quarta-feira, 28 de junho de 2017


Tecnologias sociais são usadas por camponeses para superar a seca no semiárido nordestino


Convivendo com a maior seca dos últimos anos, sertanistas buscam soluções criativas

 21/12/2016


Juca Guimarães, do R7, em Esperança (PB)


Com uma das maiores estiagens dos últimos anos, os sertanistas usam tecnologias sociais para continuar na caatinga 
Juca Guimarães/R7


O sertanejo continua, acima de tudo, sendo um forte. As dificuldades enfrentadas para sobreviver em um dos biomas mais inóspitos do planeta são enormes, porém, também é grande a variedade de alternativas que os agricultores desenvolveram para garantir uma sobrevivência digna na caatinga.

Atualmente, a luta por uma relação sustentável e equilibrada com o meio ambiente nos dez estados brasileiros dentro da área da caatinga conta com o compartilhamento de tecnologias sociais, ONGs, associações de agricultores e instituições como a Fundação Banco do Brasil, que nos últimos dez anos investiu R$ 2,4 bilhões em mais de seis mil projetos que beneficiaram aproximadamente 3,3 milhões de pessoas na região.

"O nosso trabalho contribui para a união de esforços entre vários setores da sociedade para que transformações aconteçam. Destacando sempre o protagonismo das comunidades locais, a mobilização social e a integração do conhecimento popular com o conhecimento científico", diz Asclepius Ramatiz, presidente da Fundação Banco do Brasil.

As tecnologia sociais são inovações produtivas que possam ser reaplicadas (e compartilhadas) desenvolvidas e organizadas de forma coletiva para soluções de problemas relacionados a diversas áreas (alimentação, recursos hídricos, educação, renda, meio ambiente, entre outros).

Boa parte do trabalho da Fundação Banco do Brasil no auxílio de desenvolvimento das comunidades do semiárido está reunido na base de dados do aplicativo BTS (Banco de Tecnologias Sociais), gratuito para as plataformas iOS e Android. O aplicativo funciona como um grande reservatório de ideias que comprovadamente deram certo e que foram desenvolvidas por instituições de todo o pais especializadas em transformação social. No aplicativo, é possível encontrar um passo-a-passo das tecnologias sociais para que sejam reaplicadas. Atualmente, são mais de 850 tecnologias com eficácia certificada pela Fundação Banco do Brasil e prontas para serem compartilhada.

Outra organização que auxilia na propagação de técnicas para a melhoria da vida na região da caatinga é a 
ASA(Articulação Semiárido Brasileiro), rede que reúne cerca de três mil entidades, como Ongs, sindicatos rurais, associações de agricultores, pesquisadores e cooperativas, Oscips (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público), entre outros.

Na prática

O agricultor Delfino da Silva Oliveira, de 23 anos, é um dos milhares de sertanistas que decidiram não abandonar a caatinga e buscaram uma maneira de conviver com as limitações impostas pelo bioma. Com o auxílio de tecnologias socias, práticas de empreendedorismo e economia solidária, a família Oliveira transformou a própria realidade.

A propriedade de Delfino tem cerca de 2,5 hectares onde se planta uma grande variedade de hortaliças, grãos, verduras, legumes e algumas frutas, na cidade de Esperança, na Serra do Borborema, no interior da Paraíba. Mesmo com o espaço pequeno, se comparado aos latifúndios da região, eles conseguem manter uma criação de vacas, galinhas, porcos, ovelhas, perus e abelhas.
Delfino, 23 anos, aplica tecnologias sociais no seu sítio Juca Guimarães/R7


Com orientação da AS-PTA, organização não-governamental para promoção do desenvolvimento rural, que existe desde 1983 na região, Delfino conseguiu aplicar  diversas tecnologias de baixo custo na propriedade que ajudam na produção e no cotiano da família formada por seis pessoas. Com o dinheiro ganho na venda do excedente da produção, o jovem agricultor comprou um carro e equipamentos para ajudar na plantação.

A propriedade tem duas cisternas, para 68 mil litros, e uma caixa reservatória para mais 1.000 litros. Essa água, recolhida nos meses de chuva, é usada para a irrigação da lavoura, cuidado dos animais e uso doméstico.

