quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A CAATINGA. O SERTÃO.

ORIGEM: Coletiva
Set/ Out/ Nov 2011
Número 06
18/01/2012
"Esse tal de Sertão urbano.

Globalização é elemento fundamental para o desenvolvimento das mudanças na região e sua integração com outras áreas dos estados nordestinos.
Por Ana Laura Farias.
O Sertão nordestino está cada vez mais urbano. Nos hábitos de lazer, no uso da tecnologia e em outros aspectos, como a interligação mais forte da economia com as regiões metropolitanas e o exterior. A urbanidade destes locais vai além dos hábitos internos e se estende nas relações sociais com as pessoas que estão fora das cidades.

O sociólogo e pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) Maurício Antunes acredita que muitas pessoas erram ao procurar no Sertão o mesmo modelo de metrópole das regiões metropolitanas dos estados nordestinos.
Segundo Maurício, não se pode usar os "mesmos critérios" para regiões tão diferenciadas. "Nem tudo que é urbano está nas capitais, isso é um equívoco enorme. As pessoas procuram por elementos urbanos semelhantes aos das metrópoles. São áreas diferentes, é natural que se apresentem de forma diferente", comenta.

O pesquisador destaca a globalização como um elemento fundamental para a integração do sertão com as outras áreas dos estados nordestinos. O uso da tecnologia, segundo Maurício, em especial da internet e redes sociais, serve para conectar os moradores com os familiares e amigos que saíram da cidade. "A internet é uma forma prática e econômica de as pessoas se comunicarem com quem já deixou o local", comenta.

Outro aspecto importante para desenvolvimento do Sertão é o fortalecimento da economia da região. "O Sertão sempre se caracterizou como um importante polo fornecedor de matéria-prima. “A diferença, em relação à década de 1990, por exemplo, é que, atualmente, boa parte da cadeia produtiva é feita no próprio local, por conta do desenvolvimento do parque tecnológico", comenta.
A professora da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) Assunção de Paulo defende a interiorização das universidades públicas como fator de desenvolvimento do Sertão nordestino. Docente da Unidade Acadêmica de Serra Talhada (UAST), Assunção rechaça o conceito de “urbanização” comumente utilizado. “O que se fala nesse conceito de urbano é, principalmente, no acesso aos serviços básicos, como educação e saneamento. Então, de certa forma, quando se diz que as cidades estão se urbanizando por conquistar esse direito, o mesmo é negado ao meio rural”.
A professora realizou pesquisas na cidade de Orobó, interior de Pernambuco, onde analisava a juventude rural e urbana do município. Lá, Assunção percebeu que os limites entre “rural” e “urbano” estão inseridas no campo das relações sociais, por meio dos significados adquiridos por cada um desses elementos. “Não há, nas cidades menores, uma delimitação clara entre área urbana e rural. Um jovem pode, por exemplo, morar em um sítio e estudar ou trabalhar no centro da cidade. O rural e o urbano convivem na vida dessas pessoas”, esclarece.

Assunção diferencia o desenvolvimento nos municípios pequenos no interior dos estados de cidades-polo como Caruaru, Serra Talhada e Petrolina. Mas ressalva que o processo de urbanização, até mesmo nessas cidades, ainda está em andamento. “Até mesmo nas cidades maiores do estado, a urbanização ainda está em processo. Não se pode falar ainda em urbanização completa, de forma alguma”.
Já o professor da UFRPE José Nunes prefere usar a “artificialização” do espaço como um dos critérios de urbanização. “Algo comum e visível na mudança dessas cidades é o processo de verticalização, por exemplo. Mas é bom perceber que nem todo desenvolvimento tem que ser urbano. Um local pode ter características rurais e ser desenvolvido, por exemplo”.

Para Nunes, a dicotomia entre o urbano e o rural é um dos principais motivos de ‘’atraso’’ no desenvolvimento das comunidades rurais. “As pessoas naturalizam o acesso a serviços básicos como exclusivos do meio urbano”, critica. Nunes realizou suas pesquisas no Sertão do Rio Grande do Norte, nas cidades de Açu, Mossoró e Apodi.

Para compreender a realidade dos jovens sertanejos que vivem na parte urbana da cidade de Ibimirim, Sertão pernambucano, a Associação Umburanas do Vale do Moxotó (Assuvam) montou um projeto, em parceria com a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), para que os jovens pudessem mostrar, por meio da fotografia, como os jovens deste “sertão urbano” se relacionavam com a cidade.
Foram selecionados cerca de 15 adolescentes para tirar as fotos referentes à percepção que tinham do município. Entre eles, a estudante Kaliane Alves, 21 anos. Ela conta que participar do projeto a fez “enxergar” coisas que antes não via no seu local de moradia. “Fazer essas fotografias fez com que a gente despertasse para paisagens que nunca tínhamos visto, para lugares que nunca tínhamos notado”, comenta a jovem, que atualmente cursa Pedagogia em uma universidade de ensino à distância.
Satisfeita com o lugar onde vive, Kaliane reclama apenas de dois itens: do mercado de trabalho e das relações sociais que vêm se alterando, se tornando mais distantes, de acordo com a jovem. “Aqui [Ibimirim] isso ainda é algo muito leve, mas já dá para notar. As pessoas vão ficando mais individualistas, cada uma fechada em seu próprio mundo, se assemelhando ao comportamento de gente das cidades maiores. Por enquanto, não acho que tenha chegado a nenhum nível grave, mas a tendência é piorar com o tempo, eu acho”, resume. Ibimirim tem população de aproximadamente 43 mil habitantes e está localizada a 339 km do Recife.

Cidades Médias.
No Sertão nordestino, passam a emergir as chamadas “cidades médias”, denominação utilizada para municípios com mais de 200 mil habitantes. Além de agregar população, facilitando a fixação das pessoas na região e diminuindo a migração para as capitais ou Centro-Sul do país, as cidades médias dinamizam a economia e transformam o Sertão em importantes pólos econômicos.
“Essas cidades possuem, muitas vezes, relativa independência em relação às capitais e ao litoral desses Estados. Com o passar do tempo, deixaram de ser apenas fornecedoras de mão de obra e sua população, em maior parte urbana, passa a ter mais poder no Nordeste” explica o demógrafo e pesquisador da Fundaj Wilson Fusco.
É o caso do Juazeiro do Norte, no Ceará, tidas como uma das principais cidades do Sertão do Cariri. A cidade possui população de 249 mil habitantes, dos quais 240 mil vivem na área urbana do município. Na Bahia, destaca-se Juazeiro, na divisa com Pernambuco, com Produto Interno Bruto (PIB) de, aproximadamente, R$ 840 mil.

Nem todos os estados possuem cidades médias localizadas no Sertão. Nos outros seis estados do Nordeste, este tipo de município está localizado, em sua maioria, nas Regiões Metropolitanas. Wilson Fusco credita a maior importância do Sertão dos estados da Bahia, Pernambuco e Ceará à dinâmica interna dos estados. “É natural que, em locais de maior “peso” na região, os centros econômicos e populacionais sejam mais dispersos, que haja maior descentralização. É por isso que Pernambuco, Bahia e Ceará têm cidades no Sertão com maior impacto na dinâmica da população e da economia”, explica. "

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