Coletiva Set/ Out/ Nov 2011Número 0618/01/2012
Editorial Imprimir E-mail
"O LUGAR DO SERTÃO
O domínio dos Sertões Secos constitui um lugar de interações frequentes entre arte e ciência no pensamento nacional, dando suporte material e imaginário a recorrentes metáforas espaciais sobre a constituição do Brasil.
De fato, se a categoria sertão é fundamental para entender o país, o semiárido tornou-se uma de suas mais densas configurações geográficas, abrigando, porém, narrativas e mentalidades as mais díspares. Daí o paradoxo de ser um assunto “batido”, mas sempre em pauta, flertando perigosamente com clichês consagrados, postos à prova pelo dinamismo do presente.
O Sertão Semiárido transcende em muito o universo acadêmico e letrado, embora não seja possível compreendê-lo sem adentrar na produção intelectual suscitada pela questão filosófica das relações sociedade/natureza. Voltamos o olhar a uma porção do território nacional circunscrita por singularidades muito marcantes, tanto da terra quanto dos homens que por ali viveram e vivem.
O peso da tradição de se pensar a nação a partir de seus sertões nos coloca um desafio a mais, quando o assunto é o Nordeste seco: ultrapassar o discurso trágico e quase onipresente das secas, sem ignorá-lo. Esta a tarefa que a equipe da Revista Coletiva assumiu ao escolher o tema do presente número.
Nossa entrevistada, Maria de Nazareth B. Wanderley, não é especialista em sertão, mas pensadora consagrada da ruralidade brasileira, defendendo, sobretudo, a possibilidade de desenvolvimento e cidadania no meio rural. Como as caatingas são vistas enquanto bastião de uma ruralidade precarizada e fadada ao desaparecimento, convidamos o leitor a pensar que outro semiárido é possível, com a população do campo perfeitamente integrada ao conjunto da sociedade brasileira.
O artigo de Lourival Holanda, sertanejo do Araripe, dialoga com textos clássicos e da literatura contemporânea para nos mostrar que a cultura regional é, antes de tudo, a prefiguração de um modo de ver a vida. Passando das letras ao cinema, tal modo de ver é investigado pela expressividade das paisagens sertanejas em filmes nacionais recentes, no artigo de Kátia A. Maciel e Mariana Cunha.
Nísia Trindade Lima e Tâmara R. Vieira adentram os sertões pelas mãos de Euclides da Cunha, de viajantes que o sucederam e do sonho de interiorização da capital, lembrando como as representações da nação são marcadas pela compreensão de litoral e sertão enquanto ordens sociais distintas.
O passado longínquo da região não é menos instigante, como nos mostra o arqueólogo André Proença, uma vez que nos interiores do Nordeste observam-se expressivas concentrações de sítios arqueológicos. Passeando ainda mais remotamente “antes do Sertão”, desde eras geológicas pretéritas até as caatingas de agora, as paisagens e o quadro natural são decifrados didaticamente por Antônio Carlos B. Corrêa e Lucas Cavalcanti.
Vânia Fialho discute como modernidade e tradição continuam marcando um espaço diversificado do ponto de vista sociocultural e de intensa dinâmica territorial: grandes empreendimentos têm encontrado na sua contramão povos indígenas e comunidades tradicionais. As novas tendências da economia no Sertão comparecem na análise da história econômica do Nordeste por Tânia Bacelar, que aponta, apesar da dificuldade em substituir o tripé gado-algodão-policulturas, a capacidade empreendedora do sertanejo. Por fim, completa o painel de artigos uma reflexão sobre as implicações da possível mudança climática para a região, na visão de Edneida R. Cavalcanti.
Compondo o painel desta edição especial, trazemos reportagens sobre a biodiversidade da caatinga, convivência com o semiárido, o impacto dos grandes projetos e, ainda, sobre a crescente urbanidade do sertão.
O ensaio fotográfico traz imagens do sertão semiárido positivo e humano no olhar da premiada fotógrafa Teresa Maia, do Diario de Pernambuco."
Editor temático: Caio Maciel Editores: Alexandre Zarias, Allan Monteiro e Pedro Silveira Capa: Teresa Maia Especial: Teresa Maia Entrevista: Maria de Nazareth B. Wanderley Reportagens: Ana Laura Farias, Anna Marques, Júlia Arraes e Lorena Aquino Artigos: André Proença, Antônio Carlos Corrêa e Lucas Cavalcanti, Edneida Cavalcanti, Kátia Maciel e Mariana Cunha, Lourival Holanda, Nísia Trindade e Tâmara Vieira, Tânia Bacelar e Vânia Fialho.
