª Conclima (Conferência Nacional de Mudanças Climáticas Globais), que ocorre até esta sexta-feira (13), em São Paulo.

http://noticias.uol.com.br/meio-ambiente/ultimas-noticias/redacao/2013/09/13/seca-no-semiarido-brasileiro-deve-se-agravar-nos-proximos-anos.htm

2012: O gelo no Ártico encolheu drasticamente nos últimos anos e chegou a menor superfície desde 1979, com 3,41 milhões de quilômetros quadrados em 16 de setembro de 2012 NOAA/AP

Os problemas de seca prolongada registrados no semiárido brasileiro devem se agravar ainda mais nos próximos anos por causa das mudanças climáticas globais. Por isso, é preciso executar ações urgentes de adaptação e mitigação desses impactos e repensar os tipos de atividades econômicas que podem ser desenvolvidas na região, avaliam pesquisadores durante a 1ª Conclima (Conferência Nacional de Mudanças Climáticas Globais), que ocorre até esta sexta-feira (13), em São Paulo.

De acordo com dados do Cenad (Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres), só nos últimos dois anos foram registrados 1.466 alertas de municípios no semiárido que entraram em estado de emergência ou de calamidade pública em razão de seca e estiagem. Esses são os desastres naturais mais recorrentes no Brasil, segundo o órgão.

O Primeiro Relatório de Avaliação Nacional do PBMC (Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas), que foi divulgado no dia de abertura da Conclima, estima que esses eventos extremos aumentem principalmente nos biomas Amazônia, Cerrado e Caatinga, e que as mudanças devem se acentuar a partir da metade e até o fim do século 21. Dessa forma, o semiárido sofrerá ainda mais no futuro com o problema da escassez de água que enfrenta hoje, alertaram os pesquisadores.

"Se hoje já vemos que a situação é grave, os modelos de cenários futuros das mudanças climáticas no Brasil indicam que o problema será ainda pior. Por isso, todas as ações de adaptação e mitigação pensadas para ser desenvolvidas ao longo dos próximos anos, na verdade, têm de ser realizadas agora", disse Marcos Airton de Sousa Freitas, especialista em recursos hídricos e técnico da ANA (Agência Nacional de Águas).

Segundo o pesquisador, o semiárido - que abrange Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba, Ceará, Piauí e o norte de Minas Gerais - vive hoje o segundo ano do período de seca, iniciado em 2011, que pode se prolongar por um tempo indefinido.

Um estudo do órgão, com base em dados de vazão de bacias hidrológicas da região, apontou que a duração média dos períodos de seca no semiárido é de 4,5 anos. Estados como o Ceará, no entanto, já enfrentaram secas com duração de quase nove anos, seguidos por longos períodos nos quais choveu abaixo da média estimada.

De acordo com Freitas, a capacidade média dos principais reservatórios da região - com volume acima de 10 milhões de metros cúbicos de água e capacidade de abastecer os principais municípios por até três anos - está atualmente na faixa de 40%. E a tendência até o fim deste ano é de esvaziarem cada vez mais.

"Caso não haja um aporte considerável de água nesses grandes reservatórios em 2013, poderemos ter uma transição do problema de seca que se observa hoje no semiárido, mais rural, para uma 'seca urbana' - que atingiria a população de cidades abastecidas por meio de adutoras desses sistemas de reservatórios", alertou Freitas.

Os Estados Unidos são o segundo país na lista dos que mais emitem gases do efeito estufa atualmente. A maioria vem da geração de eletricidade, com 2.154.025 toneladas de gás carbônico equivalente (CO2e), segundo dados de 2009. Acima, vista da usina termelétrica movida a carvão que fica próxima a Emmett, no Kansas Leia mais Charlie Riedel/AP

Ações de adaptação

Uma das ações de adaptação que começou a ser implementada no semiárido nos últimos anos e que, de acordo com os pesquisadores, contribuiu para diminuir sensivelmente a vulnerabilidade do acesso à água, principalmente da população rural difusa, foi o Programa Um Milhão de Cisternas.

