CO2 PÔS FIM À ERA DO
GELO, DIZEM CIENTISTAS EM RESPOSTA AOS CÉTICOS DO CLIMA.
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O
dióxido de carbono (CO2), gás de efeito estufa apontado como o maior
responsável pelo aquecimento global, foi o principal fator que pôs fim à última
Era do Gelo, afirmam cientistas nesta quarta-feira em um estudo [Global warming preceded by increasing
carbon dioxide concentrations during the last deglaciation] que acaba com um argumento lapidar usado pelos
céticos do clima. Matéria da AFP.
Entre
10.000 e 20.000 anos atrás, a Terra começou a emergir de 250 mil anos de uma profunda
glaciação, quando a cobertura de gelo terrestre começou a recuar e temperaturas
mais quentes ajudaram o Homem a se espalhar e conquistar a Terra.
O
que provocou o fim desta era, conhecida como Pleistosceno, sempre foi
discutido.
Até
agora, as principais evidências eram testemunhos de gelo coletados na
Antártica, cujas bolhas de ar são como uma pequena cápsula do tempo do nosso
passado climático.
Vestígios
de CO2 – o principal gás causador de efeito estufa, que mantém o calor do sol
preso próximo à superfície terrestre – indicam que as concentrações de carbono
na atmosfera subiram depois que as temperaturas se elevaram e não antes disto.
O
período de tempo em que isto ocorreu tem sido usado pelos céticos do clima como
uma prova de que as emissões de carbono produzidas pelo homem ou não são
responsáveis pelo aquecimento global ou pelo menos não fazem tão mal quanto
defende a principal corrente da comunidade científica.
Segundo
estes dissidentes, mudanças naturais na órbita da Terra, que aproximaram o nosso
planeta do Sol, seriam a causa do aquecimento global.
Mas
segundo um novo estudo, uma imagem muito mais precisa do fenômeno demonstra que
a mudança orbital apenas deu início às coisas. Segundo a pesquisa, o
responsável pelo aquecimento climático de fato é o CO2.
“As
mudanças orbitais foram o gatilho, mas elas não vão muito longe”, explicou o
cientista Jeremy Shakun, da Universidade de Harvard.
“Nosso
estudo demonstra que o CO2 foi um fator muito mais decisivo e realmente impeliu
o aquecimento global na última deglaciação”, acrescentou.
O
estudo, publicado na revista científica britânica Nature, foi feito com base em
80 testemunhos de gelo e amostras sedimentares coletadas na Groenlândia, em
fundos de lagos e leitos marinhos em cada continente.
“Reunir
todos estes registros em uma reconstrução das temperaturas globais mostra uma
bela correlação com o aumento da concentração de CO2 e o final da Era Glacial”,
afirmou Shakun.
O
aumento das concentrações de dióxido de carbono “atualmente precede a variação
da temperatura global, o que seria de se esperar se o CO2 está causando o
aquecimento”.
Os
cientistas teorizam que a variação orbital intensificou a incidência da luz
solar que aqueceu o hemisfério norte, fazendo com que parte de sua cobertura de
gelo derretesse, liberando gigatoneladas de água doce gelada no Oceano
Atlântico.
A
torrente teve um efeito retardatário sobre a chamada “esteira transportadora”
de correntes, na qual a água quente viaja para o norte na superfície do
Atlântico antes de se resfriar, descer às profundezas, e voltar ao sul.
Quando
esta esteira reduziu sua velocidade, a água quente começou a subir no Atlântico
sul, onde rapidamente começou a aquecer a Antártica e o Oceano Austral.
Segundo
a hipótese destes cientistas, esquentar o sul, por sua vez, alterou o vento e
derreteu o gelo marinho, liberando parte da grande quantidade de CO2 que tinha
sido absorvida pelo oceano e armazenado em suas profundezas.
Hoje,
o dióxido de carbono – emitido pela queima de carvão, petróleo e gás – está
novamente na berlinda.
Durante
encontro celebrado na semana passada em Londres, 20 ganhadores do prestigioso
Blue Planet Prize, um dos mais respeitados prêmios concedidos por iniciativas
sustentáveis, afirmaram que as emissões atuais de gases causadores de efeito
estufa, como o CO2, são tão elevadas que há apenas uma chance “50 a 50″ de
limitarmos a elevação da temperatura no planeta a 2ºC, meta estabelecida pela
ONU.
Haveria
“riscos sérios” de uma elevação de 5ºC, temperatura vista pela última vez no
planeta 30 milhões de anos atrás, afirmaram.
“O
CO2 teve grande responsabilidade em tirar o mundo da última Era do Gelo e levou
cerca de 10.000 anos para fazê-lo”, afirmou Shakun.
“Agora,
os níveis de CO2 estão aumentando de novo (…) e há sinais claros de que o
planeta está começando a responder”, acrescentou.
Global
warming preceded by increasing carbon dioxide concentrations during the last
deglaciation
Nature 484, 49–54 (05 April 2012) doi:10.1038/nature10915
Nature 484, 49–54 (05 April 2012) doi:10.1038/nature10915
EcoDebate, 05/04/2012
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