segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

TRANSPOSIÇÃO DO SÃO FRANCISCO.

"Transposição: em PE, Dilma ‘visita’ problema criado por Dilma.
Dilma Rousseff voou para Pernambuco nesta quarta (8). Foi vistoriar trechos da obra da transposição do rio São Francisco. Um empreendimento que ela gerenciara como chefe da Casa Civil de Lula e que, no primeiro ano de sua presidência, apresentou graves problemas gerenciais.
09/02/2012
http://josiasdesouza.blogosfera.uol.com.br/2012/02/08/em-pe-dilma-visita-problema-criado-por-dilma/

Sob Lula, a obra fora vendida como prova da competência da ex-gerente. Sob Dilma, tornou-se evidência de incúria administrativa. Por mal dos pecados, a presidente visitou em território pernambucano um problema que a ex-ministra não foi capaz de antever.
Estava acompanhada do ministro Fernando Bezerra (Integração Nacional) e do padrinho político dele, Eduardo Campos, governador de Pernambuco e presidente do PSB federal. Vale a pena ouvir Dilma:
“Estou aqui para concluir com o ministro Fernando Bezerra uma etapa. Nós recompusemos e reconfiguramos. O ministro está aqui. Neste ano de 2011, ele conseguiu fazer toda uma reconfiguração da obra, recontratar porque muitos lotes foram feitos só com o projeto básico.”
Onde se lê “projeto básico”, leia-se planejamento precário. Que levou a licitações mal feitas. Que desaguaram em choradeira das empreiteiras. Que resultou em pedidos de aditivos contratuais. Que resultou na paralisação das obras. Que forçou Brasília a repactuar valores.
Feitos os novos cálculos, o orçamento da obra foi à casa dos R$ 6,8 bilhões. Uma cifra que excede os valores originais em notáveis 36%. A paralisia de 2011 resultou na revisão do cronograma de execução do empreendimento.
Em outubro de 2009, numa das inúmeras visitas que fez à obra, Lula previra: “Uma parte dela ficará pronta até 2010, outra parte ficará pronta até 2012. O dado concreto é que alguém tinha que fazer, e nós estamos fazendo.” Dilma continua “fazendo”. Mas 2012 virou 2014 no novo calendário da obra.
O ex-soberano estava acompanhado da ex-gerente. Nessa época, Dilma ensaiava a candidatura que a levaria posição de sucessora. Agora, precedida pelas pegadas da ex-ministra, a presidente cobra pressa: “Nós negociamos, nós resolvemos os problemas técnicos que havia, e agora nós queremos resultados.”
Presidente, Dilma como que reconhece que o trabalho que coordenou como chefe da Casa Civil teve de passar por um profundo processo de reengenharia para ficar em pé:
“Nós escutamos os pleitos. Aqueles que nós consideramos que eram eram tecnicamente justificados, o ministro aceitou e fez um processo de renegociação – que é quase uma reengenharia. A partir de agora, nós vamos cobrar metas e resultados concretos.”
Ao ser empossado como ministro da Educação, o petê Aloizio Mercadante disse, em discurso, que Dilma é gestora implacável. Ela “espanca” os projetos novos, disse, em discurso. No caso das obras do São Francisco, Dilma lida com os problemas de um projeto que Dilma se absteve de espancar."
Fonte para edição no Rema:
Ruben Siqueira - siqueira.ruben@gmail.com
por João Suassuna — Última modificação 09/02/2012 12:32

ÁGUA.

"Brasil discutirá governança global da água no Fórum Mundial.
Postado em 21/02/2012
http://www.ecodesenvolvimento.org.br/posts/2012/fevereiro/brasil-discutira-governanca-global-da-agua-no

Museu da Água de Lisboa já foi reservatório de água; Brasil quer propor construção de novos reservatórios/Foto: Ivo Gomes
O Brasil pretende estimular a discussão sobre governança global da água, durante o 6º Fórum Mundial da Água, que acontece entre 12 e 17 de março em Marselha, França. Sob o tema “Tempo de Soluções”, o evento reunirá 20 mil pessoas de 140 pouco antes do Dia Mundial da Água, comemorado dia 22.
Apesar do tema, o consenso será um dos desafios a ser enfrentados em Marselha. Isso porque o Fórum reúne diversos setores, como empresas públicas e privadas, governos e sociedade civil, com diferentes interesses, muitas vezes conflitantes.
De acordo com a Agência Nacional de Águas (ANA), proponente do assunto, atualmente a governança global é tratada em 54 diferentes representações das Nações Unidas, mas em nenhuma delas a água é o tema preponderante.
Para o órgão, uma nova governança global no âmbito da ONU daria a água a relevância necessária para enfrentar os
diversos desafios que envolvem a gestão e uso dos recursos hídricos.
Agenda
O governo brasileiro também pretende defender no evento o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), que associa uso à conservação dos recursos naturais. Para tanto, a ANA apresentará modelos como os programas Produtor de Águas, que remunera o pequeno produtor que preserva mananciais, e o Programa Despoluição de Bacias Hidrográficas (Prodes), que paga por tratamento de esgotos.
Outra discussão que o Brasil quer retomar em Marselha é sobre o acesso à água potável e instalações sanitárias como um direito humano, reconhecido pela Assembleia Geral da ONU e pelo Conselho de Direitos Humanos, em Genebra. Na agenda brasileira ainda consta a construção de reservatórios para aumentar as reservas de água doce.
Durante a audiência pública sobre a agenda no Congresso, o presidente da Comissão de Meio Ambiente, senador Rodrigo Rollemberg, afirmou que, dentro de casa, o Brasil tem um enorme desafio. “Não é toda a população que tem acesso à água em quantidade e qualidade. Muitas cidades terão problemas com abastecimento”, ressaltou."
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Tags: Água , Economia e Política , Eventos Sustentáveis
por João Suassuna — Última modificação 23/02/2012 16:01

FONTES ALTERNATIVAS DE ENERGIA.

"Usina solar gera mais de 800 MWh no 1º semestre.

A Solar Tauá é a única do gênero no País ligada ao Sistema Integrado e tem capacidade para suprir 1,5 mil famílias.
22/02/2012
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1107491

A energia média mensal produzida pela usina entre julho e dezembro de 2011 é suficiente para acionar cerca de oito mil televisores, 11 mil fornos micro-ondas ou ainda 12 mil ventiladores.
KIKO SILVA
Em apenas seis meses de operação, a usina Solar Tauá, empreendimento da MPX, empresa de energia do Grupo EBX, já gerou um total de 808,369 MWh em energia ativa - aquela relacionada ao funcionamento de equipamentos elétricos e eletrônicos. Só para se ter uma ideia, a energia média mensal produzida pela usina entre julho e dezembro de 2011 é suficiente para acionar cerca de oito mil televisores, 11 mil fornos micro-ondas ou ainda 12 mil entiladores.
A Solar Tauá é única do gênero no Brasil conectada ao Sistema Interligado Nacional (SIN), e tem capacidade instalada de 1 MW, suficiente para abastecer cerca de 1.500 famílias. A energia produzida atualmente está sendo negociada através da comercializadora da MPX.
Parceria
De acordo com a MPX, os trabalhos para a ampliação da capacidade da usina solar estão em fase de engenharia de projeto.
Com a expansão para 2 MW, que está sendo feita através de uma parceria com a GE, mais 6.900 painéis serão instalados, totalizando 11.580 módulos solares.
O acordo firmado com a GE prevê que a empresa forneça todo o pacote de equipamentos e sistemas de tecnologia fotovoltaica para a ampliação do empreendimento. "Estamos satisfeitos com o desempenho da usina. Acompanhar a operação desse empreendimento, único na América Latina, está sendo uma excelente oportunidade de adquirirmos experiência em energia solar. Queremos avançar com a tecnologia fotovoltaica e continuar expandindo o potencial do Brasil para gerar energia através do sol", afirma o diretor de Implantação e Operação da MPX, Marcus Temke.
Nova expansão
A Solar Tauá possui autorização da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e licença da Superintendência Estadual do Meio Ambiente do Ceará (Semace) para expandir sua capacidade até 5 MW. No entanto, a empresa já enviou projeto para ampliação da usina solar em até 50 MW de capacidade à Aneel. A agência informou que o departamento responsável pela triagem dos pedidos ainda não recebeu o documento enviado pela MPX.
No entanto, a assessoria da agência observou que ele pode ainda estar sendo protocolado para, então, ser enviado para a apreciação da superintendência da agência ou para a reunião do conselho.
Negócios da MPX
A MPX é a empresa de energia do Grupo EBX, de Eike Batista, e possui negócios complementares em geração elétrica, mineração de carvão e exploração e produção de gás natural na América do Sul. A empresa tem um amplo portfólio de empreendimentos de geração térmica, que excede 14 GW de capacidade e a posiciona estrategicamente para se tornar uma geradora privada líder. A MPX possui também ativos de classe mundial de carvão de baixo nível de emissões, na Colômbia, e de gás natural, no Maranhão, que irão abastecer as termelétricas da empresa.
No Ceará, a empresa constrói duas usinas termelétricas, a Energia Pecém (720 MW) - em parceria com EDP - e a UTE Pecém II (365 MW), no Complexo Industrial e Portuário do Pecém. Na área de energia solar, a MPX construiu, em Tauá, a primeira usina solar em escala comercial do Brasil, conectada ao SIN, com capacidade inicial de 1 MW e projeto de expansão até 50 MW.
Última modificação 23/02/2012 10:01

sábado, 25 de fevereiro de 2012

GESTÃO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO EM PERNAMBUCO.

O Comitê Executivo para Criação e Implantação de Unidades de Conservação de Pernambuco, criado pelo Decreto Estadual nº36.627/2011, acaba de lançar a "Estratégia para Criação e Implantação de Conselhos Gestores das Unidades de Conservação (UCs)dePernambuco".
A Equipe Técnica do referido Comitê é constituída pelos seguintes Membros: Ana Cláudia Sacramento SEMAS; Elba Borges CPRH; Giannina Cysneiros SEMAS; Hélvio Polito SEMAS; Jóice Brito CPRH; José Cordeiro SEMAS; Joselma Figueirôa CPRH; Liana Melo CPRH; Lígia Alcântara CPRH; Marilourdes Guedes SEMAS; Nahum Tabatchnik CPRH; Samanta Della Bella CPRH; e Tassiane Novacosque CPRH.
(SEMAS - Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade)
CPRH - Agência Estadual de Meio Ambiente.
A seguir, postamos o preâmbulo da mencionada
ESTRATÉGIA PARA CRIAÇÃO E IMPLANTAÇÃO DOS CONSELHOS GESTORES
O Estado de Pernambuco possui, hoje, 68 Unidades de Conservação (UCs) Estaduais (32 de Proteção Integral e 36 de Uso Sustentável). Entre as Unidades de Proteção Integral estão uma Estação Ecológica (ESEC), 4 Parques Estaduais (PE) e 27 Refúgios da Vida Silvestre (RVS). Já entre as Unidades de Uso Sustentável figuram 18 Áreas de Proteção Ambiental (APAs), 8 Reservas de Floresta Urbana (FURBs) e 10 Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPNNs).
Destas, apenas a ESEC Caetés e a APA de Guadalupe, possuem Plano de Manejo (PM) e Conselho Gestor (CG). A APA de Santa Cruz possui o seu Plano de Manejo, e a APA Aldeia - Beberibe já está com os estudos em andamento para a sua confecção.
Para apoiar administrativa e tecnicamente os processos de criação e de implantação das Unidades de Conservação da Natureza no âmbito estadual, o governo do Estado criou, em junho de 2011, o Comitê Executivo para Implantação das UCs de Pernambuco, por meio do Decreto nº 36.627.
Dentre as ações deste comitê, está prevista, além da criação de Unidades de Conservação no Bioma Caatinga, a criação dos Conselhos Gestores das UCs Estaduais, a elaboração dos seus Planos de Manejo e a implantação de estruturas administrativas.
Diante da urgência na realização dessas ações e vislumbrando a importância dos Conselhos, tanto na elaboração dos planos de manejo, bem como impulsionadores de outras atividades, dentre elas, atividades de implantação dessas Unidades, o Comitê optou por iniciar seus trabalhos na criação dos Conselhos Gestores."

