sexta-feira, 31 de maio de 2013

Transposição do rio São Francisco: os resultados pífios já haviam sido previstos há bastante tempo


Na mesa redonda do evento "I Simpósio Transposição de Águas do São Francisco: mito ou realidade?", promovido pelo Departamento de Geografia do Centro Universitário da Paraíba - UNIPÊ e presidida pelo grande jornalista paraibano, Zé Euflávio, o pesquisador João Suassuna, em tons de profecia, já informava sobre as possibilidades de existirem problemas técnicos e políticos no projeto.

Vejam os comentários de João Suassuna, publicados no portal da Fundação Joaquim Nabuco, no ano de 1999 do século passado.

http://www.fundaj.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=701&Itemid=376

UM HIATO DESCABIDO

Participei recentemente na Paraíba, como conferencista, do I Simpósio Transposição de Águas do São Francisco: mito ou realidade?, promovido pelo Departamento de Geografia do Centro Universitário da Paraíba - UNIPÊ. Coube-me, no referido encontro, falar sobre os Impactos da Transposição na Bacia Hidrográfica do São Francisco.

O evento, realizado para se encontrar alternativas de abastecimento para a região (o São Francisco estava sendo considerado como a única alternativa de abastecimento disponível), foi dividido em duas partes: a primeira, reservada para apresentações técnicas e a segunda, para os questionamentos políticos.

Tornou-se fato curioso, e até mesmo intrigante, a avaliação dos propósitos do encontro nos aspectos acima referidos. No aspecto técnico, foram claramente percebidos os problemas existentes de acumulação, de acesso e de uso das águas, oriundos dos entraves naturais existentes na região, entraves esses que podem e que devem ser resolvidos para possibilitar o acesso das populações à água, nos limites impostos pela natureza. Para o alcance dessas possibilidades, os técnicos fizeram um rico relato, com informações preciosas, mostrando os desdobramentos que resultaram no quadro dramático de desabastecimento por que passa o Nordeste na atualidade.

Na esfera política, deu-se exatamente o inverso. Os depoimentos mostraram que os aspectos técnicos eram considerados irrelevantes, não cabendo falar nos problemas sob essa ótica, bastando apenas vontade política para a realização das ações e nada mais. Nesse sentido, os volumes hídricos existentes na região se multiplicariam com enorme velocidade, as águas subiriam, desceriam e penetrariam nos estados por diversos flancos, sem nenhuma cerimônia e, em questões de segundos, os estados estariam cortados por canais, tubulações e estações elevatórias e, num verdadeiro passe de mágica, a região viraria uma verdadeira bacia amazônica.

O resultado não poderia ser outro: o colapso iminente do abastecimento do Nordeste. E esse problema chegou a uma situação insustentável. Comenta-se, até, a possibilidade de se pôr em prática um plano para a evacuação de parte da população de Campina Grande (PB), caso não chova nos próximos quinze dias, por falta de condições mínimas de garantia de fornecimento de água a sua população.

Nos dois dias de duração do encontro pôde-se perceber o hiato enorme e descabido existente entre as informações técnicas que foram ali divulgadas e a vontade política de pô-las em prática. É realmente lamentável que esse hiato exista. Não se pode admitir que, após um dia inteiro de negociações e discussões técnicas, em um ambiente em que se tratava do assunto com conta-gotas nas mãos, onde a tônica era uma proposta de orçamento hídrico que possibilitasse a continuidade da existência de água nas torneiras para a população, essas questões fossem tratadas de forma tão fria e sem a menor importância.

Acho que é por questões como essas que o Brasil permanece como o país da imprudência. As situações de risco só costumam ser diagnosticadas quando os seus efeitos se tornam irreparáveis. Para o Brasil começar a dar certo, é preciso que se valorizem mais as informações técnicas e as pessoas que têm capacidade de colocar em prática uma idéia e levá-la até o fim. Porque hoje quem sabe e não faz perde uma oportunidade valiosa que talvez não se repita no futuro.

Recife, 03 de dezembro de 1999

por João Suassuna— Última modificação 31/05/2013 09:09

quarta-feira, 29 de maio de 2013


SITUAÇÃO DA ENERGIA NUCLEAR PÓS RIO+20

Heitor Scalambrini Costa*

Sr. Presidente da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Deputado Penna, meus agradecimentos pelo convite e oportunidade de discutir tema tão relevante. Parabenizo-o pela proposição desta audiência publica, assim como os demais membros desta Comissão por acolher e aprovar esta iniciativa. Aos membros da mesa e aos demais presentes meu bom dia.

A situação da energia nuclear depois de 1 ano da Rio+20 e da Cúpula dos Povos sofreu mudanças importantes com relação ao seu papel nas políticas energéticas de vários países industrializados.

A tragédia ocorrida no Japão, em 11 de Março de 2011, colocou em evidência mais uma vez as grandes questões que ainda não foram respondidas pela área nuclear.

A primeira delas é o alto fator de insegurança na operação de usinas nucleares e os riscos de desastres relacionados a vazamentos de material radioativo, quase que invariavelmente de conseqüências dramáticas, espalhando radioatividade no ar, na terra e na água. A credibilidade com relação à segurança dos reatores nucleares foi seriamente abalada, com os desastres de Three Mile Island (nos Estados Unidos), Chernobyl (na ex-União Soviética) e agora de Fukushima (no Japão).

Com outras tecnologias para produzir eletricidade também podem ocorrer acidentes (como incêndios em termelétricas ou ruptura de barragens em reservatórios de usinas hidroelétricas), mas os acidentes nucleares, devido à liberação de radiação, são infinitamente mais perigosos à vida humana, animal e a natureza.

Este último no Japão mostrou que mesmo em um país altamente desenvolvido e bem preparado tecnologicamente, com nível científico elevado de seus especialistas, desastres e falhas tecnológicas podem acontecer. Os riscos de acidentes nucleares existem e quando acontecem são devastadores. Daí para evitar este risco o caminho é não instalar estas usinas.

Outra questão é de caráter econômico.A eletricidade nuclear é mais cara que outras formas de produzir eletricidade. A geração nucleoelétrica é uma tecnologia complexa e cara, e que fica ainda mais cara e deixa de ser competitiva em relação a outras fontes de energia, devido aos gastos para melhorar o desempenho e a segurança das usinas. De modo geral, somente empresas estatais constroem reatores nucleares, ou empresas privadas com fortes subsídios governamentais. E aí está o “nó” para esta indústria que depende enormemente de altos investimentos vindos dos cofres públicos. No Brasil um reator de 1.300 MW tem seu custo inicial avaliado em 10 bilhões de reais.

