Seca que
levou 178 cidades cearenses a decretar emergência vai piorar, preveem
especialistas
Há 75
dias sem chuva, a população do Semiárido no Ceará sofre com os efeitos da longa
estiagem que afeta o estado. Segundo a Fundação Cearense de Meteorologia e
Recursos Hídricos (Funceme), esta promete ser a mais rigorosa seca enfrentada
pelo estado nos últimos 19 anos e a quinta pior da história. Para especialistas
ouvidos pela Agência Brasil, a situação ainda vai piorar.
Foto de arquivo Henrique Cortez
Das 184 cidades cearenses, 178 já decretaram
situação de emergência (o governo federal ainda analisa o decreto de quatro
municípios). As mais afetadas ficam nas regiões do Sertão Central, Inhamuns e
Jaguaribana onde, segundo a Defesa Civil estadual, vivem cerca de 2,5 milhões
pessoas.
Para suprir a falta de água potável, o Exército
está atendendo a 93 localidades com carros-pipa. Até o dia 10, mais 21 cidades
começarão a ser atendidas por carros-pipa disponibilizados pela Defesa Civil do
estado por meio de um convênio de R$ 8,3 milhões firmado com o Ministério da
Integração Nacional. A expectativa é que este número aumente, já que, segundo a
assessora técnica da Defesa Civil estadual Ioneide Araújo, o pior ainda está
por vir.
“Com
certeza, essa situação ainda vai se agravar. Ainda vamos entrar nos meses mais
rigorosos da estiagem, e chuvas consolidadas mesmo, só a partir de fevereiro”,
disse Ioneide à Agência Brasil, explicando que 154 municípios cearenses ficam em
regiões caracterizadas como Semiárido, onde o período de chuvas só começa em
fevereiro.
A preocupação da assessora é reforçada pela
Funceme, cujo meteorologista, Namir Mello, informou que, no primeiro semestre
deste ano, choveu 50% menos do que a média histórica para a época. Enquanto a
média do período é 606,4 milímetros, este ano foram registrados apenas 299,2
milímetros. Fenômeno que, em um ano marcado pelo efeito La Niña – que
normalmente torna as chuvas mais regulares no Semiárido nordestino –, pode ter
sido provocado pela indefinição nas temperaturas no Oceano Atlântico. De acordo
com a Funceme, isso pode ter afetado a zona de convergência intertropical,
principal sistema causador de chuvas no Ceará.
“A situação vai se agravar porque choveu pouco no
primeiro semestre do ano e a estação da seca vai até novembro. A partir de
dezembro, poderemos ter algumas chuvas rápidas e esparsas, próximo ao litoral.
Outra coisa é que, por causa da redução de 50% no volume de chuvas, há menos
água armazenada nos pequenos açudes, que abastecem as comunidades isoladas e os
pequenos produtores rurais. Daí a necessidade do uso de carros-pipa para esses
lugares. Os grandes açudes que abastecem as cidades e perenizam os rios estão
bem de água”, completou o meteorologista.
Em todo o estado, a falta de chuva também afetou as
plantações, provocando o aumento do preço de produtos como o feijão e,
consequentemente, da cesta básica de alimentos, conforme revelou um estudo
desenvolvido por estudantes do Departamento de Economia da Universidade
Regional do Cariri (Urca). Segundo o presidente da Empresa de Assistência
Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce), o engenheiro agrônomo José Maria
Pimenta, os prejuízos dos produtores rurais com a seca já chega a R$ 1 bilhão e
está prevista uma redução de 85% na safra de grãos A estiagem também está
afetando o gado, mas, devido a programas estaduais que estimularam o registro,
o tamanho do rebanho cresceu em comparação ao último levantamento.
Hoje (4), o governo estadual e o Ministério do
Desenvolvimento Social realizam uma cerimônia para marcar a instalação de mais
uma cisterna de placa de cimento no Semiárido nordestino. Com a instalação do
equipamento de armazenamento de água no Assentamento Estadual Serrote Feio, em
Madalena, no Sertão Central cearense, chegará a 500 mil o número de cisternas
de placas construídas no Semiárido nordestino, 60.820 delas só no Ceará. As
cisternas de cimento custam a metade das de plástico e são mais duráveis.
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