A Evaporação da água nos canais da
Transposição do São Francisco.
Explicação de José do Patrocínio
Tomaz Albuquerque - Hidrogeólogo, Consultor e Professor aposentado pela
Universidade Federal de Campina Grande.
A indagação feita por João
Suassuna (Pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, Recife)
Caro Patrocínio,
Participei, recentemente, de um debate, aqui no
Recife, sobre o projeto da transposição do São Francisco, e um dos que
participaram comigo defendeu a ideia de que a evaporação das águas do rio é menor,
quando em constante movimentação nos canais. Julgava que fosse exatamente o
contrário. A Água em movimento, em ambiente natural com potencial
evaporimétrico elevado (superior a 2000 mm anuais), isso levaria as moléculas
de água a evaporar com maior intensidade. Qual a opinião do amigo sobre isso?
A resposta de José do Patrocínio Tomaz Albuquerque
Prezado João Suassuna
Certamente, este participante é um defensor da
transposição. Os autores do projeto admitem que a vazão de retirada é a mesma
de chegada. Não é. Haverá perdas em canais e nos reservatórios construídos ao
longo de cada eixo e nos receptores. No caso das perdas de canais, ocorrerão
dois tipos de perdas: por infiltração, mesmo se bem construídos, e por
evaporação. No caso das perdas por infiltração, considera-se que um canal é bem
construído se estas perdas se situarem entre 25 e 50 L/dia por m2 de superfície
basal do canal. Pelo que vejo, o canal vai perder mais que o limite máximo,
vulnerável que ficará à ação dos raios solares, em razão do superdimensionamento
do mesmo em relação à vazão normalmente transportada. Em relação às perdas por
evaporação, por sua vez, admite-se que um canal é bem construído se as perdas
forem da ordem de 1L/s/ha percorrido. Isto vai depender de vários fatores: forma
do canal (trapezoidal perde mais que retangular), extensão e perímetro molhado
do canal, entre outros. Quanto maior a extensão do canal, maiores as perdas,
claro. No caso do perímetro molhado (seção mantida com água, em relação à seção
total transversal do canal), menores as perdas, porque a energia solar esquenta
menos as paredes e o fundo do canal. Não é o caso dos canais dos dois eixos da
transposição, nos quais os perímetros molhados são bem menores que os
perímetros da seções totais total dos canais de cada eixo. isto acarretará
perdas por evaporação maiores que um canal projetado e construído para
transportar uma única magnitude de vazão constante. O que vai acontecer de
perdas, se superior, igual ou menor que as de um rio com as mesmas dimensões, é
difícil dizer. Isto porque a vazão de um rio é variável no tempo, função do
aporte, também variável de chuvas. A vazão de um canal tem um suprimento
constante. Em relação às perdas de um reservatório por evaporação à superfície
livre, a de um rio ou canal se aproxima ou tem taxas iguais, se se considera,
não o fluxo, a vazão, mas o volume, mantido constante no tempo e no espaço do
canal natural (rio) ou artificial. Neste caso, é possível que as perdas de um
canal artificial sejam maiores que as de um rio: as taxas de evaporação seriam
as mesmas, mas, as áreas expostas seriam maiores nos canais, pois o suprimento
hídrico mantém a área de exposição à ação dos raios solares, maior..
Espero ter contribuído para o esclarecimento do problema abordado.
Abraços,
Patrocínio
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