E finalmente, a questão não resolvida do armazenamento do “lixo nuclear”. Nenhum país conseguiu até hoje equacionar definitivamente o problema da destinação dos resíduos perigosos (altamente radioativos) produzidos pelas reações nucleares, que em geral se acumulam nas próprias usinas (como em Angra 1 e 2). Estes resíduos continuam ativos por milhares de anos, criando assim também um problema ético, pois a geração presente se beneficia dos serviços prestados pela eletricidade, mas acaba legando às gerações futuras os resíduos radioativos.

Diante das evidências, tristemente constatadas em Fukushima envolvendo a emissão de material radioativo para o meio ambiente, provocando a retirada de mais de 100 mil pessoas, ainda resta muito a fazer para acabar de vez com esta tragédia. O chamado programa de descontaminação prevê reabilitar uma área de 20.000 km2 da região mais exposta a precipitação radioativa, e assim possibilitar o retorno das pessoas que de lá foram retiradas. Estão sendo liberados pelo governo japones 13 bilhões de dólares para esta finalidade.

Estima-se que no caso dos reatores 1, 2 e 3 o combustível fundido será retirado em prazo próximo há 25 anos, e que somente depois, estas unidades serão desmanteladas (descomissionadas), o que deverá levar mais 15 anos. Ou seja, as unidades da central de Fukushima Daiichi somente se tornarão um mausoléu definitivo para a posteridade em 2052. Lembrando que todo este trabalho ao longo dos próximos 40 anos será realizado na maioria por operários que trabalharão em ambiente de alta radioatividade.

A catástrofe em territorio japonês foi um grande exemplo/aviso para o mundo, contribuindo efetivamente para o aumento da desconfiança na indústria nuclear. Como consequência aumentou a rejeição da opinião pública global ao uso da energia nuclear. Vários países entenderam este alarme e anunciaram o cancelamento dos seus programas nucleoelétricos. Pesquisas de opinião pública realizadas em países que já tem usinas nucleares, incluindo o Brasil, indicaram que 69% dos entrevistados rejeitam a construção de novas usinas. No Brasil 79% dos entrevistados disserem se opor a construção destas usinas.

Não há, portanto, razões para investir em energia nuclear no Brasil. Para garantir a segurança energética o país dispõe de recursos renováveis abundantes e diversos que podem atender a uma demanda eficientizada, sem desperdicios e com geração descentralizada, além da complementariedade entre as diversas fontes energéticas.

A Alemanha foi à primeira nação industrializada a ter um plano para abolir a energia nuclear do seu território. A data para por fim a esta era de insegurança foi 29 de maio de 2011, por decisão da coalização de governo da chanceler Ângela Merkel. Até 2022 não haverá mais reatores nucleares naquele país emblemático, particularmente para o Brasil, que assinou em 1975 um acordo de cooperação técnico científico econômico com aquele país. Juntas, as 17 usinas existentes em solo alemão que produziam 1/4 da energia alemã serão desativadas até 2022.

A tomada de decisão do governo alemão de deixar de usar a energia nuclear mostra que basta visão e vontade política para livrar um país desta fonte de energia indesejável, pelo perigo que representa; suja pelos resíduos que produz, e cara, implicando em tarifas mais onerosas para o consumidor.

Enquanto a Alemanha vira a página do nuclear, técnicos e políticos brasileiros duvidavam que este país pudesse “sobreviver” sem a nucleoeletricidade. Os mais exaltados alegavam até que o desligamento progressivo das usinas nucleares forçaria o país a usar combustível fosseis, contribuindo assim para o aquecimento global. Mais uma vez estes “experts” (?) em energia mostraram o quanto estavam errados.

Passado pouco mais de um ano da decisão histórica, no dia 1 de agosto de 2012 a Associação Nacional de Energia e Água (BDEW) anunciou que 25 % de toda energia consumida pela Alemanha no primeiro semestre de 2012 foi gerada a partir de fontes renováveis, e que todas estas fontes registraram crescimento no período comparado a 2011, quando representavam 17% do consumo energético total.

O setor eólico forneceu 9,2% de toda energia demandada pela Alemanha, respondendo pela maior contribuição das renováveis. A biomassa representou 5,7% da demanda. E o setor fotovoltaico 5,4%. Sendo este o que mais cresceu, 47%, aumentando sua geração do 1º semestre de 2011 para igual período em 2012.

O recado parece dado para o Brasil e para o mundo. As fontes renováveis podem e devem substituir os combustíveis fósseis, além da indesejável energia nuclear.

Setembro de 2012 ficará marcado na história pelos anúncios feitos pelos governos japonês e francês, a respeito da decisão de se afastarem da energia nuclear, responsável pelos piores pesadelos da humanidade. Esta tomada de posição tem um significado especial, visto que estes países, até então defensores desta fonte energética, têm em suas matrizes a maior participação mundial da nucleoeletricidade. Depois da histórica decisão do governo alemão em abandonar em definitivo a energia nuclear, agora foram os governos do Japão e da França que reverão os planos relativos ao uso do nuclear.

O Japão anunciou que irá abrir mão da energia nuclear ao longo das próximas três décadas. Esta decisão, tomada após um encontro ministerial (14/09/2012), indica o abandono de tal fonte energética na “década de 2030″. O plano japonês apresentado é semelhante ao da Alemanha. Sem dúvida para o Japão, a tarefa é mais complexa visto que 1/3 da eletricidade gerada no país é proveniente dos 50 reatores instalados em seu território.

Ainda sobre a decisão do governo japonês existem críticas por não ter sido especificado, quando exatamente a meta seria alcançada, já que a decisão agora tomada não seria obrigatória para governos futuros. O que significa em princípio, que uma nova administração poderia reverter os planos, como tem tentado o atual primeiro ministro. Todavia, dificilmente esta mudança de rumo ocorreria pelo alto engajamento e conscientização dos japoneses/sas, demonstrada em recente pesquisa de opinião, onde mais da metade da população se diz favorável ao fim do uso do nuclear no país.

Também houve críticas sobre o porquê deste calendário ser tão dilatado, já que o país chegou a desligar 48 dos reatores depois do desastre de Fukushima, e poderia, com o aumento da participação das fontes renováveis e com um ambicioso programa de eficientização energética, atingir a meta num prazo menor. Todavia, mesmo com estas ressalvas, a decisão anunciada aponta para um novo rumo na questão energética japonesa e mundial.

Já na França, a conferência realizada em Paris 14 e 15/09/2012 sobre questões ambientais, o presidente François Hollande, cumprindo promessa de campanha, declarou que está engajado na transição energética, baseada em dois princípios: eficiência e fontes renováveis; e que planeja reduzir a dependência do país da energia nuclear, hoje correspondendo a 75% da matriz energética, para 50% até 2025.

Sem ter metas conclusivas para o abandono definitivo da energia nuclear no seu território, sem dúvida a decisão do governo francês é histórica e extremamente positiva, visto que até então, discutir a questão nuclear na França era tabu.

