Petrobrás quer plantar cana no Semiárido
A Petrobras Biocombustível vai iniciar as análises de solo e
clima no Semiárido brasileiro para produção de cana-de-açúcar.
http://www.revistaberro.com.br/?materias/ler,1992
Revista O BERRO, n. 160, Outubro de 2012
A região tem prioridade de
investimentos do governo federal, motivados, principalmente, pelo sistema de
irrigação agrícola. Técnicos da empresa estatal visitaram os perímetros
irrigados de Pontal (PE) e Baixio de Irecê (BA), na região do Vale do São
Francisco, para iniciar a prospecção e montar relatórios à cúpula, que decidirá
os investimentos futuros. Pelo Ministério da Integração Nacional serão
contemplados 200 mil hectares para irrigação. Desse total, 125 mil vão ser
destinados à plantação de cana-de-açúcar para a produção de etanol.
A atuação da Petrobras Biocombustível será feita
por meio de usinas parceiras, como a Guarani. O programa de irrigação na região
deve alcançar R$ 5 bilhões por meio de PPPs (parcerias público-privadas). Entre
as empresas envolvidas está a Cutrale, que deve plantar laranja na região para
exportação de suco. A região oferece estabilidade climática, como alta
incidência de luz solar e chuvas concentradas em poucos meses do ano, impedindo
inclusive a proliferação de doenças como a ferrugem alaranjada. Segundo dados
do governo, a produtividade por hectare de cana no semiárido chega a 200
toneladas.
COMENTÁRIOS
João Suassuna - Pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, Recife
Não podemos nos calar em relação a notícias como
essas. Primeiramente, a Embrapa já havia excluído a cultura da cana, dos
limites do Semiárido, ao elaborar o zoneamento agro ecológico da cultura da
cana de açúcar no Brasil. Em segundo lugar, por ser uma cultura muito eficiente
na transformação dos gases atmosféricos, dos nutrientes do solo e da luz solar,
em sacarose, ela necessita, nesse processo, de muita água. Nesse quesito, o
Nordeste não poderá, em hipótese alguma, fornecer os volumes necessários à
satisfação da cultura, para se chegar as produtividades pretendidas. Basta ter
um pouco de juízo e verificar os problemas de desabastecimento que estão hoje
sendo notícias na mídia de um modo geral. Prudência nas atitudes é a palavra de
ordem!
A rotina dos
“apaguinhos” de energia
Heitor Scalambrini Costa
Professor da Universidade Federal de Pernambuco
A promessa de que o processo de
privatização do setor elétrico, em particular das distribuidoras de energia
elétrica favoreceria a concorrência e assim ofereceria melhor qualidade dos
serviços e a modicidade nas tarifas, acabou sendo uma enorme decepção para
aqueles que nutriram esperanças na transferência da gestão pública para a
privada.
Hoje com as distribuidoras 100%
privatizadas, a tarifa paga pelo consumidor brasileiro é uma das mais caras do
mundo. E a qualidade dos serviços deteriora ano a ano com os sucessivos
“blecautes” atingindo vários estados brasileiros, quer por problemas na
geração, como também na transmissão da energia. A justificativa das autoridades
do setor, que enxergam o consumidor como “bobo da corte”, recaem quase sempre
sobre fenômenos naturais (temporal, enchentes ou seca) e/ou falhas humanas.
Todavia o problema é mais grave e teve inicio nas mudanças ocorridas em 1995,
quando o setor elétrico passou a ser gerido pelas leis de mercado. Hoje a falta
de investimentos em novos equipamentos, na qualificação de pessoal, na
fiscalização e essencialmente na gestão do sistema nacional integrado são as
principais causas das sucessivas interrupções no fornecimento de energia.
Além do problema que tem suas causas na
geração e na transmissão, com ampla repercussão na mídia nacional e
internacional, têm-se as recorrentes quedas de energia nas cidades atendidas
pelas distribuidoras estaduais, penalizando o consumidor. A fiscalização deste serviço
é de responsabilidade da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que
conveniada com as Agências Reguladoras Estaduais é quem deveriam monitorar a
prestação dos serviços das concessionárias estaduais.
