Jornal Nacional denuncia: Obras de transposição
do Rio São Francisco estão abandonadas em Pernambuco.
Edição de 09/11/2012
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Canteiros de uma obra bilionária, iniciada há
cinco anos para levar água ao semi-árido nordestino, estão abandonados. A
repórter Mônica Silveira mostra que o atraso na transposição do Rio São Francisco
é visto com tristeza por quem enfrenta a pior seca dos últimos anos na região.
Outro de dia de sol implacável. Os sertanejos
quase não conseguem sustentar a esperança que invadiu o coração deles cinco
anos atrás.
“Eu não tenho esperança dessa água chegar aqui
não, viu?”, diz a agricultora Maria da Paixão Souza Marques.
A obra para salvar 12 milhões de nordestinos da
falta de chuva começou em agosto de 2007. Pela previsão inicial, até o fim de
2012 a transposição estaria concluída. Ela levaria água do São Francisco a
municípios de quatro estados por dois canais de concreto, chamados de Eixo
Norte e Eixo Leste. Mas hoje, trechos de canal que já tinham sido concluídos
estão rachados e precisam ser refeitos.
No caminho da transposição fica Sertânia, 34 mil
habitantes com sede. O nível da água do reservatório da cidade está reduzido a
4,5%. Ele fica bem ao lado dos canteiros que as construtoras abandonaram,
alguns ainda cheios de máquinas encaixotadas. As empresas também deixaram para
trás quilômetros de buracos escavados na terra, onde o mato já cresceu.
O Ministério da Integração alega que as obras são
muito mais complexas do que o imaginado no projeto inicial e que, até agora, na
média, avançaram 43%.
Segundo o governo, algumas construtoras
encontraram custos bem mais altos do que os previstos. Já em trechos
construídos pelo Exército, no município de Floresta, os trabalhos estão
praticamente concluídos.
A obra avança sobre o lago de Itaparica para
alcançar a parte mais profunda do reservatório. Agora somente um trecho de
aterro separa a água com que os nordestinos tanto sonham do canal da
transposição.
Mais adiante, operários constroem uma das
estações de bombeamento necessárias para vencer os desníveis do solo.
A Barragem de Areias, que faz parte da transposição,
está quase pronta, mas a estiagem não ajuda.
Era a água que restava para os animais. Hoje eles
vêm, não encontram nada e voltam para dentro do mato. O que há no local agora é
um poço cheio de lama onde os peixes lutam pela vida.
O replantio das mudas para substituir as plantas
nativas arrancadas pelas máquinas não vingou. A seca não poupa nada. E ela
nunca pareceu tão cruel quanto agora, no mesmo cenário de uma obra orçada em
mais de R$ 8 bilhões, por onde ainda não escorreu uma gota d´água sequer.
“A gente se sente frustrado porque é muito
dinheiro público investido e as obras ‘tudo’ abandonadas e paradas. A gente
agora ‘tá’ com dúvida, porque o descaso ‘tá’ muito grande, a gente fica com o
pé atrás agora, não dá mais para confiar”, desabafa o agricultor Manuel Joaquim
da Silva.
O Ministério da Integração Nacional declarou que
vai realizar novas licitações ainda este ano e que a meta é concluir a
transposição do Rio São Francisco em 2015.
Fonte para edição no Rema:
Ruben Siqueira
Comissão Pastoral da Terra / Bahia
Articulação Popular São Francisco Vivo
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