Para aqueles defensores desta tecnologia que sempre mencionavam o estado francês como referência de uma experiência exitosa na área nuclear, fica aí uma derrota de grandes proporções. Sem dúvida, a França rever sua posição, mesmo diante das dificuldades, da complexidade do problema e das contradições existentes, é indispensável para um mundo de amanhã sem nuclear.

Somados a Áustria, Bélgica, Suíça, Itália (decisão plebiscitária, onde mais de 90% da população votou contrário à instalação de novos reatores nucleares em seu território) que reviram os planos de instalação de novas usinas, e decidiram se distanciar da energia nuclear; agora a Alemanha, o Japão e a França tomaram decisões semelhantes.

Diante deste contexto internacional fica aqui uma pergunta que não quer calar: por que então o governo brasileiro insiste em planejar a construção de usinas nucleares?

O Plano Nacional de Energia 2030 – PNE 2030 (Estratégia para a Expansão da Oferta), propõe a construção de mais quatro usinas nucleares até 2030. Duas das novas unidades nucleares com potência de 1,3 mil MW cada poderão ser construídas na região Nordeste e as outras duas no Sudeste (também com 1,3 mil MW cada), além de Angra 3.

Paralisadas há 20 anos, as obras da usina nuclear de Angra 3 (1.300 MW), foi retomada em julho/2008, e estima-se para 2015 a entrada em operação da terceira usina termonuclear brasileira, com investimentos da ordem de R$ 7 bilhões.

O Brasil não tem necessidade de construir mais usinas nucleares para atingir a meta de aumentar a oferta de energia elétrica. Estas decisões referentes à construção de usinas de geração de eletricidade têm sido apresentadas diante de um suposto aumento dos riscos de déficit de energia, alimentados pela síndrome do apagão.

Idêntica justificativa da necessidade de energia foi utilizada pelo regime militar quando da assinatura do acordo nuclear Brasil e Alemanha que previa a construção de 8 usinas nucleares. Acabou com a construção de somente uma, Angra II.

Fonte de energia elétrica ambientalmente incorreta por causa dos riscos de acidentes e pela produção de resíduos radioativos, o uso da nucleoeletricidade pelo Brasil é estrategicamente incorreto, e deveria ser definitivamente descartado. Parece-me mais inteligente buscar formas de aumentar a eficiência e a conservação de energia, e de encontrar na diversidade das fontes renováveis as múltiplas saídas para os problemas energéticos do país.

Neste contexto, me oponho a lamentável e solitária decisão do governo federal que anunciou em 2010, a expansão de instalações nucleares no país, com a construção de Angra 3, e de mais quatro usinas termonucleares até 2030: duas no Nordeste e duas no Sudeste, ainda sem locais definidos. Ou seja, relançou o Programa Nuclear Brasileiro para produção de eletricidade nuclear sem nenhuma discussão com a sociedade brasileira, com exceção dos 12 membros do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) que tomaram esta triste decisão contrária aos interesses da nação.

De lá para cá, temos constatado que esta diretriz não mudou, apesar dos acontecimentos dramáticos proporcionado pelo vazamento de material radioativo nas Usinas do Complexo de Fukushima Daichii no Japão. Este episódio, sem duvida, foi um marco no sentido de tornar público uma discussão que extrapola simplesmente a questão técnica, da oportunidade e necessidade de energia, das vantagens e desvantagens, das alternativas disponíveis.

A partir daí o debate ganhou as ruas de todo mundo. Em várias partes houve contestação aos governos, que decidiram por esta opção energética. Manifestações ganharam as ruas em diversos paises, e uma discussão até então restrita aos técnicos, políticos se popularizou trazendo a tona um tema muito caro às pessoas, que é a manutenção da vida em nosso planeta. No Brasil ainda se tem pouquíssima consciência da extrema gravidade da questão da energia nuclear e da urgência em enfrentar os problemas que ela nos coloca.

Mesmo não havendo provas definitivas de que o nosso país esteja construindo armas nucleares, eventos e pronunciamentos em passado recente levam-nos a crer que o Brasil “recomeçou a flertar” com a idéia de produzir uma bomba atômica, após tentativas anteriores mal sucedidas durante o regime militar.

Nos últimos anos diversas autoridades, como o ex vice-presidente da República José Alencar e o ex-ministro de Ciências e Tecnologia, Roberto Amaral, declararam a necessidade do país dispor de armamento nuclear para defesa preventiva e de suas riquezas, como fator de dissuasão e para impor mais respeitabilidade. Também o documento sobre a Estratégia Nacional de Defesa lançada em 2008, afirma a “Independência nacional, alcançada pela capacitação tecnológica autônoma, inclusive nos estratégicos setores espacial, cibernético e nuclear. Não é independente quem não tem o domínio das tecnologias sensíveis, tanto para a defesa como para o desenvolvimento”. Embora a Constituição diga que toda atividade nuclear em território nacional somente será admitida para fins pacíficos, o assunto está longe de ser considerado um tabu.

A ressurreição do Programa Nuclear Brasileiro é mais um dos indícios da estratégia governamental de tornar o Brasil uma potência atômica. O dinheiro empregado no programa, para a construção e funcionamento de novas usinas nucleoelétricas, permitirá a lubrificação de todas as suas engrenagens. A cada usina que construímos aumentaremos o volume de urânio que produzimos, aumentando assim o saldo com que se esperam entrar definitivamente como sócios no Clube Atômico, e para tal é necessário ter a bomba atômica.

Abrir mão da energia nuclear significa um importante passo para evitar o perigo de uma nova onda de proliferação nuclear, dada a natureza dual da energia nuclear, que se presta tanto para aplicações pacíficas como militares, sem falar dos problemas físicos de segurança nuclear. Não devemos nos esquecer do que afirmou o físico Robert Oppenheimer, responsável pela construção da primeira bomba atômica, quando visitou o Brasil, em 1953: “Quem disser que existe uma energia atômica para a paz e outra para a guerra, está mentindo”.

O Brasil pela exuberância e diversidade de fontes energéticas renováveis disponíveis em seu território, não precisa da energia nuclear para atender a demanda de energia elétrica, e assim, pode adotar opções mais atraentes do ponto de vista econômico, social e ambiental.

O Brasil é bem ensolarado, possui muita água, fortes ventos e grandes áreas agrícolas para a produção da biomassa, podendo utilizar tudo isso para seu desenvolvimento e assim melhorar a qualidade de vida de sua população respeitando o meio ambiente. Então, que país é este que opta pela energia nuclear, combustíveis fósseis e mega hidrelétricas na região Amazônica?

