terça-feira, 4 de julho de 2017

Paraibanos não creem mais na transposição após paralisação nas obras

Renata Fabrício e Aline Martins / 25 de junho de 2017



Um ano de obras paradas e a descrença dos sertanejos sobre os benefícios da transposição do Rio São Francisco para os municípios do Sertão e Alto Sertão só aumenta. Além da construção do Eixo Norte, que não termina, outros problemas surgiram com a obra. Moradores de povoados próximos a São José de Piranhas foram transferidos dos lugares de origem para as chamadas “agrovilas”, mas estão sem acesso a água de um reservatório que serviria para atender à comunidade.

O abandono também preocupa quem vive próximo aos canais. O Sertão é conhecido por suas altas temperaturas. Mesmo com pouca água e muito calor, árvores invadem e crescem dentro do canal. Se é a natureza querendo voltar para seu lugar de origem, não se sabe, mas segundo moradores, uma pequena lâmina de água que se concentrou em parte dos canais é resultado de uma última chuva que caiu na região. A preocupação quanto às vegetações maiores, que possuem troncos e raízes largas, é que possam provocar rachaduras nas estruturas. Assim como no ramal do Eixo Leste, onde alguns canais da Transposição acabaram rompendo, a exposição da obra ao sol e aos efeitos da natureza, sem manutenção, preocupa os sertanejos.

Agrovilas - famílias têm que bancar estrutura

Em povoados próximo a São José de Piranhas foram criadas quatro agrovilas, para alojar moradores indenizados que precisaram sair de suas terras, por onde passariam as obras da Transposição. A Agrovila Irapuá 2, uma das menores, conta com 20 famílias de agricultores. Além da pouca esperança de ver a obra funcionando, a população ainda se preocupa com outro problema que surgiu após a construção de uma barragem para atender o vilarejo que não teria acesso à água.

O presidente da associação de moradores do Irapuá 2, Tiago Florêncio disse que, somente após a construção da barragem, os moradores foram informados pelo Ministério da Integração que a própria população seria responsável pelo gerenciamento, tratamento e distribuição da água. No entanto, as famílias sobrevivem de uma verba de manutenção temporária de apenas R$ 1,4 mil.

“O Ministério falava para a gente que a única forma de a água chegar até nós era através de uma adutora. Jogaram uma coisa bonita na nossa cabeça. Mostraram como funcionava essa adutora, mas em momento algum disseram que ficaria para nós tomar de conta. Fica para nós a responsabilidade de tratamento de água, de produtos químicos, funcionário para vigiar o local e a manutenção. A adutora não funciona. A água vai passar logo ai e não vamos ter acesso a essa água. É um problema real para todas as comunidades. Eles acham que a gente é tolo”, desabafou Tiago. 

O que diz o Ministério sobre as agrovilas e manutenção de Eixo

Questionado sobre as agrovilas, o Ministério da Integração informou que não construiu barragens nas Vilas Produtivas Rurais (VPRs) e que elas contam com sistemas de abastecimento. No caso de Irapuá 2, segundo o MIN, a água é fornecida pelo reservatório Boa Vista. Pelo modelo, a operação e a manutenção deste sistema – infraestrutura que conduz a água do açude até as residências da VPR – são de responsabilidade dos moradores da Vila.

O Ministério informou ainda que fará um repasse de verba para cada família de Irapuá 2, no valor de R$ 17. O recurso será utilizado para custear o funcionamento dessa infraestrutura. Segundo o MIN, isso ocorre em todos os conjuntos habitacionais que não estão ligadas às redes das concessionárias de abastecimento de água. As Vilas que são abastecidas por meio de concessionárias estão sujeitas ao pagamento da tarifa regular de água.

O Ministério afirmou ainda que também foram criadas 18 Vilas Produtivas Rurais (VPR) nos estados de Pernambuco, Ceará e Paraíba, explicando que as VPRs fazem parte do programa de reassentamento de populações, previsto no Projeto São Francisco. As unidades habitacionais são constituídas por um setor residencial e um setor produtivo, sendo casas de alvenaria, com 99 m² de área, construída em lotes de meio hectare, além de rede de água, esgoto e energia elétrica, posto médico, escola, espaço de lazer e áreas destinadas ao comércio e à construção de templos religiosos.  O setor produtivo tem no mínimo quatro hectares por beneficiário, sendo um destinado à irrigação. A própria comunidade e os gestores municipais escolhem os equipamentos sociais, segundo o MIN.


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COMENTÁRIOS
João Suassuna – Pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco

Os paraibanos têm mesmo é que estar descrentes desse projeto. Afinal de contas, nada deu certo, até agora, na sua implantação. E se for analisado o seu custo benefício, esse, certamente, é de lamentar, e muito. Os R$10 bilhões aplicados até agora possibilitaram a chegada de um volume de, apenas, 3,5 m³/s na represa de Boqueirão, e nada mais. Um crime de lesa pátria, se considerados os pífios benefícios que esse projeto trouxe, até o momento, para os residentes da região setentrional nordestina. Uma pena o que o Poder Público venha aplicando os recursos públicos de forma tão incompetente no nosso país. E isso não foi por falta de aviso!


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