Especialistas dizem que Nordeste tem água, mas
falta distribuição.
Brasília – A fome, sede e as perdas
agrícolas enfrentadas, anualmente, por quase 20 milhões de brasileiros que
vivem no Semiárido nordestino, poderiam ser evitadas se existisse um programa
de abastecimento de água para a região nos mesmos moldes do Programa Luz para
Todos.
http://www.folhadointerior.com.br/v2/page/noticiasdtl.asp?t=ESPECIALISTAS+DIZEM+QUE+NORDESTE+TEM+%C1GUA,+MAS+FALTA+DISTRIBUI%C7%C3O&id=52224
O defensor da proposta, João Abner Guimarães
Júnior, especialista em recursos hídricos da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte (UFRN), garante que o novo sistema solucionaria, inclusive, os
impactos agravados em anos com estiagem mais prolongada como o atual.
As cidades nordestinas estão enfrentando desde o
último mês de janeiro uma das maiores secas dos últimos 30 anos. As previsões
meteorológicas indicam que as chuvas só devem cair no Semiárido a partir do ano
que vem.
“Tem água para consumo humano e animal, tem água
sobrando. Tem estoques de água suficiente para atender plenamente, mesmo nesta
época como agora. São 10 bilhões de metros cúbicos armazenados na região acima
do Rio São Francisco, em grandes reservatórios”, detalhou Abner. Segundo ele,
um sistema adutor com capilaridade seria suficiente para atender a toda a
demanda local, comprometendo menos de 20% da disponibilidade hídrica dos
reservatórios.
Ao apresentar dados de armazenagem de água no
Nordeste, durante audiência pública da Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos
Deputados sobre o problema da seca na região, o pesquisador destacou que o
Semiárido brasileiro é um dos sistemas ambientais mais chuvosos do mundo, mas o
acesso à água não está democratizado.
“Os cerca de 60 mil açudes que têm hoje no
Nordeste ficam lá, sendo reservados para consumo humano. Enquanto isso, 95% da
água se perde em evaporação. Na hora que tiver um sistema integrado que traga
água [das grandes barragens] para o abastecimento humano, você libera os
pequenos açudes para a produção de feno”, disse, ao criticar a falência do
sistema de abastecimento da região.
“A solução para o período de vacas magras tem que
passar pelo aproveitamento do período de vacas gordas. Seria o [programa] água
para todos, que representaria uma revolução também para a agricultura. Isso
custaria cerca de R$ 20 por ano, por habitante. É um custo menor do que o custo
do carro-pipa. É um terço do valor da transposição do Rio São Francisco”,
afirmou.
A situação do Semiárido nordestino, segundo os
especialistas, reflete falhas do cenário nacional. O Brasil concentra a maior
parte da água escoada no mundo, mas enfrenta problemas de má distribuição: 72%
estão na Região Amazônica; 19% no Centro-Oeste; 6% no Sul e Sudeste; e apenas
3% no Nordeste.
João Suassuna, pesquisador da
Fundação Joaquim Nabuco, lembrou que em períodos de estiagem mais intensas,
metade da população local sofre com a seca e fome. “Oitenta por cento das secas
do Nordeste ocorrem no miolão da região. E a seca não é por falta de água, mas
pela má distribuição dessa água”, criticou.
Segundo ele, a solução para o problema da seca
deve ser baseada em medidas de convívio com as condições climáticas
características da região. Para Suassuna não serão grandes
obras que apontarão o fim do sofrimento da população afetada. As barragens
instaladas na região Nordeste têm potencial de armazenagem de 37 bilhões de
metros cúbicos.
“Mas não tem uma política para captar essa água e
levar para quem precisa”, criticou. “Há 18 anos sou contra a transposição [da
Bacia do Rio São Francisco] porque a água vai chegar onde já é abundante. Vai
abastecer represas nas quais as populações no entorno estão passando sede. Esta
população vai continuar sofrendo com a seca e sendo abastecida por
caminhões-pipa, mesmo depois da transposição”.
No Ceará, por exemplo, as 8 mil represas poderiam
armazenar 18 bilhões de metros cúbicos, segundo Suassuna.
Pelas contas do pesquisador, apenas o Açude Castanhão, a maior barragem do Nordeste,
seria capaz de atender a todas as cidades cearenses. A capacidade de
aproveitamento do recurso também está acima das expectativas nos estados do Rio
Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco.
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