A insistência em manter esta política energética, tem a cada dia surpreendido. Informações veiculadas na mídia dão conta de que os responsáveis pelo Programa Nuclear Brasileiro estão em entendimento com a Caixa Econômica Federal para que esta conceda, à empresa encarregada da construção de Angra III. Um empréstimo que permitirá completar essa construção, uma vez que até agora a solicitação feita no mesmo sentido junto a bancos europeus não obteve resposta.

Segundo o que chegou ao nosso conhecimento, a demora dos bancos europeus para atender a esse pedido de financiamento seria devida a insuficiências nas informações apresentadas pelas autoridades brasileiras quanto às condições de segurança de Angra 3. Como estas condições se tornaram mais exigentes após o acidente nuclear dm Fukushima, esses bancos e a Agência alemã Euler Hermes, que daria o seguro ao empréstimo, teriam solicitado mais informações.

É do conhecimento geral que há riscos específicos em Angra, ligados ao histórico de deslizamentos de terra na região, e que as condições de evacuação da população em caso de acidente são extremamente precárias. Por outro lado, a informação difundida é de que a evacuação abrange um raio de somente 5 quilômetros em torno das usinas, quando a 15 km delas se situa a cidade de Angra dos Reis, com mais de 170.000 habitantes. Não devemos esquecer o raio adotado em Fukushima foi de 30 km. Lembro aqui a nota pública do PV intitulada “Chuvas em Angra e os riscos da energia nuclear”, após a visita do Dep. Sarney Filho aquela região, em março último.

Além de num acidente as nuvens radioativas que se formam, se espalham ao sabor do vento, como ocorreu em Chernobyl, atingindo todos os países da Europa. No caso do Complexo de Angra, elas atingiriam facilmente São Paulo (220 km), Rio de Janeiro (130 km)e até belo Horizonte (350 km).

Se não existem informações clara e precisas sobre a adoção de normas mais exigentes na construção de Angra 3, assim como os relativos ao problema da insuficiência do plano de evacuação de Angra e dos riscos de deslizes de terra na região, não seria de estranhar que as autoridades brasileiras não tenham podido responder adequadamente à solicitação de informações dos bancos europeus e da companhia de seguros Hermes.

Mas o que nos preocupa é que a Caixa Econômica Federal possa se dispor a substituir bancos que não estão querendo financiar um determinado empreendimento porque este estaria contrariando normas de segurança internacionais. Seria a nosso ver algo extremamente grave, desde um ponto de vista de responsabilidade social de uma empresa do governo, o que não escapará da atenção dos cidadãos brasileiros, se tais dados forem confirmados e difundidos.

Urgentemente a sociedade brasileira precisa de respostas sobre esta grave informação.

Por outro lado às entidades e organizações que lutam por um Brasil livre das usinas nucleares, obtiveram recentemente um novo aliado. A Conferencia Nacional dos Bispos Brasileiros (CNBB) realizada em Aparecida de 10 a 19 de abril de 2013, após ouvir e discutir uma comunicação sobre a Questão Nuclear no Brasil e no Mundo, decidiu por unanimidade, pelo voto, abrir e aprofundar dentro da Igreja a discussão sobre o tema da produção de energia elétrica por Usinas Nucleares no Brasil, numa perspectiva pastoral de defesa da vida, e estimular a ampliação desse debate em toda a sociedade, numa perspectiva de transparência e informação dos cidadãos.

Chamo a atenção para o fato dessa decisão ter sido tomada pelo voto, sem nenhum abstenção nem voto contrario.

Portanto para terminar afirmo que a energia nuclear está longe de ser uma boa alternativa para diversificar a matriz energética brasileira. Não é segura, não é ambientalmente viável e não traz benefícios econômicos. Portanto senhoras e senhores, não se conformem com a ameaça que representa a instalação de usinas nucleares em nosso país. Vamos agir enquanto é tempo.

Com esta reflexão, encerro aqui esta minha intervenção e fico a disposição para o debate agradecendo mais uma vez o convite. Meu muito obrigado.

* Professor da Universidade Federal de Pernambuco.

Depoimento na Audiência Pública, ocorrida no dia 22 de maio promovida pela Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados. Os outros expositores foram: Sra. Gisele Elias de Lima Porto Leite - Procuradora da República e Coordenadora do GT Energia Nuclear da 4a Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal, Sr. Altino Ventura Filho - Secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia, Sr. Renato Cunha - Representando o Grupo Ambientalista da Bahia e a Articulação Antinuclear Brasileira, e o Sr. Ademar Kyotoshi Sato - Monge budista e estudioso do tema.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Água jorra dos subterrâneos do Piauí e muda a vida de gaúchos que se mudaram para a região.

 
Até parece miragem. Em pleno semiárido nordestino, onde a maior parte da população sofre com a estiagem, a água brota da terra com tanta força que chega a atingir 20 metros de altura.
Assistam a matéria AQUI
Poços jorrantes no vale do rio Gurguéia
 
