Desafios da transposição: meta do
investimento é levar água para 2,7 milhões paraibanos.
Contexto é de desconfiança,
prejuízos e atrasos, mas Governo projeta conclusão da o.bra para 2015.
http://portalcorreio.uol.com.br/noticias/cidades/agua-e-esgoto/2013/08/25/NWS,228393,4,69,NOTICIAS,2190-DESAFIOS-TRANSPOSICAO-META-INVESTIMENTO-LEVAR-AGUA-MILHOES-PARAIBANOS.aspx
Canal de
transposição
“O começo das obras da
transposição parecia um sonho realizado para todo mundo daqui, mas até agora só
trouxe prejuízo”. A afirmação é da agricultora Maria das Dores Batista,
desapropriada da comunidade Boa Vista, próxima ao município de São José de
Piranhas, no Sertão da Paraíba - distante 500 km de João Pessoa. Ela é dona de
uma das 300 casas desapropriadas no Estado por causa das obras no lote 7 da
transposição do Rio São Francisco, que atualmente está parada e será a última a
ficar pronta, em dezembro de 2015, segundo o cronograma do Ministério da
Integração Nacional.
Há cinco anos, o pai da agricultora recebeu uma
indenização, mas hoje a família ainda não pode cultivar os alimentos que eram o
sustento da casa onde moram seis pessoas. “Enquanto a obra não fica pronta, a
gente não tem como plantar. Antes já era difícil, agora é impossível. O jeito é
viver da aposentadoria do meu marido”, lamentou Maria das Dores, sinalizando
pouca confiança quanto ao prosseguimento das obras.
A desconfiança em relação à transposição é
justificável, já que desde a época do Império a obra é cogitada no Brasil, mas
nunca saiu do papel. Desta vez, o cenário pode mudar e o poder público garante
que a partir de 2015 o sertanejo conseguirá conviver melhor com a seca. É
possível ver as obras do Governo Federal avançando, mesmo que a passos curtos,
e alcançando 45% da execução, enquanto os Estados se preparam com as obras
complementares para que a água da transposição chegue às residências.
Na Paraíba, o secretário de Recursos Hídricos,
João Azevedo, afirma que estão sendo investidos R$ 3,5 bilhões em obras de
abastecimento, dos quais R$ 1,5 bilhão é destinado para o suporte à
transposição. Segundo ele, as águas do São Francisco chegarão a 2,7 milhões de
habitantes em 130 municípios do Estado.
Um desses beneficiados deverá ser o agricultor e
comerciante Sandoval Oliveira, que vende nas ruas de São José de Piranhas as
frutas e verduras colhidas na própria lavoura. Farto das promessas históricas,
ele prefere adotar a cautela e não criar expectativas quanto à chegada do
‘Velho Chico’ ao Sertão da Paraíba. “Eu não acredito muito e vou continuar
trabalhando como sempre fiz. Se ficar pronta (a transposição), melhor ainda,
porque vou aumentar as vendas. O cultivo hoje só dá praticamente para o consumo
da família e sobra pouco para vender”, disse.
Para o secretário João Azevedo, as obras
melhorarão não apenas a vida dos agricultores, mas também potencializará o
desenvolvimento econômico da Paraíba. “Ao garantir a segurança hídrica é
possível alcançar o desenvolvimento econômico, porque a indústria que necessita
de bastante água só vai se instalar no Estado se tiver essa garantia”, destacou
João Azevedo.
Segundo ele, a transposição, aliada às obras
complementares, proporcionará uma melhor condição de vida durante os períodos
de seca. “Os efeitos da seca vão ser bastante minimizados com essas ações. Na
próxima estiagem, a população vai estar bem mais preparada”, ressaltou.
COMENTÁRIOS
João Suassuna – Pesquisador da Fundação
Joaquim Nabuco, Recife
Em 2009, li em um jornal na Paraíba, a seguinte
manchete: A Paraíba irá ter acesso à água do Rio São Francisco em 2010.
Essa assertiva me fez escrever o artigo intitulado “Águas do São Francisco
na Paraíba em 2010: pura ilusão”, editado no Portal EcoDebate
daquele ano. Passados 4 anos daquele engodo à população residente no Semiárido
paraibano, deparei-me, novamente, com algo semelhante. Desta feita o mesmo
jornal havia trazido a seguinte manchete: “Desafios da transposição: meta
do investimento é levar água para 2,7 milhões paraibanos”. Para quem vem
acompanhando a saga da transposição irá perceber tratar-se de nova ilusão! Ora,
a população do setentrional nordestino, segundo o último censo, é de cerca de
13,5 milhões de pessoas. Se excluirmos dessa estatística, a população atendida
pelos abastecimentos proporcionados pelos governos, municipal e estadual,
chega-se à conclusão de que, no Semiárido, cerca de 10 milhões de pessoas estão
fora das políticas governamentais de abastecimento. Trata-se da população
difusa que habita a região. Se pontuarmos essa questão em relação ao Estado da Paraíba,
iremos chegar à conclusão de que existem, no seu meio rural, um pouco mais de
900 mil pessoas! Portanto, muito aquém dos 2,7 milhões referidas na matéria
analisada. Além do mais, o projeto da transposição encontra-se com sérios
problemas, não só em sua execução física, mas, e principalmente, na esfera
política. É preciso que sejam esclarecidas as assertivas levantadas pelo
Ministro Fernando Bezerra, ao comentar na matéria “ TCU vê R$ 734 milhões em
irregularidades nas obras do São Francisco” editada no Portal da Globo,
as pendengas existentes no projeto desde quando assumiu a pasta da Integração
Nacional. Isso é importante que seja esclarecido à população do Nordeste seco,
tendo em vista não ser prudente que se continue a iludir o povo da forma como
se vem procedendo, principalmente quando o assunto diz respeito à água,
substância mantenedora da vida.
por João Suassuna — Última modificação 26/08/2013 09:26
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