TRANSPOSIÇÃO DO SÃO FRANCISCO.

"Consumidor terá que pagar para ter água do São Francisco.
A água da transposição será paga. E a conta mensal será rateada com quem não vai beber do projeto. Apesar de um estudo apontar que a tarifa pode ficar entre as mais altas do País, o governo avisa: o valor não é final e pode cair. Na quinta reportagem desta série, entenda como a obra, antes esperada para 2012, ainda tem questões cruciais indefinidas: da futura gestão a pequenas usinas, que poderiam virar "elefantes brancos".
Edição do Jornal do Commercio - Recife, 09/02/2012
http://www2.uol.com.br/JC/especial/transposicao/uma_conta_dificil.html
NÃO PENSE QUE A ÁGUA SERÁ DE GRAÇA.
Por Giovanni Sandes
A água que vai correr pelos 713 quilômetros dos canais da transposição do São Francisco não será gratuita. Apesar de ser fundamental para evitar que 12 milhões de pessoas vivam em racionamento e para a economia futura da região, até ver os benefícios o governo precisa fazer uma difícil conta. Muito embora toda a obra fosse esperada, originalmente, para este ano, uma estimativa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) feita a pedido do governo mostra que, em 2015, novo prazo de entrega da transposição, a conta da água do projeto terá um dos preços mais altos do Brasil. O número não é definitivo. A FGV já recebeu a tarefa de atualizar a projeção, de 2005. Mas o governo deixa claro que a tarifa será suportável através de subsídio cruzado. Em Pernambuco, por exemplo, uma área onde a água chega hoje mais barata terá impacto da conta mensal da transposição.
A primeira projeção da FGV mostrava que o preço do metro cúbico da água da transposição custaria R$ 0,13 em 2010 e R$ 0,15 em 2015. Apesar de ser bem mais alto que a média nacional de hoje, R$ 0,02, os governos avisam que a comparação não é tão direta.

Esse valor será repartido entre as companhias estaduais de água, que vão fixar o preço para o consumidor final. O presidente da Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa), Roberto Tavares, diz que a tarifa terá subsídio cruzado, quando uma área de maior rentabilidade banca uma região com o custo menor ou mesmo prejuízo.

O Bispo de Floresta, Dom Adriano Vasino, questiona o futuro equilíbrio financeiro da transposição. Ele lembra do prazo dado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para um dos canais, o Eixo Leste, esperado para 2010 e que ficou para 2014.

Dom Adriano não sabe se confia no novo cronograma. “Isso é muito difícil de poder dizer. Eu estou torcendo para que isso [a entrega no prazo novo] aconteça, mesmo com todas as dúvidas a respeito da viabilidade econômica deste Eixo. Porque eles têm que elevar a água a 360 e tantos metros, com cinco estações de bombeamento”, comenta Dom Adriano.
Apesar da pequena imprecisão das informações, o problema no custo é exatamente o citado pelo bispo, a relação entre a subida de água e o gasto de energia. O Eixo Leste usará seis estações de bombeamento para elevar a água a uma altura total de 300 metros, equivalente a mais do que a soma das duas torres da Moura Dubeux no Cais José Estelita, no Recife. Ou, em uma medida internacional, equivale a 80% da altura do famoso Empire State Building, o prédio americano escalado na ficção pelo gorila gigante King Kong.
Justamente por isso, a engenharia da transposição envolve a construção das estações elevatórias e reservatórios de compensação, para, após atingir altura e volume suficientes, a água correr a maior parte do caminho por ação da gravidade. Com isso, as grandes bombas serão desligadas de três a quatro horas por dia para economizar energia.

Há ainda a manutenção física dos canais e a segurança, que será bem trabalhosa. Será necessário fiscalizar áreas muito afastadas e com difícil acesso, para evitar furto de água e garantir que pessoas e animais não caiam nos canais. Na viagem de 2.600 quilômetros a todos os 13 lotes da transposição com empreiteiras, a reportagem constatou a facilidade com que bois e cabritos hoje circulam pela obra, como no lote 1, próximo a Cabrobó. Um animal morto num dos canais poderia contaminar a água que mais adiante chegaria nas torneiras das casas.
Uma projeção da soma de todos esses custos, operação, manutenção e segurança, foi o que originou aquela conta inicial da FGV, números considerados ultrapassados pelo governo. “Vamos revisar, atualizar e detalhar esses números. Desde que aqueles números foram gerados, há 5, 6 anos, mudou o cenário econômico e político, de aquisição de bens e insumos. Com certeza ele vai variar e até para baixo”, afirma José Luiz de Souza, engenheiro e coordenador substituto do Conselho Gestor do Projeto São Francisco, no Ministério da Integração Nacional.
Secretário de Recursos Hídricos e Energéticos de Pernambuco, Almir Cirilo reforça que mesmo o resultado desse cálculo será o preço da chamada água bruta, antes de entrar nos sistemas estaduais de tratamento e distribuição. Cirilo, doutor em engenharia civil, é também professor da Universidade Federal de Pernambuco. Na disputa pela vaga, apresentou a tese Água e Desenvolvimento: Estudo de Caso do Semiárido Brasileiro.

Almir conversa sobre a parte técnica e ambiental da transposição. Tanto no trabalho acadêmico, quanto na discussão, defende o projeto. “A água mais cara é aquela que o cidadão não tem”, afirma Cirilo.
Mas a ideia de água a qualquer preço não é bem recebida, no Semiárido. A simples ideia de cobrança é vista como um impeditivo da transposição. “Uns dizem que vai beneficiar o povo. Outros que não, que quem quiser ter acesso vai pagar uma conta”, diz a professora Josefa Siqueira, 45 anos.
Ela vive na área rural de Sertânia, às margens da PE-280, uma área que, a princípio, não terá água da transposição. Apesar de o tempo todo querer se mostrar em cima do muro, sem atacar ou defender a obra, o tom crítico surge da forma inversa: ela não se importa com o projeto. Seu marido vende água de poço em carros-pipa e sua casa está sempre abastecida.

“Para quem vai se beneficiar eu acho que tem dificuldade [no futuro da transposição]. Você ter um pedacinho de terra, vender, como muitos venderam, e ainda mais usar a água sendo comprada... É o que os outros dizem, eu não vou ser beneficiada mesmo”, afirma Josefa. Questionada sobre a política em torno da obra, Josefa ri um pouco e, de novo, busca mostrar alguma isenção na discussão, ficando em cima do muro. “Quem não entende bota política no meio. O povo é que faz politicagem”.

SEMIÁRIDO BRASILEIRO.


"Semiárido: um Paraíso possível - Assumindo a fauna como ela é.
Artigo de Rinaldo dos Santos.
O ritmo do Semiárido é próprio e ali os animais expressam toda sua especialização no correr da evolução, garantindo o progresso para quem souber entender tais peculiaridades.
13/12/2011
Revista O BERRO, n. 151 – Dezembro de 2011
Durante 500 anos, vacas, cabras e ovelhas escaparam das secas e da caça. Hoje, resumidas em mais de 40 (quarenta) raças “nativas” (livro “A Cabra & Ovelha no Brasil”, traz a catalogação de todas). Uma análise rigorosa poderá descobrir outras raças “nativas”.
Chama-se “nativa” a raça que foi naturalizada, tendo passado por um processo de redução filogenética, em que apenas sobreviveu devido à influência de genes ancestrais. A cabra “nativizada”, portanto, é aquela que liquidou os genes exóticos, reduzindo seu arsenal existencial aos genes antigos. Seguiu o processo inverso do “melhoramento zootécnico proposto pelos cruzamentos”, em que se adicionam genes exóticos para aumentar o desempenho do animal.
Até hoje as cabras e ovelhas nativas conseguiam escapar, mas as autoridades ainda não consideraram sua existência como fundamental para o futuro. Sequer admitiram o registro de todos os bovinos, caprinos e ovinos rústicos no Polígono das Secas! A França orgulha-se de suas raças nativas, a Espanha também, a Inglaterra também; mas o Brasil rejeita suas “nativas” como se fossem degeneradas!
No Semiárido, a vida animal flutua ao sabor do clima! Por isso, há uma vantagem na precocidade sexual e um prejuízo no que foi estabelecido como “precocidade de carcaça”.
A pecuária de animais adequados é uma ferramenta essencial para gerar renda, empregos e fixação no campo, mas a tendência governamental é considerar esta atividade como justamente o oposto, ou seja, como atividade que prejudica o sertanejo. Ora, o prejuízo da agricultura é muito maior que o da pecuária, por falta de políticas e, se pudessem, todos os microproprietários gostariam de manter um rebanho, como é evidente na história milenar da civilização! Nas terras bíblicas “corriam leite e mel” e Jesus repousou numa manjedoura com feno! A Bíblia, portanto, mostra o caminho de uma região semiárida: feno, água estocada, animais, agricultura de curto prazo (que
leva ao mel), etc.
Os animais de caatinga são específicos e a Sudene errou ao tentar povoar o Nordeste com várias raças (de alta produtividade) adquiridas no Sudeste e que iriam sucumbir, aumentando as crendices e prejuízos dos sertanejos.
As cabras e ovelhas nativas estão na região há centenas de anos, mas jamais tiveram um generalizado apoio oficial para sua preservação, regeneração e melhoramento acelerado. As cabras, ovelhas e os bovinos rústicos podem alicerçar um modelo de desenvolvimento adequado para a região semiárida, gerando milhões de empregos. Os confinamentos podem acontecer em qualquer época do ano, com feno e rações próprias, gerando fortunas em carne, leite (derivados), peles e estrume.
Os Mandamentos.
No Semiárido, os Mandamentos Zootécnicos são diferentes dos adotados em regiões onde há chuva garantida. No mundo, duas palavras exprimem esta diversidade: “strong” e “strenght” – ambas significando “força”.
- O que é mais forte: a explosão da pólvora (“strong”), ou a tenacidade da água (“strenght”) – quando ambas produzem o mesmo rombo no solo? Existem, então, as duas forças na natureza, a de efeito imediato (strong) e a de efeito prolongado (strenght). Uma, dá resultado agora e a outra, no futuro, mas o total de força utilizada é o mesmo.
- Uma pedra cai do alto e faz um buraco no chão (“strong”). Se a pedra for levemente pousada no solo, não terá cratera sob ela, mas – se uma certa pressão for aplicada – ela irá abrindo a cratera até chegar à profundidade desejada. Nos dois casos, a potência da força foi a mesma.
- Então: “strong” é força bruta (músculos) e “strenght” é força constante, ou tenacidade.
- Quem é forte na prática dos exercícios de sobrevivência (“strenght”) pode se tornar forte em musculatura (“strong”). O exercício da tenacidade (“strenght”, ou persistência) pode transformar o franzino em forte (“strong”).
- Em Zootencnia, para se tornar “forte” (musculoso), no Semiárido, antes o animal nativo precisa ser “forte” o suficiente para permanecer vovo (tenaz, ou sobrevivente).
- O animal tenaz (“strenght”), no Semiárido, pode se transformar em forte (“strong”) no mesmo local; mas o forte (“strong”) em geral não se transformará em tenaz (“strenght”) e irá sucumbir.
- Ou seja, o animal do Semiárido pode sobreviver na região amena, mas o animal da região amena irá sucumbir na região Semiárida. - Cada força, portanto, tem sua região própria para se expressar! (em Zoologia), confirmando o ditado: “O animal adequado é o que expressa a soma da região mais situação”.
Assim, o Semiárido exige uma cota, ou soma, de genes adequados. Não adianta ser forte devido a genes inadequados – como são os animais cruzados! A Tabela 1 mostra a diferença entre os mandamentos para o Semiárido, no mundo animal: o animal do clima ameno tem “obrigação” de ser gordo e vistoso; enquanto o animal do Semiárido tem “obrigação” de permanecer vivo e produtivo.
Tab. 1 – Mandamentos essenciais da Zootecnia no Semiárido e na região amena

Mandamentos
Clima onde há chuvas garantidas.

