domingo, 1 de abril de 2012

TRANSPOSIÇÃO DO SÃO FRANCISCO.

"Visões do projeto da transposição do rio
São Francisco por especialistas da área.

Opinião de Cassio Borges sobre o projeto da transposição do São Francisco, relatada a Apolo Heringer, idealizador do Projeto Manuelzão, seguidos de comentários dos engenheiros hidrogeólogos José do Patrocínio Tomaz Albuquerque e Manoel Bomfim Ribeiro.

COMENTÁRIOS

Apolo Heringer Lisboa

Tenho aprendido muito com todos vocês, o debate da transposição é um antídoto ao Alzheimer, mexe com todos os neurônios. Pode ver que nossa turma está 100% lúcida.

Apolo Lisboa é Idealizador e co-fundador do Projeto Manuelzão/Rio das Velhas
Professor da Faculdade de Medicina/UFMG
http://lattes.cnpq.br/8584595137405086
Blog: http://www.apoloheringerlisboa.wordpress.com
31 - 9941-2171

Cássio Borges

Esta história sobre a Transposição de Vazões do Rio São Francisco é muito longa.

No início, o DNOS queria tirar do Rio São Francisco 320 metros cúbicos por segundo. Acho que "eles" não sabiam o significado do "metro cúbico por segundo". No mesmo instante, ao contestar tal número, advoguei (como sempre vinha fazendo) 50 metros cúbicos por segundo, o equivalente, como dizia, a vazão regularizada de cinco açudes do porte do Orós. A meu ver mais do que suficiente para atender a nossa Região em épocas prolongadas de secas (três e até sete/oito anos consecutivos como já ocorreram no passado). Passei a defender insistentemente esta idéia e fui considerado como sendo um ferrenho opositor ao Projeto. Pobres coitados. Mas eu os desculpo porque nunca viram sequer a capa de um livro de hidrologia. Veio o Ciro Gomes e baixou a vazão para 26,00 m3/s e somente na hipótese do Açude Sobradinho estiver cheio que seja retirada uma vazão bem maior.
No meu entendimento, esta vazão bem maior seria no caso os 50 m3/s e não 120 m3/s como diz o referido Projeto. O pior que estão construindo uma canal para transportar 120 m3/s, cuja vazão nunca será acionada por motivos óbvios. Tem outros erros no projeto definitivo que caberia numa página inteira para comentar com o prezado amigo.
Mas não vou roubar o seu precioso tempo. Acho que ainda tem muito o que se discutir a este respeito.
Um grande abraço do amigo
Cássio Borges - borgescassio@hotmail.com
José do Patrocínio Tomaz Albuquerque
O Dr. Cássio tem essa qualidade: é um defensor ferrenho do DNOCS, órgão onde ele exerceu sua profissão de Engeneheiro Civil, tendo participado, suponho, direta ou indiretamente, das realizações daquela instituição, com destaque para a construção da grande maioria dos grandes reservatórios de águas fluviais que hoje existem no Semi-Árido nordestino. O que querem fazer com os seus servidores, ativos e aposentados, pelo que se depreende de seu artigo publicado no jornal O Povo, de Fortaleza, é uma ilegalidade e um desrespeito à Constituição, em uma de suas cláusulas pétreas, o artigo 5º, Inciso XXXVI que trata do direito adquirido. Para mim, este artigo é o que caracteriza melhor o "estado democrático de direito". Sem ele, ficamos a mercê das vontades, veleidades e idiossincrasias dos mandantes de plantão, cujas decisões podem ser revogadas por seus sucessores, instalando-se o caos jurídico. Ele, o Dr. Cássio, tem a minha total solidariedade nessa sua luta.
Mas, vamos ao assunto a que o amigo me pede a opinião. O Dr. Cássio misturou um pouco as coisas, confundindo o Nordeste como um todo com a sua região semi-árida, ao afirmar, inicialmente, que "no Nordeste não existe água subterrânea razoável" (acho que ele se refere à quantidade), tomando como exemplo o Estado do Ceará. O Ceará não serve como exemplo da ocorrência de água subterrânea no Nordeste, pois as suas condições hidrogeológicas não refletem a média das águas subterrâneas nordestinas. O Ceará, reflete melhor as condições hidrogeológicas da região semi-árida nordestina, de vez que, em seu território, predomina o Sistema Aqüífero Cristalino, de potencial quantitativo muito pequeno, localizado em zonas fraturadas e/ou alteradas dimensinalmente limitadas e de reduzidas características hidrodinâmicas.
