COLUNA DO SUASSUNA
Mauriti (CE) debate prejuízos da
estiagem.
Mauriti. Os prejuízos ocasionados
pela estiagem que continua a assolar os municípios nordestinos foram debatidos
durante a realização de audiência pública realizada, na manhã da última
quarta-feira, no plenário da Câmara de Vereadores de Mauriti. Cerca de 500
pessoas participaram das discussões. Representantes do Sindicato dos Trabalhadores
Rurais do município, Caixa Econômica Federal, Ematerce, Banco do Nordeste,
Banco do Brasil, Cogerh, Conab, Fetraece e da Secretaria do Desenvolvimento
Agrário do Estado também participaram do debates.
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1256660
A reunião teve como objetivo o estabelecimento de um plano de ação emergencial capaz de diminuir os danos ocasionados pela falta de chuvas e o atendimento, imediato, das demandas apresentadas por produtores rurais do município. Maior produtor de grãos do Ceará, o município poderá contabilizar grandes perdas na produção agrícola deste ano. Levantamento aponta possível queda em mais de 50% na safra 2012. "Nós estamos preocupados. A falta de chuvas tem trazido prejuízos em todos os setores produtivos. Esta audiência serve para que os agricultores possam expor seus problemas e para que nós, agentes públicos, adotemos medidas para, pelo menos, minimizar essas perdas", avalia a secretária de agricultura do município, Aparecida Bernardo.
Entre as ações a serem efetivadas, emergencialmente, destaca-se a distribuição de 300 cisternas de polietileno, instalação de sistemas de abastecimento junto a comunidades que ainda não possuem sistema de distribuição residencial e a perfuração de poços profundos. O município também realizará a distribuição de 350 kits de irrigação, através de parceria com o Governo do Estado, à agricultores que ainda possuem, em suas propriedades rurais, reservatórios hídricos com capacidade de uso da água para tal finalidade.
Também será defendida, junto à Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a ampliação do número de agricultores beneficiários do Programa Venda em Balcão, que oportuniza a compra do milho utilizado para alimentação animal por preço mais barato. No entanto, conforme o gerente da unidade da Conab em Juazeiro do Norte, Cândido Souza, o milho existente nos galpões do órgão na região ainda é insuficiente para atender à demanda. "Nós estamos solicitando o apoio das autoridades para que a quantidade do milho seja ampliada. Hoje, a quantidade de milho nos galpões é insuficiente. Não há como atender a contento todos os municípios", disse.
Outra preocupação no município é a perda na capacidade de água nos principais reservatórios hídricos do município: os açudes Quixabinha e Atalho. Os reservatórios são fiscalizados pela Cogerh e estão com a capacidade abaixo da média. "A capacidade dos reservatórios, oscila em 6%. O baixo volume verificado causa preocupação maior no uso da água", disse o representante do órgão, Iarley Brito.
ROBERTO CRISPIM
COLABORADOR.
COMENTÁRIOS
João Suassuna - Pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, Recife
Olhem aí as consequências de se plantar culturas
de grãos em regiões sujeitas às estiagens. Sugiro o cultivo de xerófilas e a
criação de uma pecuária adaptada ao clima seco.
José do Patrocínio Tomaz Albuquerque -
Consultor e Professor aposentado da Universidade Fedral de Campina Grande.
