RESTAURAR O PACTO FEDERATIVO!
por George Emílio Bastos Gonçalves
É inaceitável a atual
centralização e concentração político-administrativo-tributária impostas pelo
Governo Federal que atentam contra a Constituição Federal de 1988 (Pacto
Federativo e regionalização), mantém perverso colonialismo interno ao Nordeste.
Além da retórica, nas políticas governamentais são insuficientes os
investimentos públicos destinados à Região, sejam pelo OGU, PPAs, PACs e agências
estatais de investimentos. Numa média anual abaixo de 10% de seus orçamentos
(BNDES, FINEP, CNPq, BB, CEF, Petrobras, Eletrobras, etc.), são incapazes de
gerar efetivo desenvolvimento, para os 27% da população brasileira. O Nordeste
cresce, mas não se desenvolve!
Sem infraestrutura
econômico-social, estrangulado por investimentos limitados na negligência
governamental, más políticas e tecnocracia inepta, se mantém na periferia como
pátria dos miseráveis, analfabetos, doentes, da bolsa família, do salário
mínimo, exportador de mão-de-obra desqualificada, dos migrantes discriminados e
do conveniente curral eleitoral. Indicadores qualitativos no Nordeste continuam
inalterados (IDH, FBKF, Gini), congelados há décadas na modesta participação de
56% da renda média per capita dos brasileiros e 13% do PIB nacional
(IBGE-2010), fatores limitantes numa prosperidade concentradora de renda. No
programa Brasil sem Miséria, a Região Nordeste possui 52 milhões de habitantes,
dos quais 11 milhões de pessoas (59% da população brasileira) nesse vil quadro
de miseráveis. A migração do Nordeste para outras regiões diminuiu (PNAD-2010),
mesmo assim saíram 1 milhão de nordestinos (2004/2009) em busca de emprego. Até
julho/2011 foram R$ 820 bilhões de impostos (União, Estados e municípios)
recorde sobre 2010, na mais escorchante carga tributária (37% do PIB),
expropriados em 72% da massa tributária pelo Governo Federal.
Governos são muito
eficientes na arrecadação, mas incompetentes na execução de serviços públicos,
desperdiçam recursos e prejudicam seu povo. O BNDES em 2010 investiu R$ 168,4
bilhões, financiou R$ 71 bilhões em projetos no exterior (Bolívia, Cuba,
Equador, Haiti, Honduras, Nicarágua, Paraguai, Venezuela e países africanos)
muitos a fundo perdido, no Nordeste apenas R$ 17,2 bilhões (10,2%). É
inadmissível se priorizar qualquer integração continental sem a efetiva
integração nacional! Outro dia, o BNDES recuou pressionado pela mídia no fácil
patrocínio de R$ 4,5 bilhões na atrapalhada (con)fusão de redes de supermercados
estrangeiras e nacional. As 12 maiores empresas brasileiras se apropriam de 54%
do orçamento do BNDES, enquanto o Nordeste todo (9 Estados), com dificuldades
burocráticas impostas, só consegue R$ 17,2 bilhões. Por isso, o BNDES é
denominado de “Bolsa Família dos grandes acionistas”.
Como proposta de
Reforma Tributária, governadores do Norte/Nordeste/Centro-Oeste buscam
resoluções do Governo federal, em urgentes temas federativos, querem: 1- Dívida
dos Estados, substituir o IGP+juros incidentes, pelo IPCA+2%; 2- ICMS e fim da
Guerra Fiscal, compensação por perdas de receita com criação de fundo federal e
de política regional; 3- Emenda 29, pauta para votação, desde que o Governo
federal aumente os repasses dos percentuais mínimos de gastos na saúde e saneamento,
para União, Estados e municípios; 4- Comércio Eletrônico, recolhido nos Estados
de origem dos produtos, que o ICMS seja dividido entre o Estado de origem e o
Estado de destino; 5- Royalties do Petróleo, tributo sobre a exploração do
petróleo no Pré-Sal, ficam mais de 35% com Estados e municípios produtores (SP,
RJ, ES), mantidos pelo veto do presidente Lula à Emenda Ibsen Pinheiro –
redistribui royalties do petróleo em área da União entre Estados e municípios
não produtores, ficando Estados do Norte (12,6%), Nordeste (26,2%),
Centro-Oeste (3,6%), Sul (3,2%), Sudeste (4,2%), as capitais (5%), pequenas
cidades (43,2%), cidades com mais de 150 mil habitantes (1,8%)-, governadores
defendem distribuição igualitária.
Para reduzir processo
de desindustrialização por disfuncionalidades da política econômica, de forma
errática, o Governo irá novamente reduzir IPI (MP 540) para montadoras. Apesar
de sucessivos recordes de vendas de veículos, crescimento de 8,6% no ano e
elevadíssimos lucros nos últimos anos, a inoportuna MP autoriza incentivo
tributário até 2016 na produção. Lembrai da redução do IPI (2008/2010),
cortesia do Governo anterior ao setor metalúrgico do Centro-Sul, até hoje
prejudica Estados e centenas de municípios do Nordeste, não tiveram compensações
prometidas pela supressão dos seus FPE e FPM, paralisam serviços de educação e
saúde aos seus cidadãos.
Decisões estratégicas
institucionais, políticas, econômicas e sociais adiadas ou mal conduzidas numa
improvisação conjuntural e por falta de um projeto nacional, trarão aos
brasileiros prejuízos coletivos insanáveis, diante da crise global que nos
atinge. Incerteza político-econômica e insegurança jurídica fragilizam
democracias, incitam a violência social e anarquia, ameaçam a governabilidade e
a paz social mundial. Para a superação nacional na longa crise que nos atinge,
é estratégico o Brasil se voltar para dentro, numa moderada endogenia e
mobilizar a vontade nacional com lideranças éticas e motivadas para desobstruir
crônicos gargalos institucionais e operacionais. Deve retomar o planejamento e
a capacidade de fazer em todos os níveis: modernizar infraestruturas básicas,
produtivas, logísticas e sociais; priorizar educação, qualificação
profissional, ciência e tecnologia; focar o mercado interno com articuladas
políticas agrárias, industriais, de meio ambiente e de defesa nacional.
Como medidas iniciais
de curto prazo, os cinco pontos da proposta de Reforma Tributária dos
governadores, são oportunidades para estimular o desenvolvimento do Norte-Nordeste.
No médio prazo, mobilizar e pressionar o Congresso Nacional, para regulamentar
na CF de 1988, o art. 165, § 7º, que determina a regionalização dos
investimentos da União e estatais federais em recursos estáveis compatíveis, na
mesma proporção da população do Nordeste (27,4% da população brasileira,
IBGE-2010). São medidas capazes de promover desenvolvimento, reduzir
intermináveis desigualdades regionais e pessoais de renda, manutenção do Estado
democrático de direito e reafirmação do Pacto Federativo. São ferramentas
institucionais de efetiva integração nacional, descentralizadoras,
desconcentradoras e redistributivas inadiáveis para consolidar a economia
interna e minimizar a crise global instalada, caso não o Nordeste pode ser mais
uma vez o mais prejudicado! Diz o adágio popular, “em casa que não se ganha o
pão, todos brigam e ninguém tem razão”! Não haverá Brasil potência com Nordeste
subdesenvolvido!
» George Emílio é economista, professor da FG e diretor do
CENOR
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