QUE SOB A TOGA
DOS MINISTROS DO STF NÃO SE ESCONDA NENHUM ESCRAVOCRATA
NOTA PÚBLICA - A
Diretoria e Coordenação Nacional da Comissão Pastoral da Terra, CPT, às
vésperas do julgamento pelo Supremo Tribunal Federal, STF, da Ação Direta de
Inconstitucionalidade, ADI, 3239, proposta pelo partido dos Democratas, contra
o Decreto Federal 4887/2003, vem expressar sua profunda preocupação com o que
está acontecendo neste país.
Está em curso uma
nova caça aos povos indígenas, comunidades quilombolas, e outras comunidades
tradicionais, por um contingente expressivo de escravocratas, que lançam seus
tentáculos em diferentes espaços do Estado Brasileiro e tem apoio de diferentes
órgãos da imprensa nacional.
Como à época do
Brasil Colônia, povos indígenas inteiros foram devastados por não quererem se
submeter aos ditames dos invasores; à época da escravidão, os senhores de
escravos contavam com toda a estrutura do poder público para perseguir e
destruir os espaços de liberdade construídos pelos negros, chamados de
quilombos, hoje, novos escravocratas, com voracidade incomum, atentam contra as
comunidades indígenas e quilombolas, com ações diretas ou utilizando de
trincheiras, assim chamadas legais, para impedir o reconhecimento dos
territórios historicamente por elas ocupados.
Sucedem-se os
ataques diretos às comunidades indígenas e quilombolas. Os dados coligidos pela
CPT nos dão conta que em 2011, foram assassinados 4 indígenas e 4 quilombolas,
nas disputas territoriais. 82 conflitos por terra envolveram os índios e 100 os
quilombolas. 77 quilombolas e 18 indígenas foram ameaçados de morte e 8 indígenas
e 3 quilombolas, sofreram tentativas de assassinato.
No plano dito
“legal” são muitas as ações que os novos colonizadores e escravocratas movem
contra a continuidade dos processos de identificação e titulação das terras
indígenas, e dos territórios quilombolas e de outras comunidades tradicionais.
Estas encontram fácil acolhida em diversas instâncias do poder Judiciário.
Mas,
possivelmente, é na trincheira do Congresso Nacional que os novos colonizadores
e escravocratas têm seus mais firmes tentáculos. Há poucos dias a Comissão de
Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados aprovou a proposta de emenda
Constitucional, PEC 215, pela qual os parlamentares querem ter exclusividade na
demarcação de terras indígenas, de quilombolas e de unidades de conservação
ambiental, retirando esta competência do Executivo. Com isso praticamente fica
inviabilizado qualquer reconhecimento de novas áreas. E são inúmeros os
projetos de lei que buscam restringir os parcos direitos territoriais dos povos
indígenas e das comunidades quilombolas.
O Decreto Federal
4887/2003, assinado pelo ex-presidente Lula que regulamentou o processo de
titulação das terras dos remanescentes das comunidades de quilombos criando
mecanismos que facilitam o processo de identificação e posterior titulação de
comunidades, encontrou no partido dos Democratas (um dos últimos resquícios da
sustentação parlamentar da ditadura militar) ferrenha oposição. O Decreto que
ratificou o estabelecido no Artigo 68 das Disposições Transitórias da
Constituição Federal: “Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que
estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o
Estado emitir-lhes os títulos respectivos”, foi considerado pelos “democratas”
(triste contradição), inconstitucional.
Os novos
escravocratas se espalham pelo Congresso Nacional, nos mais diversos partidos,
tendo constituído a assim chamada Bancada Ruralista. Esta bancada, segundo o
Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP), é formada por 159
parlamentares, sendo 141 deputados e 18 senadores. Ela lidera as desastrosas
mudanças no Código Florestal e em toda a legislação ambiental; desde 2004,
praticamente, impede a última votação da PEC 438 que determina o confisco das
áreas onde for constatada a exploração de trabalho escravo; e se opõe a
qualquer tentativa de reconhecimento dos direitos territoriais dos povos
indígenas e das comunidades quilombolas e outras.
A ADI 3239,
proposta pelos “democratas” vai a julgamento no STF, nos próximos dias. As
comunidades quilombolas que saudaram os pequenos avanços no reconhecimento de
sua cidadania e de seus direitos expressos no Decreto Federal 4887/2003, não
podem ser defraudadas.
A Comissão
Pastoral da Terra espera que os ministros do STF julguem esta ação a partir dos
direitos fundamentais da pessoa humana e não se enredem em questões minúsculas
de formalidades jurídicas. Está em jogo o direito de populações que
historicamente foram discriminadas, massacradas, jogadas à margem da sociedade.
É mais que necessário que se garantam os poucos direitos tão duramente
conquistados. A CPT quer acreditar que sob a toga dos ministros do STF não se
esconde nenhum dos escravocratas atuais.
Goiânia, 16 de abril de 2012.
Dom Enemésio Lazzaris
Presidente da CPT
Maiores Informações:
Cristiane Passos (Assessoria de Comunicação da CPT Nacional) – (62) 4008-6406 / 8111-2890
Antônio Canuto (Assessoria de Comunicação da CPT Nacional) – (62) 4008-6412
www.cptnacional.org.br
@cptnacional
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