Lançado em 2003 pela Articulação Semiárido Brasileiro, rede formada por mais de mil ONGs (organizações não governamentais) que atuam na gestão e no desenvolvimento de políticas de convivência com a região semiárida, o programa visa implementar um sistema nas comunidades rurais da região por meio do qual a água das chuvas é capturada por calhas, instaladas nos telhados das casas, e armazenada em cisternas cobertas e semienterradas. As cisternas são construídas com placas de cimento pré-moldadas, feitas pela própria comunidade, e têm capacidade de armazenar até 16 mil litros de água.

O programa tem contribuído para o aproveitamento da água da chuva em locais onde chove até 600 milímetros por ano - comparável ao volume das chuvas na Europa - que evaporam e são perdidos rapidamente sem um mecanismo que os represe, avaliaram os pesquisadores.

"Mesmo com a seca extrema na região nos últimos dois anos, observamos que a água para o consumo da população rural difusa tem sido garantida pelo programa, que já implantou cerca de 500 mil cisternas e é uma ação política de adaptação a eventos climáticos extremos. Com programas sociais, como o Bolsa Família, o programa Um Milhão de Cisternas tem contribuído para atenuar os impactos negativos causados pelas secas prolongadas na região", afirmou Saulo Rodrigues Filho, professor da UnB (Universidade de Brasília).

Como a água tende a ser um recurso natural cada vez mais raro no semiárido nos próximos anos, Rodrigues defendeu a necessidade de repensar os tipos de atividades econômicas mais indicadas para a região.

"Talvez a agricultura não seja a atividade mais sustentável para o semiárido e há evidências de que é preciso diversificar as atividades produtivas na região, não dependendo apenas da agricultura familiar, que já enfrenta problemas de perda de mão de obra, uma vez que o aumento dos níveis de educação leva os jovens da região a se deslocar do campo para a cidade", disse Rodrigues.

"Por meio de políticas de geração de energia mais sustentáveis, como a solar e a eólica, e de fomento a atividades como o artesanato e o turismo, é possível contribuir para aumentar a resiliência dessas populações a secas e estiagens agudas", afirmou.

Outras medidas necessárias, apontada por Freitas, são de realocação de água entre os setores econômicos que utilizam o recurso e seleção de culturas agrícolas mais resistentes à escassez de água enfrentada na região.

"Há culturas no semiárido, como capim para alimentação de gado, que dependem de irrigação por aspersão. Não faz sentido ter esse tipo de cultura que demanda muito água em uma região que sofrerá muito os impactos das mudanças climáticas", afirmou Freitas.

Setembro - O Brasil tem duas empresas na lista das maiores poluidoras do mundo: a Petrobrás e a Vale, líder na produção de minério de ferro (foto), destaca o documento da Carbon Disclosure Project (CDP), organização independente especializada no reporte climático das empresas. Juntas, as 50 maiores poluidoras entre as 500 maiores companhias do mundo cotadas na bolsa emitiram 2,54 bilhões de toneladas métricas desde 2009, aumento de 1,75% Leia mais Marcos Issa/Bloomberg News

Transposição do Rio São Francisco

O pesquisador também defendeu que o projeto de transposição do Rio São Francisco tornou-se muito mais necessário agora, tendo em vista que a escassez de água deverá ser um problema cada vez maior no semiárido nas próximas décadas, e é fundamental para complementar as ações desenvolvidas na região para atenuar o risco de desabastecimento de água.

Alvo de críticas e previsto para ser concluído em 2015, o projeto prevê que as águas do Rio São Francisco cheguem às bacias do Rio Jaguaribe, que abastece o Ceará, e do Rio Piranhas-Açu, que abastece o Rio Grande do Norte e a Paraíba.

De acordo com um estudo realizado pela ANA, com financiamento do Banco Mundial e participação de pesquisadores da Universidade Federal do Ceará, entre outras instituições, a disponibilidade hídrica dessas duas bacias deve diminuir sensivelmente nos próximos anos, contribuindo para agravar ainda mais a deficiência hídrica do semiárido.

"A transposição do Rio Francisco tornou-se muito mais necessária e deveria ser acelerada porque contribuiria para minimizar o problema do déficit de água no semiárido agora, que deve piorar com a previsão de diminuição da disponibilidade hídrica nas bacias do Rio Jaguaribe e do Rio Piranhas-Açu", disse Freitas.

O Primeiro Relatório de Avaliação Nacional do PBMC, no entanto, indica que a vazão do Rio São Francisco deve diminuir em até 30% até o fim do século, o que colocaria o projeto de transposição sob ameaça.

