7ª BioSemana/UESB discute a seca no Nordeste
Por Patrício Ribeiro
http://www.uesb.br/ascom/ver_noticia_.asp?id=10376
Como explicar que numa região com reservatório de 37 bilhões de metros cúbicos de água, o maior em áreas semiáridas do mundo, milhões de pessoas dependem de caminhões-pipa, donativos e programas de transferência de renda? Com essa indagação acerca da região Nordeste, de tantas riquezas e contrastes, o pesquisador João Suassuna (foto 1), da Fundação Joaquim Nabuco, deu início à sétima edição da Semana de Biologia da Uesb, a BioSemana. Na noite dessa sexta-feira, 27, e na manhã deste sábado, 28, Suassuna falou ao público que compareceu ao Teatro Glauber Rocha, campus de Vitória da Conquista, sobre a seca, suas implicações e o demagogo discurso de enfrentamento de uma realidade imutável.
“Não há que se falar em enfrentamento da seca, pois se trata de um fenômeno da natureza. A palavra de ordem é convivência com a seca. E existem alternativas e soluções para isso”, argumenta. Ao contrário do que impõe uma análise aparente e superficial, o problema da seca na região Nordeste não está relacionado à falta, mas à concentração de chuva. Em períodos historicamente ditos de longa estiagem, como o ano de 1958, por exemplo, que determinou a criação da Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), a precipitação prevista para um ano inteiro ocorreu de maneira muito próxima. Dessa forma, na região denominada de polígono da seca, caracterizada pela predominância de um solo rochoso, que absorve pouca água e, portanto, tem baixa umidade, não se proliferam as plantações de grãos, principalmente, feijão e milho. Do mesmo modo, como os governos não investiram em uma estrutura funcional de armazenamento de água, cerca de 10 milhões de pessoas dependem de caminhões-pipa para o abastecimento.
Para Suassuna, a transposição do rio São Francisco não é a solução que a região precisa. “É uma obra idealizada para ser usufruída pelo grande capital, a irrigação pesada, os usos industriais. A população difusa, que mora nos grotões, nos pés de serra, sítios e pequenos lugarejos, vai continuar sendo assistida por frotas de caminhões-pipa”. De acordo o pesquisador, a solução mais apropriada seria a execução do projeto Atlas Nordeste, da Agência Nacional de Águas (Ana) do Governo Federal, elaborado em 2006. Enquanto a transposição atingiria, supostamente, 12 milhões de beneficiados, o Atlas prevê o alcance de 34 milhões de pessoas. A proposta consiste em interligar represas, águas de poços e bacias, e canalizá-las polígono da seca adentro.
Por outro lado, o fenômeno da seca possibilitou ao Nordeste o surgimento de um bioma específico, existente somente no Brasil: a caatinga, resultado de uma adaptação ocorrida ao longo de eras, com uma biodiversidade muito rica e variada. O pesquisador acrescenta que é preciso aproveitar o potencial catingueiro, investir na produção de plantas e na criação de animais adaptados à seca, e, principalmente, fazer com que o Nordeste rico, isto é, a faixa situada fora do polígono da seca, de solo produtivo e chuvas bem distribuídas, produza os alimentos necessários, tendo em vista o abastecimento da população que tem que conviver com as longas estiagens. Isso significa, tão simplesmente, exportar menos, tirar o foco da lucratividade e colocá-lo na solidariedade.
As discussões da BioSemana acerca dos desafios e as perspectivas da sociedade quanto à biodiversidade da caatinga seguem até a próxima terça, 1º. O evento reúne estudantes de diversas regiões da Bahia e do norte de Minas Gerais. “A gente vai tratar de assuntos que vão ajudar a sociedade como um todo”, enfatiza Diego Trindade, que cursa o oitavo semestre de Biologia na Uesb. “Já que os nossos alunos estão inseridos dentro do bioma caatinga, é necessário discutir melhor as questões não só da biodiversidade, mas também questões sociais. É importante para a formação deles ter essa visão multidisciplinar”, finaliza a professora Raquel Peres Maluf (foto 3), do Departamento de Ciências Naturais (DCB) da Universidade.
As discussões da BioSemana acerca dos desafios e as perspectivas da sociedade quanto à biodiversidade da caatinga seguem até a próxima terça, 1º. O evento reúne estudantes de diversas regiões da Bahia e do norte de Minas Gerais. “A gente vai tratar de assuntos que vão ajudar a sociedade como um todo”, enfatiza Diego Trindade, que cursa o oitavo semestre de Biologia na Uesb. “Já que os nossos alunos estão inseridos dentro do bioma caatinga, é necessário discutir melhor as questões não só da biodiversidade, mas também questões sociais. É importante para a formação deles ter essa visão multidisciplinar”, finaliza a professora Raquel Peres Maluf (foto 3), do Departamento de Ciências Naturais (DCB) da Universidade.
Acesse o site da BioSemana e veja a programação completa.
Assessoria de Comunicação
COMENTÁRIOS
João Suassuna - Pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, Recife
Vitória da Conquista, enclave da Mata Atlântica no Bioma Caatinga
Fui convidado pela Universidade Estadual do Oeste da Bahia (UESB), para participar do VII Encontro de Biologia, abrindo o evento com palestra sobre a Seca de 2013, e participando de uma mesa redonda tratando da Transposição do rio São Francisco.
Não conhecia Vitória da Conquista. Para mim foi uma grata surpresa em chegar ao município e desfrutar de tamanho desenvolvimento e encontrar ambiente natural pouco comum aos que já conheço no Nordeste.
Devido à altitude local (1.100 m ao nível do mar), o município apresenta flora bem peculiar, verdadeiro enclave de Mata Atlântica (Floresta de altitude), no domínio do Bioma Caatinga. Esse aspecto induziu a natureza à ocorrência de um cactos - Coroa de Frade – de espécie endêmica (que só ocorre naquela região), o Melocactus conoideus. Esse aspecto, para um botânico, é muito gratificante: ficar diante de um espécime “Tipo” que ocorre, apenas e tão somente, em Vitória da Conquista.
por João Suassuna — Última modificação 18/10/2013 16:22
Nenhum comentário:
Postar um comentário