Clima Semiárido.

Número Um:
Parir em cada ciclo zoológico/econômico
Permanecer vivo nas secas

Número Dois:
Desmamar a cria em boas formas
Parir em cada ciclo zoológico-econômico, apesar das secas

Número Três
Ser sexualmente precoce, ou atingir a idade de abate com lucrativa musculatura.
Desmamar uma cria rústica em cada ciclo zoológico/econômico.

Número Quatro:
Transmitir essas características, com segurança
Ser sexualmente precoce, ou atingir a idade de abate com lucrativa musculatura

Número Cinco:
Transmitir essas características com segurança
Tab. 2 – Comportamento do animal “strong” colocado na região do animal “strenght” (Semiárido)

Mandamentos

Animal “Strenght” (forte, resistente, tenaz)
Animal “strong” (forte, musculoso)

Número Um

Irá parir, em todo ciclo, pois é sobrevivente natural.
Não irá parir, pois faltam condições

Número Dois

A cria será adequada e também sobreviverá, normalmente.
Não terá leite suficiente para a cria, por falta de condições

Número Três

A carência alimentar somente prejudicará a libido, em caso extremo.
Perderá a libido, facilmente, devido ao calor e falta de alimentos necessários à sua constituição.

Número Quatro
A descendência será normal, pois receberá os mesmos genes.
Haverá notável queda na descendência, pois os genes são inadequados.

Tab. 3 – Ditados sobre a Força “strong” (músculos) e a Força “strenght” (tenacidade).
A carga (strong) precisa ser igual à força do cavalo (strenght). (Talmude)

- Não é preciso muita força (strong) para fazer as coisas, mas requer grande força (strenght) para concluir o que precisa ser feito. (Chow Ching)

- Nosso problema não é a força que temos hoje (strong), mas o quanto podemos utilizar dessa força para garantirmos nosso amanhã (strength). (Dwight D. Eisenhower)

- A vida só exige de você a força que você possui (strenght); se gastá-la de uma vez (strong), poderá ter que fugir
amanhã. (Dag Hammarskjold)

- O homem forte (strong) pode ostentar sua gentileza, mas só os fracos (strength) podem dar tudo de bom que possuem. (Elbert Hubbard)
- O que pensa ser forte faz grandes coisas agora (strong), mas o que apresenta ser fraco pode fazer o mesmo ao longo do tempo (strenght). (J. F. Clarke)

- O forte (strong) faz hoje, mas om convicto (strenght) poderá fazer sempre. (anônimo)

- Os fortes e poderosos que não têm o Senhor sucumbirão (strong), mas os que esperam no Senhor (strenght) renovarão as suas forças, voarão com, asas como águias, correrão e não se cansarão, andarão e não se fatigarão. (Bíblia, Isaías 40:31)

- A força (strong) alinhada com a resistência (strenght) é uma combinação imbatível. (Maya Angelou)

- Eu estava sempre procurando a força visível (strong), mas a confiança (strenght) vem de dentro. (anônimo)

- Fácil é ser forte (strong) no luxo, difícil é ser forte (strenght) nas tragédias. (anônimo)

- Finalmente, fortalecei-vos (srenght) no Senhor, para ter a força do seu
poder (strong). (Bíblia, Efésios, 6:10, New American Standard Bible, 1995)

A criação de animais – Em pecuária, os cruzamentos dão resultados imediatos (“strong”), já a consangüinidade garante resultados para o futuro (“strenght”). Em Zootecnia, selecionar uma característica não é difícil; selecionar duas já é mais complicado e selecionar três é bem difícil. “Strong” e “Strenght” são forças antagônicas e cabe ao selecionador escolher qual força pretende utilizar.
A transladação (ou importação) de genes exóticos pode garantir animais esplendorosos, para vencer exposições, mas tais indivíduos não poderão garantir a descendência em momentos críticos.
O esquema lucrativo para o Semiárido seria o seguinte:
1) Seleção – processo de refinamento de animais adequados, num trabalho quase sacerdotal, para todas as espécies e raças, formando linhagens. Buscam-se a adequação e as características produtivas nos reprodutores. A transmissão de genes (para a descendência) é muito alta.
2) Multiplicação – Os reprodutores na Seleção recebem genes exóticos para exibirem vigor híbrido, produzindo animais de farta musculatura ou alta produtividade leiteira. Também pode ser formado o animal “castiço”, unindo linhagens absolutamente distantes no tempo e no espaço, ou de vocações diferentes (carne x leite, por exemplo).
Os animais resultantes podem ser de dupla aptidão, que é mais comum, melhorando a chance de rendimento na propriedade. Estes novos reprodutores irão trabalhar nos rebanhos finalizadores. A transmissão de genes é regular.
3) Produção – Os reprodutores adquiridos na Multiplicação são acasalados com os rebanhos populares, melhorando a produtividade de carne e leite, mas a transmissão de genes é fraca ou imperceptível, sendo preferível o descarte dos machos!
Feliz é o país que tem regiões secas onde pode salecionar características de tenacidade (“strenght”), pois elas poderão ser utilizadas nas demais regiões. A Ciência denomina como “Seleção zootécnica” a busca do animal imediatista (que vai imediatamente para o gancho, ou para o balde), e como “Seleção zoológica” a busca do animal que irá sobreviver em situações extremas.
Nutrição e saúde animal.
A saúde caminha dentro das veias do animal adequado: a região semiárida exige 30% a mais de glóbulos sanguíneos e uma grande redução no tamanho das células, para facilitar a irrigação da epiderme e o funcionamento normal do organismo. Essa é uma das grandes diferenças entre os animais do mundo tropical e os do Hemisfério Norte. No Semiárido essa constatação é muito mais evidente.
A Natureza é implacável: os animais inadequados morrem! Um criador bem sucedido é aquele que viu morrer centenas de animais inadequados e foi segregando apenas os mais resistentes. Estes foram transformados em patriarcas, matriarcas, ou simplesmente “pais de linhagem”.
Depois de determinadas quais eram suas linhagens rústicas, deu início ao melhoramento zootécnico convencional, ou seja, a busca de mais musculatura, mais precocidade, etc. É assim no mundo inteiro: antes de tudo, os pilares de
qualquer “raça ou ecótipo” precisam ser adequados a uma região ou situação.
O mesmo caminho é percorrido na seleção de plantas adequadas, sempre obedecendo a leis mendelianas.
O animal indicado, portanto, deveria melhorar a renda da propriedade, com leite, carne, pele e estrume. A duras penas, depois de 500 anos, os criadores estão chegando por sua conta e risco aos animais adequados: cabras, ovelhas, gado zebuíno ou nativizado. Os animais ou raças indicados pelo Governo, nas décadas de 1940, 1970/1980 e outras, já foram sepultados pelas secas, absorvidos pelos genes das raças atuais. O sol, incidindo diretamente sobre a pele dos animais, garante um produto de alto valor agregado para os curtumes do mundo inteiro, mas essa vantagem vem sendo negligenciada! Uma pele pode valer $80 na Europa, mas no Sertão nordestino é enterrada como adubo! Um imenso desperdício para a região onde floresceu a “Civilização do Couro”.
O Governo comete equívocos contra a região Semiárida: a vigilância sanitária acaba tendo um caráter apenas punitivo e, por isso, gera anomalias como a corrupção em vários níveis. A intenção governamental visível é a de entregar um produto saudável ao homem urbano, mas não a de ajudar o produtor a ter mais renda em sua propriedade e isto é uma incongruência! Para atender o homem urbano, o Governo nunca relutou em importar produtos de outras regiões ou países, liquidando os produtores brasileiros, em flagrante injustiça e indignidade!
Em parte por isso, a introdução do capim Buffel foi obra de alguns poucos fazendeiros; também do estilosantes, e uma boa coleção de cactáceas.
Os animais são o grande patrimônio e alicerce da economia do Semiárido e assim deveriam ser tratados.
Conclusão
É melancólico notar que não existe qualquer faculdade ou universidade de Tropicologia, nem cadeira acadêmica, nem organismo orientador, nem de Assistência Técnica, com uma Cartilha Tropicalista nas mãos!
Assim, não há qualquer divulgação de uma “Cartilha da Pecuária do Semiárido”. Os produtores de carne e de leite, tanto de bovinos, caprinos e ovinos, são levados a comprar genes exóticos que, na próxima seca, poderão liquidar o próprio rebanho, por serem inadequados! São pouquíssimos os criadores que aprenderam, a duras penas, que a “força” do Semiárido está na pureza genética de animais adequados. O Semiárido,paradoxalmente, segue a cartilha das regiões chuvosas brasileiras e estas seguem a Cartilha de países onde há neve – evidenciando uma doutrina absolutamente equivocada na pecuária brasileira, explicando o baixo desfrute generalizado. (Mesmo com uma cartilha equivocada, o Brasil tem o maior rebanho comercial do planeta e é o maior exportador de carne de gado. Imagine se tivesse a cartilha correta).
O resultado pitoresco é que, para encontrar “raças nativas”, tenazes, é preciso vasculhar as caatingas, pois estes animais geralmente estão pulverizados em pequenas propriedades, anônimos. As médias e grandes propriedades preferem resultados imediatistas, com animais vistosos, fruto de castiçamento ou mesmo cruzamentos disfarçados."
Rinaldo dos Santos (zebus@zebus.com.br) é editor fundador da Revista O BERRO (http://www.revistaberro.com.br)
Saiba (+) sobre o assunto:
Semiárido: um Paraíso possível - Assumindo o chão como ele é, artigo
de Rinaldo Santos
http://www.remaatlantico.org/Members/suassuna/artigos/semiarido-um-paraiso-possivel-assumindo-o-chao-como-ele-e-artigo-de-rinaldo-santos
por João
Suassuna — Última modificação 08/02/2012 18:55

TRANSPOSIÇÃO DO SÃO FRANCISCO.


