terça-feira, 31 de julho de 2012


A energia elétrica na Paraíba em 2012


Paraíba investe R$ 352 milhões em energia. Potencial deve passar de 580,4 MW para 1.094,8 MW, mas só vai representar 1,1% do crescimento nacional.

CORREIO DA PARAÍBA - Edição de 22/07/2012

Álisson Arruda

A capacidade instalada para gerar energia elétrica na Paraíba deve aumentar 88,66% até 2014, com investimentos de R$ 352 milhões em usinas. O objetivo é que a capacidade passe dos atuais 580,3 megawatts (MW), ganhe 514,5 MW e chegue a 1.094,8 MW. Mesmo assim, isso representa apenas 1,1% do que vai aumentar na capacidade instalada nacional. Pelo último balanço energético do Ministério de Minas e Energia, feito em 2010, a produção de energia no Estado correspondia a apenas 6,3% do total consumido em 2009, quando a capacidade era de 110 megawatts (MW). Enquanto a geração anual foi de 234 giga-watts por hora, o consumo chegou a 3.714 GWh.De acordo com o Ministério de Minas e Energia, em 2009, dos 110 MW de capacidade instalada no Estado, 4 MW são de hidroelétricas, 51 MW das termoelétricas convencionais e 55 MW das eólicas. Com o investimentos, em cinco anos, a capacidade terá aumentado 367,7%. Apesar de a Paraíba produzir apenas 6,3% do que consumia, no último balanço, o MME alega que o Estado está conectado ao Sistema Interligado Nacional (SIN) e, por isso, possui toda energia que necessite, com segurança e confiabilidade. O despacho das usinas do SIN é determinado pelo Operador Nacional do Sistema (ONS), através de instrumentos que visam otimizar a utilização dos recursos energéticos do país, de modo a privilegiar a geração mais competitiva.

Redução de gastos

Ainda que haja capacidade instalada disponível na Paraíba, o ONS pode decidir despachar uma usina, mais barata, localizada em outra parte do território nacional. O Ministério defende que, assim, a população brasileira como um todo é beneficiada com a produção de energia a um custo reduzido e, ao mesmo tempo, com uma superior segurança energética. Para o MME, deve-se ter cautela ao analisar informações relacionadas à geração de energia elétrica do Estado, uma vez que a operação do SIN é realizada visando a minimização do custo total de suprimento. No entanto, a geração caiu 26,6% de 2008 para 2009. Já o consumo total cresceu 2,6% no mesmo período. O crescimento no consumo do setor residencial da Paraíba foi de 7,2% entre 2007 e 2008, de 2,6% entre 2008 e 2009 e 14,5% entre 2009 e 2010. Já o consumo industrial decresceu nos dois primeiros períodos a taxas de 6,4% e 4%, respectivamente e, para o período de 2009 a 2010, cresceu 24,5%. De acordo com o Ministério de Minas e Energia, o Estado, assim como o País, vem crescendo com relação ao setor energético. No que se refere à representatividade, o consumo de energia elétrica do Estado foi cerca de 0,6% do consumo nacional em 2009.

Recursos representam apenas 0,3%

Investimentos na Paraíba ainda são pequenos em comparação com os R$ 98 bilhões do território nacional.

O total de investimentos previsto para aumentar a geração de energia elétrica na Paraíba (R$ 352 milhões) corresponde a 0,3% do montante que será aplicado no País e 1,1% da capacidade instalada nacional. Entre 2011 e 2014, serão investidos R$ 98 bilhões para geração de energia elétrica no Brasil, totalizando 22 usinas hidrelétricas (UHE´s), 13 pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH´s), 218 parques eólicos, 35 térmicas a biomassa, três térmicas a carvão, oito térmicas a gás natural, 31 térmicas a óleo e uma nuclear. O MME não detalhou onde haverá investimentos na Paraíba.

Segundo o órgão, a instalação de usinas de geração de energia elétrica nos estados depende do planejamento energético nacional que possui como diretrizes a busca pela segurança no abastecimento, modalidade tarifária, universalização do atendimento, diversificação do uso de energias renováveis, integração nacional e compromisso com as questões socioambientais.

O Ministério também informou que a matriz energética brasileira requererá investimentos da ordem de R$ 1 trilhão de reais na próxima década, dos quais R$ 236 bilhões correspondem à energia elétrica, R$ 686 bilhões à área de petróleo e gás e R$ 97 bilhões para biocombustíveis.

Investimentos na matriz energética nacional na próxima década

Setor R$ bi (%)

Energia elétrica 236 23,0

Geração 190 18,0

Transmissão 46 5,0

Petróleo e Gás 686 67,0

Biocombustíveis 97 10,0

Etanol 96,5 9,9

Biodiesel 0,6 1,0

Estado tem 17 usinas em operação


Subestações de Mussuré II, Santa Rita, Campina Grande e Coremas fazem suprimento de energia pelo NOS.

