A energia elétrica na Paraíba em 2012
Paraíba investe R$ 352 milhões em
energia. Potencial deve passar de 580,4 MW para 1.094,8 MW, mas só vai
representar 1,1% do crescimento nacional.
CORREIO DA PARAÍBA - Edição de 22/07/2012
Álisson Arruda
A capacidade instalada para gerar energia
elétrica na Paraíba deve aumentar 88,66% até 2014, com investimentos de R$ 352
milhões em usinas. O objetivo é que a capacidade passe dos atuais 580,3
megawatts (MW), ganhe 514,5 MW e chegue a 1.094,8 MW. Mesmo assim, isso
representa apenas 1,1% do que vai aumentar na capacidade instalada nacional.
Pelo último balanço energético do Ministério de Minas e Energia, feito em 2010,
a produção de energia no Estado correspondia a apenas 6,3% do total consumido
em 2009, quando a capacidade era de 110 megawatts (MW). Enquanto a geração
anual foi de 234 giga-watts por hora, o consumo chegou a 3.714 GWh.De acordo
com o Ministério de Minas e Energia, em 2009, dos 110 MW de capacidade
instalada no Estado, 4 MW são de hidroelétricas, 51 MW das termoelétricas
convencionais e 55 MW das eólicas. Com o investimentos, em cinco anos, a
capacidade terá aumentado 367,7%. Apesar de a Paraíba produzir apenas 6,3% do
que consumia, no último balanço, o MME alega que o Estado está conectado ao
Sistema Interligado Nacional (SIN) e, por isso, possui toda energia que
necessite, com segurança e confiabilidade. O despacho das usinas do SIN é
determinado pelo Operador Nacional do Sistema (ONS), através de instrumentos
que visam otimizar a utilização dos recursos energéticos do país, de modo a
privilegiar a geração mais competitiva.
Redução de gastos
Ainda que haja capacidade instalada disponível na
Paraíba, o ONS pode decidir despachar uma usina, mais barata, localizada em
outra parte do território nacional. O Ministério defende que, assim, a
população brasileira como um todo é beneficiada com a produção de energia a um
custo reduzido e, ao mesmo tempo, com uma superior segurança energética. Para o
MME, deve-se ter cautela ao analisar informações relacionadas à geração de
energia elétrica do Estado, uma vez que a operação do SIN é realizada visando a
minimização do custo total de suprimento. No entanto, a geração caiu 26,6% de
2008 para 2009. Já o consumo total cresceu 2,6% no mesmo período. O crescimento
no consumo do setor residencial da Paraíba foi de 7,2% entre 2007 e 2008, de
2,6% entre 2008 e 2009 e 14,5% entre 2009 e 2010. Já o consumo industrial
decresceu nos dois primeiros períodos a taxas de 6,4% e 4%, respectivamente e,
para o período de 2009 a 2010, cresceu 24,5%. De acordo com o Ministério de
Minas e Energia, o Estado, assim como o País, vem crescendo com relação ao
setor energético. No que se refere à representatividade, o consumo de energia
elétrica do Estado foi cerca de 0,6% do consumo nacional em 2009.
Recursos representam apenas 0,3%
Investimentos na Paraíba ainda são pequenos em
comparação com os R$ 98 bilhões do território nacional.
O total de investimentos previsto para aumentar a
geração de energia elétrica na Paraíba (R$ 352 milhões) corresponde a 0,3% do
montante que será aplicado no País e 1,1% da capacidade instalada nacional.
Entre 2011 e 2014, serão investidos R$ 98 bilhões para geração de energia
elétrica no Brasil, totalizando 22 usinas hidrelétricas (UHE´s), 13 pequenas
Centrais Hidrelétricas (PCH´s), 218 parques eólicos, 35 térmicas a biomassa,
três térmicas a carvão, oito térmicas a gás natural, 31 térmicas a óleo e uma
nuclear. O MME não detalhou onde haverá investimentos na Paraíba.
Segundo o órgão, a instalação de usinas de
geração de energia elétrica nos estados depende do planejamento energético
nacional que possui como diretrizes a busca pela segurança no abastecimento,
modalidade tarifária, universalização do atendimento, diversificação do uso de
energias renováveis, integração nacional e compromisso com as questões socioambientais.
O Ministério também informou que a matriz
energética brasileira requererá investimentos da ordem de R$ 1 trilhão de reais
na próxima década, dos quais R$ 236 bilhões correspondem à energia elétrica, R$
686 bilhões à área de petróleo e gás e R$ 97 bilhões para biocombustíveis.
Investimentos na matriz energética
nacional na próxima década
Setor R$ bi (%)
Energia elétrica 236 23,0
Geração 190 18,0
Transmissão 46 5,0
Petróleo e Gás 686 67,0
Biocombustíveis 97 10,0
Etanol 96,5 9,9
Biodiesel 0,6 1,0
Estado tem 17 usinas em operação
Subestações de Mussuré II, Santa Rita, Campina Grande e Coremas fazem suprimento de energia pelo NOS.
O Estado tem 17 usinas de energia elétrica em
operação de acordo com o Operador Nacional do Sistema (ONS). A maioria (13) é
eólica, sendo outras três térmicas (Campina Grande, Termoparaíba e
Termonordeste), e uma hidráulica, em Coremas. Segundo o órgão, o suprimento de
energia pelo Sistema Interligado Nacional da Paraíba para eventuais restrições,
necessidades de reforços ou obras em curso é realizado através das subestações
de Mussuré II, Santa Rita, Campina Grande e Coremas. O Operador destacou que
entrou em operação este mês a subestação Santa Rita, que é um novo ponto de
suprimento à Região Metropolitana de João Pessoa. Para o órgão, isso dotou a
região de maior confiança, além de evitar restrição de carga quando houver
perda simples de um dos transformadores da SE Mussuré II. Dados da Agência
Nacional de Energia Elétrica (Aneel) mostram que, no total, são 22 empreendimentos
localizados no Estado. As usinas, mesmo sem funcionar constantemente, têm
receitas fixas pagas por clientes definidos nos leilões que oferecem as
concessões. Essas receitas podem chegar a R$ 5 milhões por mês na Paraíba.
