LIMITAR AQUECIMENTO A 2ºC ESTÁ FORA DE ALCANCE, DIZ
YVO DE BOER, EX-CHEFE CLIMÁTICO DA ONU.
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O
ex-chefe climático da ONU disse nesta terça-feira que o compromisso de
restringir o aquecimento do planeta a 2ºC, que ele ajudou a costurar na Cúpula
de Copenhague pouco mais de dois anos atrás, hoje é inatingível. Matéria da AFP.
“Penso
que [a meta de] dois graus está fora de alcance”, disse Yvo de Boer,
ex-secretário-executivo da Convenção-quadro sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC,
na sigla em inglês), durante uma conferência realizada em Londres sobre a saúde
do planeta, a poucos meses da cúpula Rio+20, que será celebrada em junho no Rio
de Janeiro.
As
195 partes da Convenção-quadro se comprometeram a limitar a elevação das
temperaturas globais em dois graus Celsius.
A
meta foi estabelecida por um grupo central de países nas horas finais da
turbulenta Conferência de Copenhague, em dezembro de 2009, e foi formalizada na
cúpula de Cancún, um ano depois.
Mas
um número cada vez maior de cientistas alerta que o objetivo está se esvaindo
sem a realização de cortes radicais nas emissões de gases causadores do efeito
estufa, responsáveis pelas mudanças climáticas. Alguns consideram que a meta é
uma ilusão política perigosa, uma vez que a Terra se encaminha para uma
elevação da temperatura de 3ºC ou mais.
“A
meta de dois graus está perdida, mas não significa para mim que devamos
esquecê-la”, disse de Boer em entrevista à AFP.
“É
uma meta muito significativa, não se trata de um simples alvo que foi tirado do
nada, tem a ver com tentar limitar a quantidade de impactos”, acrescentou.
“Não
se deve esquecer disso, no sentido de que está se ignorando o fato de que se
passou pela dificuldade de formular uma meta que não é alcançada por falta de
ação política”, continuou.
“Consequentemente,
o processo deveria se tratar de como conseguir aproximar o máximo possível dos
2ºC e não dizer ‘comecem tudo de novo e formulem uma nova meta’, esquecendo que
passamos por isto muito recentemente”, alertou.
Copenhague
representou um limite nas discussões globais sobre o clima. Suas frustrações,
juntamente com as crises financeira e fiscal que atingiram em cheio os países
ocidentais, fizeram muitos governos marcar passo e até restringir seus planos
de ação contra as emissões de carbono.
Enquanto
isso, o alto preço do petróleo e do gás levaram os grandes emergentes a queimar
cada vez mais carvão, a mais suja das fontes de energia fósseis, aumentando as
concentrações atmosféricas de dióxido de carbono (CO2).
No
ano passado, durante a reunião anual da UNFCCC em Durban, na África do Sul, os
países concordaram em estabelecer um novo acordo climático em 2015 com entrada
em vigor em 2020, colocando tanto os países ricos quanto os pobres pela primeira
vez sob restrições legais comuns.
De
Boer disse esperar que o quinto relatório do Painel Intergovernamental de
Mudanças Climáticas (IPCC) sirva de incentivo para uma retomada do ‘deadline’
de 2015.
“Felizmente,
teremos outro grande relatório do IPCC em 2014 e então, quando os governos se
reunirem em 2015 para negociar algo significativo, a ciência disponibilizará as
informações para este processo político”, afirmou.
EcoDebate, 28/03/2012
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