O Estado tem 17 usinas de energia elétrica em operação de acordo com o Operador Nacional do Sistema (ONS). A maioria (13) é eólica, sendo outras três térmicas (Campina Grande, Termoparaíba e Termonordeste), e uma hidráulica, em Coremas. Segundo o órgão, o suprimento de energia pelo Sistema Interligado Nacional da Paraíba para eventuais restrições, necessidades de reforços ou obras em curso é realizado através das subestações de Mussuré II, Santa Rita, Campina Grande e Coremas. O Operador destacou que entrou em operação este mês a subestação Santa Rita, que é um novo ponto de suprimento à Região Metropolitana de João Pessoa. Para o órgão, isso dotou a região de maior confiança, além de evitar restrição de carga quando houver perda simples de um dos transformadores da SE Mussuré II. Dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) mostram que, no total, são 22 empreendimentos localizados no Estado. As usinas, mesmo sem funcionar constantemente, têm receitas fixas pagas por clientes definidos nos leilões que oferecem as concessões. Essas receitas podem chegar a R$ 5 milhões por mês na Paraíba. Entre os empreendimentos, há 13 centrais geradoras eolielétricas (CGE), instaladas nos municípios de Mataraca e Alhandra, responsáveis por 10,35% da produção no Estado; uma central hidrelétrica (PCH), em Coremas, responsável por 0,55% da produção local; e três usinas termelétricas de energia (UTE), nas cidades de Campina Grande e João Pessoa (Termoparaíba e Termonordeste), responsáveis por 89,09% da produção. Do total de 13 Centrais Geradoras Eolielétricas, 12 estão localizadas no município de Mataraca e são de propriedade da Empresa Pacific Hydro, no Brasil desde 2006. As usinas são distribuídas em dois parques eólicos instalados que geram 58.000 kW de energia e abastecem 200 mil residências anualmente. Toda a energia gerada pelos parques eólicos é vendida diretamente para a Eletrobrás.

Energia eólica

O Parque Eólico Millennium foi o primeiro desenvolvimento de energia renovável da Pacific Hydro no Brasil. O Parque opera desde 2007 e tem capacidade instalada de 10 mil kW, energia suficiente para abastecer cerca de 40 mil residências brasileiras e evitar a emissão de aproximadamente 4.600 toneladas de gases poluentes de efeito estufa a cada ano. A energia limpa produzida é vendida de acordo com um contrato de venda em longo prazo com a Eletrobrás, estatal brasileira de geração, transmissão e distribuição de energia. Já o Parque Eólico Vale dos Ventos é o maior ativo em operação da Pacific Hydro no Brasil e é constituído por 60 turbinas de 800 kW instaladas em fazendas de cinco agricultores de cana-de-açúcar. Como os geradores e as estradas que integram o parque eólico só ocupam 5% da terra, a agricultura foi capaz de continuar sem interrupção. A geração eólica é feita em três fases. A primeira acontece por meio das pás dos aerogeradores, as “hélices”, que trabalham na captação do vento e na transformação desse movimento em energia mecânica. Na sequência, entra em ação a ‘anacele’, uma área localizada no topo do aerogerador, abrigando uma casa de máquinas, o gerador de energia e os painéis de controle. A terceira parte de um aerogerador é a torre que dá sustentação à estrutura. Cada parque eólico tem também uma subestação, que permite a distribuição da energia gerada.

Consumo aumentou 41%

O consumo de energia elétrica nas residências da Paraíba aumentou 41,36% em quatro anos, bem acima da média ocorrida no gasto de energia entre todos os setores, que foi de 32,74%. De 2007 a 2011, o consumo residencial passou de 864,4 gigawatts/hora (GWh) para 1.221,9 GWh. Enquanto isso, o aumento total do consumo de energia elétrica no Estado passou de 2.388,1 GWh para 3.170 GWh. O segundo maior aumento no consumo de energia elétrica foi verificado na iluminação pública, que passou de 141,585 GWh para 198,316 GWh, o que representa uma taxa de crescimento de 40,07%, entre 2007 e 2011. Em terceiro lugar no ranking de aumento de consumo está o setor comercial, que aumentou 34,53% no período. Enquanto em 2007, o setor gastava 407,5 GWh, em 2011, o consumo foi de 548,2 GWh.

COMENTÁRIOS

João Suassuna – josu@fundaj.gov.br

A questão da geração elétrica faz parte do nosso discurso contrário ao projeto da Transposição e em defesa da vida do São Francisco. Com uma potência instalada de cerca de 10.000 MW e com, praticamente, todo seu potencial gerador explorado, o rio é responsável, atualmente, por cerca de 95% da energia elétrica produzida no Nordeste. Principal fonte geradora da região, o Velho Chico já vem demonstrando, através dos usos múltiplos a que é submetido, limitações significativas em sua força geradora. Para se ter ideia dessa problemática, em 2010, a Chesf gerou, em suas usinas, cerca de 6 mil MW médios e a região demandou, naquele ano, cerca de 8 mil MW. Portanto, para o atendimento dos requerimentos energéticos do Nordeste em 2010, cerca de 2 mil MW médios já tiveram que vir de outros centros geradores do país. A Paraíba é um Estado muito dependente da energia gerada pela Chesf. Atualmente, o seu potencial instalado (1.094,8 MW) corresponde a cerca de 11% da potência elétrica nordestina. É nesse cenário de dependências e limitações, que está sendo prevista a retirada, no rio, pelo projeto de Transposição de suas águas, de um volume médio de 65 m³/s, (podendo chegar a uma retirada máxima de cerca de 127 m³/s), visando o abastecimento de cerca de 12 milhões de pessoas no Setentrional. A forma de retirada da água prevista no projeto, bem como sua condução e uso pelo grande capital, associada, ainda, às limitações do rio aqui relatadas, tudo isso resultará no agravamento da questão “geração/demanda de energia” da região. Portanto, com esse exemplo da Paraíba, torna-se imperioso voltamos a insistir na necessidade de se planejar melhor o acesso e o uso dos recursos hídricos na região semiárida brasileira, a fim de que o São Francisco continue exercendo o papel desenvolvimentista que lhe é peculiar, justificando a designação de rio da integração nacional.

João Suassuna é Pesquisador Titular da Fundação Joaquim Nabuco - Recife

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