Raras diferenças entre as estiagens.
O drama vivido durante a estiagem se repete, mas há redução
de mortes por fome.
Edição do Diário de Pernambuco de 11/11/2012
Aline Moura
Políticas de emergência, com barulhos de sirene
para passar. Era assim no passado. E continua. Em 1º de outubro de 1981, por
exemplo, os jornais estampavam as boas novas. João Batista Figueiredo, mais um
dos presidentes emocionados com o Nordeste, liberava 5,1 bilhões de cruzeiros,
R$ 386,7 milhões em valores atuais, para combater os efeitos da seca. Na época,
os recursos chegaram à região por meio da Sudene como dádiva dos céus. Agora, o
milagre se repete, depois de pressões políticas. Dilma Rousseff anunciou um
reforço de R$ 1,8 bilhão para programas de água em reunião com o Conselho da
Sudene, sendo a maior parte para barragens e adutoras. Contudo, a meta mais
importante para a população ainda está longe de ser atingida: a construção de
um milhão de cisternas.
Coordenadora da Asa Brasil em Pernambuco, instituição
que reúne 600 entidades civis do Semiárido, Neilda Pereira explica que a
solução mais adequada para a região é a construção de cisternas rurais. Ela diz
que já foram feitas 500 mil em parceria com o governo federal, mas lembra que o
programa precisa ser agilizado.
Segundo outros especialistas entrevistados pelo
Diário, há uma semelhança e uma diferença entre a seca de 2012 e as outras
estiagens mais prolongadas do passado – entre as décadas de 1970 e 1980. O
pesquisador João Suassuna, da Fundação Joaquim Nabuco, explica: a exemplo de
períodos anteriores sem chuva, o deste ano tinha sido previsto pelo Centro
Aéreo Técnico Espacial (CTA), de São José dos Campos, que estuda o tema desde
1978. “Era previsível e ninguém tomou nenhuma medida estruturadora”, reclamou.
Ainda de acordo com ele, a diferença é a ausência de saques a supermercados e
mortes de pessoas em virtude da fome.
Para a socióloga e doutora em economia Tânia
Bacelar, o maior avanço foi a redução da fome a partir da ampliação da
previdência para o meio rural, desde a Constituição de 1988, e programas
sociais como o Bolsa Família.“Antes, havia a criação de frentes de emergências
de emprego, saques a supermercados, muita fome. Hoje, não há mais a fome
epidêmica, como dizia Josué de Castro”.
A seca de 2012-11-10
- O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS)
avalia que a posição dos reservatórios no mês de outubro passado foi o pior dos
últimos 83 anos.
- A capacidade dos reservatórios do Nordeste era
de 32,58% na última sexta-feira, 9 de novembro, segundo o ONS.
- A seca mais prolongada aconteceu entre 1979 e
1984. A de 1970 também está entre as piores do Nordeste.
- As diferenças entre as secas de antigamente e a
de hoje são menos mortes de pessoas por fome, ausência de saques a
supermercados. Nem governo, nem ONG´s têm dados comparativos.
- Mais de 20% dos municípios do semiárido estão
em estado de emergência.
Ao todo são 1.187 municípios, sendo 111 em Pernambuco.
- O estado mais afetado é o da Bahia, com 250
municípios em situação de emergência e 2,7 mil pessoas afetadas.
- O ranking da seca é seguido pelo Ceará e
Pernambuco, respectivamente, com 1,9 mil e 1,1 mil pessoas atingidas.
- Até outubro, foram pagos R$ 251,8 milhões do
Bolsa Estiagem pelo governo federal. Pernambuco recebeu R$ 27.370.240,00, o
terceiro do ranking.
- O Garanti Safra investiu R$ 473,4 milhões até
outubro. Os pernambucanos receberam R$ 69,8 milhões.
Fonte: ONS e Ministério da Integração Nacional.
Sobre o assunto:
Previsão de período de seca para o
Nordeste do Brasil, artigo de Carlos Girardi e Roberto da Mota Girardi
Nenhum comentário:
Postar um comentário