Setor
elétrico: reclamar melhora o serviço?
Heitor Scalambrini Costa
Professor da Universidade
Federal de Pernambuco
Segundo
o mais recente relatório da Ouvidoria da Agência Nacional de Energia Elétrica
(ANEEL), o número de reclamações de consumidores é o maior já registrado desde
2005, ano de criação da Ouvidoria. Lembrando que a responsabilidade pelo
controle da qualidade do serviço de distribuição é do orgão regulador que, a
princípio, conta com instrumentos que tanto pode penalizar como premiar as
distribuidoras.
Dentre
as principais queixas, a que se refere a interrupção no fornecimento de
energia, esta dobrou em 2012, em relação a 2011. O que mostra claramente a
ineficiência e a piora das concessionárias no atendimento e na qualidade dos
serviços prestados a seus clientes.
Sem
dúvida, recorrer a Ouvidoria da ANEEL (telefone 167) é ainda um serviço pouco
utilizado. Em 2012 foram feitas somente 84.720 reclamações, de um total de 72
milhões de unidades consumidoras. Para alguns,
como resultado das informações repassadas a Agência pelos reclamantes,
usar mais a Ouvidoria poderia trazer benefícios ao consumidor com a melhoria da
qualidade do serviço.
A ação
cidadã de cobrar sempre por um melhor serviço, neste caso, essencial e muito
caro, deve ser incentivada e facilitada a população. Todavia é plenamente
justificado esta pouca procura aos orgãos de controle e fiscalização pelo
descrédito destes orgãos. Lamentavelmente, como resultado das reclamações, não
têm acontecido a desejada melhoria do serviço.
Reclamações tem aumentado nos útimos anos e os serviços piorados.
Até
acontece a penalização das empresas, sempre com anúncios bombásticos e
midiáticos, com a aplicação de multas,
mas raramente executadas efetivamente, pois o recolhimento aos cofres públicos são protelados, com
inúmeros meios jurídicos a disposição das companhias. Em contrapartida, os
benefícios e a premiação das distribuidoras são constantes. Para este setor o
Brasil é o paraíso, um capitalismo sem risco, tais os benefícios que as
empresas distribuidoras auferem.
Com
contratos bastante favoráveis da época da privatização, as distribuidoras, em
troca da remuneração do capital aplicado, teriam a obrigação de oferecer um
serviço confiável e de qualidade. Mas nada disso está ocorrendo, como aponta o
Índice Aneel de Satisfação do Consumidor (IASC) divulgado no início do ano.
Notas de 0 a 100 são dados pelos consumidores das 63 empresas concessionárias
de distribuição de eletricidade. Na média, a avaliação piorou, passando de
64,41 em 2011, para 61,51 em 2012.
Em
Pernambuco, a situação local é um exemplo do que esta acontecendo nacionalmente
com relação a deterioração dos serviços
elétricos prestados a população. A Companhia Energética de Pernambuco
(CELPE), segundo o ranking IASC, das 32 maiores empresas distribuidoras passou
da 4a posição em 2011, para a 16a posição em 2012. Já em 2013, desde o inicio
do ano, as interrupções no fornecimento elétrico, chamado de “apaguinhos”,
tornaram constantes em todo o Estado. O que levou a empresa a ser apelidada
jocosamente de “vaga-lume”.
O mais
preocupante para o usuário pernambucano foi a conclusão do recente relatório
divulgado pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) apontando a incapacidade
(falta de infra estrutura e de pessoal) da Agência de Regulação de Pernambuco
(ARPE) em ficalizar e monitorar a CELPE. É um convênio com a ANEEL que delega a
ARPE a ficalização e o monitoração dos serviços elétricos prestados a
população.
Mesmo o
consumidor tendo acesso aos valores apurados e as metas dos indicadores de
duração (DEC) e da frequência (FEC) das interrupções no fornecimento de
eletricidade de sua residência, que vem estampado na conta de luz, persiste
inúmeras dúvidas sobre a eficacidade destes instrumentos de controle de
qualidade. Em Pernambuco, mesmo com o funcionamento “vaga-lume” da
concessionária, tais indices são imutáveis, segundo reclamos informais.
Caberia
sim a quem de direito, verificar porque as
mudanças nos valores apurados para a duração e a frequência individual
de interrupções não são representados na conta de luz, mesmo acontecendo
naquele mês um aumento da duração e da frequência na falta de eletricidade, em
relação ao mês anterior.
O que
está em jogo é a credibilidade de tais índices, que em última instância,
permitiria ao consumidor ser ressarcido caso ultrapassassem as metas
estipuladas pela ANEEL.
Portanto,
reclamar, teoricamente ajudaria em muito melhorar o serviço público em geral,
inclusive o fornecimento de eletricidade. Mas a questão é que o “buraco” é mais
em baixo.
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