Prezado João Suassuna
Se existe um município ou região no semiárido
cearense (e nordestino) em que os problemas de racionamento para consumo
humano e quebra de produção agrícola de subsistência ocorrem por falta de
gestão de seus recursos hídricos, Mauriti é um deles (Campina Grande-PB é
outro). Situado na região dos Cariris Novos do Ceará (de clima quase semi-úmido
ou hipo-semiárido), além dos recursos hídricos superficiais, onde se destacam
os açudes, citados na reportagem, de Quixabinha (capacidade de acumulação de
31.780.000 m3, mas em 18 desse mês de Abril, com, apenas 4.880.000 m3) e
Atalho, este situado no município vizinho de Brejo Santo (capacidade de
acumulação de 108.250.000 m3, hoje com, apenas, 20.190.000), segundo
informações do Atlas da SRH do Ceará, Mauriti está assentado sobre a bacia
sedimentar do Araripe-Cariri, a qual apresenta vários aquíferos, a maioria do
tipo sob pressão (confinados ou semiconfinados) distribuídos nos mais de 1.500
metros de espessura de sedimentos. Destacam-se os aquíferos Mauriti (também
chamado Cariri), Missão Velha e Barbalha, todos situados no vele do Cariri, ao
qual se juntam as águes do freático Exu e aluviais, aquele brotando no sopé da
Chapada do Araripe, sob a forma de fontes perenes. Ocorre que nenhuma gota
dessas águas é destinada aos cultivos de subsistência que ficam na dependência
do deus-dará das chuvas. As águas de poços e, principalmente, de açudes, são
destinados, em maior proporção à irrigação do perímetro público denominado
Quixabinha (293 ha) e de glebas privadas. Secundariamente, atendem ao consumo
da população urbana e rural. Evidentemente, é a irrigação a responsável pelo
sobreuso dos recursos hídricos, em retiradas superiores às capacidades de
regularização de reservatórios superficiais e de poços. O modelo de irrigação
praticado, durante a estação normal das estiagens, conduz, inexoravelmente, à
exaustão, esses recursos hídricos, inviabilizando a oferta dos mesmos nos anos
de secas prolongadas. Os gestores desses recursos, ao não quererem ou não
entenderem estes condicionamentos hidroclimáticos, abdicam da gestão correta
dos mesmos. Já dizia Gandhi, o grande pacifista indiano, “água sempre existe
para satisfação das necessidades dos homens, não havendo para a sua ganância”.
De certa forma, é isso o que ocorre no Ceará, onde a quebra da safra de grãos
supera os 82%. Os perímetros de irrigação são voltado para fruticultura, a
maior parte destinada à exportação. Parece que só se pensa em consumo interno
de grãos quando da ocorrência de secas, quando a lavoura de subsistência deixa
de produzir.
Quanto à sua sugestão, de cultivo de xerófitas e
de criação de uma pecuária adaptada, ninguém, em sã consciência, pode ser
contra. Eu não sou favorável é à substituição indiscriminada dos cultivos de
subsistência pelas culturas xerófilas, mesmo porque elas não são mutuamente
excludentes. Como disse em comentários anteriores, o problema não é este, mas
sim, o de aproveitamento das águas de quase 70.000 açudes existentes, sem
nenhum poder de regularização plurianual, em grande parte, usados para o
abastecimento de populações urbanas, o que é um despropósito. Não se pode,
contudo, pensar em varrê-los do mapa, embora, se devesse fazê-lo com alguns que
prejudicam a capacidade de regularização dos grandes, o que pode estar
acontecendo com os açudes Quixabinha e Atalho. E o aproveitamento destinado, na
maioria dos casos, a cultivares xerófitos é dispensável. Existe algumas
culturas, que, na época das secas, precisam de dotação hídrica, caso do
Cajueiro e outros (não é a minha seara). Mas, nada disso impede utilizar estas
águas e as de aquíferos menores e locais, no modelo mais adequado de irrigação
às condições hidroclimáticas do Semiárido: a irrigação de salvação e a de
cultivos de ciclo curto, até o início dos meses em que a evapotranspiração
potencial atinge níveis estratosféricos, geralmente de Setembro a Dezembro, ou
de Outubro a Janeiro. No caso da criação de uma pecuária adaptada, ela não
prescinde de suprimento alimentar adequado, principalmente, por ocasião das
secas mais prolongadas e intensas como a atual. O amigo sabe das dificuldades
que o nosso guru Manelito Villar está passando para conseguir alimentar o seu
rebanho de gado adaptado à climas rigorosos. Políticas de produção agropecuária
que contemplem produção, armazenamento, escoamento e preços são absolutamente
necessárias ao enfrentamento das secas, ao lado de uma política de recursos
hídricos. Esta, no Nordeste, parou com o esvaziamento de órgãos como o DNOCS e,
principalmente, a SUDENE.
Abraços,
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