De fato, se a categoria sertão é fundamental para entender o país, o semiárido tornou-se uma de suas mais densas configurações geográficas, abrigando, porém, narrativas e mentalidades as mais díspares. Daí o paradoxo de ser um assunto “batido”, mas sempre em pauta, flertando perigosamente com clichês consagrados, postos à prova pelo dinamismo do presente.
O Sertão Semiárido transcende em muito o universo acadêmico e letrado, embora não seja possível compreendê-lo sem adentrar na produção intelectual suscitada pela questão filosófica das relações sociedade/natureza. Voltamos o olhar a uma porção do território nacional circunscrita por singularidades muito marcantes, tanto da terra quanto dos homens que por ali viveram e vivem.
O peso da tradição de se pensar a nação a partir de seus sertões nos coloca um desafio a mais, quando o assunto é o Nordeste seco: ultrapassar o discurso trágico e quase onipresente das secas, sem ignorá-lo. Esta a tarefa que a equipe da Revista Coletiva assumiu ao escolher o tema do presente número.
Nossa entrevistada, Maria de Nazareth B. Wanderley, não é especialista em sertão, mas pensadora consagrada da ruralidade brasileira, defendendo, sobretudo, a possibilidade de desenvolvimento e cidadania no meio rural. Como as caatingas são vistas enquanto bastião de uma ruralidade precarizada e fadada ao desaparecimento, convidamos o leitor a pensar que outro semiárido é possível, com a população do campo perfeitamente integrada ao conjunto da sociedade brasileira.
O artigo de Lourival Holanda, sertanejo do Araripe, dialoga com textos clássicos e da literatura contemporânea para nos mostrar que a cultura regional é, antes de tudo, a prefiguração de um modo de ver a vida. Passando das letras ao cinema, tal modo de ver é investigado pela expressividade das paisagens sertanejas em filmes nacionais recentes, no artigo de Kátia A. Maciel e Mariana Cunha.
Nísia Trindade Lima e Tâmara R. Vieira adentram os sertões pelas mãos de Euclides da Cunha, de viajantes que o sucederam e do sonho de interiorização da capital, lembrando como as representações da nação são marcadas pela compreensão de litoral e sertão enquanto ordens sociais distintas.
O passado longínquo da região não é menos instigante, como nos mostra o arqueólogo André Proença, uma vez que nos interiores do Nordeste observam-se expressivas concentrações de sítios arqueológicos. Passeando ainda mais remotamente “antes do Sertão”, desde eras geológicas pretéritas até as caatingas de agora, as paisagens e o quadro natural são decifrados didaticamente por Antônio Carlos B. Corrêa e Lucas Cavalcanti.
Vânia Fialho discute como modernidade e tradição continuam marcando um espaço diversificado do ponto de vista sociocultural e de intensa dinâmica territorial: grandes empreendimentos têm encontrado na sua contramão povos indígenas e comunidades tradicionais. As novas tendências da economia no Sertão comparecem na análise da história econômica do Nordeste por Tânia Bacelar, que aponta, apesar da dificuldade em substituir o tripé gado-algodão-policulturas, a capacidade empreendedora do sertanejo. Por fim, completa o painel de artigos uma reflexão sobre as implicações da possível mudança climática para a região, na visão de Edneida R. Cavalcanti.
Compondo o painel desta edição especial, trazemos reportagens sobre a biodiversidade da caatinga, convivência com o semiárido, o impacto dos grandes projetos e, ainda, sobre a crescente urbanidade do sertão.
O ensaio fotográfico traz imagens do sertão semiárido positivo e humano no olhar da premiada fotógrafa Teresa Maia, do Diario de Pernambuco."
Editor temático: Caio Maciel Editores: Alexandre Zarias, Allan Monteiro e Pedro Silveira Capa: Teresa Maia Especial: Teresa Maia Entrevista: Maria de Nazareth B. Wanderley Reportagens: Ana Laura Farias, Anna Marques, Júlia Arraes e Lorena Aquino Artigos: André Proença, Antônio Carlos Corrêa e Lucas Cavalcanti, Edneida Cavalcanti, Kátia Maciel e Mariana Cunha, Lourival Holanda, Nísia Trindade e Tâmara Vieira, Tânia Bacelar e Vânia Fialho.
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