El Niño prolonga e agrava seca no Sertão alagoano.
O inverno em Alagoas acabou. E a
bonança, que deveria ter vindo com o período chuvoso, não passou de esperança
para as populações do Sertão alagoano – a ocorrência de chuvas foi menor do que
o esperado pelos meteorologistas. A pouca chuva que caiu entre maio e agosto
não deu para encher barreiros nem açudes. Os rios continuam com baixíssimo
nível de água e alguns já estão secando completamente.
Com 36 municípios atualmente em estado de
emergência, a seca deve castigar ainda mais a população sertaneja com o retorno
do fenômeno El Niño, que não era registrado desde o início de 2010.
Segundo dados da Defesa Civil Estadual, a
estiagem, considerada uma das mais severas dos últimos 40 anos, afetou mais de
458 mil alagoanos até o mês de agosto, gerando um prejuízo de aproximadamente
R$ 66 milhões às cidades e comunidades atingidas.
A falta de água para irrigação, consumo humano e
animal gera falta de alimento e tem feito comunidades apelarem ao Estado pela
chegada de ações de combate à seca. Produtores de leite de Alagoas alertam para
a escassez de água para o gado e reclamam da falta de políticas públicas para
minimizar o problema. Agricultores familiares também dizem ter que comprar água
toda semana e ainda recorrer a açudes particulares para alimentar o animal.
De acordo com o relatório da seca produzido pela
Defesa Civil, atualmente 186 carros-pipa percorrem os municípios atingidos pela
seca, atendendo a 200 mil pessoas em 873 pontos de abastecimento com cisternas.
A Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf) construiu,
até o momento, 25 mil reservatórios nos 36 municípios em estado de emergência,
segundo dados divulgados pela Rádio Difusora.
El Niño deve agravar estiagem
De acordo com o meteorologista Emanuel Texeira,
da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh), as
chuvas tiveram uma má distribuição no território alagoano. “Também é preciso
levar em consideração a irregularidade: as quedas d’água foram mal
distribuídas, prejudicando alguns tipos de culturas”, completou o
meteorologista.
“A influência desfavorável do fenômeno El Niño e
do Dipolo do Atlântico [fenômeno resultante da interação entre o oceano e a
atmosfera, que incide nos índices pluviométricos] foram alguns dos fatores que
contribuíram para estas baixas ocorrências”, explicou Emanuel Teixeira.
Conforme dados analisados pelo Laboratório de
Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis) entre os dias 14 e 21
de agosto, o El Niño será de intensidade moderada e deve durar cerca de oito
meses, até fevereiro de 2013. A expectativa é que o fenômeno climático, que
consiste no aquecimento da temperatura do mar acima do normal, trará uma
diminuição da chuva para o Nordeste, agravando a seca nos aspectos
meteorológicos, hídrico e agrícola.
De acordo com o professor do Lapis, Humberto
Barbosa, os efeitos do El Niño já podem ser vistos na vegetação brasileira.
Segundo ele, o aquecimento gerado pelo fenômeno pode acarretar uma interrupção
massiva na produção global de alimentos.
O meteorologista também sustentou que o cenário
desfavorável para a região sertaneja depende das condições de temperatura das
águas do Atlântico Sul e Norte. “A partir de outubro, as previsões climáticas
para o regime de chuvas no Sertão serão avaliadas com base nas condições de
temperatura das águas dos oceanos Pacífico e Atlântico”, complementou.
Conforme o professor, a situação do El Nino já é
favorável à seca, e a estação chuvosa de 2013 pode acumular os efeitos da
estiagem de 2012. Ele também explicou que a redução de chuvas durante a estação
do próximo ano, registrada nos meses de fevereiro e maio, depende se as
temperaturas do Atlântico Sul estiverem mais frias que a média histórica nos
próximos quatro ou cinco meses.
MP abre crédito de R$ 688 milhões para o combate à seca
No dia 29 de agosto, o Senado aprovou a Medida
Provisória 569/2012, que concede crédito extraordinário de R$ 688 milhões para
atender às populações que sofrem com a seca, principalmente no Nordeste. O
recurso é aberto para os Ministérios da Defesa, da Integração Nacional e do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome.
Cerca de R$ 400 milhões serão aplicados em ações
diretas de ajuda às vítimas, como aquisição de cestas básicas, agasalhos,
abrigos emergenciais e a distribuição de água em carros-pipa. No caso dos
municípios atingidos pelas chuvas, a verba será utilizada para reforçar
estruturas avariadas.
Outros R$ 50 milhões serão destinados para
custear ações de defesa civil nos municípios em situação de emergência ou
estado de calamidade pública, reconhecidos pelo governo federal. A MP também
prevê R$ 238,5 milhões para garantir o acesso a creches para 350 mil crianças
de até quatro anos de idade em extrema pobreza, beneficiárias do Bolsa Família.
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