Por sua vez, as bacias sedimentares lá ocorrentes ocupam áreas reduzidas e têm espessuras pequenas. Isto, no entanto, não significa corroborar com a sua segunda e radical afirmação de que os poços do Cristalino cearense "chegam a dar uma vazão horária quando muito da ordem de 400 litros por hora". A vazão média dos poços no Cristalino cearense, como, de resto, em todo o Semi-Árido nordestino, é de 2000 L/H. Portanto, cinco vezes maior a máxima do Dr. Cássio. Mas, o que interessa, é que o Sistema Aqüífero Cristalino tem, pelos seus atributos quantitativos e qualitativos, uma vocação socioeconômica que é a pecuária, mormente a caprinicultura. Esta atividade, assim como a bovinocultura, tem , de uma maneira geral, demandas quantitativas e qualitativas compatíveis com aquelas ofertadas pelos poços do Cristalino. Este quadro hidrogeológico pouco pródigo do Ceará, é, localizadamente quebrado pela existência de sistemas aqüíferos mais produtivos. É o caso dos Sistema Araripe, já citado, localizado na região dos Cariris Novos, do Sistema Potiguar, situado na fronteira do rio Grande do Norte e do Sistema Aluvial, ocorrente nos leitos e margens dos rios e riachos das diversas bacias hidrográficas cearenses. Este último sistema, inclusive, tem suas águas usadas no abastecimento de um perímetro de irrigação do DNOCS, o de Itaiçaba, o qual conta, também, com o concurso da água de um reservatório superfial de pequeno porte, situado a montante do perímetro.
Entretanto, o quadro hidrogeológico do semi-árido apresenta uma situação mais favorável em suas outras áreas sedimentares, tais como a bacia do Parnaíba (são 10 bilhões de metros cúbicos escoados, em média, por ano); a bacia sedimentar do São Francisco que contribui com cerca de 1250 m³/s para Sobradinho; a Bacia do Tucano/Jatobá, com algo como 100 m³/s (toda no semi-árido). Evidentemente, toda esta água não pode ser convertida em disponibilidade, através da sua exploração por poços, de vez que uma boa parte delas deve atender aos reclamos do meio ambiente, particularmente a vazão de base mínima da rede hidrográfica. Para o Nordeste como um todo, há que se incluir, além da parcela pelo Dr. Cássio delimitada, entre a Ponta de Touros, no Rio Grande do Norte, e Caravelas, na Bahia (corresponde às bacias/sistemas aqüíferos Pernambuco-Paraíba, Alagoas-Sergipe e Recôncavo), a bacia sedimentar Potiguar que se estende para oeste a partir da citada Ponta de Touros (Em Touros há um alto do Cristalino que separa a bacia sedimentar Potiguar da Pernambuco-Paraíba), o potencial de água subterrânea de toda a região Nordeste (incluindo o semi-árido) situa-se em torno de 55 bilhões de metros cúbicos por ano, em média, ou 1.745 m³/s. Não é uma quantidade apenas razoável, mas significativa (embora, grande parte dela esteja inserida nas bacias costeiras) já que representa cerca de 25% do escoamento fluvial nordestino. Por aí se vê, que o grande contingente hídrico do Nordeste (75%) é de águas do escoamento superficial direto, dependente imediatamente da ocorrência de chuvas (as barragens são inexoráveis). Estas águas subterrâneas, exceto as do Cristalino, têm sido usadas em abastecimento humano, inclusive de grandes cidades (Teresina, Natal, Maceió e, em menor proporção, Recife, João Pessoa e Aracaju) e médias, além de irrigação (cana de açúcar, fruticultura, etc) nos sistemas/bacias sedimentares costeiras. Esclareça-se que as captações "a fio d'água", são de água subterrânea que alimenta o fluxo de base dos rios.
Finalmente, também não sou, de uma maneira geral, favorável à dessalinização das águas de poços do Cristalino, pois tais poços trabalharão em estado de exautão, dada a dificuldade de recarga destes pequenos e limitados reservatórios.
Acreditando que atendi aos anseios de esclarecimento feito pelo amigo, subscrevo-me,
Atenciosamente, Patrocínio