No ano passado, Delfino instalou na propriedade um biodigestor ecológico, que transforma estrume e material orgânico em gás de cozinha. Com o biodigestor, a família reduziu em 85% a despesa com gás de cozinha.

"Aos poucos a vida na roça vai ficando melhor. A cada novidade é um avanço muito grande pra gente que precisa viver da terra. Antes todos os meus amigos depois que pegavam uma certa idade iam para a cidade atrás de emprego e deixavam tudo para trás. Hoje, eu e muita gente já pensa que é melhor ficar. Imagina ter que ir para um cidade grande e ficar em um emprego que paga mal e ainda levar bronca do patrão. Eu não seria feliz vivendo assim", diz Delfino, que já faz planos de casar com a noiva Denise e investir ainda mais na propriedade da família.

Delfino vende os seus produtos na Feira Agroecológica de Esperança e é lá também que ele conversa com outros camponeses sobre a aplicação de tecnologias sociais. "Aqui em casa as pessoas viam com desconfiança no começo, mas depois viram que dava para melhorar de vida", diz.

A seca ainda aflige a vida dos moradores do sítio de Delfino, este ano por exemplo, a produção de flores ornamentais da dona Lia, mãe de Delfino, ficou abaixo do esperado por conta da falta de chuva, porém, nada comparado ao passado que era marcado pela fome e exôdo dos jovens para os grandes centros.

No sítio do Delfino, a captação de água quando chove é feita de duas maneiras. Uma cisterna recebe a água que cai no telhado da casa. A outra usa o método do calçadão, onde uma área pavimentada de aproximadamente 30 m² capta a água que, após passar por um filtro, vai para um reservatório. Com uma bomba, eles usam essa água na irrigação da plantação.

O sistema é eficaz para amenizar os efeitos da falta de chuva na região. De acordo com o engenheiro agrônomo Emanuel Dias, a Serra do Borborema, passa por uma das piores secas dos últimos anos, veja o vídeo.




Bodes e sementes.

A Fundação do Banco do Brasil também apoia as iniciativas solidárias de desenvolvimento social na caatinga da Serra do Borborema, no interior da Paraíba. Um dos projetos é Sementes da Paixão, banco de sementes que oferece dezenas de opções de sementes de boa qualidade para serem plantadas "no rastro da chuva". São matrizes de ótima qualidade que proporcionam uma colheita boa sem a necessidade de agrotóxicos.

O banco de sementes é estruturado em forma de rede e as famílias beneficiadas em um ano contribuem com sementes para que outras famílias sejam ajudadas no ano seguinte. Na Paraíba, a rede atende mais de cinco mil famílias com  mais de 200 variedades de milho, feijão, arroz, guandu, fava jerimum, entre outras sementes. Em 2014, o Sementes da Paixão tinha 230 subgrupos de colaboradores com capacidade para armazenar 300 toneladas de sementes de excelente qualidade produzindo alimentos sem transgênicos para subsistência e geração de renda.

Nos municípios de Queimadas e Remigio, no agreste paraibano, a Fundação Banco do Brasil apoia o projeto "Guardiãs e Guardiões das Raças Nativas" que doa cabras e bodes para adolescentes começarem uma criação e uma fonte de renda pessoal. Não existe custo para o jovem. A contrapartida é a devolução para o programa da primeira cria fêmea, que será doada para um outro adolescente, numa espécie de fundo rotativo solidário. Cada animal criado livre pode chegar a 30 quilos, gerando até R$ 600 de lucro com a comercialização da carne. O custo de manutenção dos bodes é muito baixo e os jovens podem cuidar da própria criação enquanto ajudam os pais nas atividades rurais.

Duas vezes por mês, os jovens e adolescentes do programa se reunem com um coordenador para participar de rodas de bate-papo sobre economia solidária e cidadania. "É um jeito de conscientizar o jovem sobre a importância de continuar no campo e aprender a ganhar o próprio dinheiro. Alguns garotos já têm rebanhos com seis animais", disse Edilânia, coordenadora de um dos grupos. Além de participar das reuniões, os jovens do programa devem comprovar que estão estudando. A idade mínima para se inscrever é nove anos.

