27 cidades da Paraíba podem perder a
Transposição.
Correio percorre 7 cidades que
serão beneficiadas com recursos do PAC; exigências não são cumpridas.
Correio da Paraíba –06/05/2012
Aline Guedes e Lígia Coeli
Mesmo com seca, rios são usados como depósitos de lixo
Mais de 162 mil paraibanos podem ficar sem a água
da transposição do rio São Francisco por causa da poluição dos rios. Dos 51
municípios escolhidos para serem contemplados com a obra, apenas 24 conseguiram
recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para saneamento básico,
critério exigido pelo Ibama. Obras de esgotamento inacabadas, lixo às margens
de riachos e açudes inutilizados devido à poluição são cenas comuns no interior
do Estado e as prefeituras enfrentam uma verdadeira corrida contra o tempo para
atender às exigências para receber as águas do Velho Chico. Uma das situações
mais graves é encontrada na própria nascente do rio Taperoá, no município de
Desterro, onde o esgoto da cidade é jogado diretamente nas águas.
A equipe de reportagem do Correio visitou sete
dos oito municípios do Cariri e, por quilômetros a perder de vista, viu o mesmo
cenário na maioria das cidades: chão rachado e poço verde.
Conforme o Instituto Nacional de Meteorologia
(Inmet), a Paraíba atravessa a maior seca dos últimos 20 anos. Mesmo assim, os
mananciais são tratados como depósito de lixo. Em muitos trechos, a água dos
rios Paraíba e Taperoá não respeitam as propriedades de pureza. Ao invés de
inodora, insípida e incolor, é barrenta, suja e com mau cheiro. A água desses
rios não é destinada para consumo humano, mas a população a usa para pescar e
tomar banho.
COMENTÁRIOS
João Suassuna - josu@fundaj.gov.br
Pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco
A péssima qualidade das águas dos rios
nordestinos não é privilégio apenas dos paraibanos. Essa mazela existe na
maioria dos rios brasileiros. Vejam o descaso que existe com o rio Tietê, em
São Paulo, considerado o mais importante “rio sólido” do país. Essa questão faz
parte do nosso discurso contrário ao projeto da transposição do São Francisco.
As águas do Canal do Agreste, por exemplo, em construção no Estado de
Pernambuco para a solução dos problemas de abastecimento dos municípios de
Caruaru e Gravatá, irão ser despejadas na bacia do rio Ipojuca, o qual,
atualmente, é uma grande cloaca a céu aberto. No futuro, populações inteiras da
região irão ser acometidas por hepatites, xistossomoses e tantas outras
“oses”: doenças veiculadas pela água. Isso vai acontecer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário