Água para quem precisa de Água! Chega de água subsidiada para a Termelétrica do Pecém!
O Ceará vive uma das piores secas de sua História recente. Em várias localidades, a água para o consumo humano é artigo raro e o gado dos pequenos agricultores tem sido simplesmente dizimado. O consumo de água imprópria, o carro-pipa e até problemas de abastecimento de água em Fortaleza voltaram à cena.
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Enquanto isso, a política de alocação das águas apenas favorece setores como a irrigação para o agronegócio (que abusa do uso de agrotóxicos), a carcinicultura (cujos efluentes são também bastante poluidores) e, sobretudo para o Complexo Industrial e Portuário do Pecém. Neste, somente para uma termelétrica a carvão estão destinados 993 litros de água por segundo (o suficiente para abastecer uma cidade de quase 600 mil habitantes). Como se emitir CO2 e consumir essa enorme quantidade de água doce não fosse o suficiente, o Governo do Estado (apoiado pela Assembléia Legislativa) concedeu abatimento de 50% do preço da água bruta fornecida a essa Termelétrica pela COGERH (Companhia de Gerenciamento de Recursos Hídricos). Não basta contribuir para aquecer o planeta e piorar as secas? É preciso tirar do sertanejo as condições de se defender delas?
Não é isto que consideramos “desenvolvimento”. Trata-se, na verdade, de aprofundamento da desigualdade social, da privatização de um bem essencial para a vida humana e do absurdo de subsidiar a queima de combustíveis fósseis, destrutiva para o sistema climático, em pleno Ceará. Outra industrialização é possível, apostando em setores que não façam uso tão intensivo da água e/ou naqueles que apontem para o avanço de energias renováveis (como produção de painéis solares). Outra lógica para a água, idem, combinando captação local com estratégias de açudagem em diferentes escalas, adutoras e estações de tratamento de água. O que defendemos é a prioridade da água para consumo humano, a irrigação para agricultura familiar, industrialização com base em setores modernos e de baixa utilização de água.
Por meio desta petição, exigimos a revogação do desconto de 50% no preço da água bruta para a UTE-Pecém, por parte da COGERH e a reavaliação da alocação de água no Estado do Ceará com ampla participação popular.
COMENTÁRIOS
João Suassuna – Pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, Recife
Essa questão do uso da água do São Francisco no complexo de Pecém, faz parte do nosso discurso contrário ao projeto da Transposição. Já existe um canal, nas mesmas dimensões dos canais da transposição, ligando o açude do Castanhão ao complexo portuário, para levar as águas do Velho Chico, não apenas para o atendimento das demandas normais do porto, mas, e principalmente, para o atendimento das necessidades hídricas da siderúrgica Ceará Steel. Esta siderúrgica, sozinha, demanda volumes equivalentes, ao consumo de um município de 90 mil habitantes. Uma vez iniciadas essas ações, elas irão se tornar o caminho mais rápido para a exaustão do rio São Francisco. É viver para crer!
por João Suassuna — Última modificação 10/07/2013 15:02
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