Rendeira do Facebook.

A internet e as redes sociais também são ferramentas poderosas para garantir a permanência do sertanejo na caatinga. Pela internet é possível otimizar os negócios de pequenos artesãos. Despachando as encomendas pelos Correios, é possível fazer negócios com todos  os cantos do país.

"Tenho uma página no Facebook onde faço contato com os clientes e divulgo o meu trabalho", disse a artesão Marlene Leopoldino. Ela mora na cidade de Monteiro, no sertão da Paraíba, fez um curso de gestão de negócios no Sebrae.

Outra vantagem da venda pela internet é a eliminação da figura do intermediário. "As gerações de rendeiras que vieram antes de mim tinham um lucro muito pequeno, quase nadinha. O povo vinha aqui comprava barato e revendia caro na capital. A gente mesmo nem via o cheiro do dinheiro", afirma Marlene. Confira 
aqui o perfil e os trabalhos da artesã.

Em São Paulo.

A importância da valorização dos pequenos produtores que, por sua vez, têm uma relação diferenciada com a região em que vivem e os meios de produção, ganhou bastante destaque nos últimos anos. Os consumidores estão mais interessados e engajados com a origem e história dos alimentos.

"No meu processo evolutivo, percebi que o fundamento daquela relação começava com o ingrediente e que não dava para entender o ingrediente sem entender o seu entorno, a natureza. Sem esquecer que a natureza tem entre seus componentes um elemento que muitas vezes é deixado de lado: o Homem", diz o chef de cozinha Alex Atala, co-fundador do instituto ATÁ, que apoio projetos ligados a biodiversidade, agroecologia e sociodiversidade, como os desenvolvidos na Serra do Borborema, no interior da Paraíba.

Na cidade de São Paulo, os produtos das redes de projetos ecologócios como o Central do Cerrado (GO e DF), Ecovida (RS), IRPA (BA), Rede Terra (GO), Poloprobio (PA), com uma grande variedade de sabores exóticos da sociodiversidade brasileira são vendidos em quiosques especializados no Mercado de Pinheiros, na zona Oeste.

COMENTÁRIOS

João Suassuna – Pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco
Um trabalho importantíssimo, esse, de se implantar tecnologias de convivência no ambiente Semiárido. Faria, apenas, uma observação no tocante ao plantio, na região, de culturas de subsistência em regime de sequeiro (dependentes única e exclusivamente das chuvas). No Polígono das secas, o clima é muito instável, o que torna difícil a condução, com a segurança devida, de plantios de milho e feijão, principalmente. O recomendável para esse tipo de situação climática seria a existência, nas propriedades, de fontes hídricas seguras e capazes de proporcionar, ao sitiante, volumes de água suficientes para a irrigação de salvação nas referidas lavouras. Em caso contrário, não seria prudente expor a vida e o trabalho do agricultor à situações vexatórias. A condução das tecnologias de convivência, já postas no campo, e devidamente comprovadas pela pesquisa, dão provas dessa nova realidade sertaneja.   

Postado há 3 days ago por João Suassuna
Meus Prezados,

As chuvas agora começaram a cair com mais intensidade nas regiões do Alto e Médio São Francisco. A prova disso é a de que, no intervalo de uma semana, as vazões do rio praticamente dobraram nos postos de observação de Morpará e São Francisco. Daqui para frente, iremos manter a nossa atenção voltada para a recuperação da represa de sobradinho e também nas suas defluências, já que havia decisão das autoridades responsáveis pelo setor, em diminuí-las para cerca de 700 m³/s.

