"Energia solar ajuda a manter cultivo de uvas no deserto do Atacama
Uma parceria entre uma das maiores produtoras de frutas
frescas do Chile e uma companhia de energia renovável alemã resultou no uso de
energia solar para irrigar parreiras no deserto do Atacama, um das regiões mais
secas do planeta.
17/04/2012
Katia Moskvitch
Enviada da BBC News ao deserto do Atacama, no Chile
"Queríamos aproveitar a oportunidade que o deserto de Atacama
oferece", afirmou José Miguel Fernandez, da companhia produtora de frutas
Subsole, enquanto caminhava entre os painéis solares.
"Este projeto está de acordo com nosso compromisso com o ambiente para
as gerações futuras e é uma forma de fazer com que outros produtores de frutas
nos sigam", disse.
Os painéis para capturar a energia solar estão instalados no Vale de
Copiapó, em uma área pequena que parece perdida em meio às colinas e montanhas
do Atacama.
A região é um oásis verde no deserto e as parreiras da Subsole são
cultivadas graças às reservas subterrâneas de água.
As bombas de água do sistema de irrigação dessas plantações é movida por
eletricidade gerada pelos painéis solares, que se aproveitam da fartura de luz
existente na região norte do Chile.
O Atacama é considerado o deserto mais seco da Terra, com os mais altos
níveis de luz solar do mundo. As nuvens aparecem apenas cerca de 30 dias por
ano e área para instalação dos painéis não falta.
No entanto, painéis para captação de energia solar não são comuns na região.
Capacidade
A capacidade de geração de energia é de apenas 300 kWp (kilowatt-pico) - o
bastante para gerar energia para um prédio de 20 andares. Mas, Roberto Jordan,
da subsidiária chilena da companhia de energia renovável alemã Kraftwerk,
afirma que eles são os primeiros a trabalhar com uma instalação de tamanho
industrial em todo o deserto do Atacama.
Para Jordan, o deserto é capaz de produzir muito mais energia.
Para Roberto Jordan, o Atacama pode gerar mais
energia (Foto: BBC)
"Há sol o bastante, há terra o bastante, então devemos mesmo explorar
mais", disse.
Protestos
Apesar de todo o potencial do Atacama, apenas 4% da energia elétrica
consumida pelo Chile vem de fontes renováveis, tais como a energia solar,
geotermal, eólica e das ondas do mar.
Combustíveis fósseis importados, por sua vez, são usados em 60% da produção
de energia elétrica do país. O restante é suprido por usinas hidrelétricas.
O anúncio feito pelo governo no ano passado de que cinco novas usinas
hidrelétricas seriam construídas na região da Patagônia deflagrou uma onda de
protestos.
Projetos como esse, segundo o governo, são cruciais para suprir a crescente
necessidade de energia do Chile. A demanda no país deve dobrar nos próximos
anos devido ao boom da mineração chilena.
Contudo, aos poucos o governo tem prestado mais atenção em energias
renováveis.
"Nós precisamos dobrar nossa capacidade de suprimento de energia
elétrica nos próximos 10 anos", afirmou Gabriel Rodriguez, da chancelaria
chilena.
"Nós dependemos muito da energia hidrelétrica, que é problemática por
causa do impacto ambiental. Carvão, gás e petróleo nós temos que importar. Por
isso é essencial investir na energia renovável", disse.
Após tomar posse em 2010, o presidente Sebastian Piñera delineou um plano
para que até 2020 ao menos 20% da energia usada no país venha de fontes
renováveis.
A opção mais atrativa no campo da energia renovável, tanto para o Estado
quanto para a iniciativa privada, é a energia solar - principalmente devido à
queda nos custos da tecnologia usada pelo setor.
Segundo a Kraftwerk, o preço dos painéis solares caíram cerca de 30% em 2011
e devem sofrer redução ainda maior neste ano.
Mas, a migração dos combustíveis fósseis para a energia limpa pode ser
complicada: a Subsole, por exemplo, teve que conseguir financiamento do BID
(Banco Interamericano de Desenvolvimento)
Instalação da Subsole recebeu dinheiro do BID (Foto: BBC)
"Emprestamos US$ 32 milhões (R$ 58 milhões) porque o projeto é muito
importante. O governo está querendo mudar a matriz energética criando fontes
alternativas de energia. Queremos participar disso", disse Maria Urriba,
representante do BID no país.
Mineradoras
Segundo Urriba, o governo chileno deve investir no setor da energia
renovável principalmente para suprir a necessidade das empresas mineradoras
instaladas no Atacama.
A extração de cobre na região é responsável por 70% das exportações do Chile
e as mineradoras consomem aproximadamente metade da energia produzida no país.
"O deserto do Atacama tem condições perfeitas para aproveitar a energia
solar", disse Urriba.
A mineradora estatal Codelco está construindo em parceria com a empresa
espanhola Solapark uma planta de energia solar próxima à cidade de Calama.
Uma vez em funcionamento, a usina fornecerá 1 megawatt de energia para a
maior mina de cobre do mundo, a Chuquicamata.
Ainda não é possível saber se o Chile alcançará sua ambiciosa meta de que a
energia renovável represente 20% do consumo do país em 2020, mas certamente o
país começa a perceber o potencial do Atacama."
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