Durante a SBPC, o pesquisador da Fundaj, João Suassuna, apresentou formas de fazer agropecuária na Seca.
O Semiárido nordestino convive com a 113ª seca, desde o século XVI. A Semana da Sociedade Brasileira para o Progresso à Ciência (SBPC) debateu na sexta-feira (26), o tema “Ciclos da Seca e seus impactos”, na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). O pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), João Suassuna, apresentou dados e informações sobre a Seca e formas de fazer agricultura e pecuária sustentáveis no Semiárido nordestino.
Max Felipe, estagiário da Ascom Fundaj
Ele defendeu o uso da tecnologia de convivência na Região do Semiárido, começando com as plantas xerófilas, aquelas que vivem em ambientes secos: palma forrageira (cactácea), imbu, jurema, macambira e etc.
Segundo o pesquisador, durante a atual seca, diversos gados morreram, mas isso poderia ser evitado com o uso do bagaço de cana-de-açúcar na alimentação, hidrolizada com cal, resultando num rendimento seis vezes maior de absorção no rúmen do animal. A hidrólise é a transformação do açúcar da cana-de-açúcar em ácidos graxos voláteis pelas bactérias do rúmen, que são fonte primária de energia para os animais.
A pecuária no Semiárido precisa usar animais adaptados ao clima seco: touro e vaca Guzerá, naturais da Índia, de dupla função (leite e carne), touro e vaca Sindi, que são naturais da Paquistão, caprinos, ovinos deslanados e etc. O investimento na compra desses animais pode ser feito a partir de um crédito rural diferenciado. “Sou a favor de um crédito em defesa do produtor rural, sem taxas de juros altas, facilitando-as nas contas e estimulando os agricultores e pecuaristas”, sintetizou Suassuna.
Água – O Brasil detém cerca de 12% da água superficial que existe no planeta. Essa excepcional riqueza ocorre devido à combinação de fatores climáticos e geológicos favoráveis na maior parte do território brasileiro. O Semiárido nordestino, situado na porção central do Nordeste, limitado com áreas sub-úmidas, é uma região natural caracterizada por chuvas concentradas num período de apenas quatro meses, precipitações anuais iguais ou inferiores a 800 mm, insolação de 2.800 horas/ano, médias térmicas anuais entre 23 °C e 27 °C, evapotranspiração superior a 2.000 mm anuais e umidade relativa do ar em torno de 50%.
Trata-se de uma região de déficit hídrico, isto é, não faltam chuvas, mas a evaporação é três vezes maior que a precipitação, e o problema só é solucionável com a preservação da água em ambientes que não permitam a evapotranspiração, segredo das cisternas. A saída, portanto, está na multiplicação, aos milhões, de pequenas obras que retenham as águas da chuva de forma inteligente para o consumo humano e para os animais e plantas.
Cisternas – A construção de cisternas para guardar água de chuva é natural e intuitiva e tem, por isso, sido praticada há milênios. Há registros de cisternas de mais de dois mil anos em regiões como a China e o deserto de Negev, hoje território de Israel e Jordânia. As cisternas com capacidade de acumulação, normalmente, entre 7 e 16 m³ representam a oferta de 50 litros diários de água durante 140 a 300 dias.
De acordo com a revista de Geografia da UFPE, o Semiárido nordestino é uma região pobre em volume de escoamento de água nos rios. Essa situação pode ser explicada não somente em razão da variabilidade temporal das precipitações, mas pelas características geológicas dominantes, onde há predominância de solos rasos e pedregosos e o subsolo formado por 70% de rochas cristalinas. A edição foi publicada em 2012, volume 29.
Transposição do Rio São Francisco – Segundo matéria publicada na Folha de São Paulo on-line, no dia 25 de maio, a conclusão das obras complementares da transposição do rio São Francisco, como adutoras e sistemas de distribuição à população, estarão prontas em 2015, como informa o Ministério da Integração Nacional.
A transposição de parte das águas do rio São Francisco, por si só, na opinião do pesquisador João Suassuna, não será capaz de levar água para 12 milhões de nordestinos, como se divulga desde 2007, quando as obras foram iniciadas. “Sou contra a transposição do rio São Francisco. O benefício será para o grande capital - a irrigação pesada, o criador do camarão e usos industriais, declara.
A transposição deve levar água aos Estados do Ceará, da Paraíba, do Rio Grande do Norte e de Pernambuco. A previsão do governo federal é contemplar 12 milhões de pessoas e irrigar 260 mil ha no Setentrional nordestino.
COMENTÁRIOS
João Suassuna - Pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, Recife
Visivelmente contrariado e indignado na 65ª Reunião Anual da SBPC, ocorrida no Recife, fiz críticas severas ao Governo Federal, pelo tratamento dispensado às secas que costumeiramente ocorrem na região Semiárida nordestina. No encontro, propus medidas de convivência com a região, por intermédio de um novo modelo de exploração agrícola. Esse modelo deve passar, necessariamente, pela exploração da capacidade de suporte da região, com a utilização dos elementos biológicos, plantas xerófilas e animais adaptados, fugindo, sempre que possível, das culturas de grãos, como milho e feijão, na dependência de chuvas. A instabilidade climática da região é muito severa, resultando em perdas frequentes de safras.
por João Suassuna — Última modificação 19/08/2013 09:06
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