As chuvas já começaram a ocorrer, principalmente na região do Alto São Francisco, embora pontuais, mas já com bastante intensidade. Essas precipitações resultaram em aumento volumétrico significativo nos postos de observação de Morpará e São Francisco, passando de 460 m³/s e 403 m³/s, da semana anterior, para 796 m³/s e 737 m³/s, nesta semana. As vazões no posto de observação de São Francisco continuam menores do que as de São Romão. Como as águas do São Francisco levam cerca de 30 dias para percorrerem a região do Alto até chegarem em Sobradinho, a sua afluência volumétrica se manteve estável, atualmente em cerca de 510 m³/s. Na semana anterior estava em 490 m³/s. Em Sobradinho, o percentual volumétrico caiu mais um pouco, passando de 6,67% para 6,01% de seu volume útil. A barragem, hoje, ainda continua com seu percentual volumétrico um pouco melhor do que aquele verificado em igual período do ano anterior (atualmente 6,01% - ano anterior 2,24%).

Com o aumento da intensidade das precipitações nas regiões do Alto e Médio São Francisco e com o atual no cenário das precipitações ocorridas durante essa semana em curso, iremos começar a descrever e analisar o comportamento dos fluxos de vazões no decorrer da quadra chuvosa de bacia do Rio São Francisco, nas novas situações meteorológicas apresentadas, sempre atentos aos esclarecimentos hidrogeológicosde José do Patrocínio Tomaz Albuquerque.

Com a mudança do tempo nesse início de primavera, na região do Alto São Francisco, com a ocorrência de chuvas de maior intensidade, é importante observar, tanto a regularidade na caída, como, também, os volumes precipitados. Na atual semana, por exemplo, houve boas previsões, conforme informado por Pereira Bode Velho, no quadro abaixo. Segundo Gomes, na região de Montes Claros no Norte de Minas, por exemplo, que tem uma precipitação média no mês de novembro, de 197,8 mm, o acumulado do mês já ultrapassa os 55,4 mm.

Na semana (18/11), as vazões do São Francisco praticamente dobraram nos postos de observação de São Romão e São Francisco - 796 m³/s e 737 m³/s - quando comparadas àquelas da semana anterior – 460 m³/s e 403 m³/s -, respectivamente. As vazões no posto de observação de São Francisco continuam menores do que as do posto de São Romão (737 m³/s - 796 m³/s, respectivamente). Houve um discreto acréscimo na vazão afluente em Sobradinho. Atualmente está em 510 m³/s. Na semana anterior ela estava em 490 m³/s. Detalhe: Essa vazão afluente, em Sobradinho (510 m³/s), ainda é um pouco mais da metade do que aquela verificada na defluência da represa, atualmente em cerca de 827 m³/s. Dessa forma, a represa continuará depreciando. Preocupadas com esse fato, as autoridades responsáveis pelo setor hidrelétrico comunicaram da necessidade de reduzirem a vazão defluente, em Sobradinho, para o patamar de 700m³/s. Essa perspectiva na redução da defluência da represa aumentará os problemas da progressão da cunha salina na foz do rio, fato esse que vem dando certos transtornos no abastecimento do município alagoano de Piaçabuçu, que tem servido à população uma água de péssima qualidade, com elevados teores de sais (água salobra). Em igual situação vivem 70% da população de Aracaju, que são abastecidos com as águas do Rio São Francisco, por intermédio de uma adutora, em Propriá, município sergipano localizado em sua margem direita, a cerca de 60 km de sua foz. Esses descompassos nas afluências e defluências, tanto em Sobradinho, como em Três Marias, irão resultar na rápida depleção dessas represas, cujas necessidades em defluir mais volumes, somadas ao consumo excessivo das águas subterrâneas nos principais aquíferos da bacia hidrográfica do Rio São Francisco, à morte de nascentes, à elevada evaporação existente em seus espelhos d´água (a evaporação no espelho d´água em Sobradinho, nessa época do ano, ultrapassa os 200 m³/s) e o uso da água na irrigação, são as principais causas dessas depreciações.

A esperança de todos é na continuidade das fortes chuvas que já começaram a cair nas regiões do Alto e Médio São Francisco. No entanto, ficaremos atentos, também, para a questão da defluência de Sobradinho, atualmente em cerca de 827 m³/s,  pois havia uma determinação das autoridades do setor, para a sua redução à patamares de cerca de 700 m³/s, conforme recentemente divulgada na mídia.

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