terça-feira, 12 de junho de 2012


BRASÍLIA NÃO PERDOA. MATA.

Por Alipio Carvalho Filho



          Quem foi ou é aficionado do cinema deve lembrar do faroeste italiano (western spaghetti), estrelado por Gian Maria Volanté, denominado: RINGO NÃO PERDOA. MATA.

          Para Ringo a sentença era sempre de morte.

          Pois é. No Brasil assistimos a um filme semelhante: BRASÍLIA NÃO PERDOA. MATA!!!!!

          A explicação é simples. O Nordeste Brasileiro, se é que realmente é brasileiro, sofre as sequelas da mais cruel seca dos últimos anos.

          O Sertanejo (deve ser sempre escrito com a primeira letra maiúscula) que, para Euclides da Cunha (em os Sertões) era antes de tudo um forte, hoje já não dispõe de forças para suportar e superar as dificuldades que a seca lhe está causando.

          A roça de milho e feijão que plantou (“bate a enxada no chão”), acreditando em São José (“eu plantei meu milho todo no dia se São José”), já secou. Mal serve para alimentar os animais que ainda estão vivos: a galinha, que bota o ovo, a cabra, que lhe fornece a carne, e a vaca que amamenta sua família. 

          Ele assiste impotente e desesperado, com lágrimas nos olhos, a morte de sua cabra, de sua ovelha, de sua vaquinha (“enquanto minha vaquinha tiver o couro e o osso”), por falta de pasto e de água.

          Pois bem. A roça, a vaca, a cabra e a ovelha, assim como a cerca, de arame farpado ou de faxina, que delimita sua propriedade, foram adquiridas com um financiamento concedido por um Banco Oficial (Banco do Brasil, Banco do Nordeste, etc.)

          Para garantia do financiamento que lhe foi concedido entregou sua propriedade em hipoteca. Ou obteve o favor de um parente ou amigo que avalizou sua dívida.

          Os anos de seca ou de pouca chuva não lhe renderam o suficiente para o sustento da família e o pagamento da prestação do empréstimo recebido.

          Em consequência, não pagou a parcela que venceu.

          Os castigos se sucedem. Perda da safra. Perda do rebanho (“são dez cabeças, muito pouco, ou quase nada”). Falta de comida e de água.

- Estou perdido compadre, diz ela ao vizinho padrinho de seu filho.

Para completar sua desgraça seu nome foi lançado no Rol dos Maus Pagadores. O Banco (do Brasil ou do Nordeste) incluiu seu nome no CADIN, no SPC e no SERASA.

Por fim, o tiro de misericórdia: a Execução da Dívida pelo banco financiador.

Pronto. O sertanejo perdeu seus bens com seca. Perdeu a  honra com a negativação de seu nome nos órgãos ditos de proteção ao crédito (o crédito dos grandes).

Perdeu também sua dignidade.

É até engraçado.

A Constituição Federal Brasileira, promulgada em 05.10.1988, cognominada pelo saudoso Ulisses Guimarães “Constituição Cidadã “afirma:

A República Federativa do Brasil,  (...) tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político...” (art. 1º).

E acrescenta:

Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação” (art. 3º).

Pois é. Brasília (através de seus Poderes independentes e harmônicos) toma decisões, no mínimo, aberrantes, inexplicáveis.

Brasília perdoou dívidas da Bolívia; 52 milhões de dólares; do Cabo Verde:  4 milhões de dólares; da Nigéria: 67,3 milhões de dólares; da Nicarágua: 141 milhões de dólares; da Tanzânia 246 milhões de dólares; do Gabão 36 milhões de dólares.

Mas não pode perdoar a dívida dos micros, pequenos e médios produtores nordestinos, massacrados pela seca, pela fome, pela miséria.

Brasília perdoou a dívida de um único usineiro no montante de 504 milhões de reais.

Mas não pode perdoar a dívida dos micros, pequenos e médios produtores nordestinos, cujos filhos ou parentes a construíram, como construíram parte de São Paulo, do Paraná, etc.

Brasília perdoou débitos tributários em torno de 15 a 17 bilhões de reais a Universidades Particulares, suas concessionárias que vendem Educação.

Mas não pode perdoar a dívida dos micros, pequenos e médios produtores nordestinos que produzem feijão, milho, farinha, que é levada à mesa de seus compatriotas.

Isto é descumprir a Constituição Federal.

Os micros, pequenos e médios agricultores nordestinos não puderam pagar suas dívidas.

Perderam suas vacas, suas cabras, suas ovelhas.

Perderam sua honra enlameada nos ditos órgãos de proteção ao crédito, que só protegem os grandes.

Finalmente, os Bancos Oficiais (Banco do Brasil, Banco do Nordeste) deram o tiro de misericórdia com a execução judicial de suas dívidas.

Perderam a dignidade garantida pela Carta Magna.

BRASÍLIA NÃO PERDOA. MATA.!!!

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