"EM VISITA A OBRA DA RANSPOSIÇÃO PRESIDENTA SE ESCONDE DE SEU POVO.
Nesta quarta-feira, 08 de fevereiro de 2012 a presidenta Dilma visitou a Obra da Transposição do Rio São Francisco no município de Floresta-PE.
AGROVILA 06, 08 DE FEVEREIRO DE 2012- FLORESTA-PE.
Por Marcelo Manoel - Agente CPT/Floresta
A visita durou pouco tempo e foi somente na maquete do Exército e do canal de aproximação que se inicia no lago de
ITAPARICA. Somente a imprensa teve acesso a fala com a Presidenta.
AS AUTORIDADES presentes foram barradas pela arrogância dos seguranças. Como foi o caso do prefeito de Petrolândia Lourival Simões, o Prefeito de Itacuruba Romero e o Deputado Rodrigo Novaes. A Prefeita de Floresta Rosângela Maniçoba só conseguiu entrar por que foi atrevida e corajosa o suficiente para enfrentar e vencer os seguranças.
O povo se concentrou em frente ao quartel do exército desde as 8:30 da manhã até 12:30 esperando um pronunciamento da presidenta que não aconteceu e saíram revoltados e decepcionados com a falta de consideração
da presidenta já que ela obteve a maioria dos votos no nordeste. e a arrogância de seus seguranças e do Exército um bando de puxa sacos. É lamentável quando vemos um presidente se escondendo do seu povo.
Como sempre o Exército e engenheiros não apresentaram a realidade da obra da transposição, mas apenas informações técnicas e o que eles quiseram. Pois bem perto de onde a presidenta esteve o canal está rachado, não falaram das casas rachadas dos moradores, do mato tomando conta do canal, do problema da travessia de um lado para outro, das indenizações não pagas, das casas que serão demolidas e da questão fundiária do Assentamento Serra Negra.
Não sabemos o conteúdo da fala da presidenta com a mídia, pois somente esta teve o direito de entrar. Mas, ficamos sabendo que Dilma disse que a obra da transposição do Rio São Francisco é essencial e prioritária e que o governo nunca deixou de pagar as empreiteiras.

Mesmo assim, a obra da Transposição do Rio São Francisco continua parada. E o que já foi feito continua se estragando e o nosso dinheiro indo pelo ralo."
Fonte para edição no Rema:
Roberto Malvezzi (Gogó) - robertomalvezzi@oi.com.br

transposi

EM VISITA A OBRA DA RANSPOSIÇÃO PRESIDENTA SE ESCONDE DE SEU POVO.
Nesta quarta-feira, 08 de fevereiro de 2012 a presidenta Dilma visitou a Obra da Transposição do Rio São Francisco no município de Floresta-PE.
AGROVILA 06, 08 DE FEVEREIRO DE 2012- FLORESTA-PE.
Por Marcelo Manoel - Agente CPT/Floresta
A visita durou pouco tempo e foi somente na maquete do Exército e do canal de aproximação que se inicia no lago de ITAPARICA. Somente a imprensa teve acesso a fala com a Presidenta. AS AUTORIDADES presentes foram barradas pela arrogância dos seguranças. Como foi o caso do prefeito de Petrolândia Lourival Simões, o Prefeito de Itacuruba Romero e o Deputado Rodrigo Novaes. A Prefeita de Floresta Rosângela Maniçoba só conseguiu entrar por que foi atrevida e corajosa o suficiente para enfrentar e vencer os seguranças. O povo se concentrou em frente ao quartel do exército desde as 8:30 da manhã até 12:30 esperando um pronunciamento da presidenta que não aconteceu e saíram revoltados e decepcionados com a falta de consideração da presidenta já que ela obteve a maioria dos votos no nordeste. e a arrogância de seus seguranças e do Exército um bando de puxa sacos. É lamentável quando vemos um presidente se escondendo do seu povo.
Como sempre o Exército e engenheiros não apresentaram a realidade da obra da transposição, mas apenas informações técnicas e o que eles quiseram. Pois bem perto de onde a presidenta esteve o canal está rachado, não falaram das casas rachadas dos moradores, do mato tomando conta do canal, do problema da travessia de um lado para outro, das indenizações não pagas, das casas que serão demolidas e da questão fundiária do Assentamento Serra Negra.
Não sabemos o conteúdo da fala da presidenta com a mídia, pois somente esta teve o direito de entrar. Mas, ficamos sabendo que Dilma disse que a obra da transposição do Rio São Francisco é essencial e prioritária e que o governo nunca deixou de pagar as empreiteiras.
Mesmo assim, a obra da Transposição do Rio São Francisco continua parada. E o que já foi feito continua se estragando e o nosso dinheiro indo pelo ralo.
Fonte para edição no Rema:
Roberto Malvezzi (Gogó) - robertomalvezzi@oi.com.br

BRASIL: CAPACIDADE INSTALÃDA DE GERAÇÃO DE ENERGIA.

"Cresce a capacidade instalada de geração.

Termelétricas respondem por 26% da matriz energética do País, abaixo somente das hidrelétricas, que ainda são as principais fontes.
FÁBIO LIMA
São Paulo. A capacidade instalada de geração de energia elétrica no Brasil cresceu 4,2% no ano passado e atingiu 117.134,72 megawatts (MW) de capacidade instalada, provenientes de 2.608 usinas hidrelétricas, termelétricas, eólicas, nucleares, pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) e centrais geradoras hidrelétricas, conforme o relatório de fiscalização da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que apresenta a atualização do Parque Gerador do Brasil até o dia 31 de dezembro de 2011.
As hidrelétricas seguem respondendo pela maior parte da matriz elétrica do País, ou 66,91% da capacidade instalada, seguida pelas termelétricas, com 26,67%, e das PCHs, com 3,3%. Compõem ainda a matriz as usinas nucleares (1,71%), eólicas (1,22%) e centrais geradoras (0,18%).

Segundo o relatório, empreendimentos que somam potência de 4 199,3 MW entraram em operação comercial ao longo de 2011. Deste total, 1.142,8 MW são de hidrelétricas, 432,7 MW provêm de PCHs, 498,3 MW de eólicas e 2.125,5 MW de termelétricas, sendo 1 206,45 MW movidas a combustíveis fósseis e 919,05 MW à biomassa.
Novosprojetos.
Para este ano, está prevista a entrada em operação de projetos que somam 9.999,7 MW de potência. Desse total, 1311,4 MW enfrentam restrições para entrada em operação. A maior parte da nova capacidade que deve entrar em operação é proveniente de usinas termelétricas.

Já as hidrelétricas respondem por 3.036,7 MW, com destaque para o início das operações de Santo Antonio (somando 1 072,4 MW neste ano) e de Jirau (600 MW em 2012)."

USINAS HIDRELÉTRICAS NO BRASIL.

