Pesquisador João Suassuna faz críticas fortes ao atual sistema de abastecimento hídrico do Semiárido.
Palestrante na Comissão de Meio
Ambiente da Câmara Federal, João Suassuna, pesquisador da Fundação Joaquim
Nabuco, em Recife, fez severas críticas ao atual sistema de abastecimento das
populações residentes no Semiárido nordestino, que hoje vivem em situação de
calamidade, devido a mais forte seca que assola a região nos últimos 50 anos.
Para Suassuna, perdeu-se uma singular
oportunidade de se resolver esses problemas, ao se priorizar, no PAC (Programa
de Aceleração do Crescimento), o projeto da Transposição do Rio São Francisco.
Em 2006, segundo o pesquisador, o governo federal deveria ter aprovado e
iniciado o Atlas Nordeste de Abastecimento Urbano de Água (projeto coordenado
pela Agência Nacional de Águas - ANA). Na ótica do pesquisador, a Transposição
irá beneficiar única e tão somente, o grande capital, diferentemente do Atlas
Nordeste, que visa o abastecimento das populações do Nordeste seco. O Atlas
prevê o abastecimento de 34 milhões de pessoas, enquanto a Transposição, de 12
milhões de pessoas. Além disso, o Atlas Nordeste custa, em valores atuais,
menos da metade dos valores previstos para a Transposição. Considerando os
reajustes havidos, o projeto da Transposição custa atualmente cerca de R$ 8,3
bilhões. Já o Atlas, R$ 3,3 bilhões.
A crítica de Suassuna prendeu-se ao fato de que a
disputa pelo acesso aos projetos do PAC recaiu na escolha do mais caro. Essa
disputa passou a ser por dinheiro, deixando-se de lado a importância e a
abrangência social da obra.
Em termos de propostas de convivência com a seca,
o pesquisador destacou a importância do Programa Um Milhão de Cisternas
Rurais, coordenado pela ASA Brasil e pelo Ministério de
Desenvolvimento Social; a criação de animais resistentes às estiagens, a
exemplo dos bovinos das raças Guzerá e Sindi, dos ovinos deslanados e dos
caprinos, bem como o aproveitamento da flora nativa regional, principalmente as
forrageiras. Lembrou, ainda, da importância do plantio de plantas xerófilas
para alimentação do gado, a exemplo da Palma forrageira, e da fenação dos
capins buffel e urocloa.
Suassuna aproveitou a oportunidade do evento para
lançar o
livro “Conservação da Natureza: e eu com isso?”.
Nessa obra, coube a ele escrever o capítulo Coronelismo hídrico na
transposição das águas do rio São Francisco.
João Suassuna concluiu sua palestra com uma frase
muito bem recebida pela plenária: a vontade política não
pode estar acima das possibilidades técnicas para a promoção do desenvolvimento
do Semiárido, sob pena de se perpetuar a lamentável
situação pela qual passam os que habitam a região.
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