Freitas, contudo, ponderou que 70% do volume de água do Rio São Francisco vem de bacias da região Sudeste, para as quais os modelos climáticos preveem aumento da vazão nas próximas décadas. Além disso, de acordo com ele, o volume total previsto para ser transposto para as bacias do Rio Jaguaribe e do Rio Piranhas-Açu corresponde a apenas 2% da vazão média da bacia do Rio São Francisco.

"É uma situação completamente diferente do caso do Sistema Cantareira, por exemplo, no qual praticamente 90% da água dos rios Piracicaba, Jundiaí e Capivari são transpostas para abastecer a região metropolitana de São Paulo", comparou. "Pode-se argumentar sobre a questão de custos da transposição do Rio São Francisco. Mas, em termos de necessidade de uso da água, o projeto reforçará a operação dos sistemas de reservatórios existentes no semiárido."

De acordo com o pesquisador, a água é distribuída de forma desigual no território brasileiro. Enquanto 48% do total do volume de chuvas que cai na Amazônia é escoado pela Bacia Amazônica, segundo Freitas, no semiárido apenas em média 7% do volume de água precipitada na região durante três a quatro meses chegam às bacias do Rio Jaguaribe e do Rio Piranhas-Açu. Além disso, grande parte desse volume de água é perdido pela evaporação. "Por isso, temos necessidade de armazenar essa água restante para os meses nos quais não haverá disponibilidade", concluiu.

 COMENTÁRIOS

Marcos Carnaúba - Eng.º Civilem Maceió - AL

Suassuna

Espero que esses pesquisadores errem os prognóstico de seca alongada. Poucos vão sobreviver.

Discordo quando um pesquisador mistura ciência com transposição adentrando na sociologia.

Sim, as cisternas são uma excelente opção mas elas estão sendo abastecidas por carros-pipas porque não chove. E do carro-pipa surgem não somente a corrupção que se vê nos diversos rincões, como, também, os laranjas - donos de caminhões que pertencem a políticos.

O nível de educação não melhorou em nada - pelo menos por aqui.

A aposentadoria, justa, do agricultor, e as diversas bolsas criaram um novo problema que o meu pai já diagnosticara há 50 anos. Assim dizia: quando a safra de feijão for boa inexistem trabalhadores porque eles têm alimento, mas não têm horizontes.

Convivo com agricultores e estou observando que somente os mais velhos se interessam em plantar algo. Trabalham sozinhos. Quando muito, os filhos vêm trazer o almoço e voltam para continuarem um nada fazer sem fim. Muitos pequenos agricultores que moravam em seus sítios demoliram as casas e foram morar nas cidades.
Foi ai a abertura para o crack e roubos em geral. Essa moçada não tem horizontes, nem empregos, e os que saem do campo seguem para o Tocantins, mato Grosso e outros. Estranhamente vários voltam ricos, em curto prazo, o que aponta para desvios de conduta.

É preciso refazer a formação social do Nordeste.

Estão mantendo os currais eleitorais de outrora, de forma disfarçada.

É o que vejo.

Abraços caetés

Marcos Carnaúba

Eng.º Civil Crea 3034 D -PE/FN

Tels. 82.9981.6748

 E-mail:marcarnauba@gmail.com

Maceió - Alagoas - Brasil

 por João Suassuna — Última modificação 18/12/2013 10:17

Ministério Público Federal investiga instalação de usina nuclear em AL.


Há uma grande movimentação para que seja construída em Piranhas. Ação civil pública foi instaurada após anúncio da direção da Eletronuclear.

http://g1.globo.com/al/alagoas/noticia/2013/12/ministerio-publico-federal-investiga-instalacao-de-usina-nuclear-em-al.html

O Ministério Público Federal (MPF) em Arapiraca abriu um inquérito civil para investigar o processo de instalação de uma usina nuclear em Piranhas, cidade do Sertão alagoano tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional.

O MPF enviou ofício à Eletrobras Eletronuclear solicitando informações sobre o andamento do projeto e detalhes como a localização exata das duas usinas nucleares anunciadas pelo governo federal a serem instaladas no Nordeste.