"Peixes do Madeira desaparecem como os cientistas previram.
Depois vem Belo Monte.
Os peixes do rio Madeira estão desaparecendo. E as causas desse desaparecimento são sistêmicas, conseqüência de uma grande intervenção humana no ecossistema do rio, que os cientistas haviam previsto que teria impacto dramático sobre a população de peixes do rio. E é isso que está ocorrendo neste momento, como revelou a “Folha de S.Paulo” em sua edição de 8/1: os peixes do rio Madeira já sumiram na região do lago da hidrelétrica de Santo Antônio; outra hidrelétrica está em construção, chamada Jirau, com danos cumulativos previstos há pelo menos seis anos.
24/02/2012
Publicado em janeiro 20, 2012 por HC
http://www.ecodebate.com.br/2012/01/20/peixes-do-madeira-desaparecem-como-os-cientistas-previram-depois-vem-belo-monte/
Tags: Belo Monte, hidrelétricas, rio Madeira
As decisões que levaram ao desaparecimento da população de peixes do rio Madeira foram tema de discussão longa nos anos anteriores, com envolvimento de inúmeros cientistas especializados em clima, em hidrografia e ictiologia (estudo dos peixes) e o que está acontecendo foi previsto naqueles relatórios, mas o presidente da República e a ministra da Casa Civil mandaram atropelar os estudos e tocar as obras.
E o que acontece agora no Madeira é uma sombra sobre os argumentos do governo em relação à próxima vítima, o rio Xingu e Belo Monte.
Pense o seguinte: de todos os rios deste planeta, em todos os países de todos os continentes, o rio Madeira é o 17º. maior. E os seus peixes estão desaparecendo como mostrou a “Folha de S.Paulo” no domingo, 8/1. A causa dessa destruição foi a decisão do governo brasileiro de construir duas grandes hidrelétricas naquele rio sem levar em consideração de fato os relatórios ambientais que alertavam para o risco de que a obra poderia dizimar a fauna do rio e por conseqüência toda a economia formada naquela região da Amazônia em torno da pesca artesanal.
O rio Madeira é um dos afluentes do rio Amazonas, com uma fauna tão peculiar e rica que é dos únicos rios do mundo de que se pode dizer que tinha uma espécie animal rara completamente exclusiva de suas águas: o boto vermelho do rio Madeira. Sobre essa espécie, ameaçada, ainda não há estudos sobre o que aconteceu nos últimos meses. Mas o jornal revelou em sua reportagem do dia 8 que se inviabilizou a pesca dedicada a uns tantos tipos de peixe (chamados genericamente de “bagres”), que gerava 29 mil toneladas/ano de pescados. São estes peixes que “sumiram” segundo o relato dos pescadores ao jornal. Esta atividade econômica acabou.
O governo federal dirá que não, que a pesca está reduzida temporariamente em algum trecho do rio, tentará levar o caso com a barriga mais para a frente, afastará os jornalistas com desculpas improvisadas enquanto os pescadores se acostumam com a falta de peixes, aceitam esmolas oficiais e arrumam outra ocupação. Mas o fato é que acabou.
A “Folha de S.Paulo” noticiou com destaque médio (manchete de página interna) no dia 8 que os pescadores deslocados pela represa da hidrelétrica de Santo Antônio pedem prorrogação da ajuda que recebem do Estado a guisa de indenização porque os peixes desapareceram e não têm como sobreviver de seu trabalho tradicional, apesar de estar acabando a ajuda de custo prevista no orçamento da obra. Ao lado da reportagem, um texto de uma coluna continha uma declaração de um funcionário da área de sustentabilidade da empresa, chamado Ricardo Márcio Martins Alves, alegando que os pescadores terão que aprender novas técnicas de pesca, pois os peixes que eles pescavam costumavam se concentrar junto a corredeiras do rio e que agora, com a formação do açude para alimentar as turbinas da hidrelétrica, as corredeiras foram cobertas e os peixes se espalharam pelo lago todo. A técnica para achá-los deverá ser outra.
A informação pode ensejar pelo menos estas hipóteses:
1) A que desconfia da versão dos pescadores: eles preferem seguir sem trabalhar, vivendo às custas do Estado e por isso alegam que os peixes sumiram para conseguir mais dinheiro;
2) Uma menos apocalíptica, que desconfia da versão da empresa: os peixes sumiram temporariamente e o orçamento da obra subestimou a necessidade de ajuda de custo a populações da região, agora essa ajuda de custo terá que ser prorrogada por certo período de tempo, o governo terá que providenciar cursos de técnicas alternativas de pesca, aumentando razoavelmente o custo do projeto;
3) Uma hipótese mais apocalíptica, que também desconfia da versão oficial: os peixes foram extintos ou reduzidos radicalmente para sempre, o impacto ambiental da obra foi subestimado pelo governo e agora o orçamento da obra terá que ser substancialmente ampliado para dar conta do custo eterno da extinção da pesca regional e o país terá que se entender com o grande impacto ambiental real causado pela hidrelétrica.
Recentemente foi inaugurado o lago da primeira hidrelétrica do rio Madeira construída a partir da decisão do então presidente Lula e da então ministra Dilma Rousseff de construir na Amazônia o plano produzido nos anos 1970 pelos governos da Ditadura Militar de 1964-1985. Depois de anos de governo em que pouco havia realizado em produção de energia, com medo de um novo apagão como o que assolou a popularidade de seu antecessor, FHC, o governo Lula resolveu desarquivar o projeto militar de construir um complexo de hidrelétricas na planície Amazônica. A primeira, Santo Antônio, está começando a funcionar no rio Madeira; a segunda, Jirau, logo vai produzir seus efeitos. Em breve, conforme a vontade do governo, começa a construção de Belo Monte. Na semana passada, a presidente autorizou a redução de cinco reservas florestais para seu alagamento alimentar três hidrelétricas. Várias outras hidrelétricas de grande porte estão em projeto ou construção na Amazônia, no Tapajós; outras virão no Xingu após Belo Monte, tudo sendo realizado estritamente conforme o plano produzido pelo regime ditatorial, quando não havia oposição; plano que foi congelado por causa da reação das populações da região a partir da redemocratização e agora descongelado e retomado, em um regime democrático peculiar, sem oposição.
É muito difícil saber exatamente o que vai acontecer no Madeira após a inauguração das duas hidrelétricas, mas algumas informações concretas já existem:
1) O funcionário da usina introduziu em toda a discussão uma novidade absoluta: em nenhum estudo de impacto ambiental anterior, do governo ou externo, foi mencionada a necessidade ensino de novas técnicas de pesca por decorrência desse efeito “espalhamento” que ele sugere em sua declaração à Folha. O que sugere a hipótese de que os cientistas todos que se debruçaram sobre o assunto não tenham previsto este aspecto que os fatos concretos revelaram; ou outra, de que o funcionário tenha inventado agora essa versão.
2) Os relatórios de impacto ambiental anteriores à obra previam danos graves para a população de peixes da região, especialmente para as várias espécies de bagres que sustentavam a riqueza da pesca artesanal do rio Madeira que são bem coerentes com o que está acontecendo, sugerindo a hipótese de que apesar de o presidente Lula, pessoalmente, ter desacreditado os cientistas e mandado o governo atropelar a resistência das áreas ambientais, os relatórios estavam certos.
Entre os estudos de impacto ambiental que alertavam para o risco definitivo à população de peixes do rio Madeira, talvez os mais significativos sejam os produzidos pelo cientista Philip Fearnside, cientista do Inpa, americano radicado na Amazônia desde 1978, que participou pessoalmente da revelação (ainda durante a Ditadura) do plano de construção de várias hidrelétricas no Xingu, incluindo a hidrelétrica que agora foi denominada de Belo Monte. Como membro do IPCC (o painel intergovernamental sobre mudanças climáticas da ONU), Fearnside ganhou o prêmio Nobel de 2007. Mas embora seja um cientista trabalhando no Brasil, cujos conhecimentos são produzidos para órgãos brasileiros e revertem para a comunidade científica brasileira, ele não recebeu o reconhecimento ufanista que o Brasil costuma conceder a seus destaques internacionais.
Seus textos (acessíveis no site http://philip.inpa.gov.br/ ) reúnem uma infinidade de dados sobre o meio ambiente e o clima na Amazônia, em estudos seus ou em referências aos estudos de outros cientistas, como é o caso do texto publicado em http://www.mp.ro.gov.br/web/guest/Interesse-Publico/Hidreletrica-Madeira que é um resumo comentado dos estudos feitos, inclusive das ameaças para as espécies pescadas na região. O texto é de 2006. Nada foi feito para evitar os danos. O governo tratou a obra como irreversível e inegociável.
Em resumo, o que Fearnside diz (nesse estudo e em entrevista a este repórter) é que os bagres pescados no Madeira são peixes de fundo de rio, onde há oxigênio. Com a criação de um grande lago, o fundo desse reservatório não tem oxigênio (devido à profundidade) e não há peixe portanto. Além disso, esses peixes nadam rio acima para pôr ovos e a passagem pela barreira da hidrelétrica se torna muito difícil ou impossível (neste momento, inclusive, está fechada a rampa de transposição criada para dar uma possibilidade de os peixes subirem o rio); e as larvas (os filhotes) dos peixes descem o rio à deriva enquanto crescem para se alimentar no Baixo rio Amazonas. Agora, nessa deriva, as larvas terão que atravessar as turbinas da hidrelétrica, um triturador de grandes proporções. Esses três fatores foram apontados como ameaças possivelmente intransponíveis para as espécies de peixe. O desaparecimento apontado pelos pescadores indica que o cientista americano e todos os outros tinham razão.
Os peixes se foram e como eles outras formas de vida do rio, já ameaçado pelo esgoto das todas as cidades ribeirinhas. Tudo vai piorar com a hidrelétrica de Jirau. E o mesmo vai acontecer com Belo Monte, no Xingu, pois o governo atropela os alertas ambientais e depois dá desculpas esfarrapadas para enganar jornalistas, como aconteceu com a Folha."
Matéria do blogue SE O POVO SOUBESSE / Observador Político

sábado, 11 de fevereiro de 2012

ENERGIA NUCLEAR.

"Centrais nucleares são indispensáveis.
Artigo de Adriano Batista Dias.
Hoje a atenção está dirigida à localização de centrais nucleares. Certamente que serão necessárias para o futuro. Até mesmo para que se tenha uma diversidade de fontes de energia que produza uma situação de robustez face às incertezas que o futuro apresenta. E como o futuro tem as incertezas aumentadas pelo Aquecimento Global, pode-se dizer que dotar a oferta de energia elétrica de um razoável componente de origem nuclear é uma medida de Adaptação às Mudanças Climáticas.
06/01/2012
http://www.inovasmtp.blogspot.com/
Digamos que um estudo locacional para a instalação de uma central nuclear leve em conta a disponibilidade de água, o investimento para interligação à rede elétrica existente, o investimento na construção (que varia com a localização), o custo de aquisição do terreno, as perdas pelo transporte da energia até os usuários, etc.

Digamos que este belo estudo locacional indique um local ótimo algumas centenas de quilômetros a montante da foz de um rio, o qual provê a disponibilidade de água para a central nuclear.
Agora adicione-se um ponto. Digamos que um dia, contrariando o desejo de todos, algo saia muito errado nesta central. Alguém pode dizer: impossível. Também assim um dia haviam dito para Three Mile Island. Também assim haviam dito para Chernobyl (há sempre quem diga. Ah!, aquilo era um galpão. Mas não foi por isto que estourou) . Pode-se arguir em relação a Fukushima (Ah!, não temos maremotos. o que até o momento é verdade. Também diziam que seria impossível furacões na América do Sul).

O ponto a adicionar é o que se ensinava nas escolas de engenharia: mesmo que você faça tudo certo, a probabilidade de algo dar errado nunca será exatamente zero. Sempre haverá aquele incomodo resíduo de probabilidade, que se faz tender para zero, mas, desgraçadamente, nunca é exatamente zero. Agora junte-se outro elemento ao raciocínio. Se a probabilidade de um acontecimento não é exatamente zero, um dia ele vai acontecer. O construtor pode não estar na Terra para ver, mas isto é irrelevante para a sociedade. Junte-se outra informação. Se um dia, que se deseja nunca venha a existir, por um acidente vazar água radioativa do reator e chegar ao rio, não poderá haverá o comprometimento dele a jusante da central nuclear, até a sua foz? Então não seria mais racional que fosse a central localizada cerca da foz? De qualquer forma a foz estaria comprometida.
Mas, se estaria poupando problemas causados por radiação na extensão entre a melhor localização que não leva em conta o desastre “impossível” (desastre este que se sabe “relativamente impossível”, não “absolutamente impossível”) e a localização cerca da foz (que, qualquer for a localização da central, acabará comprometida). Quanto custa a mais hoje poupar uma área adicional de ser exposta?
O poupar à exposição não vale o custo adicional?"
Adriano Batista Dias dirige a Coordenadoria de Ciência e Tecnologia (CECT) da Fundação Joaquim Nabuco.
por João Suassuna— Última modificação 03/02/2012 10.

TRANSPOSIÇÃO DO SÃO FRANCISCO.

"O longo caminho para irrigar o interior.
Fazer a transposição produzir todos os seus efeitos sociais e econômicos é bem mais que entregar os dois grandes canais, promessa renovada para 2015. O uso múltiplo da água, o que vai levar saúde, emprego e vida nova para o sertanejo, só poderá ser atingido através de complementos, como adutoras e perímetros irrigados. A previsão é de haver plena operação de tudo em até 20 anos do início das obras – ou seja, até 2027. A série Transposição, Novos Obstáculos, em seu penúltimo dia, mostra um debate crucial que está só começando: a face econômica do projeto.
Edição do Jornal do Commercio - Recife, 10/02/2012
http://www2.uol.com.br/JC/especial/transposicao/agora_e_concluir.html
O longo caminho para irrigar o interior.

Por Giovanni Sandes
Para muito além da política e da conclusão dos dois canais da transposição do Rio São Francisco, a plena operação do projeto será muito mais demorada do que se pensa, ao ouvir discursos em palanques. O cronograma real da obra ficou esquecido entre denúncias, atrasos e novas promessas. Mas permanece em documentos técnicos e segue o prazo médio das grandes transposições pelo mundo. Toda a grande malha de canais, adutoras e perímetros irrigados só deve ficar completa perto de 2030.

Ainda falta muito para completar a transposição. Ela deveria ficar pronta este ano, mas só tem 58% construídos. Ainda faltam 29% do Eixo Leste, canal de 287 quilômetros que sairia em 2010 e ficou para 2014. O Norte, de 426 km, deveria ser entregue este ano e pulou para 2015. Ainda faltam 54%.
Coordenar a obra e seus desdobramentos é fundamental. Em Petrolina, o Projeto Pontal, com mais de 7 mil hectares, consumiu 16 anos, R$ 240 milhões e não irriga nada, por não ter complementos. Na transposição, as obras das grandes ramificações estão começando, mas o Ministério da Integração Nacional só iniciou em dezembro, pela Paraíba, workshops sobre a parte econômica. O evento, focado na transposição, também passou pelo Rio Grande do Norte e pelo Ceará. Em Pernambuco, ainda será agendado.

A implantação de todo o conjunto será longa, como prevê a página 51 do Relatório de Impacto Ambiental da transposição, de 2004: “A partir de dois anos depois do início das obras, com a instalação da primeira parte dos canais e das bombas de água, poderão surgir os primeiros benefícios diretos do projeto. A previsão é que o projeto esteja em plena operação de 15 a 20 anos após o começo das obras.” O problema é que a transposição começou por partes em 2007 e 2008. E os primeiros benefícios previstos só virão daqui a dois anos. Nenhuma bomba de água foi instalada até hoje.

A espera pela plena operação, com entrega de toda a rede de canais, tubulações e projetos agrícolas, não é o que desanima o sertanejo. Os atrasos e a demora da obra principal é que incomodam. O casal Antônio Belarmino e Vera Lúcia Silva, 65 e 54 anos, mora perto do lote 12, que teve a retomada anunciada no mês passado, pelo governo. Antônio e Vera gostam da casa nova, compensação porque a antiga foi derrubada para o canal passar. Mas se queixam da demora. “Meu filho estava no serviço, no Recife. Fiquei aperreando ele para vir para cá, morar com a gente e trabalhar na obra, mas ela não começa. Ele já quer desabar [IR EMBORA]de novo”, diz Severino.

