BRASÍLIA
NÃO PERDOA. MATA.
Por Alipio Carvalho Filho
Quem foi ou é aficionado do cinema deve lembrar do faroeste
italiano (western spaghetti), estrelado por Gian Maria Volanté, denominado:
RINGO NÃO PERDOA. MATA.
Para Ringo a sentença era sempre de morte.
Pois é. No Brasil assistimos a um filme semelhante: BRASÍLIA NÃO PERDOA. MATA!!!!!
A explicação é simples. O Nordeste Brasileiro, se é que
realmente é brasileiro, sofre as sequelas da mais cruel seca dos últimos anos.
O Sertanejo (deve
ser sempre escrito com a primeira letra maiúscula) que, para Euclides da
Cunha (em os Sertões) era antes de
tudo um forte, hoje já não dispõe de forças para suportar e superar as
dificuldades que a seca lhe está causando.
A roça de milho e feijão que plantou (“bate a enxada no chão”), acreditando em São José (“eu plantei meu milho todo no dia se São
José”), já secou. Mal serve para alimentar os animais que ainda estão vivos:
a galinha, que bota o ovo, a cabra, que lhe fornece a carne, e a vaca que
amamenta sua família.
Ele assiste impotente e desesperado, com lágrimas nos
olhos, a morte de sua cabra, de sua ovelha, de sua vaquinha (“enquanto minha vaquinha tiver o couro e o
osso”), por falta de pasto e de água.
Pois bem. A roça, a vaca, a cabra e a ovelha, assim como a
cerca, de arame farpado ou de faxina, que delimita sua propriedade, foram
adquiridas com um financiamento concedido por um Banco Oficial (Banco do Brasil, Banco do Nordeste,
etc.)
Para garantia do financiamento que lhe foi concedido
entregou sua propriedade em hipoteca. Ou obteve o favor de um parente ou amigo
que avalizou sua dívida.
Os anos de seca ou de pouca chuva não lhe renderam o
suficiente para o sustento da família e o pagamento da prestação do empréstimo
recebido.
Em consequência, não pagou a parcela que venceu.
Os castigos se sucedem. Perda da safra. Perda do rebanho (“são dez cabeças, muito pouco, ou quase nada”).
Falta de comida e de água.
- Estou
perdido compadre, diz ela ao vizinho padrinho de seu filho.
Para
completar sua desgraça seu nome foi lançado no Rol dos Maus Pagadores. O Banco (do Brasil ou do Nordeste) incluiu seu nome no CADIN, no SPC e no SERASA.
Por
fim, o tiro de misericórdia: a Execução da Dívida pelo banco financiador.
Pronto.
O sertanejo perdeu seus bens com seca. Perdeu a honra com a negativação de seu nome nos órgãos
ditos de proteção ao crédito (o crédito
dos grandes).
Perdeu
também sua dignidade.
É
até engraçado.
A Constituição
Federal Brasileira, promulgada em 05.10.1988, cognominada pelo saudoso Ulisses
Guimarães “Constituição Cidadã” “afirma:
“A República Federativa do Brasil, (...) tem como fundamentos: I - a soberania; II
- a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores
sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político...”
(art. 1º).
E acrescenta:
“Constituem objetivos fundamentais da República
Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização
e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de
todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras
formas de discriminação” (art. 3º).
Pois é.
Brasília (através de seus Poderes
independentes e harmônicos) toma decisões, no mínimo, aberrantes,
inexplicáveis.
Brasília perdoou
dívidas da Bolívia; 52 milhões de dólares; do Cabo Verde: 4 milhões de dólares; da Nigéria: 67,3 milhões de dólares; da Nicarágua:
141 milhões de dólares; da Tanzânia 246 milhões de dólares; do Gabão 36 milhões
de dólares.
Mas não
pode perdoar a dívida dos micros, pequenos e médios produtores nordestinos,
massacrados pela seca, pela fome, pela miséria.
Brasília
perdoou a dívida de um único usineiro no montante de 504 milhões de reais.
Mas não
pode perdoar a dívida dos micros, pequenos e médios produtores nordestinos,
cujos filhos ou parentes a construíram, como construíram parte de São Paulo, do
Paraná, etc.
Brasília
perdoou débitos tributários em torno de 15 a 17 bilhões de reais a
Universidades Particulares, suas concessionárias que vendem Educação.
Mas não
pode perdoar a dívida dos micros, pequenos e médios produtores nordestinos que
produzem feijão, milho, farinha, que é levada à mesa de seus compatriotas.
Isto é
descumprir a Constituição Federal.
Os
micros, pequenos e médios agricultores nordestinos não puderam pagar suas
dívidas.
Perderam
suas vacas, suas cabras, suas ovelhas.
Perderam
sua honra enlameada nos ditos órgãos de proteção ao crédito, que só protegem os
grandes.
Finalmente,
os Bancos Oficiais (Banco do Brasil,
Banco do Nordeste) deram o tiro de misericórdia com a execução judicial de suas dívidas.
Perderam
a dignidade garantida pela Carta Magna.
BRASÍLIA
NÃO PERDOA. MATA.!!!
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