Economia Verde: Uma nova roupagem para o "capitalismo marrom"
Semana acadêmica da
Economia/UFRGS alerta para a exclusão de pautas da grande conferência que
ocorre em junho.
Por Eliege Fante - Redação da EcoAgência
"Rio + 20: Economia Verde?” foi o tema da
oficina realizada no segundo dia (22/05) da Semana Acadêmica da
Faculdade de Economia da UFRGS. Clitia Martins, da Fundação de
Economia e Estatística – FEE/RS e membro da Sociedade Brasileira de
Economia Ecológica, ao lado do professor da Faculdade de Ciências
Econômicas Cleyton Gerhardt, explicou que o conceito vigente é um
ressignificado. Pois, a Green Economy (Michael Jacobs, 1991) se
aproxima mais do conceito de Economia Ecológica. E que, a partir dessa
ressignificação, tem-se o desacoplamento (decoupling) como base da
atual economia verde.
Segundo Clitia, o desacoplamento consiste na
“ideia de ‘separar’ a produção do seu impacto ambiental”. Ela explicou que este
processo ocorre de duas maneiras: através do “desacoplamento de recursos” com a
redução da taxa de uso de recursos primários (água, solo) por unidade de
atividade econômica ou o mesmo que aumento da eficiência do uso dos recursos e,
através do “desacoplamento de impactos” com o aumento do resultado econômico
por meio da redução dos impactos ambientais.
A questão é que não é possível “desacoplar” a
produção dos impactos causados. Assim, a economia verde estabelece a permissão
para poluir, impõe a precificação da natureza e a privatização de bens
coletivos. Gerhardt explica que a escassez dos chamados recursos naturais,
somada ao egoísmo intrínseco ou aos desejos ilimitados, cria um tipo padrão, o
capitalista, que ignora a existência de outros modos de vida e de outras
práticas culturais. “O valor da terra onde residem indígenas de uma tribo no
Maranhão, que enterram os seus mortos dentro da oca onde a tribo habita, não é
considerado por este sistema,” exemplificou, citando os mais prejudicados pela
visão de crescimento dito sustentável: maioria proveniente de países pobres,
quilombolas, colonos, pequenos produtores rurais etc.
Gerhardt defende a contraposição à lógica do
discurso dominante que sugere uma participação quando esta, verdadeiramente,
não ocorre. “Dizem, ‘a humanidade’ sofre com os problemas ecológicos ou o
‘homem’ destrói a natureza, ou ainda, a ‘sociedade’ paga pelos impactos. Mas,
quem arca com os riscos do desenvolvimento ou quem são os maiores prejudicados
são as comunidades tradicionais.”
O professor alerta que uma mudança neste padrão
está fora do debate da Rio+20 e a sua importância sendo ocultada pela busca por
consensos. “Não se fala em geopolítica. Se deveria discutir a política e o
poder, enxergar as desigualdades, incluir na pauta os assuntos críticos,”
destacou Gerhardt.
Segundo Clitia, a visão da economia ecológica é
de que o desenvolvimento pode ser sustentável, mas o crescimento, não. A
economista cita a explicação de Daly (2004): “O desenvolvimento sustentável faz
sentido para a economia se entendido como a melhoria qualitativa de uma base
econômica física que é mantida num estado estacionário pelo transumo de
matéria-energia que está dentro das capacidades regenerativas e assimilativas
do ecossistema”. Com isso, o decrescimento passa a ser uma alternativa ao
modelo vigente. A sua tradução perpassa o conceito de “prosperidade sem
crescimento do PIB e da economia” e o alcance do bem viver.
A economista destacou que, a economia ecológica,
ao prever a valoração da natureza, admite o valor intrínseco da mesma. Um
pensamento que se difere da precificação imposta pela chamada economia verde.
Pois, este reconhecimento da riqueza da biodiversidade não deve ser traduzido
de uma forma monetária. Para Gerhardt, essa nova roupagem do capitalismo (a
economia verde) poderia ser denominada “capitalismo marrom” aludindo à poluição.
Clitia concorda que, não há como “esverdear” o sistema capitalista. O caminho
que leva a outro paradigma inclui a inserção dos custos ambientais na produção,
resguardar a produção e os mercados locais e uma pressão popular para que haja
a mudança do modo de produção – em contrapartida à pressão exercida pelos
lobbistas das grandes corporações internacionais.
Ecoagência Solidária de Notícias Ambientais
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