“Tinha muita fé no tempo de Lula. Mas meu pensamento mudou, com tudo parado aí”, diz Raimundo Severino Ramos, 75 anos. Ele é dono de um bar quase sem movimento em São José de Piranhas, na Paraíba. Ali passa o lote 7, parado em 2011, trecho que ainda por cima terá que ser relicitado, uma grande pausa.

Sem cliente, Raimundo passa o dia na velha mesa de sinuca, na conversa ou no baralho. Ele vive da aposentadoria e mantém o bar pela falta do que fazer, pois fatura pouco. E, por mais que pareça contraditório, ele diz reclamar da obra, mas acredita no sonho do São Francisco dar de beber ao Sertão. “Se fizesse mesmo a transposição, ajudaria muita gente.”

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

A CAATINGA. O SERTÃO.

Coletiva Set/ Out/ Nov 2011Número 0618/01/2012
Editorial Imprimir E-mail
"O LUGAR DO SERTÃO
O domínio dos Sertões Secos constitui um lugar de interações frequentes entre arte e ciência no pensamento nacional, dando suporte material e imaginário a recorrentes metáforas espaciais sobre a constituição do Brasil.

De fato, se a categoria sertão é fundamental para entender o país, o semiárido tornou-se uma de suas mais densas configurações geográficas, abrigando, porém, narrativas e mentalidades as mais díspares. Daí o paradoxo de ser um assunto “batido”, mas sempre em pauta, flertando perigosamente com clichês consagrados, postos à prova pelo dinamismo do presente.

O Sertão Semiárido transcende em muito o universo acadêmico e letrado, embora não seja possível compreendê-lo sem adentrar na produção intelectual suscitada pela questão filosófica das relações sociedade/natureza. Voltamos o olhar a uma porção do território nacional circunscrita por singularidades muito marcantes, tanto da terra quanto dos homens que por ali viveram e vivem.

O peso da tradição de se pensar a nação a partir de seus sertões nos coloca um desafio a mais, quando o assunto é o Nordeste seco: ultrapassar o discurso trágico e quase onipresente das secas, sem ignorá-lo. Esta a tarefa que a equipe da Revista Coletiva assumiu ao escolher o tema do presente número.

Nossa entrevistada, Maria de Nazareth B. Wanderley, não é especialista em sertão, mas pensadora consagrada da ruralidade brasileira, defendendo, sobretudo, a possibilidade de desenvolvimento e cidadania no meio rural. Como as caatingas são vistas enquanto bastião de uma ruralidade precarizada e fadada ao desaparecimento, convidamos o leitor a pensar que outro semiárido é possível, com a população do campo perfeitamente integrada ao conjunto da sociedade brasileira.

O artigo de Lourival Holanda, sertanejo do Araripe, dialoga com textos clássicos e da literatura contemporânea para nos mostrar que a cultura regional é, antes de tudo, a prefiguração de um modo de ver a vida. Passando das letras ao cinema, tal modo de ver é investigado pela expressividade das paisagens sertanejas em filmes nacionais recentes, no artigo de Kátia A. Maciel e Mariana Cunha.

Nísia Trindade Lima e Tâmara R. Vieira adentram os sertões pelas mãos de Euclides da Cunha, de viajantes que o sucederam e do sonho de interiorização da capital, lembrando como as representações da nação são marcadas pela compreensão de litoral e sertão enquanto ordens sociais distintas.

O passado longínquo da região não é menos instigante, como nos mostra o arqueólogo André Proença, uma vez que nos interiores do Nordeste observam-se expressivas concentrações de sítios arqueológicos. Passeando ainda mais remotamente “antes do Sertão”, desde eras geológicas pretéritas até as caatingas de agora, as paisagens e o quadro natural são decifrados didaticamente por Antônio Carlos B. Corrêa e Lucas Cavalcanti.

Vânia Fialho discute como modernidade e tradição continuam marcando um espaço diversificado do ponto de vista sociocultural e de intensa dinâmica territorial: grandes empreendimentos têm encontrado na sua contramão povos indígenas e comunidades tradicionais. As novas tendências da economia no Sertão comparecem na análise da história econômica do Nordeste por Tânia Bacelar, que aponta, apesar da dificuldade em substituir o tripé gado-algodão-policulturas, a capacidade empreendedora do sertanejo. Por fim, completa o painel de artigos uma reflexão sobre as implicações da possível mudança climática para a região, na visão de Edneida R. Cavalcanti.

Compondo o painel desta edição especial, trazemos reportagens sobre a biodiversidade da caatinga, convivência com o semiárido, o impacto dos grandes projetos e, ainda, sobre a crescente urbanidade do sertão.

O ensaio fotográfico traz imagens do sertão semiárido positivo e humano no olhar da premiada fotógrafa Teresa Maia, do Diario de Pernambuco."


Editor temático: Caio Maciel Editores: Alexandre Zarias, Allan Monteiro e Pedro Silveira Capa: Teresa Maia Especial: Teresa Maia Entrevista: Maria de Nazareth B. Wanderley Reportagens: Ana Laura Farias, Anna Marques, Júlia Arraes e Lorena Aquino Artigos: André Proença, Antônio Carlos Corrêa e Lucas Cavalcanti, Edneida Cavalcanti, Kátia Maciel e Mariana Cunha, Lourival Holanda, Nísia Trindade e Tâmara Vieira, Tânia Bacelar e Vânia Fialho.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

A CAATINGA. O SERTÃO.

"Indignações sobre a transposição do rio São Francisco.
Um leitor nervoso, indignado, contra a revista O BERRO e outro, também indignado, contra a obra faraônica que vem rasgando a Caatinga sem se autoexplicar.
Revista O BERRO n. 151, Dezembro de 2011
Diretor Executivo da revista: Rinaldo dos Santos
http://www.revistaberro.com.br/
Indignação 1: Águas para 12 milhões.
O Engenheiro Agrônomo, Renato Menezes, enviou carta, criticando. Diz ele: “A revista O BERRO tem público seleto e de classe média alta, inclusive empresários orgulhosos por serem NORDESTINOS. Por isso meu repúdio por este texto segregativo e preconceituoso publicado por tal revista que presta excelente trabalho ao desenvolvimento da caprino-ovinocultura, tão essencial ao povo Nordestino e Brasileiro.
Não sei quem escreveu o editorial da Revista O BERRO 141, porém venho informar a infelicidade deste redator que parece desconhecer o projeto da transposição do rio São Francisco, que vai levar água para 12.000.000 de sertanejos. O redator proclama esta obra como uma tragédia anunciada. Ora, devo informar que o volume de água que será utilizado para transposição é de 1% da água do rio que vai para o mar, ou seja, se não for usada irá de todo jeito para o mar como irão os 99% da vazão da barragem de Sobradinho. A fala que pode-se optar por energia ou água é uma falácia antes de tudo preconceituosa e ignorante. Lamento que uma revista de âmbito nacional tenha como redator alguém que não se dá ao trabalho de LER.
Sugiro a tal redator acessar a página do Ministério da Integração Nacional e tomar conhecimento do projeto. Acredito que dessa forma irá alimentar seu cérebro de informações a respeito da Transposição do Rio São Francisco.
Tenho construtora e faço obras no trecho Custódia-Monteiro. Tenho tanto conhecimento do projeto que executo parte dele. Inclusive vou encaminhar esta correspondência que lhe passei para o Ministério da Integração Nacional. Exijo que vocês se retratem na próxima edição.
Engenheiro Agrônomo Renato Menezes (Fone: 81 9156-7156) – centroverde@bol.com.br
Indignação 2: As perguntas de Seu Chico
Texto de Renata Albuquerque
Em abril de 2011, as equipes do CPT de Pernambuco realizaram um encontro sobre os impactos dos “grandes projetos” nas comunidades camponesas. Na ocasião foi visitado o lote 12 da Transposição das águas do Rio São Francisco, em Sertânia (PE).
Quase todos os dias, Seu Francisco, conhecido como Chico, trabalhador rural de 65 anos, faz o mesmo percurso com uma carroça puxada por um jegue, levando tambores que ele enche de água barrenta recolhida de um lamaçal e leva para a sua família e animais.
Bem próximo ao lamaçal, seu Chico avista a cisterna onde retirava água potável para o consumo de sua família. A cisterna foi abandonada e sua casa destruída! Entre a antiga cisterna e o lamaçal, o que se vê é o chão rasgado pelas obras da transposição do Rio São Francisco.
Para sair do local onde viveu desde menino, Seu Chico recebeu uma indenização do Governo Federal no valor de R% 5.000 (cinco mil reais). “Foi um hectare de terra, uma casa e uma cisterna”, comenta o trabalhador sobre o que foi obrigado a trocar pela indenização. Com o dinheiro, mal deu para construir a sua atual casa. Foi um adeus à vida antiga e os bons sonhos de vida nova.
Distribuição futura das águas da Transposição
70% Urbano – Industrial
26% Agronegócio
4% Consumo Humano
OBS.: A proposta de distribuição das águas do rio São Francisco, através da Transposição, seguirá o mesmo padrão e estatística internacional
Alí as obras da transposição encontram-se totalmente abandonadas há mais de quatro meses. O trecho é o lote 12, que vai do município de Sertânia (PE) a Monteiro (PB), totalizando 25 km. Seu Chico não tem informações sobre o futuro da transposição, mas tem certeza de que a água, se um dia passar por ali, não será destinada para o consumo de sua família. “Eles prometeram que ia ter água aqui. Ave Maria, a conversa é bonita, mas eu sei que o negócio deles é tirar o cabra daqui, como me tiraram. E eu sei que vão fechar o canal e vão botar uma cerca”!
Pitorescamente, Seu Chico já teve casa, cisterna com água própria, mas agora é catador de água enlameada, bem ao lado das obras paralisadas da famosa Transposição.
Obras paralisadas – Ao longo do lote 12, encontram-se apenas 11 trabalhadores: os vigias da obra. Todos os outros, ao todo 350, foram demitidos pelas empresas do consórcio responsável pelo lote: a Queiroz Galvão, OAS, Barbosa e Melo e Coesa. De acordo com um ex-funcionário da obra, que preferiu não ser identificado,os trabalhadores foram demitidos e as obras estão paralisadas desde o dia 21 de dezembro de 2010. Este foi marcado pelo acidente com a explosão de dinamites no lote, que tirou a vida de três trabalhadores e deixou vários feridos. O trabalhador comenta ainda que não há previsão de quando as obras serão retomadas. “Todo mês eles dizem que vai voltar no dia 1°, só que todo mês tem dia 1°, e essa conversa vem desde janeiro. Eles não passam nenhuma informação”. Os recursos destinados para a construção do lote 12 somam mais de 270 milhões de reais, mas para dar continuidade à obra será preciso um investimento muito maior. “Vários trechos da obra que ainda nem foram concluídos já precisam de reparo”, comenta o ex-funcionário,indignado com a situação de desperdício de dinheiro público para uma obra que, ele sabe, não levará água para o povo do Nordeste (texto divulgado em 13/05/2011)."

A CAATINGA. O SERTÃO.