Você conhece esse lugar? Churrasco e chimarrão nunca faltam por lá. Se pensou no Sul. Melhor olhar para o Norte. Ou melhor, Nordeste: o Globo Repórter vai ao Piauí, perto das cidades de Uruçuí e Bom Jesus.
“O agronegócio precisa de mão de obra, a construção civil precisa de mão de obra. Todo mundo precisa de mão de obra aqui”, afirma o engenheiro civil Neidson Chaves
Dizem que no fim do arco-íris tem um pote cheio de ouro. Quem já foi pra lá, descobriu uma terra valiosa.
A maior riqueza dessa região não aparece na superfície. Ela está escondida debaixo da terra. O Vale do Gurgueia guarda a maior reserva de água subterrânea do Nordeste. É a terceira maior do país, um mar de água doce. Os moradores da região costumam dizer que basta cavar um buraco pra encontrar água. Onde tem água, tem vida, trabalho e prosperidade.
“Essa água é tão importante para a economia regional, que é uma coisa fantástica do ponto de vista para desenvolvimento de atividade econômica. Nós temos aqui água suficiente para atender uma demanda grande de agricultura familiar”, afirma Francisco Lages, diretor do Serviço Geológico do Brasil - PI.
Até parece miragem. Em pleno semiárido nordestino, onde a maior parte da população sofre com a estiagem, a água brota da terra com tanta força que chega a atingir 20 metros de altura. A água sai do poço quentinha, a 36°C.
É um espetáculo da natureza que enche os olhos e serve de motivação pra muitos nordestinos voltarem pra casa.
“Se o nordestino trabalhar aqui igual ele trabalha para os outros em São Paulo, ele fica rico”, explica Neto Moura, produtor rural. “Eu sentia muita falta desse lugar, meu coração é aqui”, completa.
Antes de comprar um pedaço de terra, Seu Neto fez o caminho de muitos nordestinos. Foi pra São Paulo ganhar a vida. “Eu trabalhei de ajudante em construtora, trabalhei em metalúrgica, depois comecei a trabalhar de motorista”, conta.
No Piauí, Seu Neto virou patrão: é dono de poço, é outra vida. Com água e com peixe então, felicidade completa. “Com água, com o peixe, com as vacas, e o leite e o boi, né? Pouco dinheiro no bolso, mas dá pra viver”, , brinca Seu Neto.
As plantações de soja, milho e feijão estão tomando conta do sul do Piauí. Por isso, tantos gaúchos foram pra lá também.
“A gente veio pra cá procurar um lugar melhor e encontrou duplamente, triplamente melhor. Trouxemos um pedaço bem grande do Sul para cá”, diz Celso Werner, da Associação de Produtores Rurais de Santa Rosa - PI.
Seu Agenor e dona Delourdes também são do Sul. Foram com os quatro filhos para o Piauí e lá, a família aumentou: a netinha é uma legítima piauiense.
“A sorte que nós tivemos é que toda a família ficou unida e todos gostam daqui”, diz Seu Agenor.
Seu Agenor foi na frente da família para o Piauí e partiu em busca da terra prometida a mais de 3 mil quilômetros de distância. A chegada ao Piauí foi uma aventura
Os desbravadores da nova fronteira agrícola ocuparam as terras que ninguém queria. Locais inexplorados de difícil acesso. Foi no alto das serras a mais de 600 metros de altitude, nos chamados chapadões, que os migrantes do sul do país e mais recentemente as empresas do agronegócio encontraram terreno fértil para criar um dos mais prósperos pólos de desenvolvimento regional do país.
Homem de visão, o Seu Agenor pagou a terra com sacos de soja, à prestação. “A terra era muito barata, foi isso que nos trouxe aqui”, explica.
Homem de coragem, o Seu Agenor. Dona Delourdes também foi guerreira. “Foi uma mudança tão grande que eu falei: ‘gente, é igual cortar a cabeça e pôr outra em cima. Não tem comparação com o que era lá e chegar aqui no meio do mato, começar uma vida assim. A gente pegou um dinheirinho da sogra emprestado para vir”, lembra.
Quando chegou, Seu Agenor e os amigos logo trataram de conhecer o negócio. Desde então, as montanhas de soja não pararam de crescer.
Caminhar nas montanhas de soja é difícil, complicado. Assim como a trajetória dos agricultores, que este ano enfrentaram uma grande estiagem em plena época do crescimento dos grãos. A expectativa de colheita foi frustrada. Mesmo assim, eles colheram 1,1 milhão de toneladas de soja.
“Ainda há espaço para outras pessoas construíram a vida aqui?”, pergunta a repórter.
“Pode. O Piauí tem tudo por fazer”, afirma dona Delourdes.
Nas grandes fazendas também tem vaga, mas tem que estar ligado nas novidades do campo.
“A mão de obra que mais falta é para operar os equipamentos modernos que se apresentam para o homem do campo. O Piauí não dispõe de uma mão de obra qualificada pra operar essas máquinas modernas que a gente tem no campo hoje”, comenta o produtor rural Altair Fianco.
É questão de tempo. Já tem escola técnica - de graça - na cidade de Bom Jesus. Os estudantes são disputados antes mesmo de receber o diploma.
“Você tem convicção que esta fazendo o curso certo na hora certa?”, pergunta a repórter.
“Sem duvida. Essa foi a melhor escolha profissionalmente para mim”, responde o estudante Adalberto Trindade.
Paulo Dionísio deixou a maior cidade do Brasil pra trás, e se instalou em Bom Jesus.
“Quando você deixou São Paulo e disse que vinha para o sul do Piauí, o que falaram?”, pergunta a repórter.
“O pessoal falou: ‘Você é louco. O que é que você vai fazer nesse lugar? O que tem no sul do Piauí?’ No sul do Piauí tem muita oportunidade, muito emprego, muita coisa boa pra acontecer, é um lugar que esta em franca expansão. A qualidade de vida é muito melhor, você tem mais tempo. Trabalha bastante, mas acaba tendo mais tempo para a família, mais tempo para os amigos. O meu salário aumentou em 80%’”, destaca gerente de loja Paulo Dionísio.
“Todo dia tem uma família nova, algum estranho na cidade ou ele vem explorar a agricultura, o comércio, o potencial da cidade”, explica o presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Bom Jesus - PI, Cesar Marafon.
Marcos e Andréia acabaram de chegar. Trouxeram o filho, a esperança, e já estão fazendo planos. “Hoje, a gente vê que esse sonho de ter um pedaço de terra não é tão distante”, diz Marcos Sander, administrador da fazenda.
“O nosso futuro está aqui. Para nós, como um casal novo ainda, com um filho. Então acho que aqui que vamos conseguir dar um futuro bom para ele também”, completa Andréia Sander, mulher de Marcos.
Sobre o assunto:

Programa “Ponto de Vista”trata do histórico das políticas de combate à seca

por João SuassunaÚltima modificação 27/05/2013 15:37

Seca revela limites da transposição do rio São Francisco.

A transposição de parte das águas do rio São Francisco, por si só, não será capaz de levar água para 12 milhões de nordestinos, como se divulga desde 2007, quando as obras foram iniciadas.


http://www1.folha.uol.com.br/poder/2013/05/1284702-seca-revela-limites-da-transposicao-do-rio-sao-francisco.shtml

DANIEL CARVALHO
DE SÃO PAULO

A pior seca dos últimos 50 anos no semiárido da região Nordeste indica que estar ao lado do rio não significa necessariamente a certeza de abastecimento de água.

*Outro lado: ministério promete concluir as obras de distribuição até 2015

Levantamento da Folha a partir de dados do governo federal revela que metade dos 60 municípios nordestinos localizados às margens do rio São Francisco está em "situação de emergência" por causa da estiagem.
O paradoxo se explica de forma simples: não adianta ter água em abundância no município se não há adutoras e sistema de abastecimento para levá-la à população.

