Um importante evento foi o Fórum Brasil-Espanha, realizado na Paraíba, inicia¬tiva do Sebrae, para tentar um intercâmbio operacional, ou seja, para tentar colocar a Espanha como locomotiva do trem da caprino-ovinocultura nordestina. Pelo menos, para exibi-la como inspiradora do modelo a ser seguido.
Por que a Espanha? Porque o Nordeste tem um rebanho de quase 92% das cabras brasileiras e 57% das ovelhas. A maior parte delas tem nítida semelhança com as pirenaicas, ou seja, com as espanholas e portuguesas (antigamente, ambos constituíam um único país, a Ibéria). Os animais são semelhantes, mas a realidade socioeconômica está muito distante e, assim, é possível tentar uma aproximação.
Qual a grande diferença entre Espanha e Brasil?
No Brasil, a classe de produtores vive de pires na mão pedindo esmolas para os governos, autoridades, associações, etc. há décadas. A cabra deixou de ser a vaquinha do pobre, mas a atividade ainda continua sendo negócio de pobre, na ótica governamental. Isso significa que a caprino-ovinocultura continua francamente marginalizada, não tendo ainda sido assumida como atividade lucrativa em caráter socioeconômico, embora esteja presente em mais de 1,0 milhão de propriedades - sendo fixadora do homem à terra (bastaria isso para sensibilizar um Governo apegado à coerência).
O governo mais atuante na caprino-ovinocultura, na História, tem sido o da Paraí¬ba e - com esse Fórum - confirma sua posição.
Na Espanha acontece justamente o contrário: o Governo percebeu que as cabras e ovelhas podiam ser um nicho de mercado na União Europeia e tratou de assumir a atividade, com força e segurança. Adotou as regras que interessavam à União Europeia e colocou o território em produção, ou seja, colocou o trem para andar.
* Primeiro: 1) dividiu o território de acordo com suas raças nativas; 2) determinou quais as raças que permaneceriam puras, em melhoramento zootécnico contínuo; 3) estabeleceu os produtos que seriam oriundos de cada região; 4) estabeleceu os produtos que seriam oriundos de cada raça.
* Segundo: Registrou marcas e selos, na União Europeia, para produtos de origem conhecida. Rapidamente, a Espanha tornou-se referência de excelência em produtos de cabras e ovelhas. Os produtores tinham escoamento garantido - palavra importante - para qualquer opção de melhoramento zootécnico, com remuneração adequada. Hoje, um produtor com 30 cabras pode manter filhos na universidade! Todos os produtores são atuantes, vozes ativas, por meio de entidades que funcionam, de verdade, na produção e não apenas para realizar exposições de animais de elite.
* Primeiro: 1) dividiu o território de acordo com suas raças nativas; 2) determinou quais as raças que permaneceriam puras, em melhoramento zootécnico contínuo; 3) estabeleceu os produtos que seriam oriundos de cada região; 4) estabeleceu os produtos que seriam oriundos de cada raça.
* Segundo: Registrou marcas e selos, na União Europeia, para produtos de origem conhecida. Rapidamente, a Espanha tornou-se referência de excelência em produtos de cabras e ovelhas. Os produtores tinham escoamento garantido - palavra importante - para qualquer opção de melhoramento zootécnico, com remuneração adequada. Hoje, um produtor com 30 cabras pode manter filhos na universidade! Todos os produtores são atuantes, vozes ativas, por meio de entidades que funcionam, de verdade, na produção e não apenas para realizar exposições de animais de elite.
Agora existem até roteiros turísticos na Espanha, para conhecer vinhos e produtos de cabras e ovelhas. Não faltam interessados em paladares diferenciados nas trilhas montanhosas, alojando-se em albergues e vivendo, por alguns dias, a rotina da produção de notáveis 140 produtos de origem certificada. Enquanto isso, o Brasil ensaia alguma maneira de proibir a fabricação dos queijos de coalho e manteiga, que considera de pouca higiene, embora sejam o sustento de centenas de milhares de propriedades!