"Semiárido: um Paraíso possível - Assumindo o céu como ele é.
Artigo de Rinaldo dos Santos
Antes de tudo é preciso olhar o pedaço de céu acima da cabeça, pois dali vem a sentença de sucesso ou de derrota, principalmente em região de clima caprichoso como o Semiárido.
13/12/2011
Revista O BERRO, n. 151 - Dezembro de 2011
O Semiárido brasileiro não é igual aos demais semiáridos do planeta, pois no Sertão nordestino o clima é irregular. Esta é a grande diferença que provoca tragédias. As políticas públicas deveriam levar esta particularidade em consideração, mas nunca levaram! Depois de 500 anos, há algumas certezas que já poderiam ter sido assimiladas pelas políticas públicas:
a) Primeira – vai haver seca – sempre! É um processo cíclico.
b) Segunda – política pública baseada em água sempre conduz ao erro!
c) Terceira – qualquer “redenção” só poderá das certo se for voltada para a convivência com as secas.
d) Quarta – para ter retorno do investimento público, é preciso investir maciçamente em Educação localizada. É necessário haver um estudo básico das matérias fundamentais, mas também é preciso incorporar uma “educação específica”, pois o país tem enorme vantagem de apresentar várias realidades, cada uma exigindo um programa diferenciado de evolução. Ou seja, cada região merece um adequado programa de educação e, para tanto, é necessário ouvir a voz da própria região.
e) Quinta – as pessoas somente permanecerão no campo se houver “dignidade e justiça”, ou seja, se lhe for possível uma vida de qualidade e isso significa prestigiar seu esforço, simbolizado por sua produção.
Como está
O clima inconstante e desregrado prejudica as políticas de agricultura, pecuária, irrigação, etc. Diz um ditado popular que “em cada 10 anos, 1 é ótimo, 2 são normais, 3 são regulares, 4 são ruins – na agricultura”. Por isso, 63% da pobreza rural do Brasil está no Nordeste, somando 9% do total de brasileiros, mas recebendo menos de 1% da renda familiar nacional.
Mais de 70% das propriedades têm menos de 10 hectares e cerca de 25% têm entre 10 a 100 hectares – sem condições adequadas para enfrentar estiagens ou secas medianas. A cada 10 anos ocorre uma seca “grave” e, então, todas essas micropropriedades sucumbem! No sertão, o tamanho da propriedade, ao deus-dará, é fundamental. A redução do tamanho de propriedades exige políticas públicas adequadas, que sempre surgem nos momentos de crise e logo são abandonadas!
Assim, as políticas as políticas públicas continuam insistindo em estimular micropropriedades e sua agricultura de subsistência, que não conseguem arcar com um compromisso de abastecimento da sociedade! Ao invés de favorecer os que tentam produzir alguma coisa para a sociedade, gerando milhões de empregos, os governos confessam seu fracasso, preferindo distribuir dinheiro a pessoas que pouco ou nada produzem. O Nordeste viabiliza a sobrevivência
às custas de “esmolas” federais para as pessoas e, sem dúvida, sem tais “esmolas” a situação seria muito pior!
O Governo, longe do campo, tenta iludir o povo quando afirma que a maior parte dos alimentos vem da propriedade familiar, pois um latifúndio também pode ser propriedade familiar. Afinal, o Brasil apresenta apenas 15,6% das pessoas no campo (29,8 milhões de pessoas) e, logo mais, terá apenas 5% e, então, a concentração de terras é inevitável. Essa concentração tem levado ao aumento da produtividade, por meio de tecnologia que dificilmente está disponível para as micropropriedades!
Co certeza, conquistar dignidade e justiça é mais fácil para uma família com mais terra do que para uma família com pouca terra! Para a sociedade brasileira, em geral (cada vez mais urbana), o que importa não é a questão da posse da terra, mas sim o acesso aos frutos da mesma terra.
Como poderia ser.
O melhor caminho seria prestigiar os que tentam produzir, no campo, e estimá-los a abrir empregos bem remunerados para os demais que ali tentam sobreviver. Isso seriam justiça e dignidade para o proprietário que ama a terra e responde por ela!
Qualquer programa de Reforma Agrária, portanto, deveria ter o objetivo primordial de dar ao produtor (e sua família) a quantidade de terras que ele pode colocar em produção, de fato.
Basicamente, antes de uma “reforma” agrária, então, seria preciso ter uma “adequada política agrária”. Afinal, não se pode “reformar” o que nunca foi “formado”.
Praticamente entre 2 a 3 milhões de micropropriedades multiplicariam sua produção, no país, se tivessem um naco a mais de terra. Investir nesses produtores seria muito mais rentável do que a mera distribuição de uma gleba quase insignificante a quem não tem experiência, nem amor à lida rural.
Para conviver com a insegurança climática seria importante incrementar as políticas de crédito e securitização da produção, além de iniciativas firmes para o escoamento de produtos rurais.
O que importa é garantir alimentos à mesa, produzidos na própria terra e, nessa visão, o quadro de diagnóstico é claro: as cabras e ovelhas poderiam fazer milagres pelo Sertão nordestino. Já fazem, para quem consegue enxergar!
Rinaldo dos Santos (zebus@zebus.com.br) é editor fundador da Revista O BERRO.
(HTTP://www.revistaberro.com.br)
Artigos sobre o assunto:
SEMIÁRIDO: um Paraíso possível, artigo de Rinaldo dos Santos
http://www.remaatlantico.org/Members/suassuna/artigos/semiarido-um-paraiso-possivel-artigo-de-rinaldo-dos-santos/view
por João Suassuna — Última modificação 06/02/2012 12:21

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A CAATINGA. O SERTÃO.

ORIGEM: Coletiva
Set/ Out/ Nov 2011
Número 06
18/01/2012
"Esse tal de Sertão urbano.

Globalização é elemento fundamental para o desenvolvimento das mudanças na região e sua integração com outras áreas dos estados nordestinos.
Por Ana Laura Farias.
O Sertão nordestino está cada vez mais urbano. Nos hábitos de lazer, no uso da tecnologia e em outros aspectos, como a interligação mais forte da economia com as regiões metropolitanas e o exterior. A urbanidade destes locais vai além dos hábitos internos e se estende nas relações sociais com as pessoas que estão fora das cidades.

O sociólogo e pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) Maurício Antunes acredita que muitas pessoas erram ao procurar no Sertão o mesmo modelo de metrópole das regiões metropolitanas dos estados nordestinos.
Segundo Maurício, não se pode usar os "mesmos critérios" para regiões tão diferenciadas. "Nem tudo que é urbano está nas capitais, isso é um equívoco enorme. As pessoas procuram por elementos urbanos semelhantes aos das metrópoles. São áreas diferentes, é natural que se apresentem de forma diferente", comenta.

O pesquisador destaca a globalização como um elemento fundamental para a integração do sertão com as outras áreas dos estados nordestinos. O uso da tecnologia, segundo Maurício, em especial da internet e redes sociais, serve para conectar os moradores com os familiares e amigos que saíram da cidade. "A internet é uma forma prática e econômica de as pessoas se comunicarem com quem já deixou o local", comenta.

Outro aspecto importante para desenvolvimento do Sertão é o fortalecimento da economia da região. "O Sertão sempre se caracterizou como um importante polo fornecedor de matéria-prima. “A diferença, em relação à década de 1990, por exemplo, é que, atualmente, boa parte da cadeia produtiva é feita no próprio local, por conta do desenvolvimento do parque tecnológico", comenta.
A professora da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) Assunção de Paulo defende a interiorização das universidades públicas como fator de desenvolvimento do Sertão nordestino. Docente da Unidade Acadêmica de Serra Talhada (UAST), Assunção rechaça o conceito de “urbanização” comumente utilizado. “O que se fala nesse conceito de urbano é, principalmente, no acesso aos serviços básicos, como educação e saneamento. Então, de certa forma, quando se diz que as cidades estão se urbanizando por conquistar esse direito, o mesmo é negado ao meio rural”.
A professora realizou pesquisas na cidade de Orobó, interior de Pernambuco, onde analisava a juventude rural e urbana do município. Lá, Assunção percebeu que os limites entre “rural” e “urbano” estão inseridas no campo das relações sociais, por meio dos significados adquiridos por cada um desses elementos. “Não há, nas cidades menores, uma delimitação clara entre área urbana e rural. Um jovem pode, por exemplo, morar em um sítio e estudar ou trabalhar no centro da cidade. O rural e o urbano convivem na vida dessas pessoas”, esclarece.

Assunção diferencia o desenvolvimento nos municípios pequenos no interior dos estados de cidades-polo como Caruaru, Serra Talhada e Petrolina. Mas ressalva que o processo de urbanização, até mesmo nessas cidades, ainda está em andamento. “Até mesmo nas cidades maiores do estado, a urbanização ainda está em processo. Não se pode falar ainda em urbanização completa, de forma alguma”.
Já o professor da UFRPE José Nunes prefere usar a “artificialização” do espaço como um dos critérios de urbanização. “Algo comum e visível na mudança dessas cidades é o processo de verticalização, por exemplo. Mas é bom perceber que nem todo desenvolvimento tem que ser urbano. Um local pode ter características rurais e ser desenvolvido, por exemplo”.

Para Nunes, a dicotomia entre o urbano e o rural é um dos principais motivos de ‘’atraso’’ no desenvolvimento das comunidades rurais. “As pessoas naturalizam o acesso a serviços básicos como exclusivos do meio urbano”, critica. Nunes realizou suas pesquisas no Sertão do Rio Grande do Norte, nas cidades de Açu, Mossoró e Apodi.

Para compreender a realidade dos jovens sertanejos que vivem na parte urbana da cidade de Ibimirim, Sertão pernambucano, a Associação Umburanas do Vale do Moxotó (Assuvam) montou um projeto, em parceria com a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), para que os jovens pudessem mostrar, por meio da fotografia, como os jovens deste “sertão urbano” se relacionavam com a cidade.
Foram selecionados cerca de 15 adolescentes para tirar as fotos referentes à percepção que tinham do município. Entre eles, a estudante Kaliane Alves, 21 anos. Ela conta que participar do projeto a fez “enxergar” coisas que antes não via no seu local de moradia. “Fazer essas fotografias fez com que a gente despertasse para paisagens que nunca tínhamos visto, para lugares que nunca tínhamos notado”, comenta a jovem, que atualmente cursa Pedagogia em uma universidade de ensino à distância.
Satisfeita com o lugar onde vive, Kaliane reclama apenas de dois itens: do mercado de trabalho e das relações sociais que vêm se alterando, se tornando mais distantes, de acordo com a jovem. “Aqui [Ibimirim] isso ainda é algo muito leve, mas já dá para notar. As pessoas vão ficando mais individualistas, cada uma fechada em seu próprio mundo, se assemelhando ao comportamento de gente das cidades maiores. Por enquanto, não acho que tenha chegado a nenhum nível grave, mas a tendência é piorar com o tempo, eu acho”, resume. Ibimirim tem população de aproximadamente 43 mil habitantes e está localizada a 339 km do Recife.