O Ministério Público Federal também quer saber qual a data prevista para o início da construção e pediu cópias de toda a documentação relativa às autorizações para o projeto, além de cópias dos estudos realizados até o momento da escolha dos locais.

Ainda é solicitado o esclarecimento de que forma a população afetada foi consultada sobre a implantação das usinas, como exige a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

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Ameaças
O inquérito foi aberto pelo MPF após a afirmação pública do coordenador regional na Eletrobras Eletronuclear, Carlos Henrique Costas Martins, dando conta que a próxima etapa para a concretização do projeto é avaliação do desenho das áreas consideradas adequadas aos aos planos nucleares do governo. Sendo uma delas a região de Piranhas, às margens do rio São Francisco, um rio federal já bastante impactado por obras governamentais.

De acordo com a procuradora da República em Arapiraca, Polireda Madaly Bezerra, responsável pela instauração do inquérito, a instalação de uma usina nuclear no Sertão de Alagoas poderá afetar moradores da região, como ribeirinhos, quilombolas, indígenas e pescadores artesanais.

Os órgãos oficiados pelo MPF terão prazo de 10 dias para enviar as informações requeridas. Além das informações solicitadas aos órgãos, o próprio MPF deverá indicar especialistas para a realização de estudo sobre as consequências da instalação da usina nuclear e, em especial, os impactos sobre as populações tradicionais da região apontada pelo governo federal.

Fonte para edição no Rema:

Marcos Carnaúba
Eng.º Civil Crea 3034 D -PE/FN
Tels. 82.9981.6748
E-mail:marcarnauba@gmail.com
Maceió - Alagoas - Brasil
Skype: marcarnauba

Sobre o assunto:

Fórum BHSF e Ministério Público em audiência sobre usina nuclear em Itacuruba.

http://blogdaemaecologia.blogspot.com.br/2011/11/forum-bhsf-e-ministerio-publico-em.html

Usina Nuclear - CARTA DE ITACURUBA

http://www.remabrasil.org/Members/suassuna/campanhas/usina-nuclear-carta-de-itacuruba/view

MPF investiga processo de instalação de uma usina nuclear em Piranhas, no Sertão alagoano


Para nós, que militamos na defesa da Bacia do Rio São Francisco, essa informação é novidade. Como membro do Fórum Interinstitucional de Defesa da Bacia do Rio São Francisco em Pernambuco, já havíamos intercedido, pelo Velho Chico, quando das pretensões das autoridades na construção da Usina Nuclear em Itacuruba PE. Essa nova iniciativa do governo, em solo alagoano, nos pega de surpresa, pois está fora de nossa jurisdição de lutas. A proposta da Usina fica em território alagoano. Deixo o alerta para a militância ambiental da Terra dos Marechais, para começar a se organizar e coibir esse tipo de iniciativa. O meio ambiente alagoano irá agradecer.

por João Suassuna — Última modificação 16/12/2013 17:20

Plantio de culturas de subsistência no Semiárido nordestino: um caso a ser repensado.

Por João Suassuna

O plantio de milho e feijão, na dependência de chuvas, no Nordeste Semiárido, é uma atividade que não faz parte das nossas propostas de convivência com o clima da região. O clima semiárido é muito irregular, no tocante à caída das precipitações, portanto, inadequado ao cultivo de tais culturas, quando plantadas em regime de sequeio (na dependência única e exclusiva das chuvas). Não assinaria embaixo uma proposta como essa, que viesse a pôr em risco o sustento e a vida do cidadão que reside no Polígono das Secas.

Em recente entrevista na mídia, Manelito Dantas Vilar, proprietário da fazenda Carnaúba, localizada no município de Taperoá (PB), no Semiárido paraibano, fez comentários sobre a loteria existente na caída das chuvas no Cariri do Estado, fazendo referência à semelhança existente com as precipitações de Paris, na França. Segundo ele, em Paris, as precipitações alcançam um volume médio anual de cerca de 600 mm, equivalente ao que é precipitado na região de Taperoá, em igual período. Apenas salientou uma diferença fundamental: as chuvas de Paris ocorrem em 183 dias, de forma bem distribuída no tempo e no espaço.  Já as do Cariri paraibano ocorrem em cerca de 42 dias, no máximo, portanto concentradas irregularmente em curto período de tempo. Essa característica é imperiosa de ser observada, pois é, com ela, que advêm todas as impropriedades de se plantar, na região, as culturas de subsistência, que necessitam de umidade suficiente, e em momentos bem específicos do desenvolvimento da planta, para a satisfação de seu ciclo biológico de: germinar, se desenvolver, florir e frutificar. Faltando a umidade necessária, em um dos segmentos do ciclo, haverá certamente a quebra da safra das culturas, com as consequências nefastas à vida do produtor rural, tão bem conhecidas por todos nós nordestinos.

