No Ceará, agricultores criam um oásis produtivo
em meio à seca.
Famílias encontram apoio para plantar e criar animais,
vivendo tempo de fartura, apesar da estiagem.
31/05/2012
Potiretama. A vida não está fácil, e como não chove fica difícil ter comida para os bichos e na mesa de casa. A comunidade de Caatingueirinha, em Potiretama, enfrenta melhor o dilema da seca desde que intensificou a plantação de hortas, árvores frutíferas e a criação de galinhas no quintal de casa.
A iniciativa é própria. Até as sementes em estoque são do lugar. O que era alternativo virou principal e "quando deu fé", a renda é maior com o que produz no quintal do que a própria plantação de milho e feijão em regime sequeiro.
Antes mesmo que virasse uma política pública de Estado, os quintais produtivos da Caatingueirinha já contrastavam com grande parte do sertão ressequido, marcado pela fome e sede.
Apoio
Agora os projetos da comunidade já são apoiados pelos bancos e, assim, foi possível potencializar a ideia própria. O quintal de Antônia das Graças Moura Oliveira é talvez a parte mais importante da casa. Ali, ela com o marido e todos os filhos plantam, colhem e criam.
A geladeira está cheia de ovo caipira, a macaxeira acabou de sair do fogo, e mesmo quase não chovendo desde o Carnaval tem água para a horta suspensa de onde sai cheiro verde, coentro, pimentão e pimentinha. Logo mais à frente, árvores frutíferas garantem o suco do almoço.
A Caatingueirinha tem 59 famílias, e quem não vive no serviço público ou aposentadoria pode dizer que o "inverno tá ruim como um todo"´, mas "com certeza poderia estar pior", afirma Antônia das Graças, a "Gracinha". Ao todo 30 famílias da comunidade desenvolvem os seus quintais produtivos. A água para o regadio foi garantida pelas chuvas nos dias de carnaval: a cisterna calçadão (com um grande espelho de concreto, por onde escorre a água) ainda está com bom volume e ainda dá para mais meses.
Um viveiro de mudas garante plantas das mais diversas espécies. A que não for frutífera, dá para um bom chá ou tempero. As frutas são comercializadas na região. O que admirou até mesmo a Dona Gracinha, é que a produtividade no seu quintal está rendendo mais do que ela consegue normalmente na produção de milho e feijão em regime de sequeiro. "Aqui chegamos a tirar mais de R$ 5 mil reais por ano, só com essas plantas e a criaçãozinha aqui", define o seu quintal. Pode parecer pouco, mas ainda é mais do que a família tem conseguido anualmente na plantação de milho e feijão.
A Associação dos Trabalhadores de Caatingueirinha possui uma Casa de Semente com grãos produzidos ali mesmo, sem depender da remessa do Governo do Estado. O estabelecimento foi construído após uma gincana popular para arrecadação de fundos. O nome é bem sugestivo: Casa de Sementes Renascer do Sertão. Ali tem sementes de reserva que se continuar a "seca braba", eles tem estoque das mais variadas frutas e leguminosas para plantio nos quintais da comunidade.
As atividades da comunidade tiveram início cinco anos atrás, a partir do incentivo da Cáritas Diocesana de Limoeiro do Norte. Técnicos da instituição ensinavam como criar projetos de convivência com o semiárido. Hoje eles desenvolvem, além da casa de sementes, sistema agrossilvopastoril, farmácia viva, quintal produtivo e a criação de lideranças comunitárias. Também existiu apoio do P1+2 (Programa uma terra, duas águas), em parceria com a Articulação do Semiárido (ASA).
"Quando o governo começou a incentivar a agricultura orgânica nos quintais de casa, nós já estávamos fazendo aqui", lembra dona Gracinha. Mas hoje a comunidade mantém as atividades com apoio do Banco do Nordeste, Banco do Brasil, Organização Barreira Amigo Solidário (OBAS) e da Cáritas Diocesana.