Cidades Médias.
No Sertão nordestino, passam a emergir as chamadas “cidades médias”, denominação utilizada para municípios com mais de 200 mil habitantes. Além de agregar população, facilitando a fixação das pessoas na região e diminuindo a migração para as capitais ou Centro-Sul do país, as cidades médias dinamizam a economia e transformam o Sertão em importantes pólos econômicos.
“Essas cidades possuem, muitas vezes, relativa independência em relação às capitais e ao litoral desses Estados. Com o passar do tempo, deixaram de ser apenas fornecedoras de mão de obra e sua população, em maior parte urbana, passa a ter mais poder no Nordeste” explica o demógrafo e pesquisador da Fundaj Wilson Fusco.
É o caso do Juazeiro do Norte, no Ceará, tidas como uma das principais cidades do Sertão do Cariri. A cidade possui população de 249 mil habitantes, dos quais 240 mil vivem na área urbana do município. Na Bahia, destaca-se Juazeiro, na divisa com Pernambuco, com Produto Interno Bruto (PIB) de, aproximadamente, R$ 840 mil.

Nem todos os estados possuem cidades médias localizadas no Sertão. Nos outros seis estados do Nordeste, este tipo de município está localizado, em sua maioria, nas Regiões Metropolitanas. Wilson Fusco credita a maior importância do Sertão dos estados da Bahia, Pernambuco e Ceará à dinâmica interna dos estados. “É natural que, em locais de maior “peso” na região, os centros econômicos e populacionais sejam mais dispersos, que haja maior descentralização. É por isso que Pernambuco, Bahia e Ceará têm cidades no Sertão com maior impacto na dinâmica da população e da economia”, explica. "

A CAATINGA. O SERTÃO.

"Transformações e tensões no Sertão dos grandes projetos.

Obras de modernização prometem mudar a economia da região.

Por Lorena Aquino
O Sertão do século XXI está na mira dos grandes investimentos. Se a antiga ideia de solidão e horizontes distantes já não mais habita a imaginação de todos, uma série de obras de infraestrutura estão em curso no sentido de estimular a produção e escoamento de commodities. São projetos de redistribuição de água, qual a Transposição do Rio São Francisco, ou de escoamento de produção, como a Ferrovia Transnordestina, que acompanham a criação de novos enclaves de agricultura irrigada. A construção de usinas termelétricas e nucleares também fazem parte das obras previstas ou sonhadas. São altos investimentos com consequências importantes e que provocam muitas controvérsias.

Nas décadas de 70 e 80 do século passado, o governo criou políticas para modernizar o Nordeste. O potencial hídrico do São Francisco foi percebido como lucrativo para a indústria energética e como recurso para um desenvolvimento industrial, urbano e baseado na agricultura de escala. O contexto era ditatorial. Segundo o geógrafo e pesquisador da UFPE Cláudio Ubiratan Gonçalves, as mudanças e decisões tomadas pelo governo para modernizar a região não eram consoantes aos desejos da população, muito menos apresentavam justificativas convincentes. Naquela época, o Estado subsidiou empresas que, para fugir das dívidas, vieram ao Nordeste para fundar suas filiais. E foi nesse âmbito que nasceram as hidrelétricas de Sobradinho, Moxotó e Três Marias, por exemplo, através de um desenvolvimento induzido da região.
A idéia de 30 anos atrás não é muito diferente da de hoje. Apesar das diversas iniciativas de convivência com o semiárido, ainda há a ideia de que a paisagem do sertão precisa se transformar como forma de abandonar o atraso. Ainda segundo Ubiratan, toda e qualquer obra que almeje um grande impacto na região trará mudanças no modo de vida, culturais e sociais. O que tanto se combate é que uma mudança não independe da outra. Deixar o sertão moderno por meio de grandes projetos de infraestrutura implica a ausência de diálogo e imposição de mentalidades. Não só a construção de hidrelétricas no século XX mas também os projetos deste início de milênio procuram uma modernização no Sertão nordestino partindo de uma ideia bastante conservadora.
Transnordestina.
As principais portas de saída dos grãos e minérios produzidos no Nordeste são os portos de Suape, em Pernambuco, e Pecém, no Ceará. Para escoar a produção de estados como Tocantins, Bahia e Piauí, que não possuem portos próprios, a Ferrovia Transnordestina está em andamento, tendo em vista a importância do crescimento comercial no país e o incentivo ao início do ciclo de desenvolvimento da região Nordeste. Ela é de responsabilidade dos Ministérios da Integração Nacional, dos Transportes e do Planejamento. Segundo a Assessoria de Imprensa do Ministério dos Transportes, “o objetivo é elevar a competitividade da produção agrícola e mineral da região com uma moderna logística, que une uma ferrovia de alto desempenho a portos de calado profundo que podem receber navios de grande porte”.

O projeto pretende construir 1728 km de novas ferrovias e estradas adjacentes para ligar os dois portos ao Piauí. O ponto de encontro dos três eixos da malha ferroviária será na cidade de Salgueiro, em Pernambuco. Em Eliseu Martins, ponto final da Transnordestina no Piauí, ela vai ligar-se à outra ferrovia, a Norte-Sul, que vai até o Maranhão. Em Suape e Pecém, serão construídos novos terminais portuários para que eles possam receber navios de grande porte, além de silos para armazenamento de grãos.
Economicamente falando, a Transnordestina pretende diminuir o custo logístico das exportações e importações e reorganizar o espaço da produção agrícola. Uma vez que os pólos produtores poderão levar seus grãos ao mercado internacional com um custo mais baixo, o investimento na própria produção pode se intensificar. O sertão pode receber uma injeção de novos investimentos na produção, o que pode gerar empregos e modernizar a região, antes encarada como inóspita e desconexa.

Transposição do São Francisco.
Outro grande projeto em curso é a Integração das Águas do Rio São Francisco ou, como é mais conhecida, a Transposição. Transpor as águas de um rio significa levar parte de sua vazão para outro local fora de seu curso, através de canais de irrigação, barragens, aquedutos e túneis. No caso do São Francisco, serão 700 quilômetros de extensão, dispostos em dois Eixos de Transposição. O Eixo Norte, que terá início no município de Cabrobó, em Pernambuco, vai levar água a uma extensão de 426 km até as bacias dos Rios Salgado e Jaguaribe, no Ceará, Apodi, no Rio Grande do Norte e Piranhas-Açu, entre a Paraíba e o Rio Grande do Norte.
Parte da água deste eixo será levada, ainda, por 110 quilômetros até os açudes pernambucanos de Entre Montes e Chapéu. O Eixo Leste, que se iniciará na represa de Itaparica, também em Pernambuco, se estenderá por 220 quilômetros até o Rio Paraíba. O Eixo Leste ainda pretende destinar parte de sua água para a bacia do Rio Ipojuca, no agreste pernambucano, por um ramal de 70 quilômetros.

Entre os benefícios que o Ministério da Integração pretende com a Transposição estão o aumento da oferta hídrica, mais justa distribuição de água e a perenização de alguns rios que serão abastecidos com água do Velho Chico através de canais e leitos. No entanto, há quem defenda que a transposição do São Francisco não beneficiará quem realmente precisa. Esse é um dos problemas relacionados às obras, que alarmam os especialistas. As águas transpostas do Rio São Francisco terão de vencer um relevo de 160 metros no Eixo Norte e 300 metros do Eixo Leste. Essa diferença de altitude vai exigir bombeamento de água, deixando-a mais cara. Mesmo que depois o relevo volte à altura do mar e essa água possa ser aproveitada na geração de energia, não será o suficiente para compensar os gastos da subida. Atualmente, a água às margens do São Francisco custa de dois a três centavos de real. Especialistas estimam que esse preço suba em até seis vezes.

“Alguns colonos não conseguem pagar nem custando dois centavos. Quem vai pagar doze?” questiona João Suassuna, engenheiro agrônomo e pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj). Crítico ferrenho da Transposição, defende que a água do São Francisco vai servir para atender as empresas de grande capital e beneficiará o agronegócio em vez da agricultura familiar. “A população que hoje é atendida por caminhões-pipa vai continuar sendo atendida por caminhões-pipa. Não vai chegar uma gota da transposição”. O coordenador nacional da Comissão Pastoral da Terra Roberto Malvezzi acrescenta: “Disseram que iam colocar água pra 12 milhões e não fizeram. Derrubando as cisternas, criaram as expectativas poderosas nas famílias”. Malvezzi se refere às cisternas de captação de água da chuva provenientes de outro programa governamental, o “Um milhão de cisternas”, considerado barato, simples e bem-sucedido. Ubiratan ainda completa: “A transposição vai passar por regiões onde já existe o agronegócio. Talvez se justificasse se passasse por outros locais”.

Enquanto as obras acontecem, políticos e gestores públicos locais veem com bons olhos os novos investimentos. Os movimentos sociais que buscam há décadas promover experiências endógenas de convivência equilibrada com o semiárido argumentam que as tais soluções, pautadas em desenvolver o Sertão com base nas características locais e no modo de vida de seus moradores, não tem sido levadas em conta no estabelecimento das obras de infraestrutura. A população sertaneja, por sua vez, parece estar dividida entre a fé e a desilusão quanto às novas promessas de progresso para o semiárido.

A Transposição, como a Transnordestina, faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e está orçada em 6,9 bilhões de reais. A intenção é tentar proporcionar um crescimento equilibrado do Nordeste com a nova malha ferroviária e canais de irrigação. As obras da ferrovia tiveram início em junho de 2006 e a conclusão completa da obra está prevista para dezembro de 2014. Já a Transposição possui metas por eixo; elas variam entre setembro de 2014 e dezembro de 2015.
A terra é mesmo minha?
A questão da realocação das famílias atingidas pelas obras deixa a desejar. As indenizações muitas vezes são irrisórias e as famílias se sentem impotentes para reivindicar seus direitos. A Comissão Pastoral da Terra possui projetos de acompanhamento das desaproprações. “Vamos junto às comunidades, vemos o cotidiano das famílias e das obras. A gente percebe que à medida que o tempo passa, cresce o descrédito da população porque se criou uma expectativa e a água não chega”, diz Roberto Malvezzi. Obras como a Transposição e a Transnordestina fazem questionar ainda o modelo de criação de empregos que tais obras implicam - geração de empregos precários e temporários na construção civil, que posteriormente se extinguirão.

O Movimento São Francisco Vivo e reportagens na imprensa regional têm denunciado efeitos socialmente negativos para as comunidades locais, do estabelecimento repentino e provisório de milhares de operários jovens do sexo masculino no canteiros de obras em áreas interioranas. Além disso, denunciam prejuízos a populações indígenas e quilombolas que vivem em territórios que serão afetados pelas obras. Em um Relatório de Denúncia produzido pelo Movimento, o cacique do Povo Truká, Neguinho Truká, afirma que é prática do governo tentar convencer os índios de que aquele território não é deles. Pajé Suíra, do Povo Xocó, diz que o Governo sequer esteve lá para consultar a população que será atingida.

Que as referidas obras, de uma forma ou de outra, aquecerão a economia regional e do país, não parece haver dúvidas. O que as organizações e intelectuais contrários a estas iniciativas questionam é o modelo de desenvolvimento que essas obras pressupõem. Estudiosos se perguntam se as ameaças à biodiversidade e às populações locais compensam, se as obras são mesmo necessárias, se vão trazer consequências positivas. Uma dúvida recorrente é quem realmente será o beneficiado de tanto projeto de modernização. A população sertaneja parece estar diante de mais uma promessa de água e desenvolvimento, com controvérsias que parecem não ter fim.

Aventura Selvagem em Cabaceiras - Paraíba

Rodrigo Castro, fundador da Associação Caatinga, da Asa Branca e da Aliança da Caatinga

Bioma Caatinga

Vale do Catimbau - Pernambuco

Tom da Caatinga

A Caatinga Nordestina

Rio São Francisco - Momento Brasil

O mundo da Caatinga