Essa é a grande diferença: na Espanha o Governo corre atrás de qualquer possibilidade de gerar rendimento para o país e bem-estar para as pessoas! O enfoque foi e continua sendo os sertanejos que produzem, e não as cidades ou academicismo inócuo. No Brasil, o Governo enxerga o produtor rural como gerador de impostos e predador ecológico, embora o discurso seja de desenvolvimento a qualquer custo, enquanto distribui esmolas para as pessoas que não querem trabalhar, prejudicando o emprego e os sertanejos que tentam, há 500 anos, conviver com o clima inconstante; e o academicismo termina quase sempre nas gavetas. O estímulo, portanto, esvai-se em muitos meandros e chega ao sertanejo a conta-gotas.
O que se vê, na Espanha, são pequenos sertanejos satisfeitos com suas cabras e ovelhas, produzindo e sorrindo, com milhares de turistas percorrendo as rodovias, com segurança e paz - uma nação com caráter e religiosidade; no Brasil o que se enxerga são programas oficiais descompassados da realidade, violência social em crescimento, estímulo à preguiça e inoperância - um país que vai perdendo o caráter e a religiosidade.
* Paradoxo - Ao mesmo tempo em que o campo sofre toda sorte de injúria governamental, em que o produtor é tratado quase como criminoso, as exportações brasileiras renderam US$ 25,8 bilhões somente de janeiro a abril - novo recorde, muito mais que suficiente para compensar o déficit acumulado pelas atividades urbanas.
* Paradoxo - Ao mesmo tempo em que o campo sofre toda sorte de injúria governamental, em que o produtor é tratado quase como criminoso, as exportações brasileiras renderam US$ 25,8 bilhões somente de janeiro a abril - novo recorde, muito mais que suficiente para compensar o déficit acumulado pelas atividades urbanas.
O setor rural continua financiando a boa vida urbana - embora o Governo e as televisões jamais mencionem esse fato. O povo brasileiro continua enxergando o produtor rural como predador, criminoso! Paradoxo.
Apesar da gritaria governamental, a produção cresceu 79,7% e a área ocupada apenas 25,4% comparando-se as safras de 1999-2000 e 2009-2010. Ou seja, o Brasil está desocupando áreas, enquanto o Governo insiste em perseguir os produtores mais eficientes e, ao mesmo tempo, distribuir terras para quem não quer produzir! Paradoxo.
Bastariam as boas estatísticas brasileiras para mostrar como a Espanha agiu certo e o Brasil continua remando contra a maré,ou seja, contra a produção de alimentos para os brasileiros e para o mundo. Somente o Brasil pode atender o reclamo mundial e, se o brasileiro não produzir, os estrangeiros virão plantar e colher, pois a terra - em última análise - pertence à humanidade. Cabe aos atuais proprietários, sejam sertanejos ou governos, colocá-la em produção de forma sustentável e com competência. Só isso.
Parabéns à Paraíba que, mais uma vez, mostra que o Brasil precisa de puxões de orelha e, agora, vai trazer os "Mestres Queijeiros da Espanha" para iniciar uma nova fase na história da caprinocultura leiteira do país. Os sertanejos farão sua parte e espera-se que o Governo Federal faça a sua que é de estimular o bem-estar daqueles que produzem e não apenas daqueles que ficam na inércia.
A Paraíba pode gerar duas dezenas de produtos com origem certificada - inaugurando a fase em que o produto vem antes nas decisões assistencialistas governamentais. Chega de considerar o sertanejo como "caipira e ignorante", pois o que sempre faltou foi o estímulo ao produto. Ao apoiar o produto, o sertanejo fará sua parte, com certeza. É típico do ser humano correr atrás do lucro, se lucro há.
É o Núcleo de Estudos e Articulação sobre o Semiárido (NESA), da Fundação Joaquim Nabuco, divulgando a realidade do Nordeste seco.
por João Suassuna — Última modificação 07/07/2011 11:50
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