O ano de 2013 poderá ter os efeitos da seca amenizados, ainda que naquele ano chova tão menos quanto neste. Isso pelo menos para as famílias que criarem os quintais produtivos, agora amparado pelos governos Estadual e Federal.
Por meio de convênio assinado entre o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e Secretária do Desenvolvimento Agrário (SDA) serão construídos 5.700 quintais produtivos. Uma parte tendo água a partir do sistema de barragem subterrânea e outros com cisterna calçadão.
Ao todo serão aproximadamente R$ 82 milhões do Governo Federal com contrapartida estadual. A estimativa é de que 67 municípios sejam beneficiados até o final do programa.
COMENTÁRIOS
Essas são ações típicas de convivência com o Semiárido.
É a prova de que elas funcionam em período de seca. João Suassuna
Prezado João Suassuna
Concordo plenamente com suas palavras. Como esta,
existem tantas ações que,
se já tivessem sido implantadas, não veríamos os
lamentos e desolações que,
hoje, estão ocorrendo no Semiárido por conta da
seca. Alem dessa irrigação
de quintal, poder-se-ia disseminar, onde fossem
propícias, outras ações de
convivência com as irregularidades pluviais,
gerando alimentos e renda para
os habitantes do meio rural. Projetos, idéias não
faltam. Além das que
defendemos em relação à micro, pequena e média
açudagem, citam-se os
projetos Mandala, Base Zero, cisternas de vários
objetivos, barragens
subterrâneas, poços em aqüíferos aluviais (mais
que no Cristalino, sendo
este sistema a última alternativa de suprimento
hídrico da população humana,
mais adequado à dessedentação de animais) e, para
conseguir um
desenvolvimento socioeconômico mais amplo,
incremento, melhoramento,
implantação dos cultivos e outras atividades
constantes defendidas pelo
ilustre amigo, Manoel Bonfim Ribeiro, em seu
livro " A Potencialidade do
Semiárido Brasileiro". No entanto, os governos
vão pela contra-mão das
características fisiográficas da região
(hidroclimatologia, pedologia,
geologia, morfologia, etc.) e, além de não
promoverem essas ações (com
pequenas e esporádicas exceções) ainda, em alguns
casos, as desestimulam.
Outro dia, vi um vídeo em que moradores situados
nas proximidades de canal
(acho que era o do trabalhador) no Ceará, eram
impedidos, com certa
truculência (havia ação policial, de retirar uma
lata de água para seu
consumo, sob o argumento de que poderia faltar na
cidade para onde a água
era transportada. Uma falta total de
sensibilidade, de conhecimento e um
desrespeito à Lei 9.433/1997 (prioridade para o
abastecimento humano) e,
principalmente, à Constituição (art. 1º- todos
são iguais perante a Lei).
Mais recentemente, deparei-me com notícia veicula
no UOL, de cunho
semelhante, da qual retirei a fotografia que lhe
encaminho, onde se comprova
ação de governo em que considera o pobre
agricultor (não é um "coronel", a
julgar pelas imagens retratadas) um contraventor.
Isso, que este governo,
policialescamente, está a proibir, é que deveria
ser incentivado. Não sei se
essa irrigação "baldal" iria
comprometer o abastecimento de alguma cidade
(talvez, no caso, Exu em Pernambuco). Mas, pela
fotografia, a gleba irrigada
situa-se às margens de um riacho com depósitos
aluviais. Isto significa que
aí pode estar embutida uma boa zona aqüífera (não
há indício de salinização
nos aluviões) que poderia suprir, com folga, esta
e outras demandas desse
tipo (e mais algumas outras) na área em questão.
Ou, em caso negativo, seria
possível, após estudos, construir uma barragem
subterrânea neste trecho.
Nada disso se faz, ou por desconhecimento, ou por
desídia.
José do Patrocínio Tomaz Albuquerque
é Hidrogeólogo e professor aposentado da Universidae Federal de Campina Grande.
Anexos
(irrigacao baldal.jpg - 64.18 Kb)
por João Suassuna— Última
modificação 01/06/2012 15:42
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