Lalo de Almeida 12.dez.2012/Folhapress
Obra da transposição do rio São Francisco no município de Floresta, em Pernambuco
Obra da transposição do rio São Francisco no município de Floresta, em Pernambuco
 
"Há uma carência histórica de acesso à água nos municípios. Mesmo às margens do São Francisco ainda temos cidades que não têm abastecimento universal", afirmou Eugênio Spengler, secretário de Meio Ambiente da Bahia.
Dos 24 municípios banhados pelo "Velho Chico" na Bahia, 23 têm a "situação de emergência" reconhecida pela Defesa Civil nacional.
Em "situação de emergência", o município pode, entre outros benefícios, fazer contratos sem licitação e solicitar recursos extras ao governo federal.
No interior da Bahia, somente metade da população rural tem acesso à água tratada, segundo Spengler.
Até o ano que vem esse percentual deve chegar aos 60%, graças a obras de duas adutoras e de sistemas simplificados de abastecimento.
Em Alagoas, onde 7 dos 12 municípios banhados pelo São Francisco estão em "situação de emergência", o cenário é parecido, com acesso reduzido à água no campo.
"[Os municípios] têm um território muito grande. Apenas alguns povoados e distritos da zona rural têm água canalizada. Ou seja, mesmo em época de chuvas eles recebem água por carro-pipa", informou a Companhia de Saneamento de Alagoas.
Das cidades da calha do São Francisco, não há municípios em emergência apenas em Pernambuco e Sergipe. O governo pernambucano afirma ter priorizado obras para atender os núcleos populacionais situados nas proximidades do rio.
"Quando a fonte de água é inconstante ou distante, temos mais dificuldade de implementar obras. Mas, para municípios perto do rio, não há esse problema", afirma Almir Cirilo, secretário estadual de Recursos Hídricos em Pernambuco.
Mas a situação é diferente na prática. Em Jatobá (425 km do Recife), a falta de chuva entra no terceiro ano, embora não haja emergência.
A persistência da seca ao lado do rio deu origem a um ditado na cidade: "Água tem, mas dentro do rio. Quando você sai dele, acabou-se".
Apesar de não ter sido reconhecida a situação de emergência, a prefeitura calcula que a cidade tenha perdido metade de seu rebanho e toda a lavoura, que nem sequer chegou a ser plantada.
Por lá, a única produção que não sofre com a seca é a modesta criação de tilápias.
Fonte para edição no Rema:
Apolo Lisboa -http://www.facebook.com/apolo.heringerlisboa?fref=ts

por João SuassunaÚltima modificação 27/05/2013 22:35
ENTENDENDO A CAATINGA
 
A Caatinga é um bioma que ocupa cerca de 844 mil quilômetros quadrados, o equivalente a 11% do território do país, englobando os estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí, Sergipe e o norte de Minas Gerais, onde a ocorrência de secas resultantes de um clima semi-árido deixam a vegetação sem folhas e os troncos das árvores esbranquiçados e secos. Os tupi, deparados com uma paisagem de quilômetros e mais quilômetros de uma vegetação esbranquiçada, denominaram aquilo "mata branca", que na sua língua era a caa(mata) + tinga (branca), a Caatinga.

É um
bioma exclusivamente brasileiro, o que torna seu patrimônio biológico único no planeta. Apesar de estar localizado em área de clima semi-árido, a Caatinga apresenta grande variedade de paisagens e de biodiversidade. Muitas das suas espécies são exclusivas.

Abriga 178 espécies de mamíferos, 591 de aves, 177 de répteis, 79 espécies de anfíbios, 241 de peixes, 221 de abelhas e 932 espécies de plantas. É dominada por tipos de vegetação com características xerofíticas – formações vegetais secas, que compõem uma paisagem cálida e espinhosa – com estratos compostos por gramíneas, arbustos e árvores de porte baixo ou médio,
caducifólias (árvores que perdem suas folhas durante parte do ano) e uma farta variedade de plantas espinhosas, entremeadas de outras espécies como as cactáceas e as bromeliáceas.

A diversidade de sua paisagem é tamanha, que permite uma distinção de ecossistemas, baseada nas diferenças de pluviometria, fertilidade e tipo de solos e relevo. Uma primeira divisão que pode ser feita é entre o agreste e o sertão. Enquanto o sertão apresenta vegetação mais rústica, o agreste é uma faixa de transição entre o interior seco e a Mata Atlântica, característica da Zona da Mata.

Hoje, segundo dados do IBGE, cerca de 27 milhões de pessoas vivem na área original da Caatinga, grande parte dependente dos recursos da biodiversidade local para a sua sobrevivência. A extração de madeira, a
agricultura de sequeiro, a monocultura da cana-de-açúcar e a pecuária nas grandes propriedades são atividades econômicas tradicionais.

Com isso, 80% de seus ecossistemas originais já foram alterados por processos humanos, principalmente por meio de desmatamentos e queimadas, práticas ainda comuns no preparo da terra para a agropecuária. Além de destrutivas à cobertura vegetal, prejudicam a manutenção de populações da fauna silvestre, a qualidade da água, e o equilíbrio do clima e do solo.

Estes mesmos recursos, se conservados e explorados de forma sustentável, podem impulsionar o desenvolvimento da região. A biodiversidade da caatinga ampara diversas atividades econômicas voltadas para fins agrosilvopastoris e industriais, especialmente nos ramos farmacêutico, de cosméticos, químico e de alimentos.

Apesar disso, a Caatinga é alvo do desmatamento desenfreado, principalmente nos últimos anos, devido principalmente ao consumo de lenha nativa, explorada de forma ilegal e insustentável, para fins domésticos e indústrias. Sofre também com o sobrepastoreio e a conversão de terras para pastagens e agricultura. O desmatamento já chega a 46% da área do bioma, tendência que o governo pretende conter através da criação de
unidades de conservação federais e estaduais.

Outra forma de combater a destruição da Caatinga são estudos da flora e fauna que, segundo os pesquisadores, é o menos conhecido e estudado dos biomas brasileiros. Em 2010, no primeiro monitoramento já realizado sobre ele, constatou-se que o bioma Caatinga perde por ano e de forma pulverizada uma área de sua vegetação nativa equivalente a 2 vezes a cidade de São Paulo. A área já desmatada equivale aos territórios dos estados do Maranhão e do Rio de Janeiro somados. Uma taxa de desmatamento equivalente à da Amazônia, embora a área total da Amazônia seja cinco vezes maior.

Como consequência desta degradação, espécies animais e vegetais já figuram na lista das espécies ameaçadas de extinção do
IBAMA e do ICMBio. Por exemplo, felinos (onças e gatos selvagens), herbívoros de porte médio (veado-catingueiro e capivara), aves (ararinha azul, avoante) e abelhas nativas figuram entre os mais atingidos pela destruição do seu habitat natural e por atividades predatórias, como a caça.


*Ilustração original: Estação Ecológica Federal Raso da Catarina. Crédito: Adriano Gambarini / Programa de Revitalização da Bacia do Rio São Francisco-SRHU/MMA

 

Notícias


Durante o 4º Workshop Potencial Biotecnológico da Caatinga, ocorrido na última terça-feira, dia 7, em Campina Grande (PB), foi consolidada a criação do Núcleo de Bioprospecção e Conservação da Caatinga (NBioCaat) que tem como missão promover uma maior integração entre instituições de ciência e tecnologia, indústrias e a sociedade em geral, objetivando identificar e avaliar recursos genéticos e bioquímicos do bioma Caatinga, visando não apenas estudos de estratégias para utilização da biodiversidade, mas também auxiliar na conservação das espécies do Semiárido brasileiro. O evento contou com a participação de mais de 100 pessoas, dentre profissionais, estudantes, pesquisadores, representantes de organizações sociais, de agências de fomento e de secretarias de meio ambiente dos estados integrantes do Semiárido brasileiro.

