QUEM PRECISA DE
ENERGIA-AMEAÇA NUCLEAR?
por João Alves Filho
O acidente de Fukushima
deveria ser a pá de cal a sepultar projetos de geração nuclear de energia
elétrica, não fossem os rumos da civilização guiados pela insensatez.
Do ponto de vista da
raridade de tais acidentes, o argumento da segurança na geração dessa energia
não se sustenta.
O professor de física
da USP José Goldemberg afirma que, desde Chernobyl, inúmeros “incidentes” têm
ocorrido e que “a probabilidade de acidentes maiores cresce com a proliferação
das usinas”.
O descontrole dos
fenômenos climáticos, por conta do aquecimento global, torna impossível
garantir a manutenção, em equilíbrio permanente, de uma central nuclear com
todo o lixo radioativo sob duvidoso controle, à distância do ambiente.
Como não existe meio viável
de descarte de resíduos e como não há garantia segura de isolar o material do
ambiente por tanto tempo, até o decaimento da meia-vida dos elementos
radioativos, é inconsequente espalhar tais elefantes brancos enquanto se
transfere às futuras gerações a responsabilidade da manutenção.
Apesar da raridade das
catástrofes com termonucleares, as anomalias e incidentes com as centrais são
comuns, provocando duradoura contaminação ambiental, a exemplo do que ocorreu
em 2008 com usina nuclear francesa em Avignon, que despejou nos rios da região
30 m3 de líquido com urânio, contaminando até o lençol freático.
O governo proibiu a
população da cidade de Tricastin de beber a água desses rios ou de usá-la para
irrigação e lacrou poços artesianos.
Analisando a situação,
avalia-se a insânia de o governo federal anunciar a implantação de usina às
margens do rio São Francisco.
Imagine-se ali um
vazamento desse nível - o que não é impossível, já que ocorreu em centrais de
diferentes países. A tragédia daí decorrente seria de tal ordem que o recente
desastre japonês seria irrelevante, porquanto no mínimo 10 milhões de
nordestinos abastecidos pelo rio migrariam, promovendo a maior diáspora do
mundo.
O Brasil tem situação
privilegiada na geração elétrica barata, não poluente, renovável e sem riscos à
população. Temos potencial invejável para gerar 260 mil MW por hidrelétricas,
dos quais não mais de 30% foram utilizados; dispomos da cana, da qual
produzimos o etanol com tal êxito que, juntamente com o bagaço, valioso
subproduto, já participa com 18,2% do total da matriz energética, à frente dos
15,2% da energia hidráulica.
Há ainda uma variada
biomassa capaz de suprir a demanda por diesel, em montante sem similar no
planeta -dendê, babaçu, mamona, soja etc. Mais: 140 mil MW potenciais de
energia eólica, além da energia solar e de marés.
É um verdadeiro crime
de lesa-pátria admitir-se que, com a nossa fantástica riqueza de alternativas
energéticas, necessitemos da construção de usinas nucleares para gerar energia
cara, poluente, não renovável e de alto risco.
» JOÃO
ALVES FILHO é engenheiro civil. Foi governador de Sergipe por três mandatos
(1983-87, 1990-94 e 2003-06) e ministro do Interior, responsável pela área
ambiental (gestão Sarney). É autor de, entre outros livros, “Transposição de
Águas do São Francisco: Agressão à Natureza vs. Solução Ecológica”.
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