Derramamento
de petróleo: Pernambuco está preparado?
Heitor
Scalambrini Costa
Professor
da Universidade Federal de Pernambuco
Em
recente estudo divulgado pelo Instituto Ilos (RJ), que tem como uma de suas
atividades soluções em logística foi apresentada uma metodologia que permite
quantificar o valor monetário de “limpar” (?) o meio ambiente em caso de
derramamento de petróleo no Brasil. O modelo calcula, sob a visão empresarial,
apenas as despesas com a limpeza do óleo cru, sem levar em conta as multas
aplicadas pelos órgãos de proteção ambiental, os gastos referentes à
recuperação da fauna e flora, e outros custos financeiros decorrentes do
derramamento e de seus impactos.
Esta
tentativa de mensurar pode ser relevante para avaliar o risco ambiental no caso
de um desastre provocado pelo derramamento de óleo, e se ter base técnica para
o estabelecimento de indenizações aos diferentes tipos de impactos causados. O
valor encontrado para a área do pré-sal utilizando a técnica de dispersão do
óleo característico da região foi de US$ 56,86 para cada barril (159 litros)
derramado. O próprio estudo aponta que se o vazamento for próximo da costa,
este valor pode quadruplicar, chegando a US$ 227,44, inferior ao encontrado
para os EUA que é de US$ 260,24 e superior ao barril derramado na Europa que é
de US$ 109, 77.
No caso
particular de Pernambuco, onde se encontra em construção o Complexo Industrial
Portuário de Suape o receio de um vazamento/derramamento é plenamente
justificável, e motivo real de preocupação. Neste território de 13.500 ha vai
se concentrar inúmeras atividades industriais que utilizarão como matéria prima
o petróleo e derivados, além de atividades portuárias de carga e descarga do
referido material. Ali já se encontra em construção uma refinaria que receberá
petróleo e terá capacidade de produzir 200.000 barris de óleo diesel e insumos
diversos para a indústria petroquímica que está se instalando na região, um
parque de termelétricas consumindo óleo combustível e gás natural, além de
estaleiros, entre outras indústrias.
Para as
comunidades residentes e nativas um derramamento de óleo iria atingi-las
diretamente, com reflexos na economia regional, e cujos efeitos poderiam ser
catastróficos. A relevância da atividade turística na região, onde se situa a
10 km o balneário de Porto de Galinhas, constitui um aspecto particular na
avaliação dos prejuízos causados por um provável acidente. Outros impactos
poderão ocorrer se analisarmos e compararmos com as conseqüências decorrentes
do desastre ecológico provocado pelo vazamento de óleo da Refinaria Duque de
Caxias (REDUC), em janeiro de 2000, onde 5,8 mil toneladas de petróleo (42.522
barris) foi derramado no mar.
Nesta
oportunidade os impactos verificados foram: a redução do consumo de peixe e
frutos do mar em decorrência da contaminação; a interrupção ou arrefecimento de
diversas atividades econômicas, com destaque para a pesca, o turismo e o
comércio na área atingida pelo vazamento; o desemprego; o comprometimento da
imagem da Baía de Guanabara – cartão postal do Estado; a criação de ambiente
propício ao surgimento de diversas moléstias ou sintomas (dermatite,
conjuntivites tóxicas ou alérgicas, provocadas pelo contato com o óleo, doenças
do fígado, depressão do sistema nervoso central e irritações gastrintestinais,
provocadas pela ingestão de alimentos contaminados, perda de apetite, náusea,
vômitos e dor de cabeça provocado pela inalação de vapores tóxicos liberados a
partir da decomposição, sob a ação do calor, do óleo contido na lâmina d’água).
Sem contar que foi atingida uma área de mangue, santuário de várias espécies
marinhas que ali encontravam seus alimentos e se reproduziam. Neste ecossistema
o derramamento matou ou mesmo gerou um forte estresse nas plantas que tiveram
contato com o óleo, causando um sufocamento radicular devido à absorção de
elementos tóxicos.
Um
simples exercício aritmético mostra que se usarmos os números apresentados pelo
Instituto Ilos para o acidente da REDUC, somente com a “limpeza”, ou melhor, a
dispersão do óleo derramado, estima-se gastos em torno de 10 milhões de
dólares. Quantia que pode ser considerada pequena diante das despesas com todos
os outros impactos relacionados a esta tragédia, que deixou marcas na Bacia de
Guanabara até hoje.
Longe
de ser um profeta do apocalipse, mas diante da opção adotada de se instalar um
complexo com porto e indústrias sujas em Suape, a pergunta que não quer calar:
Pernambuco está preparado (ou se preparando) para a prevenção de um acidente
que pode acontecer provocado pelo derramamento/vazamento de petróleo em sua
costa?
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