Idealizador e co-fundador do Projeto Manuelzão/Rio das Velhas, Apolo H. Lisboa, faz constatações sobre o movimento "Cúpula dos Povos" .
Colegas. Constato, sem priorizar fazer aqui juízo
de valor, mas preocupado e vendo indícios fortes, que o movimento Cúpula dos
Povos é financiado por instituições do governo federal com a finalidade de
fazer um protagonismo complementar e convergente com a política oficial na Rio
mais 20, ainda que dissimulado, e ainda que as suas bases não saibam destas
articulações, visando “representar” a sociedade civil que está desorganizada,
exponencialmente dispersa e sem diagnósticos e estratégias coerentes e
sistêmicas. Para mim o tema central e real, que provavelmente ficará oculto,
nem aparecendo na programação oficial e nas manifestações montadas como
alternativas (parte da coreografia do evento e legitimando-o), é a relação
entre a questão do ciclo do carbono e o ciclo da água. Eu acredito que estamos
diante de um equívoco grande produzido pela estratégia do Al Gore – leia-se EUA
- de transformar o CO2 na agenda e não como uma componente da agenda. É
inaceitável centrar a agenda no CO2, pois o objetivo desta estratégia parece
ser esconder a complexidade socioambiental da questão e adotar uma postura
reducionista separando economia política da questão socioambiental. Estão
desmatando o Cerrado e a Caatinga, mata Atlântica, Amazônica e Pantanal para
plantar eucaliptos e cana de álcool sob o pretexto de praticarem a “economia
verde”. E com investimentos estrangeiros advindos dos chamados “créditos de
carbono”, uma farsa completa. Mudar o modelo de transporte e adotar políticas
públicas visando diminuir o desperdício, a produção de supérfluos, bem como
alterar o modo de vida dos povos, não se cogita. Estimula-se o crédito para o
consumo de carros. Já o ciclo da água ou hidrológico, estaria mais próximo de
uma agenda aberta e sistêmica, de mudança da mentalidade civilizatória, pois
permite incluir toda a população da Terra, vinculada que está seja aos rios e
lagos, e tendo benefícios pelo efeito dos oceanos sobre a regularidade do clima
nos continentes. A água e os territórios das bacias hidrográficas conformam e
permitem estruturar a mobilização social e uma relação temática e geográfica
com base na biodiversidade e na plataforma geológica que permitem conduzir uma
gestão ambiental com biomonitoramento e controle territorial começando pelas
microbacias até a totalidade da bacia hidrográfica Terra. Este método é inseparável
do comportamento cultural humano, não se prende apenas a decisões políticas e
tecnológicas empresariais e governamentais, mas inclui a mobilização social
internacional direta, de grupos de cidadãos organizados na defesa ambiental
onde vivem, inclui conteúdos novos e influi diretamente na produção e controle
das políticas públicas locais e globais. Uma coisa não exclui a outra mas há
uma hierarquização necessária de complexidade e conteúdo. Não excluo a
participação ao lado de governos e empresas em fóruns de gestão ambientais
descentralizados, participativos e paritários. Pelo contrário, os considero
essenciais e parte da construção democrática, mas feito com transparência
total, externando as contradições e buscando construir convergências."
Apolo Heringer Lisboa
Idealizador e co-fundador do Projeto Manuelzão/Rio das Velhas
Professor da Faculdade de Medicina/UFMG
http://lattes.cnpq.br/8584595137405086
Blog: www.apoloheringerlisboa.wordpress.com
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