A QUESTÃO ENERGÉTICA!!!
A
HORA E A VEZ DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA DE ELETRICIDADE
Heitor Scalambrini
Costa
Professor
da Universidade Federal de Pernambuco
A geração
distribuída (também conhecida como “descentralizada”) caracteriza-se como a
produção de eletricidade próxima ao consumo, dispensando a linha de transmissão
e os complexos sistemas de distribuição para atender ao consumidor final.
Trata-se de uma forma de geração que já foi bastante utilizada até o final da
década de 40 do século passado. Mas que depois foi substituída pela geração
centralizada, com a construção de usinas de grande porte distante do consumidor
final.
A geração
descentralizada representa uma possibilidade concreta para colaborar com a
redução da curva de carga, reduzindo o consumo em horários de pico; e
diminuindo a necessidade de investimentos na geração, transmissão e
distribuição do sistema elétrico integrado brasileiro. Nos países onde houve o
desenvolvimento da pequena geração, os consumidores passaram a preocupar-se
mais com seu consumo de eletricidade, com aspectos do uso eficiente da energia.
Assim, se espera que adotando tal tecnologia, diminua o consumo, sem prejuízo
da qualidade dos serviços, do bem-estar, e do conforto do consumidor. Ou seja,
ter um consumo de energia menor para o mesmo serviço. Também a diversificação
das fontes na matriz elétrica, vai contribuir para diminuir a necessidade de
construção de novas usinas e, obviamente, diminuir o impacto ambiental.
O setor residencial
já é responsável por aproximadamente 26% do consumo de eletricidade do país, e
se somarmos o setor púbico e o comercial, existe um grande potencial para a
pequena geração (< 1 MW), em particular através da instalação de sistemas
fotovoltaicos.
Infelizmente, apesar
da grande incidência de luz solar em todo o território brasileiro, o uso da
energia solar fotovoltaica como fonte elétrica praticamente é desprezível. Em
grande parte devido à insuficiência de incentivos do governo federal e estadual
para a disseminação desta tecnologia.
Desde o segundo
semestre de 2010 com o lançamento de uma consulta pública, se discute uma
regulamentação da geração distribuída utilizando fontes renováveis. Finalmente
em 19 abril de 2012, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) editou a
Resolução Normativa n° 482, regulando a conexão da micro geração (até 100 KW) e
mini geração (de 100 KW a 1 MW) aos sistemas de distribuição de energia elétrica
e o sistema de compensação de energia elétrica, que permitirá o
consumidor-produtor instalar pequenos geradores, em sua unidade consumidora e
injetar energia na rede de distribuição em troca de créditos.
A regulamentação é
válida para geradores que utilizam fontes incentivadas de energia (hídrica,
solar, biomassa, eólica e co-geração), com ênfase para a geração fotovoltaica.
As distribuidoras obtiveram um prazo de 240 dias (até 19 de dezembro) para se
adaptar a esta nova realidade, publicando as normas de integração à rede e de
atendimento à solicitação do consumidor.
Após ter
recebido grande destaque e propaganda oficial, como sendo o início do mercado
para a disseminação da tecnologia solar fotovoltaica, agora que o prazo para as
distribuidoras se pronunciarem sobre como será realizada a integração da micro
e mini geração se aproxima, praticamente nada tem se falado a respeito.
Recentemente, a
Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Energia Elétrica (Abradee)
pediu adiamento desse prazo, mas a Aneel garantiu que os prazos iniciais serão
respeitados. Logo, a partir do inicio de 2013 poderão ser instalados medidores
para controlar a quantidade de eletricidade consumida e injetada na rede do
distribuidor, desde que solicitado.
Mesmo com um atraso
de mais de 20 anos, em comparação a outros países que já incentivavam e
promoviam o uso da geração fotovoltaica conectada na rede elétrica, sem dúvida
esta medida adotada pela Aneel pode ser considerada como um estímulo para o
consumidor investir em tecnologias como a de painéis solares, e também um
modelo bom para as empresas distribuidoras.
Todavia, mesmo
sendo um bom começo, estas medidas são insuficientes para a adoção em larga
escala pela população, devido ao custo do investimento inicial necessário (em
torno de R$ 10.000,00 para produzir em média 100 kWh/mês). É imperativo que o
governo faça mais para que realmente esta fonte de energia, tão abundante,
gratuita e renovável, possa ter uma participação mais importante na matriz
elétrica nacional.
A Campanha Nacional
pela Produção e Uso da Energia Solar Descentralizada laçada pelo Fórum de
Mudanças Climáticas e Justiça Ambiental (www. fmclimaticas.org.br) é
dirigida nesta direção, reivindicando que haja subsídios e financiamento para
os consumidores adquirirem seus geradores fotovoltaicos, e que em certos casos
os equipamentos sejam fornecidos a custo zero. Porque não? Já que a indústria
de petróleo e gás, as hidroelétricas de grande porte e as termelétricas recebem
subsídios generosos dos governos estaduais e federal.
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