Até agora, obra da transposição só levou
prejuízo e sofrimento ao Sertão.
Expectativa da obra fez
comerciantes investirem e depois terem prejuízo. Em alguns locais, cisternas
foram distribuídas, mas não há água.
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A notícia da obra da transposição do Rio São
Francisco e a chegada dos primeiros trabalhadores trouxeram otimismo aos locais
por onde ela passa. Mas a paralisação de alguns trechos da diminuiu a esperança
do sertanejo em ver o fim do sofrimento causado pela seca – os trabalhadores
partiram, deixando corações saudosos e reduzindo drasticamente a movimentação
econômica das localidades. Cisternas, quando chegam, estão vazias. A alegria durou
pouco e a realidade volta a ser dura para moradores do Sertão pernambucano,
como mostrou reportagem do NETV 2ª Edição.
Em Floresta, viviam em uma agrovila setenta
famílias que haviam deixado suas casas há 24 anos para a inundação da barragem
de Itaparica. Cinco anos atrás, elas viram a vida mudar outra vez, quando
começaram a chegar para morar em um alojamento logo ao lado grupos inteiros de
militares destacados para trabalhar na obra da transposição. A comerciante Rosa
Feliciano se animou com o movimento – já vendia roupas dentro de casa e decidiu
abrir um mercadinho que chegou a vender R$ 10 mil por mês. “Depois eu fui
empregando em mercadoria, as pessoas foram indo embora, outros foram deixando
de pagar, aí foi caindo, caindo, agora não tem quem pague e pouca gente pra
comprar”, conta.
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Quando as obras do Exército foram sendo
concluídas em Floresta, os militares, que alugaram várias casas, começaram a ir
embora. Além de deixaram namoradas desoladas, haviam modificado profundamente a
vida do lugar. O mesmo efeito provocaram os trabalhadores de três empresas que
se instalaram com a promessa de trazer água pro Sertão.
“Hoje a gente se sente arrodeado pelos canteiros
de obras, os alojamentos, então a comunidade perdeu o seu espaço, a sua
identidade. A área de lazer que a gente tinha, dois campos de futebol, é hoje
onde se encontram esses canteiros de obras”, conta Marcelo Manuel dos Santos,
da Comissão Pastoral da Terra e presidente da associação de moradores da
agrovila. O Exército deixou um poço em funcionamento, que garante água boa
diariamente, mas não se sabe o que esperar do futuro.
A construção dos canais da transposição também
passa por Betânia, no Sertão. Há um lote que o consórcio de construtoras
abandonou, mas os moradores voltaram a sonhar com a água depois que o governo
federal começou a distribuir as cisternas do programa Água para Todos.
De um lado, o depósito de cisternas. Do outro,
famílias que desde o começo do ano não vêem pingar uma gota d´água das
torneiras. As cisternas estão tão perto e a água, tão longe. A agricultora
Maria Aparecida dos Santos sonha em conseguir uma cisterna. “Eu penso em ganhar
uma, né? Dei o nome, mas até agora não apareceu”, afirma.
Já no município vizinho, Custódia, os moradores
do povoado de Caiçara já receberam cisternas. Foi um descanso para a família de
Maria e Josimar Rodrigues Melo. “Fiquei muito feliz no dia em que ela chegou,
que eu nem almocei de tanta felicidade. Foi o primeiro presente que eu vi na
minha casa. Fiquei feliz”, relata. O casal – que sustenta oito filhos adultos
com o dinheiro da aposentadoria – caprichou na instalação, dois meses atrás. O
reservatório tem capacidade para 16 mil litros – só falta a água da chuva para
enchê-lo. Eles receberam uma proposta de pagar R$ 300 para encher o
reservatório. “Compramos água para dar aos bichinhos aqui na criação, a
jumenta, o gado... A água é toda comprada, a cinco contos o tambor”, diz
Josimar.
Assim como a capacidade de compra da família,
também está se esgotando a esperança de que a transposição mude a vida do
lugar. A obra passa a menos de um quilômetro do povoado de Caiçara. “Ah, se
funcionasse realmente daria pra plantar muita coisa, verdura, daria pra gente
plantar”, explica a agricultora Mariluce Rodrigues de Melo.
Em Brasília, uma comissão foi criada nesta
terça-feira (13) com dez senadores – todos de estados nordestinos – para acompanhar
o trabalho das obras. O representante de Pernambuco é Humberto Costa, do PT. A
meta do Ministério da Integração Nacional é concluir as obras da transposição
em 2015.
Fonte para edição no Rema:
Ruben Siqueira
Comissão Pastoral da Terra / Bahia
Articulação Popular São Francisco Vivo
Ruben Siqueira
Comissão Pastoral da Terra / Bahia
Articulação Popular São Francisco Vivo
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