Transposição do São Francisco, devagar quase parando!
Obras de transposição do rio São
Francisco estão parcialmente paradas há cerca de um ano; galpões foram
saqueados e mato cresce ao redor.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/17502-devagar-quase-parando.shtml
Fabio Braga/Folhapress
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Lavrador cruza trecho
paralisado da obra do São Francisco; mato toma conta da área
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FÁBIO GUIBU
ENVIADO ESPECIAL A FLORESTA (PE)
Alojamentos depredados e saqueados no meio da
caatinga, ao lado de um canal tomado pelo mato e corroído pela erosão, formam o
cenário de abandono em vários trechos das obras da transposição do rio São
Francisco.
O projeto federal de R$ 6,8 bilhões, iniciado em
2007, está parcialmente paralisado há cerca de um ano.
A Folha percorreu cerca de cem
quilômetros do eixo leste da obra, a partir de Floresta (PE), onde está um dos
pontos de captação de água.
O Exército continua trabalhando no local, mas os
consórcios privados abandonaram as obras, reclamando a revisão dos seus
contratos.
As máquinas foram retiradas, e milhares de
trabalhadores, demitidos. Nos galpões que serviam de alojamento, portas,
janelas e telhados foram saqueados.
Em trechos onde o canal estava sendo concretado,
foi retirado até o plástico usado para isolar o cimento do chão. O sol racha o
solo e provoca trincas no concreto. O mato toma áreas já terraplenadas.
A água que se acumula em alguns metros de vala
vem da chuva ocasional e serve apenas para saciar a sede dos bodes e do gado
das fazendas.
Nas agrovilas, o movimento intenso dos primeiros
anos do projeto acabou. A paralisação das obras trouxe prejuízo aos
comerciantes e devolveu ao campo os lavradores contratados como operários.
Dona de um restaurante na Agrovila 6, em
Floresta, Eliane Maria da Silva Lisboa, 37, diz que levou um calote de cerca de
R$ 20 mil com a demissão dos operários. "Vendi fiado, e eles foram embora
sem pagar nada", reclama.
O restaurante, que em 2009 chegou a servir 400
refeições por dia e faturar R$ 150 mil por mês, quebrou. A comerciante recebe
hoje três clientes por semana. "Fiz dívidas pensando em quatro anos de
trabalho, mas só durou um."
Lisboa afirma que sua esperança está no reinício
das obras. De acordo com o Ministério da Integração Nacional, cinco dos 14
lotes da transposição estão parados, e os serviços serão retomados gradualmente
a partir de janeiro.
O ministério afirma ter identificado 500 metros
de rachaduras, fissuras e descolamento de placas de concreto em três trechos de
canais. As falhas, diz, serão corrigidas "sem custo adicional para os
cofres públicos".
Em nota, o ministério informou que todos os
serviços "possuem garantia" e que o governo federal "não pagará,
em hipótese alguma, o mesmo serviço em duplicidade".
A transposição prevê a construção de dois canais
para levar água do rio São Francisco a 12 milhões de pessoas de 390 municípios
de Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba, até 2025.
Confira vídeo e galeria de imagens
folha.com/no1027771
folha.com/fg5944
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