DILMA
ROUSSEFF E O NORDESTE
Por Alexandre Santos
Em 31 de outubro de 2010, no embalo
da popularidade do presidente Lula, com quase 56 milhões de votos, equivalentes
a 56,05% do total, Dilma Rousseff foi eleita presidente do Brasil.
Ao contrário do que alguns imaginam,
a vitória foi difícil, pois, se não fosse o maciço apoio do Nordeste, o
ocupante do Palácio do Planalto a partir de janeiro de 2011 não seria Dilma
Rousseff e, sim José Serra, que venceu as eleições nos estados de São Paulo,
Paraná, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo,
Rondônia, Acre e Roraima. Com efeito, a vitória de Dilma Rousseff foi decidida
no Nordeste, que lhe deu estrondosa votação (75% dos votos em Pernambuco; 70%
na Bahia; 77% no Ceará; 79% no Maranhão; 69% no Piauí; 59% no Rio Grande do
Norte; 61% na Paraíba; 53% nas Alagoas; e 53% em Sergipe).
Embora este resultado autorize o
Nordeste e os nordestinos a esperarem tratamento minimamente justo por parte da
futura presidente, há a consciência que, da mesma forma que não foi fácil
eleger Dilma Rousseff, também não será fácil mudar a política de castas
regionais que, há séculos, subordina interesses nacionais aos interesses
sudestinos. Na realidade, alvo de visão preconceituosa das elites – que, por
ignorância ou má fé, não admitem as injustiças seculares cometidas contra o
Nordeste e, por isso mesmo, não compreendem serem as políticas compensatórias
necessárias em função de descasos e injustiças governamentais – o Nordeste é visto
por muitos como região indigente, ‘a região do Bolsa Família’.
Mas, esta não é hora de desconfianças
e, sim de alertas à futura presidente.
Mesmo tendo sido objeto de tratamento
respeitoso pelo presidente Lula, o Nordeste e o nordestino merecem muito mais.
Afinal de contas, embora tenha diminuído nos últimos tempos, como as ações do
governo Lula não alcançam a raiz do problema, o sofrimento provocado por
séculos e séculos de políticas tributárias e econômicas injustas estão longe de
acabar. Ainda há muito por fazer e muita malvadeza por desmanchar.
Agora, fortalecido pela decisiva
contribuição que deu à vitória da presidente eleita e confiante na seriedade
por ela demonstrada, o Nordeste espera que Dilma Rousseff se subleve contra o
status quo e tome atitudes concretas para remoção dos gargalos que dificultam o
crescimento econômico e o desenvolvimento social do Nordeste.
Sem rejeitar nenhumas das ações em
andamento, especialmente aquelas que contribuem para estimular o consumo local,
os nordestinos torcem para que a presidente leve adiante providências que
liberem a potencialidade econômica e social da região. Sem precisar ir muito
fundo em estudos desnecessários, destacam-se a) reforma na arrecadação do ICMS,
tributando o consumo e, não a produção de bens; b) regionalização do Orçamento
da União de modo a que os investimentos federais sejam proporcionais à
população da região conforme preceitua o artigo 165, parágrafo 7º da
Constituição Federal; e, finalmente, c) fortalecimento da SUDENE e do seu conselho
deliberativo através da reconsideração dos vetos apostos aos artigos da Lei nº
125, de 03 de janeiro de 2007, que a recriou.
A adoção destes três únicos pontos
seriam suficientes para alavancar o enorme potencial econômico da região.
Algumas injustiças – como o volume de obras e a transferência de recursos
federais através da massa salarial paga ao funcionalismo público federal
concentrado no sudeste e no planalto central – persistiriam, mas alguns
gargalos que atrapalham o crescimento do Nordeste desapareceriam e a região
poderia se desenvolver em paz. Neste caso, as políticas compensatórias
atualmente praticadas e que tanto perturbam as elites desinformadas e egoístas
não seriam tão necessárias, ficando restritas a bolsões sempre prestes a
incorporar o dinamismo econômico do conjunto.
Algumas destas mudanças são profundas
para um governo incipiente e, por isso, o Nordeste saberá compreender eventual
demora na sua adoção. Mas, por todos os seus merecimentos, a região espera,
desde logo, uma demonstração de boa vontade. Neste caso, para deixar claro seu
efetivo compromisso com a banda nordeste do País, tão logo assuma seu novo
posto no Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff poderia determinar a
restituição da autonomia retirada da CHESF por ocasião de alteração estatutária
da ELETROBRÁS no final de 2008;
O Nordeste está confiante na
presidente Dilma Rousseff, especialmente porque, no discurso da vitória,
prometeu zelar o cumprimento da Constituição, considerando ser este “o maior
dever da presidência da república” e a eliminação dos desníveis regionais faz
parte da Constituição do País.
» Alexandre Santos é presidente do
Clube de Engenharia de Pernambuco
Nenhum comentário:
Postar um comentário