Cheia dos rios no Amazonas e seca no Nordeste do Brasil espantam cientistas.
Apenas nos últimos 7 anos, a
Bacia Amazônica registrou as duas maiores estiagens da História, em 2005 e
2010, e as duas maiores inundações, em 2009 e em 2012.
19/05/2012
http://d24am.com/amazonia/meio-ambiente/cheia-dos-rios-no-amazonas-e-seca-no-nordeste-do-brasil-espanta-cientistas/59204
Na última quinta, o Serviço Geológico do Brasil,
conhecido como CPRM, informou que o nível do Rio Negro subiu mais dois
centímetros, chegando aos 29,80 metros.
Enquanto isso, o semiárido nordestino viu muito
pouca chuva cair na última estação úmida, encerrada no mês passado, e agora a
maior parte de seus 25 milhões de habitantes distribuídos em 1,1 mil municípios
encara a perspectiva de ter que esperar até o início do ano que vem por mais
água vinda do céu.
Segundo os especialistas, as causas pontuais
destes dois eventos extremos são relativamente fáceis de serem apontadas. No
caso da cheia da Bacia Amazônica, ela ainda estaria ligada ao fenômeno
conhecido como “La Niña”, uma redução da temperatura da superfície na faixa
equatorial do Oceano Pacífico que provoca mais chuvas na região.
Apesar de a Organização Mundial de Meteorologia
(WMO, na sigla em inglês) ter declarado seu término esta semana, a influência
da “La Niña” fez aumentar a precipitação em dezembro, janeiro e fevereiro na
parte Oeste do Norte da América do Sul.
Agora, toda essa água já desceu os Andes e as
calhas dos rios afluentes, elevando o nível do Rio Negro. Já no caso do
Nordeste, é o resfriamento do Oceano Atlântico que está provocando o surgimento
de sistemas de alta pressão atmosférica que invadem o continente, impedindo a
formação de nuvens e, consequentemente, as chuvas.
Embora os cientistas evitem afirmar que o aumento
na frequência de eventos extremos esteja diretamente relacionado às mudanças
climáticas, eles admitem que isso pode ser um sinal de que os modelos sobre a
influência da ação humana no clima estão corretos.
— Tanto a cheia no Norte quanto a seca no
Nordeste são fenômenos de causas naturais, que já aconteceram antes – diz José
Marengo, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). — O
que é incomum, porém, é a sincronicidade que estamos vendo este ano.
Normalmente, as duas regiões costumam se comportar de forma similar, com a “La
Niña” provocando mais chuvas em ambas. Assim, o estranho neste ano é que a “La
Niña” tomou conta da Amazônia, enquanto a situação no Atlântico Tropical Sul
influenciou o Nordeste. E este tipo de divisão que leva a extremos de ambos os
lados da região tropical da América do Sul é o que os modelos climáticos
preveem que vai acontecer no futuro.
Javier Tomasella, coordenador de Pesquisa e
Desenvolvimento do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres
Naturais (Cemaden), segue a mesma linha. Segundo ele, a situação é “inusitada”,
com o recém-criado órgão tendo que lidar com casos opostos de muita e falta de
chuvas em duas regiões vizinhas.
— A rigor, não temos indícios suficientes para
afirmar as mudanças climáticas estão alimentando este processo — conta. —
Sabemos que os dois eventos extremos estão ligados à temperatura na superfície
dos oceanos, mas o caráter dinâmico dos fenômenos climáticos faz com que se
tenha uma incerteza muito grande quanto a suas causas. O fato, porém, é que
fenômenos que deveriam ocorrer uma vez por século estão se repetindo a cada
quatro ou cinco anos. E o por que disso é a grande pergunta que a gente tem.
De olho na gravidade da situação, os técnicos do
Cemaden, Inpe, e outros órgãos, junto com representantes das defesas civis das
duas regiões, vão se reunir hoje para nova avaliação, que será apresentada à
Casa Civil.
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