segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

PROJETO EMA

No dia 12 de fevereiro último, a EMA apresentou junto ao Fundo Estadual de Meio Ambiente – FEMA da Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente – SECTMA do Estado de Pernambuco, um Projeto denominado PAJEÚ. MATA CILIAR. DEVASTAÇÃO. ASSOREAMENTO, com os seguintes objetivos:

“1. Criar uma Infra-estrutura Básica para execução do projeto.
2. Realizar um Censo Demográfico da população ribeirinha.
3. Diagnosticar a Flora componente da mata ciliar do rio Pajeú.
4. Diagnosticar a Fauna existente na mata ciliar do rio Pajeú.
5. Diagnosticar a qualidade da água e o assoreamento do leito do rio.
6. Avaliar resultados, formular propostas e sugestões e encaminhá-las aos Pderes Públicos.”
O Projeto foi idealizado dentro da seguinte contextualização:

“O Município de Floresta está localizado no Sertão de Pernambuco, região de caatinga, sendo cortado pelo Rio Pajeú, afluente do Rio São Francisco. Tem uma população estimada de 30.000 de habitantes.
Suas principais atividades econômicas envolvem a agricultura - plantio de cebola, tomate, melancia, melão e outras culturas-, e a pecuária extensiva e semi-extensiva, com destaque para a criação de caprinos e ovinos.
Ao longo dos anos, com a exploração do solo sem os necessários critérios técnicos, nas margens do Rio Pajeú onde se concentram as atividades agropastoris, observa-se uma crescente devastação da mata ciliar e um consequênte assoreamento do leito do Rio.
Causa estranheza o fato de a cidade de Floresta, sede municipal, continuar sendo inundada pelo Rio Pajeú mesmo após a construção de três barragens a montante: Brotas, no município de Afogados da Ingazeira, e Jazigo e Serrinha, no de Serra Talhada. As inundações (a última ocorreu no início do ano de 2.004) causam prejuízos incalculáveis às populações urbana e rural tanto de ordem econômica quanto de ordem social.
Com o assoreamento do leito do Pajeú desapareceu a maior parte dos poços antes deixados pelas enchentes, poços estes que representavam uma fonte alternativa de renda para a população ribeirinha através da pesca.
É de bom alvitre desenvolver um processo de educação ambiental da população, especialmente dos proprietários ribeirinhos, com vistas a alertar sobre a atual degradação ambiental, orientá-la sobre a utilização regular do solo, respeitando o meio ambiente, e leva-la a uma reflexão quanto aos efeitos danosos da devastação da mata protetora das margens do Rio.
O presente Projeto propõe-se também a produzir subsídios para adoção de políticas públicas com o objetivo de evitar o agravamento da situação atual, e, bem assim, com vistas à recuperação dos danos já causados ao meio ambiente.”

Na elaboração do Projeto, a EMA contou com o envolvimento das seguintes Instituições Públicas: UAST/UFRPE extensão da Universidade Federal de Pernambuco em Serra Talhada; o INSTITUTO AGRONÔMICO DE PERNAMBUCO – IPA,; e IF - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia, Campus de Floresta-PE.
A Unidade Acadêmica de Serra Talhada - UFRPE faz três anos que está no Sertão do Pajeú, sendo fundamental na participação de vários projetos. A UAST atualmente conta com mais de cem professores pesquisadores, sendo na sua maioria doutores que vem desenvolvendo varias atividades de pesquisa e extensão com entidades governamentais e não-governamentais. Com a presença da UAST no sertão do estado ficou mais fácil desenvolver projetos sem ocorrer deslocamento de professores e pesquisadores da UFRPE, localizada em Dois Irmãos, em Recife-PE.
A participação do Instituto Agronômico de Pernambuco – IPA justifica-se pela conveniência de participação da pesquisadora e curadora do Herbário do IPA, a Dra Rita de Cássia. O Herbário apresenta mais de 83 mil exemplares da flora do bioma Caatinga, sendo este referencia no Estado de Pernambuco. Vale ainda salientar que durante a execução do Projeto poderá vir a serem encontrados novos espécimes da caatinga sertaneja do Pajeú, que viria a enriquecer o Herbário do IPA.

Caso venha a ser aprovado, a execução do Projeto, através dos resultados obtidos, proporcionará à população rural e urbana do Município de Floresta-PE uma consciência ecoambiental voltada para um processo de sustentabilidade no ambiente em que esta inserida.

Contará com a participação de escolas e universidades através de atividades desenvolvidas por estudantes do ensino médio e superior e de lideranças locais.
Os resultados e propostas obtidos com a realização do Projeto serão divulgados pela mídia local e regional, em reuniões, palestras, oficinas e seminários, e pela remessa dos relatórios e propostas às instituições de Ensino públicas e privadas, Prefeituras Municipais circunvizinhas, Secretarias e Ministérios afins, divulgação em congresso e publicação de artigos científicos.
Após a execução do Projeto, será desenvolvido um trabalho contínuo de conscientização ambiental junto á comunidade, Instituições de Ensino, Prefeituras e Câmaras Municipais da Região.
Isto é EMA EM AÇÃO.

EMA EM AÇÃO

Para todos que batalham pela ecologia e pela educação sócio ambiental é de grande interesse o artigo produzido pelo Dr. Elcio Alves de Barros, Engenheiro Agrônomo e pesquisador do Instituto Agronômico Pernambucano - IPA, e atual Coordenador do Comitê da Reserva da Biosfera da Caatinga de Pernambuco – CERBCAA-PE, ora anexado.


RESERVA DA BIOSFERA E UNIDADES DE CONSERVAÇÃO NA CAATINGA
Elcio Alves de Barros*

A "Conferência sobre a Biosfera" organizada pela UNESCO em 1968, foi a primeira reunião intergovernamental a tentar reconciliar a conservação e o uso dos recursos naturais, fundando o conceito presente de desenvolvimento sustentável.