O Núcleo foi criado pelo Instituto Nacional do Semiárido (Insa/MCTI), em parceria com a UFPE e diversas instituições de pesquisa articuladas conforme suas especialidades. Seus trabalhos estarão voltados à busca de moléculas bioativas de plantas da Caatinga que têm despertado o interesse de pesquisadores em função de suas potenciais atividades biológicas, tais como: antimicrobiana, tóxica e citotóxica, antitumoral, mitogênica, anti-inflamatória, cicatrizante, analgésica e anti-veneno, o que resultará em uma nova concepção de conservação e uso sustentável para toda a Caatinga, em contraponto à forte supressão vegetal a qual tem sido submetido o bioma, com quase 50% de perda da sua área no Semiárido brasileiro.
De acordo com o Coordenador da Rede Nanobiotec Brasil/Capes, Alexandre José Macedo, “a criação do Núcleo representou um passo importante, pois a Caatinga é um bioma exclusivamente brasileiro que possui cerca de 4.500 espécies diferentes de plantas, cujo potencial biotecnológico é enorme. A grande importância da Caatinga é que por ser um bioma exclusivo, que não existe em nenhum outro país, tem plantas que só existem aqui e o fato de estas plantas só existirem aqui podem conter alguma molécula que nenhum outro país tem acesso a ela, e podermos produzir, por exemplo, um fármaco, um cosmético tipicamente brasileiro”.
O objetivo do Núcleo é propiciar um fórum permanente de discussão e de interlocução com representantes de instituições de ensino/pesquisa/extensão de diversos Estados do Brasil, assim como de organizações e sociedade em geral para promover a sustentabilidade do bioma Caatinga através da caracterização e avaliação do seu potencial biotecnológico.
Um conjunto de projetos já em andamento em diferentes regiões do Brasil que tratam de biotecnologias da Caatinga integra o Núcleo. A partir de agora, estas pesquisas serão desenvolvidas em rede, tendo como foco a coleta/catalogação da biodiversidade, atividade biológica, aplicações biotecnológicas, elucidação estrutural, coordenação de integração de dados, conservação, geração de empregos, patentes, distribuição de benefícios e desenvolvimento regional.

No processo de criação do Núcleo foram identificadas e articuladas competências iniciais em diversas instituições: Insa, Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (Cetene/MCTI), Secretarias de Meio Ambiente dos Estados do Semiárido, Embrapa, Associação Plantas do Nordeste (APNE), Comitê Estadual da Reserva da Biosfera da Caatinga em Pernambuco (CERBCAA-PE), Instituto Nacional de Ciência Tecnologia para Inovação Farmacêutica (INCT_if), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Universidade do Vale do São Francisco (UNIVASF), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Federal Rural do Semiárido (Ufersa), Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Universidade Federal do Ceará (UFC), dentre outras.
“Organizou-se este Núcleo que congrega diferentes grupos e pesquisadores de diferentes regiões do Brasil que já trabalham com algum tema relacionado às potencialidades da Caatinga. A semente foi plantada e o Insa vai começar a organizar estas informações científicas que irão chegar dos pesquisadores, e a partir desta organização colocar à disposição das Secretarias de Meio Ambiente dos Estados do Semiárido para que possamos junto às secretarias desenvolver políticas para a conservação da Caatinga”, completou Alexandre Macedo.


Dentre as metas a serem atingidas, incluindo os produtos a serem gerados por meio de cooperação dentro da Rede, destacam-se: obter extratos e moléculas bioativas (puras) em quantidades de miligramas para realização dos bioensaios; mapear por RMN ou CG/MS as plantas produtoras de óleos essenciais da Caatinga; caracterizar moléculas bioativas puras; identificar moléculas bioativas como compostos com atividades tóxicas, mitogênica, antimicrobiana, antitumoral, anti-parasito; bioprospectaralcalóides e flavonóidesbioativos com ação anti-veneno; obter moléculas bioativas funcionalizadas como terapêuticos antimicrobianos; formar recursos humanos: nível de Mestrado e de Doutorado, além de alunos de Iniciação Científica treinados; melhorar a qualificação dos cursos de pós graduação ligados a rede; ampliar as colaborações com pesquisadores nacionais e internacionais; desenvolvimento regional/difusão de tecnologias.

Um dos aspectos importantes da atuação do Núcleo refere-se ao potencial de participação e de retorno social que pretende empreender junto aos agricultores, cujas parcelas do bioma estarão sendo pesquisadas, possibilitando à comunidade agrícola tornar-se sujeito da pesquisa. Espera-se que os resultados científicos obtidos com a criação do Núcleo também contribuam para o estabelecimento de políticas de desenvolvimento científico e de inovação tecnológica, a partir do potencial florístico do Semiárido brasileiro. Demonstrar a importância e aplicação terapêutica dos produtos naturais da Caatinga poderá, de alguma forma, despertar a sociedade brasileira para a necessidade de preservar e de utilizar os recursos vegetais biodiversos do bioma, de forma sustentável.

Projetos e parcerias do Núcleo.

ONúcleofoi estruturado, inicialmente, com 18 projetos já em andamento nas áreas de coleta, identificação e distribuição de material vegetal, análise de atividade biológica e isolamento e caracterização cromatográfica de metabólitos secundários bioativos.
Também está aberto a agregar atividades e pesquisas de novas instituições parceiras. Para mais informações, entre em contato através do e-mail
insa@insa.gov.br