Uma planta de milho ou de feijão leva, em média, cerca de 90 dias para ser colhida. Na região semiárida, a semeadura dessas culturas costuma ocorrer no dia de São José (19 de março), para ser colhida no dia de São João (24 de junho). É a esperança do sertanejo de vir a ter milho verde no período junino, para a confecção das variadas iguarias de milho, tão apreciadas na região. É por essa razão que as chuvas ocorridas no dia de São José, enchem de esperanças o sertanejo, na crença de um ano com chuvas regulares e, portanto, de boas colheitas.

Como produzir grãos numa região com problemas climáticos tão sérios, se podemos produzir, e com competência, a proteína animal em termos de carne e leite e, a partir desses produtos, adquirir os grãos necessários à alimentação, produzidos em outras localidades do país, com condições mais propícias para assim fazê-lo? É uma questão de se adequar uma política agrícola, que efetivamente não temos, a uma realidade regional.

A Embrapa vem trabalhando a genética das plantas de milho e feijão, no sentido de torná-las precoces. Esse trabalho tem chegado a resultados interessantíssimos. Recentemente, a instituição desenvolveu nova variedade de feijão Caupi, com ciclo vegetativo inferior a 60 dias. Com esses resultados, a sua intenção é o de aumentar as chances nos plantios dos cultivares, quando realizados em regime de sequeiro, ou seja, a expensas das chuvas que, normalmente, ocorrem na região.

Respeitando as intenções da Embrapa nesse trabalho, mas a nossa opinião é a de que, mesmo com a utilização de cultivares precoces, os resultados nele obtidos não irão alcançar o sucesso desejado pelos pesquisadores, pelo simples fato de não haver ainda, na ciência, mecanismos de se fazer chover no momento adequado e nas quantidades volumétricas suficientes para a satisfação dos cultivos. Ora, no caso do Cariri paraibano, as chuvas são concentradas em 42 dias do ano. Nesse diminuto intervalo de tempo, torna-se impossível se prever a caída das chuvas, em volumes suficientes e no momento adequado, necessárias ao cumprimento do ciclo biológico dos vegetais, mesmo com as novas características de precocidade adquiridas. No caso do milho, por exemplo, em linguagem sertaneja, faltará sempre a chuva da “boneca” (fase vegetativa na qual a espiga está formada e os grãos estão em processo de desenvolvimento) e no do feijão o problema irá residir na fase de desenvolvimento dos grãos.

Na visão de José do Patrocínio Tomaz Albuquerque, um dos maiores hidrogeólogos do Nordeste, os cultivos de subsistência no Semiárido são importantes, desde que haja aportes hídricos para realizá-los. Segundo ele, “ a alternativa correta na produção de alimentos, não é somente uma (sequeiro), mas a correção das irregularidades que o afetam pelo uso dos recursos hídricos acumulados, seja superficialmente, seja subterraneamente. Além, é claro do incremento do xerofitismo. Porém, sem radicalismos. As águas subterrâneas continuam desconhecidas e, por isso, subestimadas em sua importância na correção de tais irregularidades. Principalmente as contidas nos aquíferos aluviais (há, inclusive, aquíferos aluviais intermitentes, como os rios, cujas águas não são aproveitadas e se perdem, também, por evaporação). Só um programa de pesquisas com sondagens poderia revelar onde e como dispor de todas estas águas subterrâneas dos aquíferos aluviais. Isso e tantas outros estudos e ações governamentais é o que falta para encarar, com relativo sucesso, o problema de nosso Semiárido”.

 Isso posto, defendemos um novo modelo de exploração agrícola para ser implantado no Semiárido. Esse modelo deve passar, necessariamente, pela exploração racional da capacidade de suporte da região, com a utilização dos elementos biológicos solo, água, plantas xerófilas, e animais adaptados, fugindo, sempre que possível, das culturas de grãos na dependência de chuvas (culturas de sequeiro). A instabilidade climática da região é muito severa, resultando, invariavelmente, em perdas frequentes de safras.