A Aneel por sua vez para incentivar a
melhoria dos serviços prestados a população, a partir da visão do consumidor
residencial, concede anualmente o Premio “Índice Aneel de Satisfação do
Consumidor – IASC” para as concessionárias melhores avaliadas. O IASC é o
resultado de uma pesquisa amostral realizada diretamente junto ao consumidor
abrangendo a área de concessão das 63 distribuidoras do país. Para esta
verificação são realizadas entrevistas com um pequeno número de consumidores de
cada distribuidora. Este numero de questionários aplicados depende do numero
total de consumidores de cada empresa No
caso da Companhia Energética de Pernambuco, para uma clientela em torno de 3
milhões de consumidores, são 450 questionários para todo o Estado (selecionados
alguns municípios), incluindo pouco mais de 100 questionários para Recife.
Em 2011 para concessionárias com mercado
maior que 1 TWh, a Celpe foi classificada na 4ª posição entre 33 empresas. O
que a coloca a níveis de eficiência que a situam entre as melhores
distribuidoras de energia do Brasil. Esta classificação deveria possibilitar
uma comparação da qualidade dos serviços prestados pelas concessionárias. Mas
não é o que acontece. O ranking foi elaborado com base no Indicador de
Desempenho Global de Continuidade (DGC), é que permite avaliar o nível da
continuidade dos serviços prestados pela distribuidora (valores apurados de
duração e freqüência de interrupções) em relação aos limites estabelecidos para
a sua área de concessão (limites determinados pelas resoluções autorizativas da
Aneel). As distribuidoras são avaliadas em diversos aspectos do fornecimento de
energia elétrica através dos indicadores de continuidade como o DIC
que é a duração de interrupção individual por unidade consumidora, ou seja, o
intervalo de tempo que, no período de apuração, em cada unidade consumidora
ocorreu descontinuidade da distribuição de energia elétrica; o FIC, que é a
freqüência de interrupção individual por unidade consumidora, logo o número de
interrupções ocorridas, no período de apuração, em cada unidade consumidora; e
o DMIC é a duração máxima de interrupção contínua por unidade consumidora, ou
seja, o tempo máximo de interrupção contínua de energia elétrica, em uma
unidade consumidora.
Os indicadores FIC, DIC e DMIC são estampados na
fatura de energia elétrica enviada ao consumidor, em um pequeno quadro “Duração
e Freqüência das Interrupções”. São mostrados o valor apurado pela companhia
(mensal e trimestral) e os limites máximos autorizados pela Aneel. O que chama
a atenção é que os valores apurados pela Celpe são imutáveis. Mesmo tendo o
consumidor verificado naquele mês um maior número de interrupções do que o mês
anterior, esta situação não modifica os valores apurados e indicados na fatura.
Lembrando que na fatura é também informado que o cliente poderá a vir a ser
compensado quando há violação em relação aos índices pré-estabelecidos pela
Aneel. Todavia a falta de credibilidade dos índices apontados pela companhia é
total, e não serve para o consumidor verificar se houve ou não descumprimento
na prestação do serviço, e assim poder reivindicar seu direito de consumidor.
O caso de Pernambuco é emblemático, pois
é grande a freqüência das interrupções no abastecimento de energia ocorridas
não só na capital, como nas cidades interioranas. Já algum tempo a queda de
energia nos bairros de Recife e em outras cidades atendidas tornou uma rotina,
mas infelizmente estes episódios não têm a visibilidade de um apagão atingindo
vários estados brasileiros ao mesmo tempo. Mas que não são menos importantes,
pois os chamados “apaguinhos” trazem os mesmos problemas e transtornos. Os
jornais, as rádios e os órgãos de defesa do consumidor é quem reverbera as
denúncias e a insatisfação do consumidor pernambucano.
A situação atingiu tal nível de
insatisfação que até o atual governador, em um momento raro de defesa dos
interesses da população, acusou publicamente a empresa de “não gostar de
pobre”. Este fato ocorreu na solenidade de lançamento do Programa Chapéu de
Palha no município de Afogados da Ingazeira (380 km de Recife), Neste dia, fez
sérias acusações a Celpe de não fazer obras para os pobres, acusando-a de
boicotar ações contra a seca, atrasando obras dos Governos Federal e Estadual,
apesar de ter lucrado em 2011 mais de R$ 400 milhões, e de ter enviado seus
lucros para a Espanha. Também criticou a imprensa, por não denunciar a Celpe
por ser uma forte anunciante desses veículos. Pura retórica populista.
É bom que se diga, que não é somente com
a prestação de serviços elétricos que o cidadão sofre “as duras penas”, mas também
com a qualidade dos serviços de água e esgoto, na área de saúde, telefonia, com
as companhias aéreas, entre outras. Reclamar a quem? Só se for ao Bispo de Itu,
pois as autoridades responsáveis, não estão nem ai. Fazem de conta que o
problema não existe. Vivem em outro planeta.