Entre os empreendimentos, há 13 centrais geradoras eolielétricas (CGE),
instaladas nos municípios de Mataraca e Alhandra, responsáveis por 10,35% da
produção no Estado; uma central hidrelétrica (PCH), em Coremas, responsável por
0,55% da produção local; e três usinas termelétricas de energia (UTE), nas
cidades de Campina Grande e João Pessoa (Termoparaíba e Termonordeste),
responsáveis por 89,09% da produção. Do total de 13 Centrais Geradoras
Eolielétricas, 12 estão localizadas no município de Mataraca e são de
propriedade da Empresa Pacific Hydro, no Brasil desde 2006. As usinas são
distribuídas em dois parques eólicos instalados que geram 58.000 kW de energia
e abastecem 200 mil residências anualmente. Toda a energia gerada pelos parques
eólicos é vendida diretamente para a Eletrobrás.
Energia eólica
O Parque Eólico Millennium foi o primeiro
desenvolvimento de energia renovável da Pacific Hydro no Brasil. O Parque opera
desde 2007 e tem capacidade instalada de 10 mil kW, energia suficiente para
abastecer cerca de 40 mil residências brasileiras e evitar a emissão de
aproximadamente 4.600 toneladas de gases poluentes de efeito estufa a cada ano.
A energia limpa produzida é vendida de acordo com um contrato de venda em longo
prazo com a Eletrobrás, estatal brasileira de geração, transmissão e
distribuição de energia. Já o Parque Eólico Vale dos Ventos é o maior ativo em
operação da Pacific Hydro no Brasil e é constituído por 60 turbinas de 800 kW
instaladas em fazendas de cinco agricultores de cana-de-açúcar. Como os
geradores e as estradas que integram o parque eólico só ocupam 5% da terra, a
agricultura foi capaz de continuar sem interrupção. A geração eólica é feita em
três fases. A primeira acontece por meio das pás dos aerogeradores, as hélices,
que trabalham na captação do vento e na transformação desse movimento em
energia mecânica. Na sequência, entra em ação a anacele, uma área localizada
no topo do aerogerador, abrigando uma casa de máquinas, o gerador de energia e
os painéis de controle. A terceira parte de um aerogerador é a torre que dá
sustentação à estrutura. Cada parque eólico tem também uma subestação, que
permite a distribuição da energia gerada.
Consumo aumentou 41%
O consumo de energia elétrica nas residências da
Paraíba aumentou 41,36% em quatro anos, bem acima da média ocorrida no gasto de
energia entre todos os setores, que foi de 32,74%. De 2007 a 2011, o consumo
residencial passou de 864,4 gigawatts/hora (GWh) para 1.221,9 GWh. Enquanto
isso, o aumento total do consumo de energia elétrica no Estado passou de 2.388,1
GWh para 3.170 GWh. O segundo maior aumento no consumo de energia elétrica foi
verificado na iluminação pública, que passou de 141,585 GWh para 198,316 GWh, o
que representa uma taxa de crescimento de 40,07%, entre 2007 e 2011. Em
terceiro lugar no ranking de aumento de consumo está o setor comercial, que
aumentou 34,53% no período. Enquanto em 2007, o setor gastava 407,5 GWh, em
2011, o consumo foi de 548,2 GWh.
COMENTÁRIOS
João Suassuna – josu@fundaj.gov.br
A questão da geração elétrica faz parte do nosso
discurso contrário ao projeto da Transposição e em defesa da vida do São
Francisco. Com uma potência instalada de cerca de 10.000 MW e com,
praticamente, todo seu potencial gerador explorado, o rio é responsável,
atualmente, por cerca de 95% da energia elétrica produzida no Nordeste.
Principal fonte geradora da região, o Velho Chico já vem demonstrando, através
dos usos múltiplos a que é submetido, limitações significativas em sua força
geradora. Para se ter ideia dessa problemática, em 2010, a Chesf gerou, em suas
usinas, cerca de 6 mil MW médios e a região demandou, naquele ano, cerca de 8
mil MW. Portanto, para o atendimento dos requerimentos energéticos do Nordeste
em 2010, cerca de 2 mil MW médios já tiveram que vir de outros centros
geradores do país. A Paraíba é um Estado muito dependente da energia gerada
pela Chesf. Atualmente, o seu potencial instalado (1.094,8 MW) corresponde a
cerca de 11% da potência elétrica nordestina. É nesse cenário de dependências e
limitações, que está sendo prevista a retirada, no rio, pelo projeto de
Transposição de suas águas, de um volume médio de 65 m³/s, (podendo chegar a
uma retirada máxima de cerca de 127 m³/s), visando o abastecimento de cerca de
12 milhões de pessoas no Setentrional. A forma de retirada da água prevista no
projeto, bem como sua condução e uso pelo grande capital, associada, ainda, às
limitações do rio aqui relatadas, tudo isso resultará no agravamento da questão
“geração/demanda de energia” da região. Portanto, com esse exemplo da Paraíba,
torna-se imperioso voltamos a insistir na necessidade de se planejar melhor o
acesso e o uso dos recursos hídricos na região semiárida brasileira, a fim de
que o São Francisco continue exercendo o papel desenvolvimentista que lhe é
peculiar, justificando a designação de rio da integração nacional.
João Suassuna é Pesquisador
Titular da Fundação Joaquim Nabuco - Recife
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