Em 1970, a UNESCO lançou, o "Programa Homem e Biosfera", com o objectivo de organizar uma rede de áreas protegidas, designadas Reservas da Biosfera, que representam os diferentes ecossistemas do nosso planeta e cujos países proponentes se responsabilizam em manter e desenvolver.

Existem mais de 400 Reservas da Biosfera em todo planeta. Cada Reserva da Biosfera é uma coleção representativa dos ecossistemas característicos da região em que se estabelece.
As reservas da biosfera possuem três funções básicas:
das paisagens, ecossistemas e espécies;
desenvolvimento econômico e humano que seja cultural, social e ecologicamente sustentável;
logística, que dê suporte para pesquisas, monitoramento e educação.
A estrutura das reservas da biosfera pressupõe a existência de três áreas geograficamente delimitadas:
Uma Zona Núcleo - constituída por áreas representativas do ecossistema em que está inserida e reconhecida e protegida legalmente, as Unidades de Conservação.
Uma Zona de Amortecimento – área contígua a Zona Núcleo onde são permitidas apenas atividades compatíveis com os objetivos da Unidade de Conservação que é a Zona Núcleo.
Uma Zona de Transição – onde apenas atividades que promovam o desenvolvimento sustentável são incentivadas.

A Caatinga é o único bioma exclusivo do Brasil e compreende uma área de aproximadamente 11% do território nacional (IBGE, 1993). Ocupa, principalmente, a região Nordeste do Brasil, além da porção norte do Estado de Minas Gerais. Pode ser caracterizada pela vegetação do tipo savana estépica, pela longa estação seca e pela irregularidade pluviométrica com precipitação anual média variando, aproximadamente, entre 400 e 600 mm que contribuem para que os rios da região, em sua maioria, sejam intermitentes e sazonais.
Mesmo sendo uma região semi-árida, a Caatinga é extremamente heterogênea, sendo reconhecidas 12 tipologias que despertam atenção especial pelos exemplos fascinantes e variados de adaptação aos habitats semi-áridos.
Essa posição única entre os biomas brasileiros não foi suficiente para garantir à Caatinga o destaque merecido. Ao contrário, o Bioma tem sido sempre colocado em segundo plano quando se discute políticas para o estudo e a conservação da biodiversidade do país, como pode ser observado pelo número reduzido de unidades de conservação Além disso, é também um dos biomas mais ameaçados e alterados pela ação antrópica, principalmente o desmatamento, apresentando extensas áreas degradadas e solos sob intenso processo de desertificação.
Apesar de várias espécies terem sido descritas na região, a Caatinga é ainda pouco conhecida do ponto de vista científico, a maioria das nossas universidades e institutos de pesquisas concentram suas ações e seus estudos na zona da mata e no litoral. A expectativa é que nos próximos anos esta situação mude com a interiorização das universidades federais que em Pernambuco já chegaram a Petrolina, Serra Talhada, Caruaru e Garanhuns todas cidades localizadas na Caatinga. Também, espera-se que a universidade publica estadual - UPE crie novos campi no interior.
Promover a conservação da biodiversidade da Caatinga não é uma ação simples. Grandes obstáculos precisam ser superados. O primeiro deles é a pouca importância nos planos de desenvolvimento dos governos dada à questão ambiental.
Nestes planos a qualidade de vida da população interiorana não está vinculada a questão ambiental. Os órgãos governamentais não dispõem de um sistema que fiscalize e controle o desmatamento satisfatoriamente. Tampouco desenvolvem ações de educação ambiental voltada para a população rural e os jovens em idade escolar. Os livros didáticos utilizados nas escolas de primeiro e segundo grau pedem que os estudantes façam pesquisas sobre a mata atlântica. Sobre a Caatinga nenhuma palavra. Este conjunto de fatores contribui cada vez mais com a destruição de recursos biológicos
Menos de 4% da área da Caatinga está protegida em unidades de conservação. Se considerarmos apenas as UCs de proteção integral o percentual é menor que 1%. As terras indígenas, que são também importantes para manter a biodiversidade, ocupam, também, menos de 1% da área da região. As unidades de conservação além de cobrirem apenas uma pequena extensão da região da Caatinga, não representam bem a biodiversidade endêmica e ameaçada de extinção do bioma. A combinação de falta de proteção e de perda contínua de recursos biológicos contribui para a extinção de espécies exclusivas da Caatinga.
Se não tivermos Unidade de Conservação na Caatinga, não teremos Reserva da Biosfera da Caatinga como pressupõe o modelo apresentado no inicio.
Acredito que no momento atual marcado por um processo de mudança climática produzida pelas atividades humanas não existem argumentos que racionalmente se oponham a criação de novas unidades de conservação. Apenas argumentos econômicos se opôem a esta idéia e apenas critérios econômicos estão superados não preenchem os requisitos para o desenvolvimento sustentável.
Por isto, o objetivo principal do CERBCAA/PE é lutar para aumentar a área de Caatinga protegida em nosso Estado. Sabemos que só criar Ucs não é suficiente para alcançarmos o desenvolvimento sustentável. Outros instrumentos são necessários nessa caminhada em busca do equilíbrio ecológico e da qualidade de vida da população caatingueira. È apenas o primeiro passo de uma longa caminhada que precisa ser iniciada.

Aventura Selvagem em Cabaceiras - Paraíba

Rodrigo Castro, fundador da Associação Caatinga, da Asa Branca e da Aliança da Caatinga

Bioma Caatinga

Vale do Catimbau - Pernambuco

Tom da Caatinga

A Caatinga Nordestina

Rio São Francisco - Momento Brasil

O mundo da Caatinga