quinta-feira, 4 de outubro de 2012


4 milhões de brasileiros da Região Nordeste foram surpreendidos com apagão.


Aproximadamente 4 milhões de brasileiros da Região Nordeste foram surpreendidos, no último sábado (22/09), com a falta de energia elétrica. Foram mais de 600 cidades diretamente atingidas pelo “apagão” do SIN – Sistema Interligado Nacional, diretamente ligado ao Ministério de Minas e Energia. O motivo real só será descoberto na última semana do mês de setembro, durante uma reunião entre os agentes envolvidos, com intermediação da Aneel - Agência Nacional de Energia Elétrica. Situação padrão nestes casos.

http://www.gentedeopiniao.com.br/energiameioambiente/conteudo.php?news=102275


Viviane Vieira de Assis Paes

O óbvio todos já sabem: ocorreu uma falha no fornecimento de energia. A interrupção não programada, porque existem as programadas, começou às 16 horas e atingiu seis estados nordestinos: Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco e Sergipe.

O que nós do Norte temos com isso, além de parentes e amigos que nos ligaram, tuitaram e postaram mensagens no facebook sobre o desconforto de ficar sem energia elétrica em pleno final do sábado?! Olha, podem acreditar temos muito. È daqui, do Norte que desde o último aceitável com esta denominação “Apagão”, sai a energia que garante o conforto e a qualidade de vida tão falada do Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste. Não citei o Sul porque eles têm a binacional Itaipu.

O Apagão de 2000 serviu para acelerar a entrada da maioria dos Estados do Norte no SIN. Isto foi muito bom para o Brasil, apesar de muitos ligados a ONGs e defensores sem medida do meio ambiente terem sido contrários. O fato só certificou o óbvio, o potencial hidrelétrico da região Amazônia como imprencidivel para o desenvolvimento da matriz energética. Na prática ficou assim. Faltou energia nestas regiões, nosso excedente é enviado para eles. Claro que na proporção populacional e industrial estamos sempre fornecendo o produto aos grandes centros. OK.

Agora vamos falar da UHE Belo Monte neste contexto. Será por acaso que o terceiro maior consumidor do ACR – Ambiente de Contratação Regulada da energia elétrica gerada por esta usina tão questionada é a Bahia com 13,85% (110.137 GWh) dos 70 adquiridos por 27 distribuidoras de energia do País. Em primeiro lugar, claro, São Paulo com 29,22% (232.535 GWh) e em segundo Minas Gerais 14,56% ( 115.772 GWh). Detalhe esta energia só chegará a estes estados a partir de 2015, mas para isso acontecer será preciso que a obra da terceira maior usina em construção do mundo não pare mais nenhum minuto.

Na semana passada, o Ibama liberou a construção da ensecadeira no canteiro de Pimental, uma das três partes do gigantesco empreendimento. Caso não tivesse acontecido esta autorização até outubro, o consórcio construtor formado pelas nove maiores construtoras do país teria que parar literalmente a obra. O motivo não seria apenas a contrariedade legal. O problema tão impactante quanto o primeiro seria a perda da janela hidrológica que permite no período do verão os trabalhos com o rio Xingu menos cheio, vamos assim dizer para facilitar o entendimento. Qual seria a solução neste caso? Ah muito fácil manter a obra parada até o mesmo período em... 2013 e mandar os mais de 12 mil trabalhadores desta etapa da obra para casa para férias forçadas coletiva.

Ironicamente no setor elétrico brasileiro é sempre assim. Já prestaram atenção?! Basta um especialista dizer que as coisas estão tranquilas e o pior acontece. No início deste mês, o diretor geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Hermes Chipp, afirmou que os níveis dos reservatórios hidrelétricos no país estavam abaixo do esperado, mas não gerariam grande preocupação. Para garantir o abastecimento em novembro, quando termina o período seco, foram acionados 2.500 megawatts (MW) complementares a partir de térmicas a gás. E também o reforço de cerca de 6.500 MW de energia térmica, dos quais 2.000 MW são provenientes das usinas nucleares Angra 1 e Angra 2; e 2.000 MW.

