Artigo de Henrique Cortez.
[EcoDebate] Novamente retornam as preocupações para com a internacionalização da Amazônia, inclusive servindo de lastro para acusar os ambientalistas, ONGs e críticos da devastação, como se estivessem a soldo de interesses escusos. Como pano de fundo, temos o medo de uma pretensa internacionalização de nossa Amazônia.
Publicado em julho 6, 2011 por HC
http://www.ecodebate.com.br/2011/07/06/a-ameaca-de-internacionalizacao-da-amazonia-e-mito-por-henrique-cortez/
Tags: Amazônia, modelo de desenvolvimento
Publicado em julho 6, 2011 por HC
http://www.ecodebate.com.br/2011/07/06/a-ameaca-de-internacionalizacao-da-amazonia-e-mito-por-henrique-cortez/
Tags: Amazônia, modelo de desenvolvimento
Aliás, freqüentemente falamos da nossa Amazônia, das ameaças à nossa Amazônia, dos desafios da Amazônia brasileira e por aí vai, sempre esquecendo que a região não é apenas nossa. O eterno argumento em defesa da “nossa Amazônia” contra a internacionalização é um equívoco, porque, composta por 8 países, a Amazônia continental já é internacionalizada.
Então, com um pouco de geografia básica, percebe-se que a nossa Amazônia não é só nossa e não corre risco de ser “internacionalizada”, pois já pertence a mais sete países vizinhos. Precisamos é agir em parceria em sua defesa, pelo seu desenvolvimento e pela conservação de seus recursos naturais. Devemos ter a responsabilidade de compreender que os equívocos de nossas políticas públicas (ou da ausência delas) na conservação e uso sustentável da “nossa amazônia” afetam diretamente mais 7 países e, indiretamente, todo continente e, em seguida, todo o planeta.
A omissão das autoridades, a falta de uma compreensão real e efetiva do que seja desenvolvimento sustentável, a descontrolada expansão da fronteira agropecuária e a atuação impune de grileiros e madeireiros são claros componentes da sua devastação. A expansão irresponsavelmente descontrolada da fronteira agropecuária está devastando o presente e pode exterminar o futuro, não apenas do cerrado e da Amazônia, como de toda a agricultura sustentável de nosso país.
Todas as autoridades públicas, têm a obrigação de saber disto e atuar na defesa dos interesses nacionais, sem apelar para o fácil argumento de um pretenso inimigo externo, como justificativa para a ocupação e exploração irresponsável.
Mais uma vez reafirmo que, como muitos outros ambientalistas, compreendo o desenvolvimento sustentável como sendo socialmente justo, economicamente inclusivo e ambientalmente responsável. Se não for assim não é sustentável. Aliás, também não é desenvolvimento.
E continuaremos repetindo à exaustão que este equivocado modelo de desenvolvimento é apenas um processo exploratório, irresponsável e ganancioso, que atende a uma minoria poderosa, rica e politicamente influente.
Por outro lado, o discurso do risco de internacionalização, com invasão pelos marines e tudo mais, apenas serve à direita desenvolvimentista, que sempre usa pretensas ameaças externas como justificativa do que quer que seja. É importante lembrar que a ditadura militar cansou de usar o pseudo-argumento “Integrar para não entregar”, na tentativa de justificar a ocupação desordenada da Amazônia, raiz de sua devastação.
Todos os recursos da Amazônia, a nossa e dos outros, já está à disposição do mercado internacional, tendo em vista a perpetuação de nossa pauta colonial de exportação de produtos primários, que corresponde a mais de 50% de nossas exportações. Ninguém precisa nos invadir simplesmente porque já vendemos tudo aos “melhores” preços, sem que isto tenha realmente contribuido para a melhoria dos indicadores sociais e econômicos da região.
Não há qualquer recurso natural que já não esteja à disposição dos interesses econômicos, nacionais e transnacionais.
Além dos discursos e bravatas pouco ou nada fazemos de real pelo desenvolvimento sustentável da Amazônia, da nossa e dos nossos vizinhos, além de não temos uma verdadeira estratégia de integração com os
demais países amazônicos.
Para que a “nossa” Amazônia seja realmente nossa, precisamos retoma-la dos grileiros, madeireiros ilegais, agro-gananciosos, garimpeiros ilegais e outros devastadores, incluindo políticos que ainda agem como donatários das Capitanias Hereditárias. Ela será nossa na exata medida em que formos efetivamente responsáveis pelo seu destino.
Não creio que corremos o risco real de ter a “nossa” Amazônia invadida em prol da governança global, mas certamente teremos problemas nas relações multilaterais, no acesso aos financiamentos internacionais e no boicote aos nossos produtos e serviços, inclusive justificando uma renovada onda protecionista. Este é um risco real e imediato.
Não há como negar que seremos cobrados e muito. Cobrados e com razão. Mas ainda temos tempo e oportunidade de dizer a nós mesmos, antes de dizer ao mundo e aos nossos vizinhos, que somos capazes de agir com responsabilidade e seriedade.
Henrique Cortez, ambientalista, coordenador do portal EcoDebate
EcoDebate, 06/07/2011
por João Suassuna — Última modificação 06/07/2011 11:18
EcoDebate, 06/07/2011
por João Suassuna — Última modificação 06/07/2011 11:18
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