PS - Refletindo sobre o que escrevi na mensagem anterior, vi que a mesma precisa de um adendo. É o seguinte: o Nordeste considerado na mesma não inclui os recursos hídricos inseridos no Estado do Maranhão, contidos nas bacias dos rios Tocantins maranhense, Gurupi, Mearim, Grajaú, Pindaré, Itapecuru, Munim e Barreirinhas. Ative-me à área considerada pelo Dr. Cássio. Quanto à parte da Transposição que ele advoga (50 m³/s), dá no mesmo dos 26,4 m³/s do governo, já que representa, anualmente, um aporte adicional de cerca de 1, 58 bilhão de metros cúbicos quando temos 37 bilhões acumulados nos reservatórios do semi-árido setentrional, praticamente sem uso compatível, que podem regularizar, com garantia de 100%, algo como 7 a 8 bilhões de metros cúbicos ao ano. Isto, sem contar as disponibilidades dos reservatórios médios e pequenos e as nossas águas subterrâneas. Além disso, o desenvolvimento socioeconômico dessa região não passa, sabemos todos, pela irrigação, principal consumidora de recursos hídricos. E o abastecimento populacional urbano e rural, industrial e da pecuária projetado para 2020 pelo
Projeto ÁRIDAS não atinge 1,5 bilhão de metros cúbicos anuais.
Isto mostra a dispensabilidade da Transposição. Agora, a crítica dele, Dr. Cássio, ao dimensionamento dos canais é de todo procedente: estão super dimensionados para a vazão normalmente conduzida. Um canal tem que trabalhar com, pelo menos 2/3 de seu volume cheio. é o que se chama de "perímetro molhado". Com 26,4 m³/s, o canal vai trabalhar seco em sua parte superior, o que o coloca sujeito a quebras e outros problemas, como os que estão acontecendo atualmente. Qualquer outro esclarecimento, estou à sua inteira disposição. Abraços, Patrocínio
Se o amigo quiser dar conhecimento destes esclarecimentos aos nossos demais colegas, incluindo aí o Dr. Cássio, pode fazê-lo.
Abraços,
José Patrocínio Thomaz - patrociniotomaz@uol.com.br
Hidrogeólogo e mestre em Engª Civil, Área de Recursos Hídricos.
Maloel Bomfim Ribeiro
Prezados Apolo, Patrocínio e Cássio
Estava viajando pelo interior do estado da Bahia e não pude acompanhar as discussões de vocês.
Vou agora emitir o meu pensamento.
O foco é o problema dos recursos hídrico do Nordeste, embutido nele a Transposição, ou como usa o Governo o nome pomposo de Integração das Bacias do Nordeste.
A preocupação básica do colega e amigo Cássio é mostrar erudição técnica com números cheios de decimais falando da exatidão da matemática. A trama atmosférica, entretanto, é muito complexa, não usa decimal e costuma pregar peças nos técnicos, nos cientistas e em todos os arautos do conhecimento.
Estou lendo na discussão o preciosismo de dados de vazões, o rendimento hidrológico, vazão regularizada, vazão útil, vazão disponível, vazão social e por aí vai, mas sempre bordejando a Transposição pelos arrabaldes sem enfrentar a questão pelo topo, tentando justificar com numerologias a loucura do Governo que teima na construção desta famigerada obra. O tema é a Transposição é sobre ela que temos de falar, sem dados surrealistas que nada convencem. O Nordeste precisa ou não da Transposição? O Cássio diz que precisa.
O orçamento inicial era 3,6 bilhões de reais para toda a obra, hoje está em 8,2 bilhões. Sabemos que o orçamento deverá alcançar os 16 bilhões se a obra chegar ao fim. O cálculo é meu sem medo de errar.
Um grupo de políticos, ávidos para salvar o Nordeste, apregoa abertamente o fim das secas e a salvação do povo com a Transposição. São verdadeiros patriopanças e ladriótas. Os técnicos vivem a fundamentar com “dados irrefutáveis” a vontade pardacenta dessa turma.
Carlos Lacerda já dizia: “O técnico é um profissional fundamental para o desenvolvimento de um país, mas se torna de alta periculosidade quando, a serviço do Governo, deixa de defender soluções para aplaudir posições”. É o caso do corpo técnico do Ministério da Integração, não é o caso de Cássio que apenas faz elucubrações hidrológicas tentando, como bom cearense, justificar o injustificável.
O Cássio diz textualmente; “O Açude Orós acumula cerca de dois bilhões de metros cúbicos e sua vazão regularizada é de 12 metros cúbicos por segundo. Quer dizer que de dois bilhões só se aproveitam, incrivelmente, 372 milhões de metros cúbicos. É como se o açude Orós tivesse apenas 372 milhões de metros cúbicos”.