Detesto ser a anunciadora de más notícias, como jornalista gostaria de transmitir coisas boas para todos, infelizmente não dá para fazer isto sempre. Então lá vai, uma boa reflexão para o domingo. O que acontece se a Usina Belo Monte não começar a gerar em 2015 como previsto e contratado no leilão?! Lembrando que já passou um dos 10 anos de construção da obra. Vou pegar a frase bordão da minha prima Alexia, que no auge dos cinco anos tem uma sabedoria que falta para muitos adultos: Eu não sei, eu não sei, EU NÃO SEI!!

Tenho muito medo de descobrir que muitos de cargos estratégicos do governo da presidente Dilma, uma especialista e defensora do projeto Belo Monte, também não saibam.

Sobre o assunto:

Possíveis impactos da mudança de clima no Nordeste

http://www.remaatlantico.org/Members/suassuna/campanhas/possiveis-impactos-da-mudanca-de-clima-no-nordeste/view

Coronelismo Hídrico na Transposição das Águas do São Francisco

http://www.remaatlantico.org/Members/suassuna/artigos/coronelismo-hidrico-na-transposicao-das-aguas-do-sao-francisco-artigo-de-joao-suassuna

COMENTÁRIOS

João Suassuna - Eng. Agrônomo e Pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco – Recife.ç

A questão desse apagão ficou pouco esclarecida perante o povo nordestino. O povo quer saber, e com detalhes, por que faltou energia numa região do país que tem um dos sistemas elétricos mais modernos do mundo! Um simples curto-circuito não explica a magnitude do ocorrido. Na atual conjuntura, não convém subestimar a inteligência do povo brasileiro. Ademais, precisamos alertar a população de que, no Nordeste, o rio São Francisco responde por mais de 95% da energia que é gerada na região. Além de ser um rio de múltiplos usos, pesa sobre o caudal, a expectativa de garantir o abastecimento de 12 milhões de pessoas, com o projeto da transposição de suas águas. Ora, segundo informações colhidas de técnicos da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf), desde 2010 as usinas hidrelétricas da citada Companhia, já não conseguem gerar a totalidade da energia necessária ao desenvolvimento da região. Naquele ano, as usinas da Chesf geraram 6.000 MW médios e a região necessitou de 8.000 MW médios. Dois mil MW médios já tiveram que vir de fora do sistema gerador nordestino. Atualmente, se levarmos em consideração a seca de grande magnitude que assola o Semiárido, aliada a irrigação praticada em mais de 340 mil hectares de sua bacia hidrográfica, e avaliarmos o potencial de retiradas volumétricas do projeto da transposição de suas águas (o projeto foi dimensionado para retirar, do rio, uma vazão máxima de 127 m³/s), iremos chegar à conclusão de que, caso o projeto já estivesse em regime de operação, não haveria volumes suficientes para o atendimento de todas as demandas volumétricas praticadas no rio. Essas questões fazem parte do nosso discurso contrário ao projeto de transposição, cujos esforços de análise e divulgação de resultados já contam 17 anos. Levando-se em consideração esse breve exercício, se torna imperioso que as autoridades expliquem com mais clareza ao povo brasileiro, e de forma mais convincente, as reais causas do apagão que vitimou, recentemente, cerca de 4 milhões de nordestinos, e quais as alternativas que estão sendo postas em prática para o abastecimento do Semiárido, notadamente o da população residente de forma difusa na região. Estes aspectos são importantes de serem aqui mencionados, para que não se venha, no futuro, por em risco os investimentos que já foram realizados ao longo da bacia hidrográfica do Velho Chico. Para se ter ideia da dimensão desse problema, só no setor elétrico, a Chesf já investiu cerca de U$ 13 bilhões e costumamos dizer: energia é sinônimo de desenvolvimento e não podemos estar brincando com isso!

Com a palavra os Ministérios da Integração Nacional e de Minas e Energia.

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