Ações do documento
 

Xerocentelha N° 34 - do profeta paraibano da Seca, Manelito

SEGURO GARANTIA-BODE


http://www.remabrasil.org/Members/suassuna/artigos/seguro-garantia-bode-artigo-de-clovis-guimaraes-filho/view
Os governos, federal, estaduais e municipais, pagaram seguro garantia-safra a mais de 700 mil agricultores familiares do semiárido na safra 2010-2011 e, por incrível que pareça, ainda fazem ruidosa publicidade dessa ação que pode ser considerada como um prêmio a um insucesso planejado. O foco central dos debates é equivocado. Não se discute a produção e o que precisa ser feito para incrementá-la. Praticamente não se vê nos noticiários publicidade sobre tonelagens recordes, ou mesmo normais, de milho e feijão produzidas, apenas quantas mil famílias foram “beneficiadas” com os programas de distribuição de sementes ou com o pagamento do seguro. Bastante compreensível a omissão, considerando que os cultivos de milho e do feijão nessas áreas só têm chance de sucesso em três de cada dez anos de cultivo. O problema é que o seguro garantia-safra é aplicado para qualquer área do semiárido, sem critério claro de zoneamento e na grande maioria dos cultivos, nas zonas mais secas, o agricultor familiar não conta com qualquer apoio técnico efetivo durante o ciclo das culturas. Um estudo da Embrapa indica que essas culturas são de muito baixa viabilidade em mais da metade da área do semiárido (55,6%), aquela correspondente às áreas consideradas no estudo como de “muito baixa a média oferta ambiental”. Somente no estado do Piauí o governo já pagou mais de 120 milhões de reais aos agricultores por perdas na safra no período 2003 a 2010. Dos mais de 68 mil agricultores inscritos no Garantia Safra 2010-2011, apenas 338 (meio por cento) conseguiram salvar mais de 50% da produção esperada. Pode-se afirmar que, de certa forma, eles foram induzidos a plantar o que não deveriam plantar. Em Pernambuco, dos 66 municípios inscritos, 52 comunicaram perdas ao MDA. Por que a persistência com este programa que estimula o cultivo do que não dá para pagar o seguro porque não deu? Por que não limitam o seguro às áreas onde essas colheitas sejam agronomicamente mais viáveis e nas áreas mais secas implantam um seguro mais coerente com aquilo que realmente é estratégico para a vida do produtor que nelas habita, como o caprino, o ovino, o mel, a galinha e o umbu. Seria um programa que poderia genericamente se chamar seguro “garantia-bode” ou“seguro-bode”, o que sintetiza aquilo que realmente o produtor familiar precisa, pois quando a falta de chuvas induz uma escassez desses produtos, o produtor e sua família têm realmente comprometida a sua sobrevivência. Todo o mundo sabe do valor do bode como o principal fator de fixação do caatingueiro, mas, até hoje, nenhum programa massivo de formação de reservas de forragem para o período seco foi implementado. Alguém sabe qual foi o estoque estratégico, em toneladas de silagem ou de feno ou de palma ou de palhadas, montado pelos estados do Nordeste para enfrentar o período seco de 2011? E para 2012, quais foram as metas previstas? Parece que a ocorrência de uma seca sempre nos pega de surpresa. As armas efetivamente estratégicas contra as secas devem residir em planos microrregionais ou territoriais articulados das secretarias estaduais de agricultura com os municípios e as organizações de produtores, tendo por base o reconhecimento das secas como fatores normais de produção e não como anormalidades. O continuísmo de programas que priorizam a distribuição indiscriminada de sementes de milho e feijão, de animais “melhoradores”, de carros-pipa, de cestas básicas, de bolsas isso e bolsas aquilo apenas sugere o completo desconhecimento do potencial em recursos naturais e humanos do semiárido para seguir um caminho mais compatível com as demandas de suas populações. O nosso desafio é adequar as inovações e as políticas públicas às circunstâncias e potencialidades dos produtores de base familiar da região, tomando em consideração suas instituições, sua racionalidade, seu limitado acesso a insumos e a assistência técnica e os recursos disponíveis na propriedade. No semiárido, como em qualquer outra região, cada ação ou etapa desse trabalho, inclusive a introdução de novas tecnologias, deve ter seu tempo certo e seu espaço adequado para execução. Em suma, não podemos continuar alterando o ecossistema para adaptar pseudo-soluções exógenas. As verdadeiras soluções estão aí, bem a nossa frente. Só precisamos aprender a enxergá-las. Urgentemente, já que a caatinga está sendo dizimada a um ritmo próximo aos 300 mil hectares anuais.
Clovis Guimarães Filho1
1Médico Veterinário, M.Sc. em Animal Science, ex-pesquisador da Embrapa Semiárido e coordenador de ATER do Projeto Pontal Sequeiro-CODEVASF, Petrolina-PE – E-mail: clovisgf@uol.com.br

sexta-feira, 24 de maio de 2013


REUNIÃO DA COMISSÃO TÉCNICA DO CERBCAAPE

 

         Inicialmente, vale informar que o Coordenador do Comitê Estadual da Reserva da Biosfera da Caatinga de Pernambuco – CERBCAA/PE, William Jansen, no uso de suas atribuições, definidas do Regimento Interno, através da Carta Circular nº 02/2013, de 08 de maio de 2013, constituiu uma COMISSÃO TÉCNICA para proceder a estudos e análise de áreas para criação de novas Unidades de Conservação (UCs) no Bioma Caatinga do Estado de Pernambuco, constituída dos seguintes membros:

 

                   ANA VIRGÍNIA VIEIRA DE MELO (IBAMA);

ALÍPIO CARVALHO FILHO (EMA);

FRANS GERMAIN CORNEEL PAREYN (APNE);

MÁRCIA VANUZA DA SILVA (UFPE);

LOURINALDA OLIVEIRA (UFRPE);

EDNILZA MARANHÃO (UFRPE);

GIANNINA CYSNEIROS (SEMAS);

MARIA POMPÉIA COELHO (SNE/CNRBCAA); e

JOICE DE VASCONCELOS ALEXANDRINO BRITO (CPRH); para proceder a estudos e análise de áreas para criação de Unidades de Conservação no Bioma Caatinga do Estado de Pernambuco.

 

         Com efeito, no dia 23 do mês corrente, a Comissão Técnica reuniu-se pela primeira vez, quando foi definido que membros do Comitê e da Comissão deverão reunir-se como o Senhor Secretário do SEMAS para definir os seguintes temas:

        

a)   Quais os recursos disponíveis do Estado para fazer face à criação e implementação das novas UCs;

b)   Qual o papel do CERBCAAPE na criação e implementação de tais medidas;

c)   Entre as áreas sugeridas (Serra da Matinha, Pedra do Cachorro, Brejo das Princesas, e outras) quais as próximas UCs a serem legalmente criadas;

d)   Quando serão efetivamente implantadas as UCs já criadas (Mata da Pimenta e Serra da Canoa).

 

Na oportunidade, foram ainda levantados os seguintes questionamentos:

 

a)   Qual a reação da comunidade ante a criação de uma Unidade de Conservação;

b)   O que foi definido sobre o ICMS sócio ambiental;

c)   O que está sendo feito em Cabrobó e no Araripe no que diz respeito à pré-desertificação de áreas naqueles Municípios.

 

A Comissão Técnica juntamente com a Coordenação do CERBCAAPE deverão diligenciar, com a possível brevidade, uma reunião com o Secretário do Meio Ambiente do Estado para discutir as medidas indicadas.

 

Administração da EMA

Aventura Selvagem em Cabaceiras - Paraíba

Rodrigo Castro, fundador da Associação Caatinga, da Asa Branca e da Aliança da Caatinga

Bioma Caatinga

Vale do Catimbau - Pernambuco

Tom da Caatinga

A Caatinga Nordestina

Rio São Francisco - Momento Brasil

O mundo da Caatinga