A Seca, artigo de Aroldo Cangussu.
[EcoDebate] Todos nós,
ultimamente, olhamos para o céu com a esperança de ver sinais de chuva. Vemos
nuvens brancas pairando sobre a terra ressequida e não entendemos por que não
chove. Acompanhamos, avidamente, todos os boletins meteorológicos que passam na
televisão aguardando notícias boas para o norte de Minas, Mas, em vão, por
enquanto só aquele clarão amarelo sobre o mapa do Brasil no local de nosso
interesse.
Publicado em abril 12, 2012 por HChttp://www.ecodebate.com.br/2012/04/12/a-seca-artigo-de-aroldo-cangussu/
Tags: acesso à água, seca
Entretanto, como não se encerrou ainda o período de chuvas no semiárido, não é possível confirmar um dos maiores períodos de estiagem dos últimos tempos. Só sabemos que a época de chuvas está quase acabando e a precipitação pluviométrica foi uma das menores já vistas nesse século.
Sabemos que, para chover, as nuvens que flutuam sobre nossas cabeças têm que concentrar as gotículas existentes no ar úmido agregando-as até que elas se tornem mais pesadas que o ar e caiam em forma de chuva. Para isso, é necessária a conjunção de diversos fatores, tais como o vento, a umidade e diferenças de pressão.
Nos núcleos urbanos da região, principalmente em
Janaúba e outras cidades maiores, as pessoas quase não percebem a gravidade da
situação, só reclamam do calor, pois, ao abrir a torneira, a água está lá,
abundante e generosa. É que as concessionárias de água continuam o seu trabalho
de captação e, de uma maneira mais custosa e difícil, conseguem enviar a água
aos consumidores.
Mas, e na zona rural, onde vivem milhares de
famílias, longe das tubulações da Copasa e de outras concessionárias? Sob essa
seca inclemente os barreiros secaram, os açudes e cisternas estão com
pouquíssima água, muitos sem água nenhuma. Vários municípios já estão
declarando estado de emergência. Felizmente, não está acontecendo nenhuma
tragédia social ainda, tais como migrações em massa, sedentação de animais,
mortalidade infantil e falta de alimentos. Graças a algumas medidas tomadas
pelo governo (ainda é pouco) como a construção de cisternas caseiras que captam
água das chuvas nos telhados, aposentadoria rural, bolsa família, a chegada de
energia em áreas remotas, distribuição de água em carros pipa e acessos mais
facilitados às áreas urbanas.
O Brasil sempre viveu com esse problema da seca
no semiárido e sempre procurou combatê-lo, ineficientemente, através de medidas
globais e governamentais, como, por exemplo, criando órgãos estatais tipo DNOCS
– Departamento Nacional de Obras de Combate à Seca. É a mesma coisa que o
Canadá criar um “departamento de combate à neve”, ou seja, não ataca a questão
no âmago que é, na realidade, a “convivência” com o clima.
Sabemos que a condição de estiagem sempre vai
existir, por isso a prevenção é fundamental. É necessário a distribuição de
água de maneira difusa, levando-a a todos os moradores espalhados pela
caatinga, capilarizando as redes de distribuição. Não basta a transposição de
rios ou construção de barragens, é preciso que o acesso à água seja universal.
* Aroldo Cangussu é engenheiro e
ex-secretário de meio ambiente de Janaúba e diretor da ARC EMPREENDIMENTOS
AMBIENTAIS LTDA.
EcoDebate, 12/04/2012
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