quinta-feira, 25 de abril de 2013


Pesquisador João Suassuna faz críticas fortes ao atual sistema de abastecimento hídrico do Semiárido.


Palestrante na Comissão de Meio Ambiente da Câmara Federal, João Suassuna, pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, em Recife, fez severas críticas ao atual sistema de abastecimento das populações residentes no Semiárido nordestino, que hoje vivem em situação de calamidade, devido a mais forte seca que assola a região nos últimos 50 anos.

Para Suassuna, perdeu-se uma singular oportunidade de se resolver esses problemas, ao se priorizar, no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), o projeto da Transposição do Rio São Francisco. Em 2006, segundo o pesquisador, o governo federal deveria ter aprovado e iniciado o Atlas Nordeste de Abastecimento Urbano de Água (projeto coordenado pela Agência Nacional de Águas - ANA). Na ótica do pesquisador, a Transposição irá beneficiar única e tão somente, o grande capital, diferentemente do Atlas Nordeste, que visa o abastecimento das populações do Nordeste seco. O Atlas prevê o abastecimento de 34 milhões de pessoas, enquanto a Transposição, de 12 milhões de pessoas. Além disso, o Atlas Nordeste custa, em valores atuais, menos da metade dos valores previstos para a Transposição. Considerando os reajustes havidos, o projeto da Transposição custa atualmente cerca de R$ 8,3 bilhões. Já o Atlas, R$ 3,3 bilhões.

A crítica de Suassuna prendeu-se ao fato de que a disputa pelo acesso aos projetos do PAC recaiu na escolha do mais caro. Essa disputa passou a ser por dinheiro, deixando-se de lado a importância e a abrangência social da obra.

Em termos de propostas de convivência com a seca, o pesquisador destacou a importância do Programa Um Milhão de Cisternas Rurais, coordenado pela ASA Brasil e pelo Ministério de Desenvolvimento Social; a criação de animais resistentes às estiagens, a exemplo dos bovinos das raças Guzerá e Sindi, dos ovinos deslanados e dos caprinos, bem como o aproveitamento da flora nativa regional, principalmente as forrageiras. Lembrou, ainda, da importância do plantio de plantas xerófilas para alimentação do gado, a exemplo da Palma forrageira, e da fenação dos capins buffel e urocloa.

Suassuna aproveitou a oportunidade do evento para lançar o livroConservação da Natureza: e eu com isso?”. Nessa obra, coube a ele escrever o capítulo Coronelismo hídrico na transposição das águas do rio São Francisco.

João Suassuna concluiu sua palestra com uma frase muito bem recebida pela plenária: a vontade política não pode estar acima das possibilidades técnicas para a promoção do desenvolvimento do Semiárido, sob pena de se perpetuar a lamentável situação pela qual passam os que habitam a região.

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