A Matemática da Seca
Pernambuco em Pauta convida especialistas para debater sobre
a convivência com a seca.
Revis AlgoMais - Maio de 2013
Se resolver uma equação e encontrar todos os
valores das incógnitas, a seca pode ser considerada uma conta bastante
complexa.
Na matemática, assim como na vida prática, não
adianta apenas ter as expressões algébricas, é preciso saber resolve-las. O
fator básico desta conta a ciência já oferece: a seca é um fenômeno cíclico,
acontece a cada 13 anos. Apesar de previsível, ainda não foi encontrada uma
fórmula para amenizar os efeitos da seca.
Aconteceu, no último dia 15 de abril, o Pernambuco
em Pauta, realizado pelo Clube de Engenharia de Pernambuco em parceria
com a Revista Algomais. O debate foi sediado na TGI e teve como mediador o
presidente o Clube de Engenharia Alexandre Santos. Com o objetivo de discutir a
convivência com a seca, foram convidados seis especialistas para entender o
motivo pelo qual ainda não existe uma solução. Mesmo sem uma fórmula certa, a
necessidade de fazer uso da tecnologia, de adaptar a produção dos sertanejos a
realidade climática e de pensar sobre ineficiência das ações emergenciais com os carros-pipa por exemplo
foram pontos ressaltados na busca por uma resposta para a estiagem que afeta
1,3 milhão de pessoas em Pernambuco.
Entre os convidados estavam o pesquisador da
Fundação Joaquim Nabuco João Suassuna; o engenheiro e ex-diretor do
Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) Jose Arthur Padilha; o
engenheiro agrônomo e gestor executivo do Distrito de irrigação Nilo Coelho
Paulo Sales; o especialista em águas subterrâneas e diretor do setor de
recursos hídricos do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA) Jose de Assis
Ferreira;
o ex-secretário de agricultura do Estado de Pernambuco Geraldo Eugenio e o arquiteto Carlos Fernando Pontual.
João Suassuna. Endossado pelo escritor
Guimarães Duque, o pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, João Suassuna vê a
seca como uma “tragédia anunciada”. De acordo com ele, já em 1958 a população
sabia como funcionava o esquema de chuvas no Nordeste e mesmo assim decidiu apostar em uma
loteria ao produzir grãos e outras agriculturas impróprias para o semiárido.
Suassuna explica que hoje, o chamado Miolão
da Seca, onde acontecem 80% das secas do Nordeste, tem cerca de um milhão de
quilômetros quadrados e abriga aproximadamente dez milhões de pessoas. “Cerca
de 70% do semiárido tem geologia cristalina, que são rochas na superfície. Com
elas, pouca água consegue se infiltrar e o escoamento superficial é enorme”,
explica.
De acordo com Suassuna é preciso uma
conscientização da população que mora no semiárido para se adaptar aos períodos
de secas. “Em 1972
Guimarães Duque fez uma palestra que falava que
mesmo com o progresso, as secas parciais que surgem provocam levas e levas de
flagelados. A causa é que três, quatro ou até mesmo cinco milhões de famílias
insistem em plantar milho, feijão e arroz em uma região em que as chuvas são
uma verdadeira loteria. Em 1958, por exemplo, só em março choveu 51% de toda chuva
do ano”, endossa Suassuna.
Com clima de caatinga, o semiárido seria
apropriado para lavouras x erófitas e como alternativa de convivência teria a
produção de fibras, forragens, frutas, energia, óleos, látex e ate mesmo mel.
“Enquanto tivermos uma lavoura contra a natureza estaremos formando flagelados
quando faltar chuva”, completa.
Tida como uma das principais vilãs na seca, a
producao de grãos nunca poderia ser considerada para desenvolver a cultura de
subsistência.
De acordo com João Suassuna, fazer isso é como,
em expressão popular, dar um tiro no pé. “Analisando as chuvas da região se
percebe que apenas em 20% dos casos as colheitas são seguras. Ou seja, em dez
anos agrícolas, voce terá apenas dois de boa colheita”, alerta.
Para exemplificar, Suassuna lembra a chuva do dia
de Sao José, em 19 de março. Para surpresa do semiarido, houve uma grande chuva
inesperada e o governo distribuiu três mil toneladas de feijao e milho. “Tudo
virou pó. Você colocou o produtor para trabalhar,
mas ele nao teve retorno porque nao choveu mais. É importante alertar que a
seca é um fenomeno previsível.
Já se sabia que os anos a partir de 2000 seriam secos”, lembra.
Para finalizar, o pesquisador lembra que o mais
importante é o planejamento. “Tem que planejar alternativas de convivência. Ir
atrás de explorar racionalmente a caatinga e pensar a longo prazo, ao inves de só ver
soluções emergenciais de curto prazo.”-
Acesse a opinião dos outros convidados da reunião, clicando no endereço abaixo:
http://www.revistaalgomais.com.br/
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