Finalizamos essa breve análise, com uma observação feita por Mônica Silveira, repórter da Globo Nordeste, quando da realização da Série sobre a Seca de 2013, editada no mês de maio, no Recife. Numa hora em que estavam recolhendo, na caatinga, as carcaças dos animais mortos pela seca, a repórter se referia aos laticínios produzidos na fazenda Carnaúba, evidenciando a possibilidade de, mesmo em período de seca severa, se “produzir queijos finos no Semiárido, temperados com plantas nativas da Caatinga, direto da região mais seca do Brasil. Segundo ela, delicadeza e sabor para alcançar paladares de quem nem imagina o que é a luta para enfrentar tanta adversidade”.

 

Sobre o assunto:

O agrônomo João Suassuna, pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, expõe em Brasília novo modelo de exploração agrícola no Semiárido.


SEMI-ÁRIDO: proposta de convivência com a seca (2002)


As armadilhas do clima (2004)


Aprendendo a conviver com o Semi-árido (2007)


MAPITOBA vem sendo apontada como a nova fronteira agrícola do país


MAPITOBA, a verdadeira região produtora de grãos no Nordeste, em regime de sequeiro.



 O artigo também foi editado no Portal ECODEBATE, no seguinte endereço eletrônico:


SEGURO GARANTIA-BODE, artigo de Clóvis Guimarães Filho


 
COMENTÁRIOS

João Suassuna - Pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, Recife

Esse artigo também foi editado no Portal ECODEBATE, portanto as discussões do assunto já poderão ser realizadas do outro lado do planeta. Escrevi o texto, com o propósito de que seja melhor esclarecido o Seguro Safra, dinheiro que atualmente vem sendo oferecido ao produtor rural do Semiárido nordestino, mediante os frequentes insucessos  que o mesmo vem tendo em suas colheitas.

Existe um estudo da Embrapa afirmando que, safras seguras, nos limites do Semiárido (principalmente de milho e feijão), só ocorrem em 20% dos casos, ou seja, em 10 anos agrícolas, apenas 2 têm relativo sucesso. O restante, invariavelmente, resulta em colheitas pífias.

 Os dirigentes nordestinos sabem disso, mas, mesmo assim, incentivam o produtor rural no plantio das culturas, porque ele (dirigente) vive a expensas do voto do cidadão agricultor. O Seguro Safra vem a calhar nessa ocasião. Por outro lado, o agricultor residente nos limites do Semiárido, também sabe das possibilidades de insucessos que tem nessa atividade, mas, mesmo assim planta as culturas, pela certeza de ter um dinheirinho fácil, dos dirigentes, para cobrir os prejuízos no campo. E isso vem se tornando uma bola de neve. Não irá acabar nunca! E está viciando o cidadão nordestino. Se a questão é oferecer recurso financeiros para ajudar o produtor rural a implantar seus sistemas de produção, que o faça mediante outra lógica financeira. Por que não instituir uma linha para o atendimento das necessidades agrícolas do produtor, mediante a implantação de sistemas com as tecnologias de convivência com o Semiárido, a exemplo do Seguro Palma Forrageira, Seguro Bode, Seguro Capim Buffel, ou mesmo Seguro Bagaço de Cana? Essas linhas financeiras seriam mais verdadeiras e trariam mais rendas ao agricultor nordestino.

 Rinaldo dos Santos - Editor Chefe da Revista O BERRO

Prezado Dr. Suassuna,

 É muito bem colocada essa questão do crédito fácil para culturas que não irão vingar. É uma atitude criminosa, eleitoreira, que precisa ser acusada.

 

O velho ditado, calcado na dura experiência da agricultura de gêneros perecíveis, diz o seguinte: "De cada 10 anos, 1 é ótimo, 2 são razoáveis, 3 são medíocres, 4 são péssimos".

 

Lamentavelmente, é nos anos "péssimos" e "medíocres" que surgem as melhores safras de votos para os governantes.

 
 

Rinaldo dos Santos

 

Por João Suassuna — Última modificação 16/09/2013 09:30

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