Transposição,
a hora da verdade, artigo de Roberto Malvezzi (Gogó)
Roberto
Malvezzi (Gogó)
Segundo,
permanecem as encruzilhadas da obra que sempre chamamos a atenção: essa água
transposta será para o povo necessitado dos estados receptores ou para o
agro-hidronegócio e indústria? Dilma já disse que para cada real posto nos
grandes canais, serão necessários dois reais para fazer as adutoras que, de
fato, levarão a água aos municípios.
Essa
é a primeira diferença entre o projeto de várias adutoras – que defendíamos – e
a mega obra da Transposição. Se a opção fosse pelas primeiras, a água já teria
ido direto – por tubulação simples - para os serviços municipais de água e
estariam dispensados os grandes canais. A opção foi pela grande obra. Talvez hoje, depois da Lava-Jato, fique mais claro o porquê.
Acontece
que o cenário político mudou. Se Lula-Dilma tinham interesse em fazer as
adutoras a partir dos grandes canais, o atual governo pretende criar o maior
mercado de águas do mundo, privatizar as águas da Transposição – que significa
também privatizar a água de chuva já acumulada nos reservatórios do
Setentrional – e não demonstra interesse algum em fazer sua distribuição.
Por
último, a revitalização do São Francisco. Lula-Dilma diziam que iriam fazer a
revitalização do São Francisco simultaneamente à grande obra da Transposição. O
único investimento que deu resultado foi o saneamento, embora ainda inconcluso
e desperdiçando obras iniciadas como as estações de tratamento de Pilão Arcado
e as adutoras em Remanso. Aqui em Juazeiro o saneamento avançou.
Hoje, o São Francisco
está com uma vazão de 750 m3/s, quando nos garantiam que a partir de Sobradinho
sempre seria de 1800 m3/s.. Portanto, hoje o volume
de água é 1/3 do que os técnicos previam para garantir a água da Transposição.
Sobradinho
– a caixa d’água que garante o fluxo abaixo - está com 11% de sua capacidade. O
período chuvoso está terminando e todos os usos na bacia, a não ser por um
milagre da natureza, estarão comprometidos.
Hoje o mar avança de 30
a 50 km São Francisco adentro, salgando as águas que abastecem a população
ribeirinha de Sergipe e Alagoas. Se continuar nesse ritmo, em breve
comprometerá a adutora que abastece Aracaju. O rio perdeu força, o mar avança.
O
que tem salvado a população nordestina nesses 6 anos de seca foi a malha de
pequenas obras hídricas, como as cisternas. Com essas tecnologias e outras
políticas sociais vencemos a fome, a sede, a miséria, a migração, os saques e a
mortalidade infantil. O IDH subiu em toda a região e o crescimento foi visível
em relação a outras regiões do Brasil. Logo, não foi a grande obra. O paradigma
da convivência com o Semiárido mostrou-se eficaz, enquanto o paradigma do
combate à seca só encheu as burras dos coronéis.
Portanto,
olhando a árvore o sucesso da Transposição está garantido, olhando a floresta
os problemas continuam e se acumulam.
OBS:
A intenção de Temer e Alckmin de tirar uma lasquinha na inauguração da
Transposição excede todo ridículo.
Roberto
Malvezzi (Gogó) é membro da Comissão Pastoral da Terra (CPT) - BA
www.robertomalvezzi.com.br
Sobre o assunto.
Sobre o assunto.
Temer e a transposição do São Francisco
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