Nos cálculos do Projeto considera-se oficialmente a evaporação de 30% no Nordeste. Nós sabemos demais que o Orós chega a evaporar 60% ao ano. Vamos dividir ao meio, considerar para efeito de cálculo 45% porque a evaporação é variável, sem a exatidão da matemática, são dados estatísticos e é com eles que todos nós trabalhamos.
A Transposição com a vazão de 26 m³/s, levará 360.000.000 de m³/ano (ou os 372 do Orós) para os oito açudes escolhidos como bacias receptoras, mas estes já estocam 14 bilhões nos seus vasilhames. A evaporação do Castanhão, incrivelmente, um dos receptores da Transposição, é de 6 milhões de m³ por dia. Isto mesmo, 6 milhões/dia. O Cássio sabe disto, mas não declara. Todo o volume de água da Transposição de um ano vai cobrir apenas 60 dias de evaporação do Castanhão. É só calcular. Inacreditável!
Podemos, logicamente, dizer, aí entra a exatidão da matemática, que toda a estrutura da Transposição composta de 720 km de canais com 25 m de largura por 5 m de profundidade (90.000.000 de m³ escavados em rocha), 1 túnel escavado também em rocha com 17 km de extensão por 7 m de largura (maior do mundo para passagem de água), 27 aquedutos, 9 estações elevatórias e o consumo de 520 MW de energia (maior que o consumo do estado de Alagoas), toda esta estrutura ciclópica, repito, irá transportar por ano a titica de 360.000.000 de m³ de água para cobrir a evaporação de 60 dias daquele monumental açude. Esta é a Transposição. Só e só, não sobra mais água.
A Transposição está desnuda, senão vejamos: o Nordeste possui centenas de açudes que acumulam volumes muito maiores ao volume da Transposição tais como: Entremontes (340milhões) Pacoti (370 milhões), Pentecostes (420 milhões), Quixadá (430 milhões), Pedras Brancas (440 milhões) Poço da Cruz (504 milhões), Boqueirão (536), Santa Cruz do Apodi (600 milhões), Mãe D’Água (650 milhões), Coremas(750 milhões), Araras (1 bilhão) e por aí vai.
A cada 10 anos a Transposição usará 4 para o transporte máximo de 127 m³/s quando Sobradinho estiver cheio, levando 1,6 bilhões por ano para os 8 açudes. A estrutura da obra está sendo dimensionada para isto. Superior a estes míseros 1,6 bi existem o Banabuiu (1,7bi), Orós (2,1bi) e Açu (2,4 bi) além do Castanhão que é um açude oceânico (3 vezes a baía da Guanabara).
No Nordeste temos estocado nos seus açudes 40 bilhões de m³ de água, volume igual a 16 baías da Guanabara (eles não suportam esta comparação com a Guanabara que é a 2ª maior baia do Brasil e a 3ª do mundo).
O volume transportado representa 1% a 2% do que já existe no Nordeste, mas, segundo os sábios da Corte, é este volume que vai salvar a região da crônica escassez de água.
Esta é a Transposição salvadora que vai suprir as necessidades hídricas dos nordestinos sequiosos, segundo o Governo brasileiro.
O Cássio ainda tem a coragem de falar em irrigação. Levar água caríssima (5 vezes o preço da CODEVASF) a mais de 700 km para irrigar litossolos deixando de irrigar os latossolos do beiço do rio a 0 ou a 1 km da fonte. A água que vai irrigar 1ha lá no Nordeste irriga 3 ha nas barrancas do rio (Alberto Daker).
João Suassuna é irrepreensível quando diz que a Transposição é chuva no molhado. E o Governo, despudoradamente, tapeia a sociedade nordestina oferecendo um banho de água no Nordeste. São pratos de lentilhas que apetecem.
A preocupação do colega Cássio é dizer que o Prof. Aldo Rebouças errou, só entendia de águas subterrânea como se fosse admissível a um hidrólogo dissociar águas de superfície de águas de sub superfície. É a valorização de contestar um cientista que não pode mais se defender. Rebouças dizia textualmente: “Existe uma abundância de recursos hídricos superficiais no Nordeste”.
Quisera o Brasil que nos tivéssemos quatro ou cinco cientistas do nível do Aldo.
Não precisamos polemizar esta é a verdade cartesiana."
Manoel Bomfim Ribeiro - manoel.bomfim@terra.com.br
por João Suassuna — Última modificação 30/03/2012 14:27
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