sábado, 26 de maio de 2012


Cinturão das águas.


Dentre os problemas estruturais do Ceará, o de maior gravidade concentra-se na escassez d´água. O espaço territorial do Estado, correspondente à sua porção no semiárido nordestino, numa dimensão de 93%, assenta-se sobre rochas, impossibilitando o armazenamento das águas das chuvas nos invernos regulares.

http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1141144

Também as condições climáticas colocam o Estado em situações de desconforto provocadas pela escassez de chuvas em períodos de até dez meses. Em décadas passadas, os pesquisadores agruparam os invernos regulares em três grupos: entre 400 e 700 milímetros, 701 e 1.600 milímetros e 1.601 e 2.200 milímetros. Mas esses bons tempos há muito não se repetem por razões mesológicas.

Os volumes de chuvas mensuradas no Ceará sofreram reduções substanciais e diversificações por cada região geoeconômica, de tal modo a desestimular grandes investimentos em projetos agropecuários ou agroindustriais. Mas, ao mesmo tempo, mesmo descaracterizados pela descontinuidade das políticas públicas, os projetos de irrigação do Dnocs têm demonstrado sua eficácia.

O sol em excesso, em substituição à falta d´água, nunca foi valorizado como condição prévia para uma série de indústrias nas quais a estabilidade do clima é fator essencial para o seu desenvolvimento. As indústrias cinematográfica, naval, de produção de tintas, flores, frutas, carnes e muitas outras estão arroladas dentre aquelas onde as condições climáticas se tornam um fator preponderante.

Pois bem. Para enfrentar a carência de água em seu território, o Ceará, desde o século XIX, já apelava, como saída, para a açudagem, construindo a maior rede de reservatórios capazes de armazenar as precipitações atmosféricas escorridas pelos seus vales, rios e riachos. Entretanto, o tempo mostrou ser a evaporo-transpiração responsável pela perda de 40% da água represada.

O Dnocs, ao longo de mais de 100 anos de atuação, acumulou um substancial volume de informações científicas sobre o semiárido nordestino, as técnicas para nele conviver e os instrumentos capazes de tirar partido de um bioma raro no mundo. E foi dessa escola construtora de verdadeira ciência para o Nordeste que surgiu a ideia de fazer circular as águas, evitando, assim, as perdas com a evapo-transpiração.

A partir de novas tecnologias centradas na açudagem, o governo do Ceará montou um inovador sistema de interligação de bacias hidráulicas entre o Vale do Jaguaribe, a Capital e o Complexo Industrial e Portuário do Pecém, o chamado Eixão das Águas. Tendo o Castanhão como elo central, ele garante o suprimento de água para Fortaleza pelos próximos 30 anos.

Esse sistema inicialmente seria aproveitado para a transposição das águas do Rio São Francisco. Entretanto, o caráter ciclópico da obra deu ensejo a um outro tanto quanto arrojado: o Cinturão das Águas do Ceará (CAC). Investimento orçado em R$ 28 bilhões, com prazo de implantação até 2040, ele envolve todo o Ceará, com 1.200 km de comprimento e conjunto de canais e adutoras com extensão de três mil quilômetros, para oferecer segurança hídrica a 92% da população cearense.

A grandeza dessa obra hídrica, exatamente quando o Estado passa por estiagem prolongada, não admite o tratamento secundário que a ela vem sendo oferecido. Ela viabilizará a transposição das águas do São Francisco pelos Inhamuns, juntamente com o Eixão das Águas, pelo Vale do Jaguaribe. Sua concretização corresponderá à redenção do Ceará.

por João Suassuna — Última modificação 24/05/2012 10:11

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